Ótimo.

Essa palavra não poderia ser usada para definir meu dia.

Eu estava certa em ter medo. Primeiramente mamãe e o senhor P. foram para o quarto deles, e o Potter prestou para alguma coisa ao dizer para eles não fazerem nenhuma safadeza. Mamãe somente sorriu amarelo e saiu ruborizada. Mas eu imediatamente me arrependi de pensar que o Potter servia para alguma coisa quando vi ele e o Senhor P. fazendo uma troca de olhares muito suspeita. Tive que me segurar para não esfolar a cara dos dois no asfalto quente. 

Margareth ficou de olho em nós somente por meia hora e depois foi se deitar. 

A noite começou a dar errado quando Lene me pegou desprevenida e arrancou Fantasma de minhas mãos e saiu correndo com ele. Eu me irritei e corri atrás dela, pronta para assassina-la com uma colher. Acredite, colheres podem fazer estragos. Minhas últimas vitimas que o digam. 

Então a idiota olhou para trás e acabou tropeçando em um tapete e caindo, levando um vaso consigo e o Fantasma. Soltei um berro extremamente agudo e avancei em sua direção, temendo que ela tivesse esmagado o coitado. 

Por sorte, Fantasma estava muito bem. O único que havia sofrido algum dano havia sido aquele vaso chines caríssimo e muito feio. Fala sério, por que pessoas ricas insistiam em comprar esses vasos horrorosos e super caros que até crianças de 2 anos de idade sabem fazer? 

Deixei os caquinhos ali no chão para que Margareth os encontrasse pela manhã e limpasse.

Com Fantasma novamente seguro em meus braços, voltei para a sala, onde o Potter estava agachado no chão mexendo em algumas caixas com DVDs.

— Vamos assistir a um filme — ele disse para mim quando entrei, sem nem mesmo erguer os olhos do que estava fazendo.

Dei de ombros e me joguei no sofá.

O idiota do Black ficou encarregado de fazer a pipoca e para a surpresa de ninguém, quase explodiu a casa. Havia pipoca e milho queimado pela cozinha inteira. E ele ainda deu a desculpa de que havia se distraído. Somente colocou a pipoca queimada em uma bacia e ficou comendo enquanto eu encarava aquela sujeira toda. Tinha pipoca até no teto! 

Acho que a explicação para ele ser sem cérebro desse jeito é que ele esqueceu de passar na fila do cérebro quando estava nascendo. Ou ele divide o seu cérebro com o Potter nos finais de semana mesmo. 

Voltamos para a sala e Dorcas decidiu que iria fazer brigadeiro, prometendo que não iria explodir mais nada. E por algum motivo Remus se ofereceu para supervisiona-la. E ela não se ofendeu. A garota que se ofende até se você respira muito alto perto dela, e acha que é pessoal, somente deu de ombros e sorriu. 

— Safadinhos, aposto que vão se agarrar — o Potter disse sorrindo malicioso. O Black concordou.

— Minha amiga é pura de mais pra se agarrar na cozinha com um de seus amigos estúpidos — eu disse fazendo uma careta. Mesmo que Remus não fosse tão estúpido quanto o Black e o Potter, deveria ter uma razão pra ele andar com esses dois retardados, não é? 

— Ela não parecia tão pura assim... — Lene se intrometeu e eu mandei ela ficar quieta.

— Eu vou provar para vocês que eles não teriam coragem — eu disse me erguendo do sofá e abrindo a porta da cozinha. — Viram? Eu disse que... DORCAS!

E lá estava, a doce e inocente Dorcas sentada no balcão da cozinha, com Remus entre suas pernas enquanto a beijava loucamente. 

— DORCAS SUA VADIA! — berrei batendo o pé no chão e ela se separou dele, corada — EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ ESTAVA SE AGARRANDO COM O INIMIGO! 

Apesar de tudo, ninguém fez qualquer comentário estúpido, somente ficaram lá, parados e boquiabertos. 

Dorcas empurrou Remus, que cambaleou para trás, e depois desceu do balcão. Ajeitou os cabelos e me olhou como se nada tivesse acontecido, mas suas bochechas estavam ruborizadas. 

Cruzei os braços e esperei. 

— Eu...

Bati o pé impacientemente no chão e continuei fitando-a, irritada. 

— Não estava acontecendo nada! — ela exclamou colocando as mãos na cabeça como se eu fosse tacar alguma coisa nela.

— SUA ACÉFALA, TRAIDORA DOS INFERNOS! — berrei apontando para seu rosto, todo mundo na cozinha se assustou. — ESSE BALCÃO É ONDE A MARGARETH FAZ COMIDA! 

Dorcas parecia que estava a ponto de chorar e ninguém ousava se mexer ou dizer qualquer coisa. A primeira lagrima caiu e ela saiu correndo, desviando dos braços de Remus e Lene que tentaram segura-la. 

Quando a porta bateu atrás de nós todos me lançaram olhares assustados, menos Lene que fazia uma careta muito feia para mim. Eu sei, eu havia pegado pesado. Mas ela estava aos beijos com o inimigo! E ainda por cima no balcão da cozinha! Agora Margareth teria que usar desinfetante ali. 

Revirei os olhos e voltei para a sala, com todos no meu encalço. Dorcas estava sentada no sofá com uma almofada em seu rosto. 

Me aproximei lentamente e sentei-me ao seu lado. 

— Dory, me desculpa — eu disse acariciando os cabelos dela. — Mas esses retardados inúteis estavam dizendo que vocês estavam se agarrando, e eu ainda te defendi! E acabei sendo feita de idiota!

Dorcas retirou a almofada do rosto e sorriu para mim. Limpou os últimos resquícios de lágrimas dos olhos e voltou para a cozinha para terminar o brigadeiro. Bipolaridade? Não, imagina! 

Enquanto os garotos sentavam-se no chão para ajudar o Potter a escolher um filme para assistirmos, Lene foi na cozinha para ajudar Dorcas com o brigadeiro e para fazer mais pipoca. 

Encarei aqueles retardados no chão e tive uma ideia. Eu que não iria assistir algum filme de terror idiota. Eu iria faze-los assistirem Pitch Perfect comigo! 

— Ei garotos, vamos assistir Pitch Perfect? — perguntei e eles me olharam.

— É de terror? — o Black perguntou imediatamente e eu me segurei para não tacar um tijolo nele. 

Mentir ou não mentir?

— Ah claro, tem muito sangue — eu disse sorrindo fazendo um gesto de descaso com as mãos. 

— E por que se chama assim? — Remus perguntou erguendo as sobrancelhas. Remus seu idiota, por que não podia ser burro como seus amigos? 

— Porque é o ritmo como o monstro do filme mata suas vitimas. É perfeito. — Eu sorri, esperando que eles acreditassem. 

Depois de alguns segundos em que eles ficaram em silencio, trocando olhares, o Potter deu de ombros e respondeu: 

— É, pode ser.

Bati palmas, animada, mas o Black me interrompeu: 

— Mas a gente não tem esse filme.

— Eu tenho na minha mochila — falei, ficando de pé e indo busca-la. Ela estava jogada ao lado do sofá desde que eu havia chegado na mansão Potter, e eu ainda não havia a guardado. 

Não deixei que vissem a capa do filme e coloquei-o no DVD, esperando as garotas chegarem. Eles olharam desconfiados para o menu do filme, mas não disseram nada.

E agora, o que eu iria fazer? E se eles percebessem no meio do filme que eu havia enganado eles e tirassem o filme? E pior ainda: colocassem um de seus filmes de terror ridículos.

Bem, eu podia sempre amarra-los e jogar a caixa de filmes de terror pela janela. 

Me joguei em um dos sofás, enquanto Lene e Dorcas voltavam para a sala segurando bacias com pipoca e brigadeiro. Claro que a pipoca seria para os garotos e o brigadeiro para mim e para minhas amigas. Principalmente para mim. 

Eu detestava pipoca e Lene também. Sim, havíamos nascido uma para a outra, e não no sentido gay da coisa. 

Lene e Dorcas sentaram-se ao meu lado, com minhas pernas em cima delas. O Potter e seus amigos retardados ficaram com o outro sofá e a pipoca. Lene me entregou uma colher e outra para Dorcas e nos preparamos. 

Usei o controle para dar play no filme, e quando começou os idiotas nem ao menos se viraram para me encarar, totalmente concentrados no filme. Sorri, feliz. 

Eles me encheram com perguntas uma boa parte do filme, mas não tentaram tirar o filme nenhuma vez, porque eram gays e haviam gostado. Ou porque ninguém podia resistir a Pitch Perfect, era simplesmente perfeito demais. 

Na apresentação final, eu e Lene nos debulhamos em lágrimas, pois tínhamos orgulho das "nossas garotas". Elas fizeram uma ótima apresentação. Pelo canto do olho vi algumas lágrimas nos olhos dos garotos. Troquei olhares com Lene e nos seguramos para não cair na risada. 

— JECA! — gritei no beijo da Beca e do Jesse.

— JECA! — Lene gritou também e os outros nos olharam com cara de wtf enquanto se perguntavam o que diabos era Jeca. 

Jeca não era um nome de shipp muito bom, me fazia lembrar de meleca e catarro. 

Quando o filme terminou, os garotos fingiram que estavam indignados comigo, mas todos sabiam que eles haviam gostado do filme. 

Eu já estava ficando sonolenta e estava pronta para me trancar no meu novo quarto —que consequentemente também era o quarto do meu arqui-inimigo —, quando o maldito Black deu um berro que fez toda a casa acordar.