Apocalipse escrita por Fran Marques


Capítulo 5
Os 12 Fósforos e a Fuga


Notas iniciais do capítulo

Acabei meus amores :3



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Eu observava Matt. Ele descansava sobre o chão de madeira do quinto andar, seu peito se movimentava silenciosamente e percebi como deveria estar tendo sonhos tranquilos. Meu melhor amigo não era como eu. Raramente fico parada durante o sono e nunca consigo acordar na mesma posição que dormi, além de ser sonâmbula. Lembrei de um dia em que seus pais tinham viajado e Angie estava de plantão no hospital. Matt e eu saímos mais cedo de uma festa e acabamos passando a noite juntos na casa dele, terminando com todo o estoque secreto de balas que a irmã dele guardava para quando estava nervosa e vimos todos os filmes de ficção que eu ainda não tinha descoberto. Eu dormi no sofá bege que ficava na sala de estar. Lembro-me muito bem de ter acordado e escutado um relatório completo de Mattel de como eu ficava quando dormia.

Encostei-me no parapeito da janela e fui banhada pela luz prateada da lua. Senti um vento frio soprar meu cabelo, fazendo com que várias mechas saíssem do lugar. Eu iria escutar e sabia que era só uma questão de tempo. Escutar gritos, passos e os ecos desesperados dos que ainda eram mais humanos do que doentes.

Caminhei até o lado de Matt e deitei, deixando que o pouco de calor que restava em meu corpo passasse para o chão enregelado. Pensei no amanhecer. O Sol subindo no horizonte trazendo apenas a ideia do que já fomos sem a doença. Peguei meu celular sem bateria, como sempre, e o joguei para um canto, realistando todos os objetos que estavam guardados em minha mochila. Toquei a mão em uma pequena caixinha e a sacudi, escutando o barulho dos finos palitos de fósforo se chocando contra a parede de papel. Lembrei-me porque trazia aquilo comigo sempre. Meus lábios se curvaram. Era uma ótima história.

Meu pai, minha mãe e eu tínhamos resolvido ir acampar, já que nunca fazíamos nada juntos. Consigo dizer que nós três estávamos a favor da ideia, mas na realidade minha mãe a colocou sobre nós como uma ditadura, então recolhemos a barraca, os colchões infláveis e as comidas congeladas. Passamos três horas dirigindo para chegar a um campo aonde montamos a barraca e assim que meu pai terminou o trabalho árduo de deixar a tenda erguida, a chuva começou a cair. Depois daquele ponto eu estava braba, molhada, faminta, frustrada e iria acampar, então saí em meio a lama e as árvores procurando ser uma aventureira. Eu tinha nove anos. No meio da noite, a chuva parou e eu queria acender uma fogueira, enquanto meus pais me procuravam pelos 100 hectares do camping. Eu só tinha a caixa de fósforos que meu pai me dera antes de sair de casa para que ele não esquecesse.

– Se você não guardar pra mim, vou me esquecer, Maggie.

– E se eu perder?

– Você não vai. Eu confio em você.

Acho que, quando me perdi na floresta, o que fez com que meus pais me achassem e que eu sobrevivesse no frio, foram, inicialmente, um dos 12 fósforos que eu precisei para acender a fogueira.

Escutei um grito. Um uivo longo, virulento, como se viesse de um animal que não chegava perto de ter sido um humano. Matt levantou-se abruptamente como se não estivesse dormindo e eu corri para a janela, esticando-me enquanto estava apoiada no parapeito procurando ver alguma coisa.

A sombra de um garoto marcou o asfalto. Vi ele correr, embora soubesse que não iria escapar. A doença pela que a mulher tinha sido tomada a fazia cambalear atrás do menino, mas não a impedia de ser rápida. Outros corriam. Olhei para aquilo e não conseguia respirar. Pessoas fugiam e tentavam entrar nas construções mas eram abatidas antes disso. Infectados estavam propalados pelos números de pessoas que morriam. Um bolo se formava em minha barriga e eu sentia que ia vomitar. Meus músculos estavam tensionados como se eu estivesse lá em baixo, correndo por minha vida. Afastei-me da janela enquanto Mattel continuava apoiado no parapeito observando.

Arrastei-me até um canto da sala. Escondi meu rosto em minhas mãos, para que elas parassem de tremer, mas obviamente apenas impediu que Matt visse meu pavor. Eu já sabia que aquilo poderia acontecer, tinha uma ideia, mas mirar com meus próprios olhos era algo totalmente desumano. Matt e eu estávamos sozinhos em um mundo de doentes.

*****************************************

Acordei enquanto um feixe de luz penetrava pela janela. Passei as mãos em meu rosto e pude sentir aonde as lágrimas tinham secado. Mattel estava ao meu lado, ainda dormindo e o deixei ali. Caminhei até a porta da sala e escutei. A construção estava mergulhada em silêncio, a porta estava fechada e quando toquei na maçaneta fria, me encolhi, com medo de ver o que tinha sobrado lá fora e o que ainda existia. Os gritos desesperados e os uivos brutaisecoavam em meus pensamentos como se fossem impossíveis de serem apagados. Virei-me para a sala em que estávamos e percebi que não tinha notado o cômodo. Era comprido e largo, com paredes largas e mesas. Possivelmente um antigo escritório, com diversos computadores sobre as mesas e papéis esquecidos. Olhei para um relógio na parede, o ponteiro dos segundos se mexia freneticamente enquanto o ponteiro menor mostrava que eram sete horas da manhã. Caminhei de volta até Matt toquei levemente seu ombro para que acordasse. Seus olhos azuis abriram e me fitaram, ganhando vivacidade.

– Hora de assaltar a Billy e Wailly?

– E de invadir o supermercado. - Completei.


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Notas finais do capítulo

Deixem reviews se gostaram, odiaram, acharam fraco e se acham que devo melhorar em alguma coisa. Obrigada :3
—A.D.