As estrelas estavam especialmente brilhantes essa noite.

Deitada sobre o capô do Focus preto com vidros fumê, Alexya observava a imensidão escura com milhares de pontos brilhantes.

Em todos os 19 anos de vida, nunca dera importância à beleza do céu noturno, não costumava observar a lua cheia iluminando a noite como uma lâmpada fluorescente. Considerava-se uma criatura do dia. Os raios de sol energizavam seu corpo e alma. Gostava do calor sobre a pele.

Mas, agora era uma criatura da noite, não era?

Nada mais justo que se sentisse atraída pelas estrelas e escuridão.

Não havia um motivo exato para estar ali, sozinha, durante a madrugada. Ela apenas precisava pensar, enquanto observava a noite.

Estava fugindo.

Não de alguém em especial, nenhuma ameaça que preocupasse sua mente.

Fugia de si mesma.

Deixava para trás uma vida onde todos pensavam que estava morta.

Talvez ela estivesse.

A Alexia Steven, popular, amada pelos pais, adorada pelos professores, talentosa e sorridente, agora estava morta. Pra sempre.

Agora, Alexya era somente uma sombra de si mesma, com os mesmos cabelos loiros, olhos dourados, corpo atlético, e sorriso cativante.

Mas agora o sorriso tinha presas. Pontudas. Afiadas. Letais.

Ela sabia o dano que elas poderiam causar. Já havia matado com elas.

Não sentia remorso pelas mortes que carregava sobre os ombros. Não sentia empatia. Apenas a sede em sua garganta, que nunca se aplacava.

Tinha recordações de como era sentir amor, afeto, saudade,tristeza, alegria, dor…

Agora era como um recipiente vazio. Não sentia nada.

Não. Ainda sinto alguma coisa. Disse a si mesma, e lembrou-se do que havia levado-a até ali, agora a 100 metros para longe da Estrada, fugindo de tudo e de todos, enquanto havia parado para observar as estrelas.

A ânsia de se afastar de quem a havia transformado em algo que não compreendia. A raiva de ter sido arrancada de sua antiga vida sem aviso prévio, condenada a andar pelo mundo como um fantasma, sem sentir nada, sem pertencer a nenhum lugar.

O medo da solidão.

Esse era o pior.

Sabia que a solidão seria sua nova companheira de tumulo.

Maldito Lucian. Exasperou-se em sua mente. Amaldiçoado. Como eu.

Desistiu de ficar olhando as estrelas.

Nem ao menos sabia o motivo de ter parado.

Tinha que continuar viajando. Mover-se.

Com um suspiro saiu de cima do capô do carro e seguiu para dentro, no banco do motorista.

Arrancou com o carro, jogando poeira e pedriscos longe, e se direcionou de volta para a rua asfaltada, entrando com tudo na avenida, sem reduzir, mesmo sabendo que vinha um carro da direção oposta, e que provavelmente iriam bater de frente.

O carro desviou no ultimo minuto, e grudou a mão na buzina enquanto reduzia a velocidade para poder colocar a cabeça para fora e gritar obscenidades dignas de um marinheiro na direção que o carro de Alexya seguia.

Alexya considerou voltar, arrancar o cara de dentro do carro e beber o seu sangue, fazendo com que sentisse mais dor a cada sugada que ela desse em sua garganta, e depois dividir os pedaços do seu corpo – principalmente o dedo do meio e o pênis que ele havia usado como forma de insulto – pela mata ao redor da Estrada.

A ideia de beber o sangue do homem até a morte deu água em sua boca, mas mesmo assim ela não voltou.

Já havia desperdiçado tempo ao parar para olhar as estrelas.

Malditas estrelas.

Ligou o som do carro e aumentou o volume. “Last Friday Night” enchia todos os cantos do carro, mas não conseguia afugentar seus pensamentos.

À noite em que conheceu Lucian lhe veio à mente, forçando-a a dar atenção a memoria mais dolorosa que tinha.