Se existe uma palavra que descreva bem a minha tarde daquela quarta-feira, a palavra foi tediosa. Extremamente tediosa, para mim. Porque para Rachel a cada loja que ela entrava, a cada sacola a mais na mão, o seu sorriso ficava maior.

Entramos em várias e várias lojas. Compramos desde um vestido super caro, e diga-se de passagem, lindo, até um brinco minúsculo, mas igualmente caro. Apenas às 5hs paramos para comer alguma coisa. Comi um fast food que foi altamente criticado por possuir calorias x, carboidratos x e mais uma série de coisas pelas quais eu não me importo.

Minha irmã chegou mais cedo que o combinado, o que foi um alívio para mim, porque Rachel não parava de falar em Percy. O que me deixava pra baixo. Porém uma coisa não saía da minha cabeça, eu tinha que arrasar também naquela festa e mostrar para mim mesma que eu o tinha superado. Entretanto eu sabia que uma parte de mim queria isso para impressionar a ele, não a mim mesma. Isso deve ser porque eu ainda nutro algum sentimento por ele, o que me preocupa. Preocupa porque eu estou tentando fazer justamente o contrário, esquecer.

A primeira coisa que fiz quando cheguei em casa foi abrir meu guarda-roupa. Tinha que arrumar uma roupa no mínimo legal. Algo me dizia que aquela festa seria importante. Aquela noite eu não consegui pegar no sono. Mil e uma coisas passavam pela minha cabeça. Mas diferente de alguns dias atrás, eu não estava triste. Me levantei da cama e abri a janela. O céu estava estrelado e a lua estava quase invisível no céu. Lua nova, pensei.

–Mãe, me ajude a dormir e me ajude com Percy. - Sussurrei para a noite.

Senti um calafrio e fechei bem a janela. Voltei para a cama e me senti leve. Não muito mais tarde, minhas pálpebras começaram a pesar e eu dormi.

Por incrível que pareça eu não tive sono nas aulas do outro dia, o que comum acontecer quando eu durmo muito tarde ou fico com insônia. As coisas estavam ficando mais normais com o passar dos dias. Rachel e eu conversávamos, normalmente monólogos cujo o assunto era geralmente, Percy Jackson. Percy, por sua vez continuava a ficar me encarando como se quisesse falar comigo mas não tivesse coragem, mas claro que isso era viajem da minha cabeça. Essa semana todos os dias tinham prova e como as mais difíceis já tinham passado eu relaxei mais. Inclusive, sexta seria, para mim a prova mais fácil, Matemática. Álgebra e geometria, para ser mais exata.

O dia continuava passando quando algo caiu no meu colo. Cuidadosamente desembrulhei o que parecia um papel amassado mas de alguma forma algo me manda abrir. Percebi que esse algo estava certo quando vi que era uma folha de caderno com algo escrito no meio. Olhei para os lados para me cerificar que ninguém, principalmente o professor, estivesse olhando. Voltei meus olhos para o papel e, ei, eu conhecia aquela letra.

Amanhã é teste de matemática. Será que eu poderia estudar com você? Preciso muito tirar uma nota boa. Só dizer onde e quando.

Ps.: Me desculpa se eu fiz algo que você não gostou.

Quando eu terminei percebi que minhas mãos estavam tremendo. Não precisava virar o papel para saber quem tinha me escrito, mesmo assim virei.

Percy.

Continuei encarando o papel até que meus olhos cansaram de se manterem abertos e eu pisquei e uma gota escorreu pelo meu rosto. Em um gesto automático passei o dedo e sequei meu rosto. Eu queria desesperadamente responder um grande e audível SIM. Mas eu sabia também que não podia. Não podia jogar tudo fora, afinal, eu estava conseguindo esquecê-lo. Não podia trair Rachel, porque eu sabia que era o que eu faria caso ele passasse mais de um minuto com a boca perto da minha. Eu nunca tinha sido uma pessoa falsa e não é agora que eu seria.

Peguei uma caneta do meu estojo e risquei NÃO no verso do papel. Amassei com toda a força e com uma nova lágrima escorrendo pelo rosto me virei e joguei de volta. Já era a segunda vez que eu dizia não para ele. Pelo menos eu sabia que ele ainda se importava comigo e o plano de Rachel ainda não o tinha sido suficiente. Mas depois disso eu não tenho certeza mais de nada.

Assim que tocou para o final da aula eu saí depressa. Rachel até tentou me seguir, mas sem sucesso. Eu não estava com vontade de conversar com ninguém. Eu estava dividida. E o pior era que as duas partes de mim sabiam que eu não deveria ter dito não. Quem sabe Percy estava tentando voltar a ser somente meu amigo, como antes. Mas agora eu tinha estragado tudo porque provavelmente nunca mais seríamos nem mesmo amigos. Como se já não bastasse ter que suportar sua melhor amiga gostando do mesmo garoto que você, agora esse mesmo garoto também me odeia.

Neste mesmo instante eu estava no chão do meu quarto chorando e pensando no que havia acontecido quando de repente a porta do meu quarto se abre, aí eu me lembro que eu esqueci de trancar a porta, droga.

–Annabeth, eu não sei se vou poder te deixar... - Era uma garota loira, com a pele bem clara, algumas espinhas marcando seu rosto, olhos cinzas, não muito alta, mas com vários anos a mais que eu. Minha irmã. Ela foi entrando no meu quarto e falando mas quando ela viu que eu estava chorando ela parou de falar e ficou me encarando.

Nós tínhamos um bom relacionamento antes da morte da nossa mãe. Depois disso, ela se fechou, ela arrumou alguns namorados desde aquela época, e até onde eu sei está solteira agora. Ela faz faculdade de Medicina não muito longe daqui então é sempre ela que me deixa na escola e em outros lugares. Esse é o único tempo que passamos juntas e nem conversamos muito. Eu sei que no fundo ela continua a mesma mas eu não faço ideia do que possa trazer isso para fora novamente.

–O que está acontecendo, Annabeth? - Perguntou, sentando no chão ao meu lado.

Normalmente eu ficaria com um pé atrás para contar essas coisas para ela, mas decidir dar um voto de confiança, e, além do mais, eu precisava de um conselho.

–É um garoto na minha escola chamado Percy Jackson... - E assim contei a ela tudo que tinha me feito gostar dele e tentar esquecer também. Quando eu terminei de falar ela ficou olhando pela janela do quarto. Pensando.

–Eu já tive muitos problemas com garotos, eu amei muitos que não mereciam que eu os amasse. Apenas um deles me amou de verdade e eu o deixei escapar. - Ela começou a chorar mas continuou virando-se e olhando nos meus olhos. - Você o ama. E pelo que eu percebi da história toda ele corresponde. Não deixe amiga nenhuma, por melhor ou pior que for, estragar isso. Não o deixe escapar, como eu fiz. Annabeth Chase, a decisão é sua mas pelo menos não o perca como amigo. Se ele realmente gostar de você, ele vai entender.

É difícil dizer quantos minutos ficamos abraçadas depois disso. Era disso que eu estava precisando. Eu não só estava me sentindo melhor agora como eu sabia exatamente o que fazer.