Acordei cedo. Isso sempre acontecia quando eu havia dormido ansiosa.

Não quis acordar as meninas, então coloquei meus fones de ouvido e comecei a ouvir a minha melhor playlist.

O refeitório estava completamente vazio, mas as comidas já estavam servidas. Aproveitei o momento e comi tranquilamente, sem pressa nenhuma. Quando terminei, continuei sentada, apenas observando pela janela de vidro a paisagem ali fora. O céu estava parcialmente nublado, mas ainda assim o verde que se espalhava pelo acampamento era convidativo a ficar lá fora.

Comecei a me levantar, mas voltei a sentar quando vi algumas pessoas correndo lá fora. Reconheci Luke, Connor, Calipso, Nico e Larissa, mas havia mais alguns que eu não consegui identificar.

Para onde eles estavam indo com tanta pressa tão cedo?

Bom, isso não importava, eu precisava conversar com Luke e terminar o nosso namoro que já não estava indo bem desde o começo do Acampamento.

O engraçado é que eu tinha acabado de me dar conta disso. Eu não ficava feliz ao lado de Luke. E ele não se importava de fato comigo. Era tudo tão automático.

Me levantei e saí andando atrás deles, mas acabei ficando bem para trás, porque não conhecia o terreno, e tinha que desviar de alguns galhos e raízes. Andamos por quase dois quilômetros até chegarmos perto de uma cachoeira. Parei um pouco atrás, para recuperar o fôlego. E eles prosseguiram para a direita, onde o fluxo da água era o mais calmo da área. Alguns começaram a gritar e pular na água. Procurei Luke e o encontrei ainda fora da cachoeira, sentado ao lado de Calipso.

Fui até ele.

- Pois é – pude ouvir Calipso, enquanto me aproximava – Sempre achei que ela fosse a mais inteligente e tal, mas que menina burrinha.

Parei de andar. Eu estava há dois metros deles, mas pelo jeito ninguém tinha percebido minha presença, por estarem de costas.

Luke deu uma risadinha e se apoximou de Calipso. Meu cérebro parou de funcionar nos instantes seguintes, se recusando a acreditar no que estava se passando bem na minha frente.

Luke estava beijando Calipso. E ela estava correspondendo tão naturalmente que parecia já tê-lo beijado várias vezes.

- Luke? – minha voz saiu mais fina do que eu gostaria.

Luke e Calipso pularam de susto e ele se afastou dela, como se aquilo fosse magicamente negar o que estavam fazendo.

- Oi Annie – ele sorriu nervoso – Há quanto tempo você...

- O suficiente para saber o quão cretino você é – eu cortei, tentando controlar as lágrimas que ainda não tinham caído – Está tudo acabado.

Virei as costas e saí andando firme, um pouco travada, ainda segurando as lágrimas.

- Ei! – ele correu até mim e pegou meu braço – Annabeth, você não entendeu direito.

- Eu posso até ser burrinha, mas não exagera, tá? – eu puxei meu braço, mas ele não soltou.

- Mas você não pode terminar comigo!

- É claro que eu posso. – eu dei uma risada histérica – Você sabe o porquê de eu vir aqui? Porque eu estava decidida em terminar o nosso relacionamento idiota de um modo maduro, conversando com você e até mesmo ouvindo você.

Ele ficou estático, como se não acreditasse em minhas palavras.

- É Luke, eu nunca gostei de você. – eu o encarei – Posso ter sentido alguma atração, mas gostar? Amar? Eu achava que sim porque não sabia o que é amar. Mas assim que descobri, eu quis ser honesta com você, porque eu achava que a nossa amizade talvez ainda pudesse continuar.

- Eu amo você, Annabeth.

- Não Luke. Você também nunca gostou de mim. Nem sei se chegou a me ver como uma amiga de verdade, eu acho que estava mais para um passatempo. E não precisa tentar me enganar mais uma vez, eu já sei que você nunca sentiu nada por mim. Só... me esquece, ok? Você não sabe o que é amar, Luke.

- E você sabe? – ele me olhou desconfiado – Como sabe o que é amar, Annabeth?

Não consegui responder, eu apenas havia falado um monte de coisas que estavam guardadas dentro de mim, em algum lugar que eu mal sabia acessar. E agora com certeza não era hora de pensar alguma resposta para Luke. O que eu tinha para falar, já tinha falado.

Puxei meu braço e Luke me soltou. Assim que virei as costas, comecei a chorar incontrolavelmente. Andei depressa, de volta ao bosque que usamos de caminho na ida. Tentei por meus fones de ouvido de novo, mas eu não conseguia me concentrar em algo. Eu não estava triste por terminar com Luke, estava magoada por descobrir que Débora sempre teve razão. Ele era um cretino.

Como sabe o que é amar, Annabeth? foi a única frase que ficou em minha mente.

Talvez... Talvez eu tenha descoberto um sentimento que não conhecia até agora. Talvez a noite passada tenha sido uma alucinação da minha cabeça, porque a cada momento que eu lembrava, me parecia mágico, e completamente surreal.

Talvez, eu gostasse de...

- Percy! – uma voz fina veio de alguns metros a minha frente, e eu logo pude ver de quem era – Vamos, dê um sorrisinho!

Fiquei estática, apenas observando os dois que caminhavam em minha direção.

- Annabeth? – Percy me viu e apressou o passo até chegar em mim.

- Ah – Rachel disse, não muito animada – Você por aqui.

- Você estava chorando? – Percy perguntou, tocando meu rosto.

Me afastei de seu toque. Senti um soco imaginário na boca do meu estômago, e tive dificuldade para respirar. Uma dor tão pequena, mas tão profunda, surgiu no meio do meu peito.

- Annie? – Percy me encarou – O que houve?

- Nada. – eu consegui falar decentemente – Nunca houve nada.

E saí correndo.