Descobrindo a própria luz escrita por Marii Weasley


Capítulo 14
Capítulo 14 - Os sentinelas gigantes e carnívoros


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo foi o primeiro escrito após a saída do armário de Nico em HDO. Na época decidi ignorar esse fato porque tinha desenvolvido a fic seguindo a teoria de que o nervosismo dele perto da Annabeth era por conta de uma quedinha por ela e seria difícil reverter isso.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/369321/chapter/14

 — O quê, por todos os deuses, é aquilo? — sussurrei baixinho.

— Estigers — meu namorado devolveu de imediato, como se fosse evidente, me provocando espanto e uma careta desconfiada de Nico.

Não ficamos parados discutindo por muito tempo, nos arrastamos para dentro da vegetação novamente, os arbustos nos dando cobertura por alguns instantes.

De lá, era possível enxergar a entrada para o antigo covil, assim como o bando de aves sobrevoando as rochas em círculo, como sentinelas.

— Ele tem razão. Estigers são como os nossos vampiros, eles se alimentam do sangue das presas.  — pontuou. — E como você sabe disso, Matt?

Ele pensou por um instante, nitidamente surpreso, como nós, os olhos azuis ainda fincados na ameaça. 

— Eu não sei, eu só sabia — foi sincero. 

— Não podemos perder tempo com isso agora — interrompi. — precisamos dar um jeito de entrar antes que eles vejam a gente, pegar as lágrimas de sei lá o que, e dar o fora.

Sabia que essa ideia era ridícula e tinha tudo para dar imensamente errado, mas não havia uma possibilidade melhor passando pela minha cabeça naquele momento.

Olhei para o alto mais uma vez. Os pássaros deveriam ter cerca de três metros, suas penagens eram de um tom cinza escuro, mas definitivamente o que mais chamava atenção eram as cabeças. Arredondas como as de corujas, com bicos pontiagudos, que não escondiam as presas enormes todas as vezes que abriam a boca para ganir. 

As vezes é quase inacreditável o tipo de coisa que aparece na vida de um semideus.

— O que você acha, Nico? — perguntei, fazendo Matt se movimentar incomodado. 

— Acho que posso entrar na gruta sozinho pelas sombras enquanto vocês dois vigiam aqui fora.

— Mas você não sabe o que tem lá dentro — Matt rebateu. — Talvez não seja uma boa ideia nos separarmos. 

Ponderei por um instante, sabendo que precisava tomar uma decisão entre duas alternativas ruins rapidamente. 

— É se separando que tudo começa a dar errado nos filmes — brinquei, me esgueirando de volta para a trilha, fazendo meus companheiros de missão me seguirem. 

Nós três entramos sorrateiramente na gruta e observamos por um tempo. O lugar não pode ser descrito com outra palavra além de fumegante. Havia fumaça em toda parte e restos de ferramentas de forja e armas inacabadas espalhadas, como se uma bomba tivesse caído por ali. Várias mesas quebradas ou reviradas também estavam a vista, além de material para anotações e antigos mapas de batalha. 

Mas nada disso foi o que mais nos chamou atenção, mas sim a nossa solidão. 

Ninguém?

— E como é o que estamos procurando? — Maat perguntou, desconcertado com a bagunça e com a dificuldade de encontrar qualquer coisa por ali.

— Pequeno, com inscrições em grego e tampa dourada. O conteúdo deve ser de um rosa bem pálido. — Nico fez uma pausa e olhou em volta. Em seguida apontou para um monte de pedras. — Deve estar em algum lugar por ali. Nas forjas, as lágrimas de dracaena são usadas como uma espécie de solvente de rochas ígneas. 

Eu não tinha nenhuma ideia do que ele estava dizendo e isso, para uma pessoa que gosta de entender processos e estar no controle, era bem difícil. Mas não me impediu de seguir até lá e procurar.

— Como é que você sempre sabe todas essas coisas, Nico? — acabei perguntando, com as mãos sujas de fuligem enquanto revirava uma montanha de entulhos. 

Ali no meio, era possível distinguir alguns cacos de vidro e eu não queria pensar muito no assunto. Na possibilidade de não ter sobrado mais nada para ser resgatado.

— Eu sei que de fora pode parecer que estamos sempre com problemas, o que é meio verdade, mas ao longo dos anos a gente também estuda e aprende bastante coisa no Acampamento, nas próprias batalhas em si — ele se deteu por um instante, afastando o cabelo úmido de suor dos olhos, fazendo com que sua testa ficasse um pouco suja. — E bom, por aí. 

— Por aí? — estranhei, interrompendo momentaneamente as buscas.

— Os filhos de Hades não são muito de ficar parados, a gente nem sempre é bem aceito e nem sempre se encaixa. Falamos muito com fantasmas, com deuses menores e as vezes esbarramos em coisas que os outros semideuses nem imaginam.

Torci o nariz, um tanto por estar incomodada com o sentimento de estar vivendo a minha vida toda em atraso, como se eu estivesse com 15 anos frequentando a primeira série. Outro bom tanto com a cautela de Nico, como se ele tivesse descoberto algo que não pudesse me contar. Algo que justificasse falar de filhos de Hades daquela maneira.

Alguma coisa passou pela minha cabeça, mas decidi ignorar o desenrolar de teorias, enquanto buscava o pote antes que fosse tarde.

Após mais um tempo de busca, eu e meu namorado esbarramos em uma pilha de latas, como de tintas, que continham em seu interior uma grande quantidade de frascos com substâncias esquisitas dentro. E foi assim que achamos, preservado, um conjunto de frascos de lágrimas de dracaena

Segurei a ampola pequena em minhas mãos com o coração um pouco acelerado. O líquido rosa cintilante reluziu e eu me perguntei como era possível que aquilo determinasse tanto a meu respeito. E uma chama de esperança em conseguir reunir tudo e de medo, pelos próximos dias, se apoderou de mim.

— A gente precisa sair — fui alertada pelo meu namorado, que abriu a sua mochila e a encheu com alguns frascos, antes de assim como Nico bebericar um pouco de água e voltar a vestir sua camisa, se preparando para a longa decida. 

Meu peito começou a se apertar um pouco, ao imaginar deixar a gruta, mas não consegui identificar o motivo. Eram tantas coisas e pensamentos acontecendo ao mesmo tempo, mas algo simplesmente não parecia certo.

Caminhamos em direção a saída, enquanto eu refazia meu rabo de cavalo sem me livrar da sensação.

E foi aí que eu percebi o problema.

Tudo parecia excessivamente fácil. Tinhamos realmente enfrentado um pouco de bagunça e calor para conseguir as poções, mas eu aos poucos estava entendendo que isso não existia para semideuses.

Foi ai que eu enxerguei o óbvio. Os sentinelas. Eles não estavam ali para impedir que a gente entrasse na antiga forja. Eles estavam ali para impedir que a gente saísse. 

— Esperem! — falei bem no momento em que Nico pisou do lado de fora.

E era tarde demais. Dezenas de estigers estavam nos esperando, empoleirados nas árvores como predadores. 

E o ganido de júbilo ao sermos avistados comprovou que eu estava certa.

É engraçado o que te vem à cabeça quando se está prestes a morrer. Mas naquele instante, olhando para aquelas presas sugadoras de sangue assustadoras, tudo que eu consegui pensar foi no que um daqueles turistas enxergaria se visse um monstro como aquele.

As pessoas são muito criativas para não admitir a realidade que está diante de seus olhos, algumas vezes. 

Eu e Matt seguimos o exemplo de Nico e sacamos desajeitados as armas que recebemos no acampamento: eu uma adaga e ele uma espada.

As feras atacaram, sem que pudessemos fazer muito a respeito, nos separando pelos nossos movimentos institivos. Provavelmente eu teria morrido logo na primeira investida, pois tudo que fui capaz de fazer foi abaixar alguns centímetros, em um reflexo atrasado, quando os pássaros se jogaram em minha direção. Mas houve algo que surgiu entre a minha carne e as garras do predador, que me permitiu rolar para o lado e avistar com maior clareza: Nico havia convocado uma série de guerreiros esqueletos, que lutavam ao nosso lado.

Eles brandiam espadas feitas de ossos e honestamente me deixaram mais amedrontada do que a própria ameaça.

Eu e Matt, que havia pulado uma boa porção de metros para a minha direita, tínhamos duas escolhas: ou apreendíamos a nos defender ou morreríamos naquele momento. Então aprendemos.

Os guerreiros esqueletos eram meio lentos, e morriam rapidamente. Nico tentava substituí-los com a mesma rapidez, mas aquela não deveria ser uma tarefa muito simples. 

O filho de Apolo, por sua vez, parecia estar se ajustando bem a espada dele, mesmo que desengonçado. Era capaz de golpear os animais que chegavam muito perto com sua bainha, e rodar a lâmina no alto, acima de sua cabeça, afastando os predadores que vinham das árvores.

E eu... Bem, tudo que eu fiz por um tempo foi me esquivar, porque foi o que tive confiança para desempenhar, sobretudo com uma arma tão curta como a que eu possuía. Isso deu certo por alguns poucos instantes, antes de uma dezena de monstros se virarem em minha direção de uma única vez, me obrigando a correr e me encurralando na ponta do abismo. 

Uma delas, mais alta que todas as outras, gania com autoridade, penetrando seus olhos esbugalhados nos meus. Olhei rapidamente ao meu redor e percebi que estava isolada dos garotos, que estavam ocupados com a sua própria horda de demônios. 

Uma das estiges foi para trás como que para pegar impulso, seguindo os sons de suas copanheiras, como que obedecendo sua comandante. 

Quando a ave investiu, eu me obriguei a esperar parada pela maior quantidade possível de tempo, rolando para baixo no último instante. As garras dela abriram um buraco fundo do meu ombro até a metade das minhas costas, mas eu acabei conseguindo cravar a adaga na barriga dela,  de baixo para cima, a transformando em um monte de pó dourado. 

Levantei-me meio zonza, com o ombro latejando. Pontinhos começaram a dançar na frente dos meus olhos e minha visão foi ficando turva.

Não houve muito tempo para recuperações, pois seguia bem próximo do abismo, com mais uma porção de pássaros me encarando. 

Eu precisava pensar muito rápido e elas não podiam perceber o meu plano. E então descobri o que poderia ser feito. Mas precisávamos estar juntos para que desse certo.

— Sem filmes! — gritei o mais alto que pude, torcendo para que meus companheiros me entendessem, não podíamos ficar separados. — Vamos viajar!

E então tudo se desenrolou muito rápido. 

Nico piscou os olhos, atônito, antes de assentir com a cabeça e se ajoelhar no chão, meu namorado lhe dando momentaneamente cobertura, balançando sua espada e afastando os sentinelas mais insistentes. Senti toda a terra estremecendo sobre os nossos pés, como se a montanha Santa Helena estivesse voltando a acordar. 

Uma rachadura imensa passou a se desenvolver no solo, partindo a região plana que estávamos em duas metades. E então aconteceu. A rachadura tornou-se uma fissura que aos poucos se alargava,  separando o precipício em duas metades. 

Nico levantou, com suas últimas forças e atravessou o terreno correndo em minha direção, com Matt em seu encalço.  

Um grito agudo saiu da minha garganta quando eu percebi o que os dois pretendiam fazer. Eles foram pegando mais velocidade até que saltaram ao mesmo tempo, por cima da fissura larga, a probabilidade real de um deles não conseguir chegar do outro lado. Não pude me preocupar por tempo o suficiente pois, em seguida, Nico também estava rugindo e eu não entendia o motivo de imediato.

Até que todas as estiges perceberam nossas intenção e mergulharam para impedir a aterrissagem dos garotos, mas já era tarde demais. Uma horda muito maior de guerreiros esqueletos saltou da fenda, como que saídos diretamente do inferno para nos defender e se colocaram entre as aves e nós.

Os dois chegaram do meu lado do penhasco salvos, destrambelhados e cambaleantes, mas não pararam de correr. Eles haviam entendido meu plano de viajar nas sombras.

E, aparentemente, a estige chefe, que estava estudando a situação com seus olhos penetrantes também compreendeu, no último instante, pois não se distraiu com a fissura, como as outras. Ela se manteve focada em mim, como se quisesse me desafiar. 

Você vai mesmo fazer isso? Nós duas sabemos que você não tem coragem.

Eu poderia jurar que era isso que ela me sussurava, meus pensamentos cada vez mais turvos com a dor latejante do meu ombro. 

E tudo que sabia era que não havia escolha: eu tinha que ter coragem.

Quando os garotos estavam a cerca de um metro de mim, eu dei as costas para eles, caminhei um pouco para trás e escutei Matt chamar meu nome, no instante que percebeu o que estávamos prestes a fazer. A maior loucura da minha vida.

Mas quando enfim fui alcançada, não hesitei. No momento que estávamos lado a lado, me esforcei para correr no mesmo ritmo que ambos e estender as mãos para os dois.

E então, nos lançamos juntos do penhasco.

Com uma horda de pássaros  carnívoros mergulhando atrás milésimos de segundo depois. 

E antes que pudéssemos ser pegos, ou gritar, somos novamente engolidos pela escuridão sem fim.

Foi como da outra vez, Nico começou tudo. Mas ele parecia mais fraco e trêmulo, perdemos a velocidade rápido demais e sacudimos com força, como um navio no meio de uma tempestade. Os guerreiros esqueletos o haviam esgotado.

Na minha vez de assumir, eu também estava terrivelmente fraca. Meu ombro doía como se um trator estivesse passado por cima dele. E a viagem da manhã havia exigido muita força.

Eu não poderia andar três metros, quanto mais viajar nas sombras e era exatamente isso que eu tentava evitar pensar, nos milésimos de segundos que tive para notar que Nico estava em seu máximo. 

Ande sua fraca, disse pra mim mesma. Annabeth conseguiria.

Quando estávamos quase parando como da outra vez, consegui mentalizar o único local seguro com o qual eu tinha uma ligação forte o suficiente para conseguir nos guiar naquele momento, o único lugar em que não precisaria me esforçar para materializar uma memória. 

E então fomos até ele.

O mundo voltando a desacelerar ao meu redor, mas estava esgotada demais fisicamente para comemorar.

— Bells! — escutei vozes femininas me chamando, mas sabia que estava perdendo a consciência. 

Meu último pensamento lógico foi: desmaiar está virando moda.

Então tudo ficou escuro e eu cai no chão do quarto da minha melhor amiga.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Como sempre, a história é da Gab's ♥ (cara, no próximo capítulo a Juliana vai ter uma "participação" especial kkk)
Minhas manas divas do pjbr ♥♥
E o pessoal do chalé 6 *-----*
Nos vemos em breve (se os passáros gigantes e carnivoros que gritam em alto de picos não me levarem kkkk)

Kissus :3



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Descobrindo a própria luz" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.