Sete Dias Para Amar escrita por Katherine Madalene


Capítulo 3
Segunda-feira (parte III)


Notas iniciais do capítulo

Mais um capitulo para compensar... Esse capitulo ficou enorme porque ele é muito muito importante...
O que sera que vai acontecer com Sam?



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Já se passava das cinco da tarde quando acordo. Estou tão grogue que demoro alguns segundos para lembrar que eu fiquei tanto tempo deitada e pensando que acabei caindo no sono.

Agora, depois de uma boa soneca, as vozes que eu ouvi parecem sem sentido, como se fosse um sonho.

Eu sou Samantha Smith e não escuto vozes!

Percebo que ainda estou vestindo as roupas que vesti para ir ao colégio, então deslizo da cama para o banheiro. Ligo o chuveiro e deixo a água gelada escorrer pelo meu corpo, me acordando para o mundo.

Então me lembro de uma coisa: a segunda segunda-feira do mês é marcada com uma festa na praia. Todo mundo vai todos os meses. É uma tradição de mais de quinze anos do nosso colégio!

Lavo os cabelos e depois tento desfazer um pouco os nós com o pente. Desisto depois de cinco minutos e prendo os meus cachos em coque solto. Visto um short preto, uma camisa do Led Zeppelin – meu guarda-roupa se resume a camisas pretas ou de bandas – e, para finalizar, coloco o meu All Star vermelho.

Desço correndo pela escada e me deparo com a minha mãe na cozinha.

- Oi, mãe. Tchau, mãe.

Ela se vira e me olha de cima a baixo enquanto seca as mãos no pano de prato.

- Você está indo para a reunião na praia?

- Estou. – Respondo. – O que foi, mãe?            

- Nada. – Ela se vira e sussurra baixinho: – Não chegue muito tarde!

Passo pela sala e vejo que o meu irmão está jogado no sofá com um livro da escola aberto no colo e balançando a cabeça para frente e para trás no ritmo da música que sai dos fones.

- Tchau, pamonha. – Resmungo e ele não me escuta. Reviro os olhos e vou embora.

Estou caminhando devagar pelas ruas quando percebo que nem avisei Pizza que já estava indo para a reunião. Pego o celular e digito:

Tô indo pra praia. Te encontro lá.

Ela responde quase de imediato.

Blz! Vou inaugurar minha blusa nova! :D

Depois de caminhar por mais ou menos quinze minutos, chego na praia. Como a noite caiu já tem mais de duas horas, a praia está deserta exceto pela fogueira que queima mais ao sul, onde todos os meus amigos formam uma roda e cantam.

Quando chego, percebo que Arlick está tocando o seu violão e Vinicius e Marcos estão o acompanhando com batucadas ritmadas com os pedaços de madeira que formam uma pilha para serem jogados mais tarde na fogueira.

Melissa, uma garota superinteligente da minha sala de Sociologia, acena com a mão para mim e eu faço o mesmo.

Pizza ainda não chegou, então sento na areia e começo a cantar no ritmo da música que os meninos estão tocando.

Dez minutos depois, nove pessoas estão sentadas em circulo, passando uma garrafa de Coca Cola de uma pessoa para a outra, quando Pizza chega com uma blusa floral e uma saia que desce até os tornozelos. Mas o que mais me impressiona não são as roupas que Milena e sim o fato de ela estar conversando com Peter com se fossem velhos amigos.

Eles se sentam juntos na roda e começam a cantar. Não sei bem porquê, mas estou cantando cada vez mais alto, como se eu quisesse, inconscientemente, chamar atenção de Peter. Lembro-me da voz que escutei hoje mais cedo e meu corpo se arrepia.

Levanto da roda e me aproximo da água até que as solas dos meus tênis estejam quase molhando. Fico olhando o mar por alguns minutos até sentir alguém pegando no meu ombro.

Dou um pulo e me viro, dando de cara com Peter.

- OI! – Ele diz e abre aquele sorriso fofo que eu nunca vi em ninguém. Seus olhos estão muito escuros devido a pouca luz e sinto o meu coração disparar. – Vão começar a contar lendas urbanas e histórias de terror. Você não que vim?

Abro um sorriso. A hora em que cada um tem que contar uma história é a melhor hora das nossas reuniões. Todo encontro tem um novo tema: já foi romance, mistério, aventura, humor, fantasia e, ao que parecia, hoje era horror.

É hoje que eu rio com as palhaçadas dos meus amigos.

- É claro. – Respondo para o par de olhos escuros na minha frente e nós voltamos para o circulo. Vinicius começou a contar a sua história sobre uma mansão mal assombrada, mas todo mundo cai na gargalhada quando ele tenta imitar um fantasma e a história se torna mais humor do que terror!

Rio tanto que algumas lágrimas escorrem pelo meu rosto...

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Todos já tinham contado as suas histórias e só faltavam duas pessoas: eu e Peter.

Levanto-me e começo a contar:

- Era uma vez uma princesa que morava em um castelo protegido por um dragão-fantasma e...

- Chega, Sam! – Marco está claramente segurando o riso. – Dragão-fantasma?

E então todos caem na gargalhada.

Estiro a língua para Marco:

- Eu ia contar como o dragão comia a princesa! – Resmungo, mas eu também estou rindo. Pego um pedaço de madeira estava no chão e atiro no meu amigo chato.

Todos riem ainda mais, até que Peter se levanta e fala mais alto que as risadas:

- Vocês querem ouvir uma lenda?

Aos poucos, todos param de rir e começam a prestar atenção em Peter. Ele abre um sorriso e pisca para mim quando me sento.

- Para manter a sua juventude eterna, um Mago da época que os Egípcios ainda faziam as suas múmias resolveu fazer um feitiço em uma pobre escrava: quando ela se apaixonasse, sua alma ficaria tão brilhante que o Mago, e apenas ele, veria. Sete dias depois de se apaixonar, a alma da escrava estaria pronta para se arrancada de seu corpo. – Peter conseguiu o que mais ninguém conseguiu: todos estão sérios e prestando atenção nele. – E assim o Mago fez: arrancou a alma da garota e ela morreu, mas o que o Mago não esperava era que o feitiço ficaria presa a uma alma só. Uma alma demora mais de 400 anos para retornar para a Terra em outro corpo, mas o Mago conseguiu viver esse tempo todo e viu a alma da escrava voltar para a Terra. E então tudo aconteceu novamente: o Mago esperou a garota se apaixonar e, sete dias depois, arrancou mais um pedaço de sua alma.

A história estava me deixando arrepiada, mas eu queria saber a continuação. Pobre garota da lenda: cada vez que ressuscitava tinha apenas sete dias para amar e então a sua alma era roubada. Um dia eu li que alguma cultura indígena desaparecida acreditava que a alma tinha 11 partes, ou seja, a alma voltava 11 vezes para a Terra e depois era perdida.

Peter continuou e, por mais incrível que pareça, ele pensou na mesma coisa que eu, porque ele sita a crença indígena:

- A alma de uma pessoa volta 11 vezes para a Terra e então desaparece em um véu mágico que parte para outra dimensão. Milênios se passaram desde que o feitiço foi lançado, mas a alma da garota ainda é condenada. Infelizmente, ao que tudo indica, a alma já voltou e foi roubada 10 vezes, ou seja, a próxima reencarnação é o ultimo pedaço da alma da escrava. – A fogueira já estava diminuindo, então cutuco Vinicius com o pé para que ele coloque mais lenha. Todos – inclusive eu – parecem estar hipnotizados com a lenda de Peter.

E ele continua:

- Qualquer pessoa pode ser a 11ª parte da alma da garota. – Peter ergue as mãos, fingindo estar assombrado. – Qualquer pessoa pode, quando se apaixonar, ter a sua alma devorada por um Mago mais velho que as pirâmides do Egito!

E então ele para.

- Fim. – Peter sussurra então todos se colocam de pé e aplaudem ele.

Aplaudo também.

- Gostei do ladrão de almas! – Grita alguém e então a confusão retorna: dessa vez é Marco que pega o violão e começa a tocar. Pedaços de madeira são jogados na fogueira, que volta a queimar com toda força e a garrafa de Coca Cola é trocada por uma de cerveja que acabou de sair do isopor.

Estou rindo quando percebo o olhar duro de Peter encima de mim. Qualquer sorriso anterior sumiu e ele está muito, muito sério. De repente, ele vira de costas e volta para o calçadão. Ele para e me olha de longe e depois volta a andar.

 Me esquivo dos meus amigos e me certifico que Pizza não está olhando.

Como uma idiota, vou atrás dele.

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Peter vira em uma esquina. Dou uma pequena corrida para não perdê-lo de vista.

Mas, quando viro na esquina que ele dobrou, me deparo com uma rua deserta. Como já estava tarde da noite, eu até entenderia se a rua estivesse vazia, mas eu tinha acabado de ver Peter virar aqui!

Ando/corro pela calça, sempre olhando para ver se ele não entrou no jardim de alguma das casas. Não sei por que estou assim, na verdade, eu nem por que eu o segui!

Paro de correr e imediatamente sinto os meus braços serem presos para trás e uma mão cobrindo a minha boca.

Sou arrastada até um dos jardins. Tento chutar a pessoa que está me levando, mas tudo que consigo e sujar o meu tênia de areia.

De repente, a pessoa para e vejo a minha oportunidade. Abro a boca e estou quase dando uma mordida forte na mão do meu sequestrador quando a voz de Peter sussurra no meu ouvido:

- Dá para você ficar quieta um segundo?

Paro de me debater (e de respirar!) e Peter me solta. Viro para encara-lo.

- Enlouqueceu, garoto? – Berro e ele dá um pulo para frente e tampa a minha boca de novo.

- Shhh! – Ele coloca um dedo na frente da boca, pedindo silêncio. – Só preciso falar em particular com você.

Empurro a mão dele e falo, baixinho:

- Era só pedir! Não precisava me sequestrar para um jardim de... – Corro os olhos pela fachada da casa. – de uma casa abandonada!

A casa era a única da rua naquela situação: as janelas estavam quebradas e as paredes desbotadas. O mato estava alto ao meu redor e a árvore do jardim estava precisando ser podada.

- Não posso falar o que eu tenho para falar se tiver alguém por perto. – Peter disse. – O que eu tenho para falar com você é muito sério. Não ache que estou brincando, porque eu não estou. Eu te conheci hoje e você não deve estar muito feliz em estar em um lugar desconhecido com um desconhecido.

Se fosse qualquer outra pessoa (desconhecido, que seja), eu estaria correndo e berrando, mas eu conhecia Peter havia apenas um dia e já sentia uma segurança sobrenatural quando estava próxima a ele.

- Você prestou atenção na lenda que eu contei? – Ele perguntou. Eu não sabia o que aquilo tinha a ver, mas respondi assim mesmo:

- Prestei. Por quê?

- Porque aquilo não é uma lendo, Sam. – Ele disse eu continuei confusa. – quando eu era mais novo, sofri um acidente de carro que me deixou em coma por três meses. Durante esse tempo eu revivi todas as reencarnações da minha alma. Foi a coisa mais impressionante que eu já vivi. Na verdade, essa é a coisa mais impressionante que qualquer pessoa no mundo já viveu.

Eu estava cada vez mais confusa e Peter percebeu isso nos meus olhos.

- Em todas as minhas vidas eu perdia a mulher que eu amava sete dias depois de tê-la conhecido. – Peter continuou. – Em TODAS as vidas acontecia alguma coisa e eu perdia a mulher que eu amava. Em TODAS as vidas havia sempre o mesmo homem por perto. Quando reencarnamos, nossa alma volta de uma forma diferente, pois as 11 partes dela são diferentes, então como é possível explicar que aquele homem sempre estava por perto, sem mudar NADA durante os milênios?

Minha boca estava aberta. Peter parecia estar falando sério sobre aquilo. Eu já tinha ouvido falar de pessoas que conseguiam ver um pedaço de suas vidas passadas, mas nunca todas as suas reencarnações! Eu não conseguia entender porque estava acreditando nele, mas enquanto Peter falava, eu senti um arrepio percorrer o meu corpo, como se eu sentisse a dor dele – ou das vidas passadas dele.

- Quando acordei, não dei valor a isso. Entenda, eu só tinha doze anos e não acreditava em nada disso. – Peter continuou falando e eu continuei calada, escutando. – Mas o tempo foi passando eu tinha o tempo todo a sensação que estava sendo seguido por alguém. Um dia, eu fui a uma sorveteria e o homem eu estava no caixa me pareceu familiar. Na hora eu não lembrei, mas era ele, era o homem que aparecia em todas as minhas vidas. Depois disso eu passei a acreditar que eu não estava sonhando enquanto estava em coma e que eu REALMENTE tinha visto minhas antigas vidas.

Respirei fundo e comecei a falar enquanto ele tomava fôlego:

- Ok, ok. – Ergui os braços. – Então você conheceu a tal escrava e todas as outras partes de sua alma, mas eu anda não entendi o que isso tem a ver comigo.

Peter continuou falando sem parar:

- Eu resolvi  nunca dar bola para nenhuma garota, assim ninguém correria o risco de se apaixonar por mim e ter a alma roubada. – Nessa parte eu segurei o riso para não constrangê-lo. Queria sabe aonde ele queria chegar com aquela história. – Mas então eu percebi que, em todas as reencarnações da Alma Condenada, como eu chamei, a pessoa...

Ele parou de repente, olhando diretamente para o meu rosto.

- A pessoa o quê? – Perguntei, impaciente. Apesar de ainda estar sentindo o calafrio percorrer o meu corpo, eu não estava acreditando em nenhuma palavra do que ele estava dizendo.

Bom, talvez a parte do acidente.

- A pessoa... – Peter respirou fundo. – A garota tinha os olhos azuis como o céu.

Foi quando a ficha caiu. Ele estava inventando toda aquela história achando que eu acreditaria que eu era a Alma Condenada? Quantas pessoas no mundo têm olhos azuis como os meus?

Gargalhei alto.

- Você devia ser escritor. – Disse rindo, o que deve ter saído mais ou menos assim: oxe de-devia se escrit... ôr!

Peter se contraiu e seu rosto ficou escuro como a noite. Os seus olhos ficaram pretos e seus lábios carnudos se tornaram uma linha fina. Quando falou sua voz saiu rouca e baixa:

- Você não acreditou em nada que eu falei?

Consegui controlar o riso:

- É claro que não! – Virei e sai do jardim da casa abandonada, voltando para a rua. – A história foi legal e tal, mas eu tenho que ir embora porque já é tarde.

Peter continuou parado nas sombras da árvore da casa abandonada.

Eu não queria deixa-lo triste, porque eu mesma não sabia de onde vinha esse carinho excessivo que eu tinha por esse aluno novato, mas eu não iria fingir que acreditava em uma história maluca como aquela.

Eu ser a ultima parte da minha alma? Se assassinada sete dias depois de me apaixonar?

A ideia parecia idiota, mas eu não consegui rir enquanto pensava nela. A temperatura tinha baixado muito ou era apenas impressão minha?

Esfreguei as mãos uma na outra e as enfiei no bolso da calça.

Quando cheguei em casa, parei no portão e me virei. Eu jurava que tinha visto a sombra de uma pessoa atrás de mim.

Deve ser a luz do poste, pensei, mas entrei rápido em casa.

Passo no quarto da minha mãe para avisar que já tinha chegado. Passo no quarto do meu irmão e (como sempre) ele estava jogado encima da cama com a mesma roupa que tinha usado o dia todo.

Entro no meu quarto e jogo as minhas roupas no chão.

Entro no banheiro e ligo o meu celular na playlist do Led Zeppelin.

- And she is buying a stairway to heaven! – Canto a ultima frase da musica antes de desligar o chuveiro e me enrolar na toalha. Paro diante do espelho.

Quando vejo as duas órbitas azuis que são os meus olhos, sinto um frio percorrer a minha espinha.

Saio do banheiro, apavorada, e me jogo na cama, a pele ainda molhada, completamente nua.

A garota tinha os olhos azuis como o céu.

Depois de um bom tempo escondida debaixo do lençol, enroscada com o meu travesseiro, consigo enfim pegar no sono e deixar de lado os pensamentos ruins que estavam me apavorando.


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Notas finais do capítulo

E ai, gostaram?
E essa história da alma de Sam? Será que é verdade?
Será que Peter está falando a verdade ou é apenas brincadeira... eu torço para que ele esteja brincando, mas parece que a contagem regressiva para o fim da vida de Sam já começou.....
Espero comentarios!!!!!!!!!!!!
Bjinhos sangrentos....



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