Masked Archer escrita por Jessie Wisets


Capítulo 5
Limpo como Cristal


Notas iniciais do capítulo

Agradecimento especial à minha amiga que foi a inspiração para Louise. E à Barbara, a primeira pessoa a comentar minha história. O3O



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/368100/chapter/5

Acordei e novamente Wisets não estava lá. Ela deve ter ido caçar folhas de hortelã. Olhei para meu relógio, eram 10 horas da manhã. Levantei-me, peguei minhas coisas e as coloquei em uma arvore, escondendo-as bem. Segui a procura de Wisets. Procurei entre as arvores, não havia ninguém em seus galhos. Fui até próximo à estrada, e nada. Escutei algumas pessoas falando, aproximei-me para ver se Wisets estava entre eles, e nada.

Não acredito que ela fugiu. Não, ela não fugiu na primeira vez que teve chance, não teria fugido agora. Escutei o barulho de água corrente. Segui o som até chegar ao riacho. Wisets estava lá. Estava deitada, com o rosto para cima, boiando na água. O casaco verde, o arco, suas roupas e sapatos estavam na margem. Wisets estava com apenas o sutiã de um biquíni e um short jeans.

Meu rosto ficou vermelho. Ela deveria estar congelando. Águas de rios são geladas, e estamos no outono, o que as torna ainda mais geladas. Ela parecia confortável, como se o frio não a atingisse. Só então reparei, eu estava a encarando completamente vermelho e imóvel. Sacudi a cabeça e parei de encara-la.

Seus olhos se abriram e ela olhou para mim, abriu um sorriso e afundou no lago. A água era cristalina o suficiente para vê-la nadando. Ela emergiu e saiu da agua pegando a toalha no galho e enrolando o cabelo nela. Sacudo a cabeça quando percebo que estou a encarando novamente.

Ela passou por mim para vestir a blusa. Uma coisa eu acertei, ela havia caçado folhas de hortelã. Ela inalava um cheiro refrescante. Ela se sentou e começou a botar o tênis novamente. Reparei no rasgo que tinha nele, o que fora causado pela adaga de Rick. O corte era grande. Antes que ela o calçasse abaixei e segurei seu pé.

Ela me olhou com uma careta. Imitei sua careta e ela arregalou os olhos. Examinei o dedo. Tinha um pedaço de pele solta. Meu kit de primeiros socorros estava meio longe, então tive de improvisar. Olhei ao redor e encontrei uma planta familiar, uma babosa. Peguei a planta e tirei a casca. Coloquei no machucado e ela estremeceu. Tirei minha pulseira de couro e prendi a planta em seu dedo.

Acabei o curativo e levantei o rosto. Wisets encarava o próprio pé como se aquilo não fosse do seu corpo. Ela levantou o rosto e me encarou. Seus olhos eram tão cinzas, que pareciam tornados que destruiriam minha alma. Ela não desviou o olhar em nenhum momento. Tentei parar de encara-la, mas era como se estivéssemos acorrentados novamente. Nem o casaco verde me livraria disso.

Ela soltou uma risada abafada e bagunçou meu cabelo. Levantou-se e andou até suas coisas pegou o arco e voltou para perto de mim. Ela esticou a mão para que eu levantasse. Segurei sua mão e levantei. “Obrigada por me ajudar tanto.” Ela diz em minha mente, depois me abraça. Meu corpo não fica tenso, não fica vermelho, apenas fica quente com o abraço dela.

– Qual o plano de hoje? Para onde vamos? – ela pergunta se afastando de mim.

– Acho que podemos ir para o Colorado. Minha família é de Denver, podem nos ajudar em algo. – eu digo.

– Denver... – ela disse baixo. Seu olhar distante.

– Algum problema? – pergunto reparando em seu incomodo.

– Não, não. Então... Dever aqui vamos nós. – ela disse com uma falsa animação.

Pegamos um ônibus até Denver. Comprei uma passagem na rodoviária para a Wisets tomando precaução para que o banco ao lado dela estivesse vazio. Assim que o ônibus partiu, me teletransportei para dentro e me sentei ao lado dela. Antes que pergunte... Transportar duas pessoas de uma ponta à outra do país é muito hardcore para um novato em magia.

Ninguém no ônibus parecia reparar que eu tinha aparecido do nada lá. Sentei-me ao lado de Wisets. Ela admirava a paisagem passando pela janela. Seu arco estava no bagageiro, mas o costume de apertar o arco permaneceu, e ela começou a apertar o braço da poltrona. Wisets dormiu. Precisávamos descansar. As poltronas do ônibus, comparadas com um chão, eram bem confortáveis. Peguei no sono.

.

.

.

A viagem durou cerca de seis horas, então quando chegamos à Denver já estava anoitecendo. Denver era minha cidade natal, nasci e cresci aqui. Minha casa fica no centro. Ela tem um estilo vitoriano, branca com janelas cor de pinheiro. Wisets estava parada ao meu lado olhando para a casa de frente para a minha. Ela era mal cuidada. Os vidros estilhaçados e a pintura descascava. Poderia um dia ter sido bela, mas agora só sobrara seu esqueleto. Wisets encarava a casa com um ar diferente.

– Eu conheci uma garota que viveu ai – disse – ela sofria bullying na escola. Alguns dizem que ela se matou, outros dizem que ela matou o pai e depois fugiu. Nunca acreditei, talvez sejam apenas boatos.

– Talvez – ela respondeu.

A vizinhança estava barulhenta. O barulho estava alto demais. O barulho vinha da minha casa. Subi os degraus e abri a porta. Um oceano de pessoas surgiu na minha frente. A casa estava lotada de estranhos dançando e bebendo. Algumas pessoas estavam se agarrando outros estavam bêbados caindo pelos cantos.

Entrei na casa batendo os pés frustrado. Onde ela está? Virava a cabeça para os lados a procurando. Ela estava sentada conversando com algumas pessoas. Tem 17 anos, cabelos ruivos picotados e olhos caramelos. Louise.

– O que esta acontecendo aqui? – grito mais alto que a música.

Ela se vira e esboça um sorriso.

– Irmãozinho que surpresa boa! – ela diz e me abraça. – Veio para a festa?

– Desculpa, não recebi o convite – digo entre os dentes.

“Marshall” a voz de Wisets falou em minha cabeça. Droga! Durante o ataque de raiva esqueci-me completamente dela. “Onde você está?” pergunto na esperança de que ela me escute. “Perto da cozinha” ela responde. Giro a cabeça procurando-a.

– O que você esta procurando? – pergunta Louise.

Rodo o corpo para os lados até ter um vislumbre de seu casaco verde. Atravesso a multidão empurrando-os para os lados a fim de abrir meu caminho. Sinto os passos de Louise atrás de mim, ela esta me seguindo. Chego próximo à cozinha. Meu sangue pulsa ao ver Wisets. Um garoto a esta imprensando na parede. Ela o esta olhando com raiva. Por que ela ainda não bateu nele? Penso. O arco de Wisets esta no chão de baixo dos pés do garoto. O sangue pulsa em meus ouvidos.

– Se afasta dela cara! – grito o empurrando para longe de Wisets.

– Qual é baixinho? – ele me empurra de volta.

– Sai de perto do meu irmão. – grita Louise – Cai fora!

O garoto se afasta da gente. Wisets pega o arco do chão. Louise alternava olhares entre mim e Wisets. Por fim ela acaba encarando Wisets. Ela não desvia o olhar mesmo quando Wisets a encara de volta. Eu já teria congelado.

– Meu irmão trouxe uma garota pra casa – diz Louise – deveria estar com minha câmera.

Meu rosto esquenta. Louise coloca a mão no ombro de Wisets e elas começam a conversar.

.

.

.

A festa demora muito pra acabar. No final estamos eu, Wisets e Louise acabados no sofá. Louise oferece um pijama e uma toalha para Wisets e a guia até o banheiro. Ela volta e senta-se ao meu lado. Ela nunca foi uma pessoa “normal” então deitou de cabeça para baixo.

– Wisets é uma boa garota. – ela diz sorrindo.

–Ela é legal... – digo.

– Cara, ainda não acredito que você trouxe uma garota para casa – ela diz rindo.

– Não é o que você esta pensando! – respondo corando.

Levanto-me e vou até meu antigo quarto. Não venho aqui desde que resolvi morar no acampamento. As paredes continuam da mesma cor azul. Em um dos cantos consigo ver a marca de queimado que eu deixei após experimentar um feitiço novo. O quarto não mudou nada.

Sento na cama e fico olhando para a parede. É estranho estar na casa onde eu cresci de novo. Parece que nunca saí daqui. Levanto depois de algumas horas sentindo o cheiro do lugar e vou até a cozinha beber um copo d’agua. Na volta, ao subir a escada, passo em frente ao quarto de hóspedes, onde Wisets está, e escuto um barulho. Abro a porta devagar e boto metade do corpo para dentro.

Wisets está suando, sua testa está enrugada e as mãos tentam apertar o ar a sua frente. Ela esta tendo um pesadelo e procura o arco. Sento na poltrona ao lado da cama e estico minha mão até alcançar a dela. Wisets aperta minha mão com força, depois relaxa. Seu semblante volta a ficar calmo e sua respiração fica normal. Louise para em frente a porta do quarto e fica me olhando sorrindo.

– O que foi? – pergunto.

– Nada – ela diz – só acho que meu irmãozinho está apaixonado.

E depois ela se vai. Olho para Wisets e pego no sono.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Masked Archer" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.