Alguém colocou ácido nas minhas veias. A idéia girava na cabeça de Alexya e parecia queimar a fogo na memória.

Seu corpo parecia de chumbo e qualquer esforço para mover seus músculos era inútil. Era pesado de mais, difícil de mais, penoso de mais. Alexya podia ouvir os sons ao seu redor, mas seus olhos pareciam ter sido costurados. Ela simplesmente não conseguia abri-los, por mais que tentasse. E o ácido nas suas veias parecia corroer seus órgãos de dentro pra fora.

– Vai demorar muito? – A voz de Sabina soava apática.

– Eu não sei. Ela já deveria ter acordado a essa altura. – Alexya pensou ter ouvido a voz de Lucian dizer, mas ela não tinha certeza.

– Eu acho que você deveria ter consultado ela antes. - A voz de Sabina insistia.

– Não havia tempo para ponderação, Sabina. Você sabe disso. – Lucian resmungou, sua voz mais próxima de Alexya.

Alexya pensou ter ouvido Sabina bufar, mas com os olhos fechados ela não tinha certeza.

A dor veio com uma nova intensidade e Alexya queria gritar em frustração. Aquela dor não se assemelhava a nada que ela tivesse sentido antes. Ela não poderia descrever em palavras, parecia que seus ossos eram triturados até virar pó e então iam se colando, grama por grama, até serem os ossos dela de novo. E a cada etapa, mais dor ela sentia.

Alexya fechou seus olhos com mais força, embora eles continuariam fechados mesmo que ela quisesse abri-los. Procurou com sua mente a pulsação do seu coração, imaginando que ela estaria frenética com as crises de dor.

Preciso acalmar a minha pulsação. Ela pensou em meio à névoa de dor. E quando eu acalmar meu coração voltarei a pensar mais calmamente.

– Olhem só isso. – A voz de Johan flutuou até Alexya. – Pelo visto, ganharei mais uma neta.

– Eu não posso acreditar que você a transformou! – Camilla berrou com sua voz estridente, e Alexya se encolheu devido ao som.

A pulsação, garota. Ela voltou a pensar. Esquece deles e procura a sua pulsa... Espera. Como assim, transformou?

– Camilla, agora não é hora. – Lucian soava exausto, como se essa não fosse a primeira vez que eles tem essa conversa.

– Você é um idiota, Lucian! – Camilla berrou novamente.

Alexya estava se enchendo com a coisa toda dos gritos.

– Para de incomodar. – A voz de Sabina foi ouvida se afastando, e então barulhos de briga foram ouvidos. Camilla soltou outro grito esganiçado. E depois a porta se fechou com uma pancada.

– Pelo amor de Deus, alguém acorda logo ela. – Sabina resmungou, voltando para perto de Alexya.

Alexya tentou ignorar as conversas que ocorriam ao seu redor, mas parecia que todos eles falavam alto de mais.

Por que todo mundo estava gritando?

– Não é assim, Sabina. Ela vai acordar no seu próprio tempo. – Lucian murmurou.

Alexya tentou abrir seus olhos novamente, mas nada acontecia. Pavor encheu seu peito e ela sabia que seu coração devia estar pulsando loucamente, mas ela não podia se concentrar nele. Parecia como se ele não existisse mais ali.

– Minha transformação não demorou tanto assim. Parece até que ela esta com medo de acordar como uma vampira. – Sabina disse ao lado de Alexya.

Vampira? Não, ele certamente não faria isso...

– O que ela poderia temer? Se ela aceitou a transformação, agora tem de encarar suas escolhas. – Johan soava entediado com a coisa toda.

– Ai que está, ela não... – Sabina começou, mas Lucian a interrompeu.

– Ela não imaginava que seus sentidos mudariam tanto. – Ele terminou a frase de Sabina, mas algo dizia a Alexya que não era isso que a vampira ia dizer para ele. – Temos que deixar ela se acostumar com isso.

Alexya continuava com os olhos fechados, mas imaginava que nesse momento Sabina estaria dando a Lucian um fulminante olhar de “Que maldito mentiroso você se tornou”. Ao menos era esse olhar que ela queria dar ao seu mestre agora.

– O mundo não espera por nós, Lucian. Ela deve acordar agora. – Johan disse com uma inflexão na voz que pareceu comandar algo dentro de Alexya.

Seus olhos se abriram finalmente.

Mas só para se fecharem logo em seguida. A maldita lâmpada do quarto de Lucian quase cegou Alexya no momento em que ela abriu os olhos.

– Merda. – Lucian murmurou. – Kyle, apague a luz. Ela ainda está se adaptando aos novos sentidos.

Alexya ouviu o barulho do interruptor e soube que já estaria seguro para abrir os olhos novamente. Ela sabia que o quarto deveria estar mergulhado em um breu completo, mas ela enxergava tudo como se uma Lua cheia iluminasse todo o lugar.

Era incrível.

– Você vai ensiná-la a caçar? – Johan perguntou a Lucian. Ele estava parado encostado à parede usando Jeans e uma T-shirt Branca. Com seus cachos indomados, parecia um anjo vingador.

Continuava incrivelmente sexy com aquela barba por fazer.

– É lógico. Ela é minha filha e futura consorte. É meu dever ensinar a ela tudo o que ela precisa saber. – Lucian grunhiu para Johan. Ele estava ajoelhado ao lado do corpo de Alexya usando Jeans rasgados e uma camiseta do avesso. Parecia que tinha colocado a primeira coisa que tinha achado pelo caminho na pressa de salvá-la.

Johan e Lucian se encaravam como se estivessem desafiando um ao outro. Era um estúpido concurso de mijo a distancia, Alexya refletiu.

Um farfalhar de saias chamou sua atenção para seu lado esquerdo, onde Sabina acabara de se levantar. Ela usava um vestido de saias rodadas estilo boneca. Era vermelho vinho e contrastava com seus cachos ruivos. Ela estendeu a mão em direção a Alexya, como se oferecendo ajuda para levantar.

– Bem vinda de volta. – Sabina ofereceu um dos seus raros sorrisos. – E seja bem vinda ao time dos sem coração.

Alexya aceitou sua mão estendida e se pôs de pé.

Mal sabia ela que Sabina falava sério. Não era apenas a falta de pulsação um efeito de ser vampiro. Agora ela também seria incapaz de amar novamente.

Ela realmente tinha perdido seu coração.