Alexya estava se sentindo uma merda.

E Deus, ela desejou poder aparentar tão mal como se sentia. Mas havia alguma coisa no sangue de vampiro que fazia com que seu cabelo fosse tão macio e brilhoso quanto um comercial de shampoo e que sua pele tivesse um brilho saudável que não condizia com as horas de sono que ela havia perdido.

O que era estupidamente irritante. Ela queria parecer acabada e não como se o termino com Josh tivesse feito bem a ela.

Só de pensar nele trazia uma estranha dor ao peito dela e ela tinha que se lembrar constantemente que ficar em casa deitada na cama chorando não era uma opção.

Cara, aquilo doía.

E o fato de Lucian ter estado com um sorriso satisfeito no rosto durante o tempo em que ela esteve próxima a ele não fez nada pra aplacar a culpa que ela sentia.

No fundo ela sabia que não importava quanto ela desejasse culpar seu mestre por toda a merda que havia em sua vida, a culpa era somente dela.

E então, percebendo que Alexya não estava em clima de bate-papo depois de só responder as tentativas de conversa de Derek, ele teve a grande idéia de colocar um filme para que o clima não ficasse tão tenso. Não que isso tivesse ajudado muita coisa, já que Alexya fez questão de se sentar tão longe de Lucian quanto possível.

Escolheram Harry Potter, e nem mesmo assistir um dos seus filmes favoritos e ver Sabina resmungando que era ridículo que os filmes não chegassem aos pés dos livros – embora ela concordasse muito com a vampira e em qualquer outro dia ela poderia até ter entrado na conversa – não fez com que ela saísse daquele estado de estupor causado pela certeza de ter perdido Josh.

Alexya se lembrou com tristeza da cena em que a Hermione usava o vira tempo para salvar o pobre bicuço e desejou ardentemente que assim como os malditos vampiros, o vira-tempo pudesse existir e desejou mais ainda que de alguma forma ela tivesse um consigo para poder voltar no tempo e concertar as coisas.

Quem sabe não ter ido ao Metamorphose aquela noite pudesse ter dado um destino diferente a ela, em que ela seria ignorante do mundo sombrio que rodeava a ridícula existência humana.

Deus, seus pensamentos eram tão sombrios que agora só faltava ela usar preto e cortar os pulsos.

Em frente ao prédio da Administração da Faculdade, Josh e alguns caras do time estavam conversando animadamente sobre o campeonato que estava chegando. Ninguém diria que ele sofria de alguma forma pelo termino dos dois, mas ao contrario de Alexya ele não era um escravo de sangue e a olheira sob seus olhos fez com que a dor no peito dela aumentasse a deixando momentaneamente perdida.

Alexya olhava desejosa em direção a Josh, pensando em como seria bom se perder em seus braços novamente, quando seus olhos pousaram sobre ela.

Ela não poderia se ajudar, ela queria muito pedir desculpas pra ele pela noite de Sábado. Mas seus olhos eram estranhos a ela e logo ele olhou para longe como se ela não merecesse seu interesse mais do que o gramado em que ele pisava.

Alexya sentiu a tristeza dar lugar a raiva enquanto uma garota qualquer chegava até ele e balançava seus cabelos sobre o ombro em uma fraca tentativa de flertar. Josh sorriu para a morena e passou sua mão ao redor da cintura dela enquanto se inclinava para falar algo em seu ouvido. A pequena vadia riu e pousou sua mão no peito dele. Josh a puxou para mais perto.

Alexya virou as costas para o show e correu para dentro do prédio. Deus era testemunha que se ficasse mais alguns minutos vendo aquilo, a próxima coisa que a senhorita risadinha faria era ver o punho de Alexya se conectando com a cara dela.

Enquanto passava pela área da administração em direção a sala do Sr. Ramirez, a secretaria – qual era mesmo o nome dela? Ah, Alice. – acenou para Alexya e sorriu amavelmente.

Alexya apenas inclinou a cabeça em retorno e entrou na sala do diretor após bater duas vezes com os nós dos dedos contra a porta.

– O senhor queria falar comigo? – Alexya disse enquanto entrava na sala e fechava a porta atrás de si. Ela nunca foi fã de conversas a portas abertas.

– Sim, Alexya. Sente-se, por favor. – Sr. Ramirez indica em direção as cadeiras em frente a sua mesa.

De alguma forma o escritório do Sr. Ramirez lembrava muito o escritório de Lucian, com as estantes dos dois lados cobrindo as paredes do chão ao teto e a grande janela atrás da mesa do diretor. Mas o escritório do Sr. Ramirez tinha uma elegante palmeira no canto direito próximo à janela que dava a sala um ar acolhedor que o escritório de Lucian não possuía.

– Bom, você deve estar ciente que a treinadora Grace está momentaneamente afastada por alguns problemas pessoais, e como Capitã das Wolf’s, na ausência dela você se torna a responsável pela equipe.

Alexya apenas acena com a cabeça.

– Então até que ela volte, vamos acabar tratando diretamente sobre o campeonato das Lideres de torcida que irá ocorrer na semana que vem.

– Desculpe, você disse semana que vem? – Alexya desperta dos seus devaneios.

– Sim, semana que vem. Eu pensei que você já soubesse. – Sr. Ramirez franze o cenho.

– Cara, eu não fazia idéia. – Alexya olha para ele assustada. – Na verdade, eu acho que nenhuma das garotas sequer foi informada.

Alexya não tem certeza, mas parece que o Sr. Ramirez disse um palavrão.

– Olha, embora eu acredito que isso seja muito, muito anti ético da minha parte, você merece saber algumas... informações.

Alexya inclinou a cabeça com interesse.

– É o seguinte, o cargo da treinadora Grace está por um fio. Fazem quatro anos que as Wolf’s não ganham nenhuma maldita medalha, quem dirá um titulo.E Grace tem... Se ausentado cada vez mais com atestados. A diretoria da Faculdade tem estado desgostosa, de certa forma, com a equipe das Lideres de torcida. Eles acreditam que é um investimento sem retorno, entende?

– Onde você quer chegar com isso, Sr. Ramirez? – Alexya pergunta, indo diretamente aos “finalmente” da questão.

– Se vocês não ganharem o campeonato, esse é o ultimo ano em que a faculdade terá uma equipe de Lideres de torcida.

Alexya sente que sua boca se abriu de tal forma que formou um perfeito “O”.

– Você deve ta de brincadeira comigo! – Ela dispara.

Para mérito do Sr. Ramirez, ele parecia completamente atordoado e tão desgostoso com a noticia quanto ela se sentia.

– Infelizmente, temo não se tratar de uma brincadeira. Como você sabe, algumas das alunas ganharam bolsas de atleta ao entrarem na equipe e se acaso a diretoria decidir cortar as Wolf’s para fora do orçamento...

– Elas perdem a bolsa. – Alexya completou.

– Isso mesmo. – Sr. Ramirez assente.

Alexya se larga pesadamente na cadeira enquanto absolve a informação.

Puta merda, nada de pressão pra cima da capitã, hein?

– Merda. – Alexya disparou e o Sr. Ramirez balançou a cabeça concordando.

– Eu sei que isso deve ser um peso pra você. – Sr Ramirez disse com simpatia.

– Você não faz idéia. – Alexya murmurou.

– Mas você foi eleita capitã por um motivo, Alexya. Aquelas garotas confiam em você, e se eu tivesse que apontar com o dedo a pessoa mais capaz de lidar com essa situação, essa pessoa seria você.

– Eu não sei o que te dizer, Sr. Ramirez. Eu vou dar o meu melhor. Bom, a equipe inteira vai. Mas eu não posso garantir que o nosso melhor será o suficiente. – Ela dá de ombros tentando não soar tão assustada quanto se sentia.

– Isso é tudo o que eu poderia pedir a vocês. – Ele concorda. – Bom, era isso. Agora, se você puder me dar licença, eu tenho mais alguns problemas para resolver. Preciso chegar em casa mais cedo essa noite. Hoje eu e minha mulher completamos quinze anos de casados e eu quero levá-la pra jantar. – Ele sorri enquanto provavelmente pensa na mulher.

– Claro, claro. Bom, dê meus parabéns a ela, por mim. E... quem sabe o senhor deva levar um buque de rosas a ela? Não conheço uma mulher que não goste de ganhar flores. – Alexya sorri enquanto se levanta.

– Obrigado pela dica, Alexya. Pode deixar comigo. – Ele concorda enquanto acompanha Alexya até a porta se despedindo com um aperto de mão.

Alexya segue porta afora enquanto pensa em como ela vai fazer para ganhar a maldita competição. Ela tinha total certeza de que as garotas – e ela – não estavam preparadas para competir – e vencer – em uma semana, mas ela havia prometido ao Sr. Ramirez que daria seu melhor e isso queria basicamente dizer que ela tentaria de tudo antes de se dar por vencida. E ela não era o tipo que se dá por vencida facilmente.

Ela estava presa em seus pensamentos, revendo a nova coreografia, procurando por falhas e pensando em formas de corrigir isso quando esbarrou em um casal que dava uns amaços na escada da frente da administração.

– Olha por onde anda sua louca! – A morena disparou para Alexya antes que ela pudesse murmurar qualquer tipo de desculpas.

Os olhos de Josh cruzaram com ela e Alexya pensou ter visto certa satisfação obscura brilhar neles, como se o fato dele estar agarrando a garota em frente as escadas por onde Alexya acabaria passando não tivesse sido um feliz acaso.

– Alexya. – Ele cumprimentou secamente.

A morena olhou para Josh e em seguida para o rosto confuso e triste de Alexya e sorriu lascivamente.

– Então essa é a sua ex namorada vadia, baby? – Ela disse com escárnio.

O cérebro de Alexya parecia registrar tudo muito lentamente e ela não poderia dizer se foi o sorriso que se seguiu no rosto de Josh, o braço da morena que o rodeava possessivamente, o fato de ter sido chamada de vadia por uma garota que até então ela nem sequer sabia que existia ou a garota a ter feito lembrar que agora ela não tinha mais Josh para si mesma, mas alguma coisa dentro dela se quebrou e Alexya simplesmente não se importava mais com nada, ela só queria agir.

Enquanto sua mente registrava tudo em um turbilhão, o corpo de Alexya reagiu mais rápido e o punho dela se conectou com o nariz da morena em um soco rápido, mas certeiro.

E pela primeira vez desde que Josh a havia abandonado naquela maldita festa, Alexya pode se sentir realmente bem.

As coisas iam melhorar, ela tinha certeza.

E deixar a vadia com o nariz sangrando havia sido o melhor começo.