Apocalipse escrita por Fran Marques


Capítulo 8
Meio de locomoção mais conhecido como moto




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Matt acordou antes de mim, o que consequentemente me despertou. Meu corpo permanecia envolto em seus braços fortes. Senti meu rosto corar ao perceber que nunca estivemos tão perto um do outro, nossos rostos estavam a centímetros de se tocarem e nós nos encarávamos. Matt sorriu e eu retribui, apesar de que não sabia se era porque estava feliz ou por estar na situação que estava. Espanei os pensamentos de minha mente e me movi para o lado, pronta para seguir com tudo aquilo. 

Espalhei tudo o que tinha sobre o chão e chequei meus objetos mais de uma vez. Matt recolheu nossos sacos de dormir e tudo que estava esparso em sua volta, colocando cada objeto dentro de sua mochila. Apalpei meu bolso à procura da pequena caixinha de fósforos, que se encontrava no mesmo lugar em que eu a tinha deixado. Recolhemos tudo que precisávamos e percebi a quantidade de coisas que tínhamos para sobreviver. Uma corda, uma barraca para duas pessoas, sacos de dormir dobráveis, três canivetes, corda e outras inúmeras facas. Contei todas as comidas enlatadas e industriais que tínhamos. Poderíamos viver semanas sem precisar recarregar nossos suprimentos.  Percebi que Matt carregava grande parte das coisas, mas isso não me incomodou pelo simples fato de ele ser o dobro de meu tamanho e ter três vezes de minha força.

-Vamos. - falei enquanto caminhava em direção a porta torta e meio tombada. 

Estava quase alcançando a saída quando Matt me chamou. Meu nome foi sussurrado no ar suficientemente alto para que meus ouvidos escutassem. 

-Maggie, olha aqui. 

Me virei para trás e vi para onde meu amigo apontava. Uma série de tacos estavam enfileirados em um cando da imensa loja, de diversos tamanhos e materiais. Olhei para eles e lembrei de todas as vezes que tinha usado tacos de baseball parecidos com aqueles. 

-E aí? Vai querer um de alumínio ou madeira? - falou ele enquanto estudava cada um deles. 

-O que vou fazer com isso? Rebater a cabeça dos mortos? - perguntei sarcasticamente. 

-É exatamente o que você vai fazer. Se quebrar o pescoço de um, os mata, fazendo com que o vírus morra junto, sabidinha. - Matt riu vanglorioso e satisfeito por estar correto. - E então? Alumínio ou madeira? 

Sorri pela insistência do garoto. Era uma das coisas que gostava nele.

-Alumínio. - respondi. 

Matt jogou para mim o taco e eu o peguei no ar. Coloquei ele em meu sinto, como se fosse a bainha de uma espada. Poderia retira-la e quebrar o pescoço de um infectado a hora que desejasse. Pensamento adorável. Peguei meu arco e flecha e questionei se eles ainda seriam necessários. 

-Acha que eu ainda devo ficar com o arco e flecha? 

-Melhor não, quanto mais coisas para carregar pior. 

Peguei minhas armas e as coloquei no chão. Chutei meu arco para um canto e torci que alguém o achasse e os usasse. 

Dei as costas para o canto aonde ficavam os tacos e passei pela saída ao lado de Matt. Agora era só sairmos da cidade. 

-Próximo plano. - Matt virou para mim. 

-Acho que deveríamos pegar algum carro ou trailer e sair da cidade logo. 

-Acho que também não aguento mais tempo aqui. 

Olhei para Matt e tentei sorri. Um sorriso que queria dizer "só mais um pouco". Eu me sentia como ele, triste e completamente acabada.

-Tem uma loja que vende automóveis a umas três quadras daqui. 

-Ótimo. - respondi, aliviada de não ter que caminhar muito. - Eu não vou dirigir. 

-Okay. 

*************************************

Começamos a caminhar em meio ás ruas e aos corpos apilhados. O silêncio dominava a cidade e um cheiro de escrúpulos tomava o ar . A atmosfera deixava para permanecer uma tenção que eu não entendia, mas sentia. Ela estava ali. Meus olhos tentavam ao máximo não encarar os cadáveres e não escutar o próprio silêncio, mas as tentativas eram infames. Meus músculos estavam rígidos e os batimentos de meu coração soava mais alto que minhas respirações. Comecei a me questionar sobre o que viria depois de sairmos da cidade. Teríamos que passar em nossas casas, ver nossos pais e o que restava de nossas famílias.  Imaginei minha mãe trancada no sótão com medo de sair de casa ou até mortos. Preferia a primeira opção. E o mundo estaria como? O que seria de todos? Ainda existia esse "todos" em que eu tanto pensava? Me lembrei de Angie e comecei a imagina-la dentro do hospital, presa com aquelas outras milhares de pessoas sem poder sair e desejando salvar cada um deles. A imagem do menino correndo no asfalto á noite tentando se salvar da mulher que corria atrás dele, apesar de que suas tentativas eram inúteis. Decidi parar de pensar nos acontecimentos dos últimos dois dias e tentei me concentrar em meus paços. Comecei a conta-los, mas isso apenas me ajudou em sentir a fome que sentia e o calor que queimava minha nuca.

Olhei para Matt e ele virou a cabeça para mim. Seus lábios se movimentavam mas as palavras estavam surdas a meus ouvidos. Borrões começavam á aparecer em meus olhos e senti como se em volta de meus pensamentos existissem uma névoa que não permitia que funcionassem. Matt me sacudiu e o mundo voltou a tona. 

-Você está muito pálida, Maggie! Vem cá.

Matt pegou meus braços e colocou em volta de seus ombros. Fui arrastada até dentro de uma loja. Matt me colocou sobre uma mesa, uma mesa que fez minha pele ficar mais fria do que já estava. Minhas pernas tremiam e eu perdia toda a força. 

-Maggie, mantenha os olhos abertos. Eu já volto. 

Pelo pouco que conseguia ver de seu rosto, estava aterrorizado com meu estado. Uma dor insuportável invadiu minha cabeça e eu encolhi meu corpo, quase caindo em direção ao chão. Fechei minhas pálpebras e o escuro me cercou.

Senti um jato de água cair em meu rosto e abri meus olhos violentamente. Comecei a tossir como se tivesse acabado de me afogar. Minha visão ainda turva percebeu a mão te Matt estendida a frente da minha boca segurando uma espécie de biscoito. Eu a abir e mastiguei. Devo ter comido uns seis até voltar completamente ao normal. 

Minha respiração voltava ao normal emeu corpo parava de tremer. 

-Você tem que se lembrar de comer. - escutei a voz de Matt.

Ele era uma das poucas pessoas que sabia desse meu problema. Baixa glicose no sangue. Minhas pernas fraquejavam, minha visão se turvava e minha pele atingia tons de branco. 

-Está melhor agora? - ele perguntou e eu balancei a cabeça em afirmativo. 

-Ótimo. Agora olhe aonde estamos. 

Observei em volta. Carros novos de todos os tipos e tamanhos, motos e trailers ocupavam o espaço imenso da loja envidraçada.  Aquilo era nossa passagem para a cidade. 

-É só escolher - falou Matt sorrindo - eu pensei em escolher um Mustang Shelby Gt500 2013. Também tem aqueles com isolamento acústico, com rodas mais altas e que não fazem tanto barulho. Também te ali, as motos com silenciadores - Matt apontou para outro canto do salão - entre elas as que eu mais gosto são as Harley Davidson. 

Matt falou tudo como se estivesse em um comercial. Eu ri e ele também. 

-Então Maggie? O que vai ser? 

Olhei para as motos. Um veículo rápido e de pequeno porte. As Harley Davidson eram minhas preferidas desde sempre e agora eu me questionava seriamente se não poderíamos levar uma delas. 

-Gosto das Harley. - eu disse com um sorriso em meus lábios. 

-Então, vamos as Harley. 

Matt me estendeu a mão e me ajudou a descer da mesa. Caminhamos lado a lado até as motos e dessa vez deixei Matt decidir. Ele escolheu o modelo E61, pintada de dois tons esverdeados e com bolças para carregar o que quiséssemos. 

-Tem umas escadas ao lado do banheiro no final daquele corredor. Talvez eles guardem em uma das salas lá em cima. 

Matt caminhou na direção das escadas que tinha me indicado e seguiu em frente. O segundo andar da loja de automóveis era composta inteiramente por salas lotadas de escritórios. Percebi que tinha sangue espirrado pelo chão e folhas rasgadas. Matt não parecia ter percebido o mesmo que eu, apenas olhava através dos vidros que abriam para as salas.

-Matt... - eu disse- 

-O que Maggie?

-Você viu o...

-ACHEI - berrou Matt alegre e antes que eu pudesse o impedir ele abrira a porta. 

Um infectado caiu sobre seu corpo. Seu maxilar tentava morder a pele de Matt e um desespero tomou conta de meu corpo. O garoto lutava e esperneava, mas o infectado parecia mais forte. Peguei meu taco e os acertei em minhas mãos. Matt berrava fazendo com que um grito pavoroso saísse de sua garganta. O infectado agarrava seus braços e tentava fazer com que ele parasse de se debater. Eu mirei. A palma de minhas mãos suavam mas eu tentava fazer com que isso passasse despercebido. Eu mirei mais uma vez. E fui. Tudo aquilo, durou 87 segundos. 


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado :)) Deixem reviews, Por favor heeehe