Descobrindo a própria luz escrita por Marii Weasley


Capítulo 8
Capítulo 8 - Entramos oficialmente para um reality show da MTV Olimpo


Notas iniciais do capítulo

Aí está...

Não tive tempo de revisar...



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Ouvi muitas vezes Annabeth descrever o pavilhão de refeitório, mas nem mesmo a holografia que ela me mostrou na época das reconstruções fazia jus a realidade.

O local realmente se parecia com um acampamento normal, exceto por ser imenso, pela comida aparecendo sozinha nas grandes mesas e desaparecendo, pelos espíritos da natureza em toda a parte e o fogo brilhando de um jeito colorido bastante suspeito nas tochas com um estilo bem clássico. Tudo bem: não se parecia em nada com um acampamento normal.

A cobertura era suspensa por colunas de mármore banco, no melhor estilo Grécia Antiga. Os campistas circulavam de um lado pro outro no grande salão, com suas camisetas laranjas, em uma quantidade muito maior do que eu jamais poderia imaginar, mas pareciam respeitar a divisão de mesas entre os chalés.

— Uau — murmurei baixinho.

— Muito legal, não é? – Annabeth comentou. — Estou pensando em fazer umas melhorias nas colunas do lado esquerdo e criar um novo sistema acústico, porque as vezes sinto que aqui fica muito barulhento e talvez até...

Annabeth continuou tagarelando sobre toda a arquitetura do lugar e da verba que precisaria ser liberada para as reformas, mas eu já não prestava atenção. Ainda estava encantada com todos os detalhes e muito impressionada porque sabia que boa parte daquele projeto era de autoria da minha irmã.

Enquanto eu e Matt andávamos de mãos dadas, sendo guiados pelo ambiente, dava para notar os burburinhos se intensificando. Eu podia sentir a tensão dos outros campistas e até mesmo compreendia. Uma guerra estava se aproximando, o maior herói dos últimos tempos estava desaparecido e como se já não bastasse, dois semideuses muito mais velhos do que o ideal literalmente surgem do nada e param dentro dos limites do acampamento em um momento oportunamente suspeito.

O nosso mundo é um mundo em que não existem coincidências como essa.

Um certo aglomerado foi se formando de modo espontâneo ao nosso redor, devido a todos esse fatores, fazendo com que eu me encolhesse e deseje desaparecer dali. Matt parecia nervoso com seu típico passar de mãos nos cabelos então não fiquei surpresa quando Annabeth tomou, mais uma vez, as rédeas da situação.

— Oi gente! Nós temos alguns novatos hoje que são muito importantes para mim e que eu espero que sejam muito bem recebidos — ela disse em tom alto e claro. — esse aqui é o Matthew, um amigo muito antigo da minha família adotiva.

Matt acenou timidamente e ensaiou esboçar um sorriso, devolvidos por alguns olhares desconfiados.

— Will Solace, — ela chamou, e um garoto saiu de uma das mesas, abarrotada de lindos olhos azuis, e caminhou até Annabeth. — ele foi reclamado hoje mais cedo. É um filho de Apolo. Leve-o até sua mesa e faça as honras da casa, ele vai precisar de ajuda no chalé.

— Oi — o menino sorriu de forma mais branda que os demais, cumprimentando Matt. — Eu sou o seu conselheiro de chalé, o que significa que vou te ajudar na adaptação e sempre que problemas surgirem. Tá a fim de conhecer o resto da galera?

— Claro — um pouco mais confiante, estendendo a mão para um daqueles apertos entre os garotos. — Prazer em te conhecer, cara.

Matt me deu um beijo leve na bochecha e eles foram caminhando até a mesa na qual Will estava sentado anteriormente. Assisti de longe a interação do meu namorado com seus novos irmãos e me permiti relaxar um pouco quando senti o clima melhorando e ele sendo recebido de modo caloroso.

Foi impossível deixar de perceber, que Annabeth era uma conselheira, assim como Will. Mas que apesar disso, ela parecia ser alguém superior a ele, ela lhe dava ordens, ela melhorou completamente o jeito que estávamos sendo recebidos só por dizer que nos conhecia.

E no fim, era isso: o tempo que passamos separadas ao longo dos anos tinha sido investido em conquistar esse lugar de admiração e respeito que eu sei que ela merecia e nunca trabalharia para menos que isso.

— Quanto a essa menina aqui — eu sorri tímida enquanto ela falava, me esforçando para sair da minha usual introspeção. — para quem não a conhece, o nome dela é Isabelle. E ela é minha irmã.

Caminhei ao lado de Annabeth até uma mesa com uns dezoito campistas sentados e logo concluí que aquela era a mesa do chalé 6, Atena. Talvez a enorme bandeira com uma coruja no centro, fincada ao lado do banco, tivesse denunciado. Ou a miopia da maioria dos integrantes.

O jantar acabou sendo uma experiência muito mais tranquila do que a que eu me prepara e todos pareceram se esforçar para não agir de modo tão acanhado, me perguntando sobre os acontecimentos de mais cedo e checando se eu estava me sentindo bem, já que a notícia do meu desmaio tinha se alastrado. 

Acabei conhecendo melhor uma garota chamada Liz que me lembrou muito Mernie, uma das minhas melhores amigas em casa. Os mesmos cabelos compridos, encaracolados, os olhos atentos, mas, principalmente, seu jeito muito curioso de observar tudo. E isso me deixou mais confortável para ir conversando com eles, mesmo omitindo as coisas que eu ainda não sabia muito bem interpretar (como o sonho de mais cedo).

Esse processo fez com que eu sentisse uma certa agonia por estar tão longe de casa e a necessidade de falar com Mernie e Lola surgiu antes de me lembrar que eu teria que dar um jeito de falar em pessoa com meu pai, apesar de Matt ter telefonado para casa. Nossa relação sempre foi meio complicada, a minha e do meu pai. A liberdade que ele nos dá sempre beirando um pouco o descaso. 

O jantar acabou em seguida e os conselheiros levaram os campistas até uma grande fogueira, logo abaixo do terreno do pavilhão de refeitório. Annabeth me deixou com meus novos amigos e foi resolver alguns assuntos com Quíron, na reunião da noite.

O ambiente imediatamente se tornou mais informal, com sua saída, e logo comecei a ser colocada a par da maioria das fofocas daquele verão: os campistas novos, os chalés para os deuses menores que haviam sido construídos após a grande guerra e que agora estavam abarrotados e, principalmente, os planos para juntar os semideuses que estavam sendo citados como os sete da grande profecia. As especulações e palpites de candidatos para a lista final eram fortes e a tentativa de contatar semideuses romanos também. 

Percebi, ainda, que na verdade já sabiam muito sobre mim e Matt, o chalé de Hermes havia liderado uma busca considerável pelas redes sociais e o fato do meu namorado ainda estar como "solteiro", já havia inclusive se alastrado. 

E a verdade é que tudo me deixou muito surpresa.

Minha irmã Annabeth sempre tratou esses assuntos, principalmente as profecias, como completamente confidenciais. E, sua vida, como algo privativo, com a menor quantidade possível de palpites. 

Eu me perguntei naquele momento se ela sabia que em um lugar pequeno como aquele (como uma cidade do interior com mil habitantes, em que todos são adolescentes), não havia a menor possibilidade de se guardar segredos. E se ela sabia que ela e Percy, as especulações sobre o relacionamento dos dois e sobre o desenrolar dos eventos do próximo verão, era a pauta principal de todos os fuxicos, era o assunto que todos comentavam quando ela não estava por perto. Definitivamente é como ser uma subcelebridade.

Aos poucos, depois de uma boa dose de risadas, as pessoas foram se retirando e indo para seus chalés. O toque de recolher estava chegando e era bastante proibido ficar do lado de fora depois dele.

Eu permaneci um bom tempo me aconchegado perto de Matt, que surgiu do meu lado depois que a maioria de seus irmãos foi para  a cama. Ele estava tão tranquilo, como se nada do que tínhamos descoberto nas últimas horas tivesse virado nossa vida do avesso e fosse apenas mais uma noite gostosa de verão, com nós dois apenas amigos, conversando amenidades na varanda do quarto dele, ou em volta de uma fogueira de luau. E aí eu percebi que também estava da mesma maneira. E que tinha sido bem acolhida e que estava segura.

Naquele instante, entendi a magia daquele lugar. Eu mal acabara de chegar e já me sentia em um lar de um modo que nem mesmo na minha casa me sentia. Já havia feito amigos, coisa que sempre tive dificuldade em fazer. A verdade é que ali as diferenças entre as pessoas eram aceitas e isso me deixou livre para não me envergonhar antecipadamente dos meus defeitos.

Ali, não importava se você era filha da deusa do amor ou do deus da guerra. Se você rouba, inventa ou constrói coisas. Se pode controlar árvores, fazer mágica ou passar o tempo todo dormindo. É só o que você é. 

E eu acabei passando longos minutos fitando o fogo e perguntando para mim mesma como o restante do mundo seria se exercesse empatia e aceitação desse modo. 

Annabeth apareceu poucos minutos depois,  me arrancando do devaneio, para dar boa noite e me ensinar como chegar no nosso chalé, em um gesto realmente meigo.

Percebi que os olhos dela estavam um pouco avermelhados, como se tivesse chorado um pouco após as novas notícias da Casa Grande, justificando sua demora.

Percy, pensei.

E desejei que o encontrasse bem e vivo o mais rápido possível. Nunca tinha visto minha irmã naquele estado antes. Tão triste e vazia.

Ela vinha tentando tanto, o dia todo, agir como se as coisas estivessem bem, ser simpática com Matt, lidar com a Hidra, falar de arquitetura, garantir que eu fosse bem recebida no acampamento e não se surpreender com as notícias envolvendo nós dois. Mas eu sabia que não estavam nada bem.

Levantei-me decidida a ir junto com ela e me inclinei para beijar Matt, dando um selinho rápido.

— Amanhã cedo falaremos com Quíron, certo? — ele sussurrou.

Eu assenti com a cabeça e fui me afastando, correndo um pouco para alcançar Annabeth.

— Não precisava voltar comigo — ela reclamou, enxugando uma lágrima prematura. — Sério. Eu estou bem.

— Eu também estou com sono — menti, abraçando-a, esperando que não estivesse com muita pena estampada no meu rosto.

Annabeth fungou novamente e me afastou com delicadeza, buscando me poupar dessa rodada de problemas.

— Sinto falta dele, só isso. Tem sido muito difícil para mim, depois de me acostumar a fazer tudo aqui com ele, encarar a minha rotina com normalidade depois de tantos meses. Eu simplesmente não sei mais como era a minha vida antes de me sentir tão mal e ansiosa todos os dias e isso é muito ruim — desabafou, fazendo meu coração se contrair. — Eu fui pra casa tentando me livrar dessa sensação, mas parece que é meu destino ficar aqui e esperar, completamente impotente. Eu sempre acabo nessa posição, de um jeito ou de outro.

— Você vai encontrá-lo. E todo esse plano... você não aceitou ficar impotente, está dando tudo de si. Não se cobre tanto, ok?

Fomos caminhando, agora em silêncio, até a área dos chalés.  Não havia muito mais a ser dito.

Chegando lá, ganhei uma pilha de roupas limpas, a informação de que poderia falar com papai amanhã cedo e a cama de cima do beliche da Liz, que dormia tranquilamente quando chegamos.

Não me preocupei muito em avaliar o local, porque estava caindo de sono. Não dava pra acreditar que a última vez que eu tinha ido dormir tinha sido como todas as outras: no meu quarto, com eu e o Matt falando pelo Skype. Muita coisa tinha acontecido naquelas 24 horas e é por isso que instantaneamente eu apaguei.

Dormi um sono pesado e praticamente sem sonhos, se não fosse pela voz que tomou a minha cabeça, no momento em que estava acordando.

A princípio não reconheci o significado daquelas palavras, mas então, tudo se tornou nítido. Era um aviso.

Seis dias. Você só tem seis dias.

Meio sobressaltada, percebi que acordei um pouco antes de todos e tentei ignorar por um instante o fato de que havia acabado de receber um prazo: se tudo isso aconteceu em 24 horas, 144 poderia ser o suficiente, certo?

Certo.

Levantei fazendo o mínimo de barulho possível e finalmente avaliando o meu dormitório.

Não era um local simples... Era um chalé para crianças geniais. Livros, laptops e prateleiras estavam espalhados por toda parte, os espaços disponíveis para estudo pareciam o que havia de mais importante e não fiquei surpresa quando me deparei com uma pequena grande biblioteca, na parede oposta.

A porção mais pessoalizada do espaço, certamente era a parede das beliches. Como éramos poucos, praticamente todos tínhamos um espaço para colocar alguns itens pessoais, pedaços do mundo mortal que tínhamos que renegar na maior parte do tempo. E com a minha irmã, não foi diferente.

A parede reservada ao beliche dela, estava lotada de fotos. A maioria antiga, já que os últimos anos haviam sido turbulentos demais pra tirar fotografias ou revelar.

A clássica, de Annabeth como eu a conheci, ao lado de Luke e Thalia me chamou atenção. E as que eu estava presente tambem, em quantidade suficiente para sentir um quentinho no coração.

Mas as que possuíam um brilho diferente, eram sobre Percy. Percy por todos os lados, em todas as idades, de um modo que eu soube que ela estava completamente apaixonada e que talvez sempre houvesse estado. Na praia (uma porção delas), no shopping e parado na frente do Olimpo. Percy e a mãe dele, Percy em seu apartamento e Percy e Annabeth.

Isso me deixou meio feliz, mas meio triste também. Era complicado.

Me arrumei rapidinho e, quando sai do vestiário, a cama da minha irmã já estava vazia. A encontrei acordada, do lado de fora.

— Sonhos — ela só murmurou isso. — Vamos lá, eu sei que vocês precisam conversar com Quíron.

Então, seguimos em silêncio até a Casa Grande. Quando chegamos, o centauro e Matt já nos esperavam na varanda.

— Agora vocês podem dizer qual o problema?— perguntou.— Discutimos muito isso na reunião da noite, ontem, mas tenho certeza que vocês possuem informações novas para compartilhar.

Sem papas na língua, contei toda a história para ele. Um pouco porque estava desesperada e outro tanto porque não tive coragem de omitir nada. Enquanto contava, percebi Annabeth ficando muito tensa, como se não esperasse que as coisas fossem chegar nesse ponto: Hades, Gaia, antídoto, conselho dos deuses, seis dias. Tudo que eu dizia cheirava um problema dos grandes.

Por fim, todos me encarando, estupefatos com as informações, até mesmo Matt, que já sabia de tudo.

— Mesmo sem ter certeza da veracidade completa das informações de Gaia, acho que vocês dois precisam sair em uma missão imediatamente, porque nunca lidamos com nada do gênero e porque eu conheço vocês. Ainda que eu negue as missões, vocês continuam saindo sem permissão — Quíron falou por fim. — Antes de qualquer coisa, você tem que ir consultar o oráculo e me dizer se aceita partir ou não. Você conhece as histórias, minha querida? Sobre o sótão?

Assenti levemente e me levantei, obrigando meus pés a trabalharem, muita coisa passando pela minha cabeça naqueles poucos passos.

Entrei apreensiva na Casa Grande, um pouco distraída, por isso me sobressaltei quando trombei com o dono do par de olhos mais escuros que eu já havia visto.


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Notas finais do capítulo

Surpresos?? Quem será?

Opiniões e sugestões sempre aceitas...

Amanhã tem mais (:

Beiiijos ♥♥



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