Clichê. Mas Nunca Igual. escrita por Biscoita Bis


Capítulo 25
Final Feliz?


Notas iniciais do capítulo

Deixarei os agradecimentos, beijos e cheiros pro final, aproveitem ♥



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Sorri aliviada no mesmo instante. Não sei o porquê. Mas meu pai saiu do quarto na hora, deixando-me ali com Matt.

Olhei para minha mão e meus dedos ainda estavam entrelaçados com o de Matt. Corei no mesmo instante e soltei minha mão da dele. No mesmo instante Matt me puxou pra perto e me abraçou.

Agora era diferente, Matt estava acordado e me olhava com aqueles olhos. Quando ela não me olhava era tudo mais fácil. Talvez eu não conseguisse mais dizer aquelas palavras novamente. Eu fui capaz de dizê-las com meu pai me olhando, mas não era capaz agora, com ele me olhando.

Virei meu rosto a fim de não olhá-lo, mas ele me impediu segurando com uma das mãos.

— Repita… – disse ele com dificuldade.

— Matt não fala, descanse apenas.

— P-preciso ouvir de novo. Por favor. – pude sentir a fadiga na sua voz, ele estava esforçando-se demais. Precisava acabar com aquilo logo.

— Feche os olhos então – ele obedeceu no mesmo instante e então eu continuei – Eu te amo Matt.

Ele sorriu. O maior sorriso que eu já vira nos lábios dele e então ele colocou minha cabeça em seu peito e entrelaçou meus dedos no dele.

— Durma aqui comigo Mel.

Assenti com um aceno de cabeça e debrucei em seu peito e ali adormeci, ouvindo as batidas do seu coração.

***

Antes de o meu pai sair do plantão ele passou no quarto de Matt e o examinou, enquanto isso eu fiquei no corredor. Não havia nem sinal da família de Matt, achei estranho. O velório havia sido no dia anterior, mas Matt também não estava legal, ele precisava do apoio de alguém.

Jared deixou o quarto logo em seguida anunciando a alta de Matt ao meio dia. “Sorri involuntariamente e o abracei com força sussurrando um obrigado quase inaudível.

— Vai querer uma carona? – disse ele ainda me abraçando.

— Acho que não – disse afastando carinhosamente o abraço — Vou aguardar até o meio dia e levar Matt pra casa, bom se você permitir… – desviei o olhar.

Ele me abraçou novamente me apertando com força. Tudo bem, eu o entendia. Ficaria frustrada se minha filha me “abandonasse” por achar que sua felicidade está com outra pessoa.

— Tudo bem – ele segurou meu rosto entre a mãos e completou — Mas esse cara precisa falar comigo antes de tudo ok?

Gargalhei aliviada e me despedi do meu pai ali. Passei o resto da manhã no corredor andando de um lado para o outro. Poucos minutos antes da alta de Matt, Mariana apareceu ao fim do corredor, totalmente abalada.

— Obrigada, Mel. – disse ela se aproximando de mim e segurando minhas mãos — Digo, – ela continuou — por ter ficado aqui com Matt como acompanhante. Você é uma garota incrível, provavelmente a garota perfeita para o meu sobrinho.

Corei na hora. Já não bastava meu pai me encher com isso agora vem minha “sogra” com um tom sério falando sobre esse assunto.

— B-bom, Matt é meu amigo e…

Ela riu. Fiquei feliz em ver aquele sorriso tão bonito que havia abandonado aquele rosto nos últimos quatro dias.

— Falamos sobre isso depois. E mais uma vez, obrigada. Vou levar essas roupas pro Matt.

Assenti com um leve aceno de cabeça e sentei-me no corredor novamente.

***

— Quero que almoce em casa hoje Mel. – disse Mariana olhando-me pelo retrovisor.

Olhei para Matt de canto de olho e ele fitava a cabeceira do banco da frente. Não disse nada à Mariana.

Chegamos à casa de Matt e de lá eu mandei uma mensagem a minha mãe avisando onde estava.

— Você não vem almoçar Matt? – Perguntou sua tia enquanto ele subia a escada caracol.

— Estou sem fome – Respondeu seco.

— E você Mel?

— Estou bem – respondi.

Subi as escadas atrás de Matt e deixei meu tênis à porta antes de adentrar ao seu quarto. Fui andando em direção à sua estante, uma imensa quantidade de livros e CD’s estavam ali, organizados impecavelmente. “Quem é a anta que compra CD’s?” Lembrei-me daquele dia no quarto de Matt em que me fiz essa mesma pergunta.

— Eu sei que gosta desse – disse ele tirando o álbum mais recente do Coldplay e colocando no aparelho de som em cima da sua escrivaninha.

Ele deu play e se aproximou de mim segurando-me pela cintura. Desviei meu olhar e pousei minhas mãos em seu peito de leve, afinal ele ainda tinha machucados pelo corpo.

When you try your best but you don't succeed – assustei-me ao ouvir essas palavras à voz de Matt e não de Chris Martin – When you get what you want but not what you need.

Matt, como você…

When you feel so tired but you can't sleep. Stuck in reverse.

Ele cantou Fix You. Seu inglês era incrível. Ele realmente treinou o bastante para parecer fluente. Além de tudo, sua voz era maravilhosa cantando. Ele movia os lábios levemente inchados com dificuldade mas o ritmo era perfeito. Pode-se concluir que sua voz era mais bonita que a do próprio cantor. Quando chegou nos últimos versos ele os cantou em português:

Luzes vão te guiar para casa e incendiar seus ossos. E eu vou tentar consertar você.

Ele me abraçou, apertado o suficiente para fazer minhas costelas doerem, mas é uma dor boa. Aquela dor de alívio. Como quando você tira um espinho do pé. Estava prestes a perder o ar  quando ele me soltou.

— Mel, me promete. Promete-me que não vai me abandonar. Deixe-me te concertar Melanie. Eu quero você a cada segundo ao meu lado. Eu preciso de você aqui, sempre.

Encarei aqueles olhos. Aquele azul celeste que esteve fechado por quatro longos dias e que me fizeram quase perder as esperanças. Os mesmos olhos que me encaravam desde muito tempo com uma expressão ameaçadora, porém cuidadosa. Os olhos que te agrediam docemente, mas depois curam qualquer ferida. Olhos azul-celeste acompanhados de enormes cílios e quase cobertos por um cabelo negro brilhante.

Ouvi batidas na porta e afastei-me de Matt. Mariana entrou no quarto deixando uma bandeja com dois pratos de macarrão acompanhados de uma garrafa de vidro de coca-cola.

Bom, acho que temos que comer né? – disse ele rindo, sorri e assenti com um aceno de cabeça.

Tirei os pratos da bandeja e os coloquei sobre a mesa. Servi nossos copos com o liquido dos deuses. Quando fui me sentar vi que Matt puxou a cadeira me ajudando a aproximar-me da mesa. Rolei os olhos e ele riu.

— Vai ascender as velas também? – questionei.

— Macarronada e coca-cola não são lá muito românticas.

— Se um dia você me levar a algum lugar que sirva camarão e escargot, colocar uma aliança dentro do copo de vinho e depois dar uma volta na praia pra ver o luar refletido no mar juro que te espanco.

— Ei, calma – disse ele levantando as mãos em redenção – Sabia que ódio de algo nada mais é do que uma vontade reprimida?

Rolei os olhos e fechei a cara. Matt riu e atacou seu prato de macarrão em seguida. Eu estava morrendo de fome então fiz o mesmo.

Devo ressaltar que sou quase um ogro comendo. Minha mãe sempre me disse que comer o macarrão “sugando” os fios é uma total falta de respeito, mas eu nunca liguei, então não pensei duas vezes em fazê-lo.

Matt olhou pra mim e começou a gargalhar.

— O que foi? – disse irritada.

— Sua boca – disse ele em meio à gargalhada – Está parecendo uma criança.

Quando finalmente entendi do que ele estava rindo levei minha mão em direção à boca a fim de limpar  mas Matt me impediu segurando meu punho.

— Não é elegante usar as mãos. Eu faço isso.

Então ele veio em minha direção e colou os lábios nos meus tirando todo vestígio de molho dali. Clichê, eu sei.

***

A semana que se seguiu depois do almoço clichê com Matt Evans eu estava entediada em casa como sempre. Jogar vídeo-game não tinha mais sentido pra mim. Eu fazia meia hora de visita a Matt todos os dias e ele melhorava quanto mais o tempo passava. Os hematomas foram desaparecendo e até mesmo sua cor de pele era mais bonita. Ele cortou o cabelo deixando mais a mostra ainda seus incríveis olhos azuis.

Depois da minha hibernação habitual em todo fim de tarde, acordei com um bipe do meu celular. Era uma mensagem de Matt.

“Se arrume, te busco as sete.”

—Matt

Olhei no relógio e se aproximava das seis. Como assim sair com Matt? Eu não tinha nem roupa pra isso. Minha mãe sairia em meia hora e nem com a ajuda dela eu poderia contar.

Fui até a cozinha e ela já estava lá, preparada para seu plantão noturno quando me viu com cara de sono descabelada escorada no batente da porta.

— Ah, boa tarde mocinha.

— Oi – disse quase inaudível.

— Isso chegou pra você – disse ela entregando-me uma caixa grande com um bilhete em cima – Estou indo agora, até mais.

Ela beijou o topo da minha cabeça e deixou-me ali com o embrulho. Abri o bilhete e reconheci a caligrafia.

Quero que vista isso pra hoje à noite. É uma roupa adequada à restaurante com camarão e escargot com direito à aliança no fundo do copo e passeio na praia, não me espanque.

Com amor, Matt Evans"

Retardado, pensei com raiva. Fui até meu quarto e abri o pacote. Lá havia uma blusa branca de ombro caído e uma sapatilha azul-cobalto.

Vesti a roupa com um short jeans surrado e me permiti colocar brincos. Duas bolinhas de cor pérola superdiscretas. Invadi o quarto da minha mãe e passei rímel nos cílios e um batom sabor pêssego nos lábios. Borrifei meu perfume favorito, sentei-me no sofá e minutos depois ouvi uma buzina de carro.

Bati o portão e Matt me esperava do lado de fora do carro.

— Ual – disse ele percorrendo os olhos pelo meu corpo e percebi que os parou em minhas pernas.

Dei um soco de leve em seu queixo e disse com raiva:

— Cala boca retardado pervertido. Espera aqui, vou colocar uma calça.

Matt segurou meus braços e me impediu.

— Você está linda. Da próxima vez quero que coloque algo mais longo. Não gosto que outros caras olhem pra você.

Ri ironicamente e abri a porta do carro pulando pra dentro. Passei o cinto sobre meu corpo. Matt entrou e deu partida no carro.

—Onde vamos? – perguntei em tom seco.

— É especial – ele respondeu.

— Se tiver escargot e camarão eu te espanco.

— E se tiver só aliança no fundo do copo e passeio ao luar?

Rolei os olhos e fui o caminho todo em silencio. No som do carro tocava Hurts Like Heaven e eu não me limitei em cantar:

— Tonight the streets are ours.

***

Quando vi fiquei boquiaberta. Era uma casa na praia feita de Madeira. Na varanda havia uma mesa posta à luz de velas e ao lado um carrinho com uma comida coberta. Matt puxou a cadeira para que eu sentasse e ele se sentou a minha frente.

Um homem de terno e gravata borboleta saiu da casa com uma bandeja onde haviam duas taças, e adivinhem: com coca-cola. Ri sarcasticamente. Peguei um garfo na mão e ameacei Matt:

— Se eu me engasgar com uma aliança juro que te espanco!

— Então espera para ver o resto – ele riu.

O garçom voltou e destampou as travessas que estavam no carrinho ao lado da mesa: dois hambúrgueres gigantes em dois pratos diferentes. Olhei desacreditada pra Matt e ele riu ainda mais.

— Não acredito que contratou um garçom pra servir coca-cola e hambúrguer.

— Não contratei. Ele é meu tio.

Olhei constrangida para trás e o suposto tio de Matt estava de pé perto da porta com os braços atrás do corpo e expressão firme. Matt fez um aceno e ele se retirou. Quando voltei meu olhar pra Matt ele abocanhava o hambúrguer como se tivesse voltado da Etiópia. Olhei pra mesa e haviam três tipos diferentes de cada talher e então ri novamente.

— Isso é muito calórico, não posso comer – disse ironicamente.

Matt pousou seu lanche no prato e me encarou.

— Diga que não está falando sério.

— Uma garota de blusa de renda e sapatilhas não pode comer algo tão gorduroso. Olha essa quantidade de bacon – disse erguendo a parte de cima do pão.

— Vai querer camarão e escargot?

— Sou alérgica a frutos do mar, babaca.

Gargalhamos durante todo o fracassado jantar romântico. E para fechar com chave de ouro, um enorme pote de sorvete de flocos que dividimos enquanto andávamos na praia.

— Eu sinto muito Mel – Matt disse colocando uma colherada de sorvete na boca e passando o pote pra mim.

— Pelo que? – Disse mexendo o sorvete a fim de que ficasse liquido, eu preferia assim.

— Por aquele escândalo na escola com… Bom, você sabe.

Percebi que Matt ainda estava abalado com a morte da prima e que se sentia culpado.

— Ta tudo bem Matt. Não vamos falar sobre isso ok?

Ele sorriu. Levei uma colher do sorvete em direção a boca e passei o pote pra Matt. Sentamos na praia e ficamos ali observando as ondas chicotearem a areia.

— Abra a boca – Matt levou uma colher de sorvete em direção à minha boca e eu obedeci. Esperei que a colher fosse a minha boca mas ele levou até a dele.

— Hey! – protestei.

Matt caiu na gargalhada e então me compensou com uma colher generosa. Terminamos nossa sobremesa e ele se levantou do nada me erguendo junto.

— Mel, não me espanque.

Ele se ajoelhou e segurou uma das minhas mãos.

— Bom, eu nunca fiz isso, mas tentarei o meu melhor – sussurrou pra ele mesmo e depois olhou pra mim — Melanie, você quer namorar comigo?

Apenas sorri e abaixei para beijá-lo. Ali, em frente ao mar, com ondas e direito a luar. Foi clichê e bobo, mas foi com ele. Matt Evans.

***

Aceitei o pedido de Matt e começamos a namorar a partir daquele dia. Dezoito de dezembro vai ficar marcado para sempre. Passamos o natal e ano novo juntos, e não poderia ser melhor: minha mãe e Jared finalmente se casaram, e nesse dia Matt aproveitou para pedir ao meu pai a permissão. De Meg eu nunca mais ouvi falar, ela se mudou praticamente me abandonando. Eu não a culpo, mas também me recuso a sofrer por isso, estou feliz neste momento.

Dizem que para ter uma vida completa é preciso plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Um dos objetivos eu já cumpri, e creio que devo acrescentar: Encontrar um grande amor e fazer todas essas coisas ao lado dele.

Pode ser bobo, sem noção, chato, enjoativo e clichê, mas é a minha história. A história com altos e baixos, momentos tristes e felizes como qualquer outro. Todos merecem ter sua história escrita, ela pode não ser igual, você pode acrescentar momentos felizes e coisas que você gostaria que tivesse acontecido, como eu fiz com a minha.

Se eu fiquei ao seu lado o tempo todo? Bom, isso é incerto. Pode ate ser que tudo isso nem existiu e que tudo isso seja apenas minha imaginação fértil criando cenas perfeitas e dignas de ser um Best Seller. Ou apenas aquele livro de capa dura empoeirada que fica ao fundo de toda estante do qual você tem vergonha de dizer que leu pelo simples fato do se preocupar com o que os outros vão dizer.

Você pode ter visto algo parecido, com os mesmos diálogos bobos e clichês, mas de uma coisa eu tenho certeza: você nunca leu algo igual.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, obrigada. Eu nunca imaginei que a fic chegaria a essas proporções, obrigada a todos os leitores. E quero agradecer em especial ao Gabriel Concentino que corrigiu os capitulos pra mim.
Não posso acreditar que já terminou. Mas tudo tem um fim não é mesmo? Espero que tenham gostado e que eu não tenha decepcionado vocês. Finais sempre são ruins, na minha opinião, eu raramente gosto e com a minha fic não foi diferente.

Quem nunca comentou nenhum capitulo: comente. Dê uma opinião geral sobre toda a fic falando sobre os personagens ou momentos favoritos, é importante pra mim.

Enfim, obrigada novamente e deixarei aqui meu twitter para vocês: @brunacasarini