Apocalipse escrita por Fran Marques


Capítulo 10
South Carolina




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Caminhei até a frente da casa, aonde se encontrava a moto e Matt, sustentando seu sorriso extremamente malicioso. Minhas bochechas ainda deveriam estar rosadas, então baixei minha cabeça e sentei na moto.

–Vamos? - perguntei a Matt

–Claro, Sra. Lingerie.

–MATT!! CALA A BOCA. - vociferei com raiva e de um soco em suas costas. O garoto já estava sentado no volante da moto. Ele começou a rir.

Ajeitei minha mochila entre meu corpo e o de Matt e esperei que o automóvel começasse a andar. Fechei os olhos e encostei meu rosto no ombro de meu amigo, como tinha feito antes, mas não adormeci. Deixei que o ar gélido cortasse minha pele e que o vento perturbasse meus ouvidos. Meus cabelos morenos chicoteavam no ar, parecendo o fogo dançando em uma fogueira.

Percorremos uma estrada por duas horas, até Matt parar.

–Aonde estamos? - perguntei, piscando várias fezes em seguida que abri os olhos, para que minha visão se focasse. Duas placas estendiam em nossa frente, cada uma apontado para um caminho diferente.

–O que diz o mapa, Magg?

Tateei meus bolsos. O pequeno papel que era a foto de minha família ainda estava ali, afundei a mão mais um pouco até meus dedos conseguirem puxar um papel dobrado mais vezes. Eu abri o mapa e usei as costas de Matt como uma mesa.

–Okay. A placa diz que para lá fica Atlanta -apontei com o dedo para a placa direita - e na esquerda iremos parar em South Carolina. Se Ange dise que a doença não começou aqui e veio de outra cidade, provavelmente saiu de Montgomery ou Jackson. South Carolina é o mais longe dos dois, talvez a doença ainda não tenha se alastrado por lá.

–Então vamos para South Carolina. - falou Matt e acelerou, pegando a estrada da direita. - e eu espero que você esteja certa, Magg.

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Os borrões aos meus olhos perdiam a graça a medida que eu os observava. Decidi que a única coisa a fazer era conversar com Matt e se eu tivesse sorte nenhum inseto entraria em minha boca.

–Matt.

–Fala, Magg.

–Você acha que nossos pais foram para Carolina? Quer dizer, você acha que eles estão vivos? - minha voz fraquejava a medida que a frase saia de minha boca-

–Se para onde estamos indo não estiver infectada e eles terem tido o mesmo pensamento que o nosso, provavelmente estão vivos. Mas vimos os Infectados atacando o ônibus. Eles podem ser bem capazes de danificar um carro.

Fiquei em silêncio. Tudo naquele momento era possível. Que nossos pais estivessem infectados, mortos os escondidos em um lugar que não conseguiríamos achar.

–NOSSA COMO EU SOU ESTÚPIDA.

Eu berrei alto e senti o corpo de Matt pular na minha frente. A moto foi para o lado repentinamente mas o garoto recobrou sua consciência. Ele parou a moto de vagar, no meio do asfalto, sabendo que não precisaria ir ao acostamento. Eu ri ao ver seu rosto assustado e sua respiração acelerada.

–Mag, por favor, nunca mais faça isso de novo, principalmente quando eu estiver dirigindo qualquer coisa. - eu comecei a rir, o que o deixou furioso.

–Nós não podíamos usar o celular antes e eles estavam desligados porque poderia atrair algum infectado pelo som, lembra? Agora podemos ligar para os nossos pais. Como eu sou estúpida. Devia ter pensado nisso antes.

Matt abaixou o tronco, me encarou fixamente e colocou as mãos nos joelhos, tentando se acalmar. Eu apenas ri enquanto catava meu celular dentro de minha mochila. Apertei no botãozinho vermelho e esperei que a tela acendesse. Esperei dois minutos e disquei o número que correspondia ao celular de minha mãe. Eu escutava o pi, pi, pi no fundo, esperando que qualquer voz atendesse. Mas ninguém atendeu. Matt me viu baixar o telefone com os olhos melancólicos.

–Ligou para sua mãe ou seu pai?- falou Matt agora com o tronco ereto.

–Minha mãe. - eu respondi.

–Vamos. Tente de novo. Ligue para o seu pai.

Disquei os números no teclado e a tela brilhou. Cliquei no botão verde e esperei que meu pai atendesse do outro lado da linha. Pi. Pi. Pi. Pi. Nada. Caiu na caixa postal e eu desliguei. Olhei para Matt sem dizer nenhuma palavra, porque ele sabia o que tinha acabado de acontecer.

–Talvez eles tenham deixado o celular em casa. – falou Matt apesar de saber que a hipótese de meus pais estarem vivos era pouca. Joguei meu celular para o garoto

–Tente você.

Me sentei no asfalto de pernas cruzadas e esperei. Matt discou os números e franziu a testa ao colocar o celular em seu ouvido. Esperei que ele abaixasse o aparelho tão decepcionado quanto eu. Cruzei meus braços e deitei meu corpo para trás. Meus olhos castanhos doeram ao observar a brancura das nuvens.

–Pai?!

Dei um salto e fiquei em pé quando escutei a voz de Matt.

–Pai, pode me ouvir?

O garoto ficou sem falar por um tempo, inicialmente com um sorriso no rosto que foi se apagando.

–Pai, não desligue, não...

Matt deixou que meu celular caísse e quicasse no asfalto, mas ele não quebrou por não ser nenhum modelo novo. Olhei para seu rosto esperando que ele dissesse alguma coisa, mas ficou quieto com a boca entreaberta.

–O que aconteceu? – perguntei sem conseguir esconder a curiosidade extrema.

–Eu... eu não sei...- gaguejou Matt – meu pai, ele, ele atendeu o telefone, disse que está com a mamãe em Nashville. Estavam sendo atacados. E desligou. Foi... só isso.

Matt não me olhava nos olhos, era como se tivesse medo do que eu fosse falar. Esperei para ver se ele tinha mais alguma coisa para dizer, mas não falou.

–O que quer fazer então? Vamos com eles? –surpreendentemente Matt discordou.

–Não. Consegui escutar o barulho dos infectados e são bastante. Não devemos ir pra lá, a não ser que queiramos morrer. Vamos continuar indo para South Carolina. É mais seguro.

–Mas e os seus pais?

–Magg, meu pai serviu no exército. Caças pessoas não é tão diferente de caçar animais. Eles vão sobreviver enquanto nós só vamos gastar energia tentando chegar até eles, se não morrermos antes. Eles vão ficar bem.

Não queria brigar nem qualquer coisa, mas sabia que se meus pais tivessem atendido o telefone, eu iria até onde eles estavam, mesmo com medo da morte. Matt juntou o celular que estava no chão e deu para mim. Eu peguei e joguei dentro de minha mochila. O garoto subiu na moto e fico esperando que eu fizesse o mesmo. Ajeitei a mochila em minhas costas e sentei, deixando minhas mãos envoltas em sua cintura. Partimos em direção a South Carolina.


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