Descobrindo a própria luz escrita por Marii Weasley


Capítulo 6
Capítulo 6 - Recebo péssimas noticias de uma pedra


Notas iniciais do capítulo

Bem Gente, as coisas a partir de agora vão ficar bem mais dificeis ...
A reviravolta prometida está ai...
Esse capitulo vai responder uma pergunta bem importante "Como ela se teletransportou pro acampamento se ela é filha de Atena?"

Queria agradecer a minha mana Sofia, por está acompanhando a fic (:

E Gabs, por ter me ajudado com as idéias.



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Estava encolhida em um lugar escuro e estreito, com muros espessos de tanta sujeira, como em um túnel de esgoto, o que me causou aquela sensação de desconforto automática.

Fiz força pra lutar contra o sufocamento e me apoiei em uma das parede, levantando e começando a caminhar devagar. Ao invés de ir me acostumando com a escuridão, como esperava racionalmente, minha visão foi se tornando cada vez pior, até que eu não enxergava absolutamente nada.  

O terror foi me consumindo, a respiração acelerando, e eu comecei a apertar o passo, para sair daquela situação o mais rápido possível. Entretanto, a passagem pela qual caminhava parecia estar cada vez mais estreita, aumentando as camadas de concreto e muco ao meu redor, me engolindo. Quando dei por mim, estava me curvando cada vez mais, para não bater a cabeça.

Meu coração martelava com força no peito, todos os membros tremiam, não estava mais no controle do meu próprio corpo. Tudo isso fez com que eu aumentasse ainda mais o ritmo das passadas, tropeçando enquanto ensaiva uma corrida e arranhando meus braços nas laterais da gruta. Em vão. Quanto mais desesperada eu ficava e com mais afinco lutava para sair daquela emboscada, mais as coisas pioravam.

Pensei gritar, pedir socorro, mas a minha voz não saiu. Tentei de novo. E de novo. Nada. Eu estava sozinha e completamente impotente. E então aconteceu: um cheiro pútrido passou a se apossar de todo local assim que comecei chorar. Comida estragada, sangue, fezes. Nada nas minhas lembranças mais profundas se comparava com aquilo. Um cheiro tão devastador quanto o próprio medo que sentia.

Conforme me encolhia e caia e chorava cada vez mais, o odor ia se intensificando, gerando uma ânsia de vômito quase incontrolável.  

Não posso morrer dessa forma.

As paredes massacravam meus ombros, empurravam cada vez mais pra baixo, até que comecei a engatinhar.

Não posso, não posso morrer dessa forma.  

Os pensamentos se diluíram, insetos passavam pelas minhas mãos, o pescoço completamente curvado, o cheiro fétido penetrava cada pedaço de mim, até que eu podia sentir o gosto de carne podre com clareza.  

Eu VOU morrer dessa forma.  

Estava sem ar. As lágrimas, o desespero e a bile subindo pela minha garganta: tudo contribuindo para que eu não conseguisse respirar corretamente.

Mas algo fez com que eu continuasse até avistar pontinhos discretos de luz ao longe. Segui em frente, com as últimas forças que eu tinha. Faltava só mais um pouco.

No fim, me espremi por uma fissura mínima e fui expelida para fora do túnel. Continuei de quatro, tremendo dos pés a cabeça, colocando toda a comida que ingeri na vida para fora automaticamente e puxando grandes lufadas de ar.

Estava em estado de choque, mole, soluçando e sem a menor ideia do que fazer a seguir. As duas opções que me passaram pela cabeça eram igualmente ruins: me encolher em um dos cantos escuros e úmidos e esperar algo acontecer ( e possivelmente voltar para a sensação claustrofóbica) ou continuar andando no meio daquele breu.

Não tive forças naquele instante para nem um nem outro. Tudo que eu fui capaz de fazer foi buscar parar de chorar para oxigenar melhor os meus pulmões.  

Nesse intervalo, o local ao meu redor foi se tornando mais perceptível. Não sabia se estava enxergando melhor ou se o ambiente estava de fato mais claro, mas gradualmente eu passei a identificar contornos e figuras se movendo.  

E o que eu vi me fez desejar ter continuado no escuro.  

Annabeth havia me contado sobre os planos de Gaia, sobre a profecia dos sete e os gigantes que eles teriam que enfrentar, mas nem todas as histórias do mundo me preparariam para o que eu estava vislumbrando naquele momento: o quartel general do inimigo.

Milhares de monstros assustadores e bem organizados caminhavam pelo quartel, em uma lógica de treinamento e produção macabra. Os telquines, que Annabeth pensara estarem destruídos, nascidos da terra e dracaenas estavam divididos em diversas tarefas, como afiamento e forja de armas, treinamento e montagem de tendas.  

Em uma dessas barracas, criaturas que pareciam ocupar postos hierarquicamente maiores debatiam calorosamente sobre diversos mapas de batalha  cuidadosamente, ordenados,  enquanto diversos serviçais entravam e saiam do local carregando mais ferramentas.

Tudo isso foi observado em poucos segundos, pois instintivamente me escondi atrás de uma porção de pedras e busquei controlar melhor os meus soluços.

E esse foi o pior erro que eu poderia ter cometido.

De início, com as costas apoiada na rocha, não percebi nada de anormal. No entanto, logo comecei a sentir minha camiseta enganchando em algo, fazendo com que eu me virasse assustada. A pedra estava nitidamente se movendo e ganhando forma, como se fosse feita de massinha de modelar. Eu tentei correr, tentei me mexer, mas nada adiantou, como quando busquei gritar no túnel. Tudo que eu pude fazer foi assistir aterrorizada.

A mesma sensação de desespero que havia encarado segundos até se apossou de mim vinte vezes mais potente enquanto observei o contorno de um rosto se formando. Primeiro o nariz, depois a boca e no fim, os olhos fechados.  

Gaia.

Eu estive esperando você por tanto, tanto tempo.

Consigo distinguir essa frase no meio dos meus pensamentos, nitidamente, como uma voz intrusa e rouca tomando posse da minha mente.  

— O q-que você quer? — ainda consegui balbuciar.

Não se aprece criança, apenas me escute.  

Eu estive assistindo seus passos por muitos anos, Isabelle. Analisando sua personalidade, seu tipo de força interna, até adquirir uma sintonia perfeita com os seus pensamentos. Eu sei tudo sobre você. Sei como Annabeth sempre ganhou mais atenção, mesmo que ela não estivesse presente. E como tudo que você faz nunca é o suficiente para ser reconhecida. Sei o quanto se recente da sua madrasta por amar tanto aquelas crianças burras que chama de filhos e nunca ter tido a capacidade de dedicar a menor das atenções a você. Você, que sempre sobrou na sua própria casa, já que ninguém desenvolveu nenhum relacionamento, nenhum sentimento. Apenas uma sombra, é o que você é.

Eu estava chorando novamente. Não queria que isso acontecesse, que eu demonstrasse que aquilo me atingia, mas foi inevitável. Todas as minhas maiores aflições dos últimos anos estavam sendo jogadas na minha cara de uma única vez. Não conseguia raciocinar que não deveria estar ali, que não deveria me deixar manipular, só me senti a um lixo. Como na maior parte do tempo todo me sentia.

E isso é culpa dos olimpianos. Eles amam pintar todos que atentam contra o poder que eles estabeleceram como vilões, mas isso não é verdade. É só verificar o que eles sempre fazem com vocês, semideuses. Nascidos de um puro capricho e frequentemente sem pais e sem um lar seguro e amoroso para crescer. Ignorados por toda a infância e assumidos na adolescência porque não há escapatória. Mesmo após o juramento firmado no último verão, uma quantidade estrondosa de vocês ainda não é declarada. Você não foi declarada, o seu sátiro nunca chegou.  Eles abandonam sempre que é conveniente.

E é por isso que eu preciso da sua ajuda. Eles não enxergam você, mas eu sim: forte e corajosa. Juntas, podemos mudar toda essa situação de injustiça, podemos criar um mundo novo e muito melhor. Chega de se sentir um lixo. Você é uma heroína.

— Eu não sei o que te dizer, me desculpe. Não sei no que poderia ajudar, tudo isso é novo pra mim também. Não sei em quem acreditar.

Bom, você bem sabe que os sete da última grande profecia estão muito próximos de se juntarem. Eu não tenho problema com eles. São heróis, fracos e cheios de defeitos. A menos é claro, por Annabeth Chase. Igual ela sempre se mete na sua vida, mas nunca faz nada a respeito para melhorar a situação, ela pretende se meter nos meus planos e permitir que os olimpianos continuem passando por cima de todos.

A menos é claro, que algo a impessa. Alguém que ela ache tola o suficiente, que mesmo sendo tão inteligente não desconfiará de nada.

— Está sugerindo que eu...?

Podemos eliminá-la juntas. Não importa o jeito, o que importa é o resultado final. Poção, monstro, armadilha. Você escolhe.

— Você quer que eu a mate?!

A idéia me pareceu tão ridícula, que apesar de todo medo que sentia até aquele momento, esbocei o meu melhor sorriso de desdém. Não havia dúvidas mais na minha cabeça: ninguém em um ambiente como aquele, que me fez sentir tão pequena e mal naquele túnel e depois tentou me manipular com uma proposta tão suja estava do lado certo da briga. Gaia não merecia meu medo, nem a minha desconfiança com relação a família e amigos. Era isso que ela merecia: desdém.

Você precisa de algo que só eu posso lhe dar.

Dessa vez, a fitei com outro olhar, muito mais esperto, entendendo tudo: estava mudando sua estratégia para me convencer de seus planos, pois sentia que estava perdendo. Tudo que eu mais queria estaria ao meu lado quando eu despertasse daquele sonho. Estava nítido pra mim agora: não passava de um sonho.

Não me refiro ao garoto, família e todas essas baboseiras que já introjetaram dentro de você. Não seja burra. Você tem 16 anos, por que você acha que sua querida mãe nunca te reclamou até agora?

Ri sarcasticamente novamente e decidi não dizer nada. De onde vinha toda aquela coragem? Não faço ideia. Mas não ia morder a isca outra vez.

Bom, pode rir o quanto quiser, mas não vai rir por muito tempo sem a minha ajuda. Você sabe alguma coisa sobre o seu nascimento?

Permaneci no mais profundo silêncio, o que foi ignorado pela deusa, que continuou seu monólogo como se estivesse contando sobre alguma banalidade em um chá da tarde.

A verdade é que você não deveria ter sobrevivido a ele. Você sabe como as parcas funcionam, não? Alguns fios longos, outros curtos, alguns se entrelaçam, mas sempre há um destino. Uma profecia. Seu propósito no mundo mortal era apenas sensibilizar mais Atena. Sempre foi. Mostrar que ela podia se apaixonar e perder o homem que amava e seu bebê em poucos minutos. Um bebê fraco e doente que só viveria cerca de três horas.
Entretanto, assim que Atena estava prestes a te dar a luz, previram que isso aconteceria.

A olhei descrente. Não queria acreditar nela e tudo aquilo parecia loucura demais, mesmo que já tivesse alguma noção do mundo dos semideuses, era apenas loucura demais. Ela tinha que estar jogando comigo novamente. Aquilo tudo não podia ser verdade.

Senti sua voz sorrir, percebendo que estava me enrolando em outra teia do seu jogo e aproveitando o meu momento de titubeio para continuar a história.

Então sua mãe decidiu fazer um acordo com Hades. Ela achava que era esperta o bastante para enganar o destino. Esperta o bastante para enganar a morte. Entretanto, manter uma criança viva quando ela deveria morrer custa muito caro.

— Eu não acredito em você — reuni toda minha força para poder dizer aquelas simples palavras.

Não? Que tipo de filha de Atena você é? Você deveria saber quando aceitar que está em um beco sem saída. Aceitar que eu não perderia meu tempo com você se não achasse que iria me ajudar.

Aquilo me travou por um instante e ela percebeu, continuando rapidamente suas revelações..

Você virou uma propriedade de Hades, no momento em que o acordo foi selado. Tem a marca dele, a marca dos mortos, dentro do seu espírito. Isabelle, você não poderia ser uma semideusa, você deveria estar morta. E por isso carrega uma maldição.

Para muitos , ter os poderes de uma cria de Atena e alguns reflexos da magia de Hades, é a maior benção concedida em muitas eras. Você é a semideusa mais poderosa de todas. Nem Percy, nem Jason, nem Annabeth, Thalia ou Nico. Nada se compara a você.

Mas isso não é um dom, não é uma benção. Não, não é. Zeus jamais permitiria um herói com tantos poderes, os demais olimpianos não permitiriam. E é por isso que existiu um acordo: você não poderia ser reclamada, saber sobre o sangue dourado que corre nas suas veias. Você jamais poderia usar esses poderes.

Agora minha cabeça estava uma loucura, pois sabia que havia uma chance real de Gaia estar me contando várias mentiras, ou pedaços  convenientes da verdade, mas tudo não deixava de me tocar. Milhares de fatos passando por ela em uma velocidade alarmante, tentando conectar todos fatores dos últimos anos em apenas alguns segundos. Foi quando eu entendi. O teletransporte para o Acampamento Meio Sangue. Eu era responsável por ele e existia um nome para aquilo: viagem nas sombras. Eu havia usado os poderes da marca de Hades.

— E o que acontece se eu usar os meus poderes? — balbuciei, sentindo um frio percorrendo a minha espinha, porque inconscientemente já sabia a resposta.

Você mudou o destino outra vez, mexeu novamente com os fios das Parcas e suas entrelaçadas e conexões. Matt deveria estar morto agora, assim como vários mortais daquele shopping. Sua irmã escaparia, mas ele não. E todos com quem vocês tiverem contato de agora em diante, terão novamente seu destino afetado pela sua existência, suas opções afetadas. Mas não será mais tolerado que você engane a morte, percebe? Em breve os deuses se convencerão em conselho que só existe uma saída: deixar que você morra e o menino também. Do jeito que as Parcas desejam. Do jeito que foi combinado que aconteceria se você usasse os seus poderes um dia.

Uma lágrima escorregou pela minha bochecha esquerda. Aquilo tudo era real demais para que fosse outra armadilha. Meus instintos me diziam para não me render de uma vez, mas o desespero estava falando mais alto, desesperada por uma solução. 

Existe um antídoto. Um antídoto muito antigo, capaz de cortar fora a marca de Hades e fazer com que tudo isso seja deixado para trás. E ele está em meus poderes Isabelle. Eu juro por todos os titãs que está em meus poderes. Você só precisa se juntar a nós. Se vencermos, salvamos você, o garoto, tudo. Pense bem em tudo que eu disse. Nos encontraremos em breve.

Acordei com um pulo.

— Está tudo bem, Isa? — ouvi Matt perguntar. — acabei de chegar e você estava gritando, tentei te acordar de todos as formas, mas...

Ele não continuou, por que tudo que eu pude fazer foi me jogar em seus braços e chorar.


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Notas finais do capítulo

E aí? Surpresos?? Sugestões??

Você vão querer me matar, mas o próximo só na segunda *--*

Se não entenderem alguma coisa me avisem (:

Beijos ♥♥



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