"Porque quando você ama sente necessidade da outra pessoa. Não por dependência, carência e outras coisas. Mas porque é bom estar ali, com o corpo junto, coração do lado, ouvindo a respiração. Você se sente em casa.". (Pedro Bial)

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Bem Vinda de Volta

Levy e Erza levaram Natsu de volta ao navio. Ele gritava o nome de Lucy freneticamente, visivelmente desesperado, como se esperasse que ela voltasse do penhasco ao ouvir sua voz em pânico. Já no navio, Erza olhava para Gray como se perguntasse a ele o que ela deveria fazer para acalmar Natsu. Em resposta Gray lhe lançava um olhar triste, como se dissesse "eu não sei". Ninguém ali sabia o que estava acontecendo e ninguém ali sabia o que fazer. Não sem ela.

Elas o deixaram no quarto de Lucy, sozinho, onde poderia pensar melhor. Levy estava abatida desde que Lucy caiu do penhasco. Não se esperava menos dela, afinal, Lucy e ela eram amigas desde que Lucy salvou Levy há alguns anos. Juvia se mantinha calada, abraçada a Gray. Ambos estavam em silêncio pois enfrentavam sua dor dentro de si mesmos, e, abraços daquele jeito, eles ajudavam um ao outro como se dissessem "eu estou aqui por você". O silêncio reinava no navio, como nunca antes. O seu espírito havia morrido, assim como a sua voz. Era como se o navio houvesse perdido sua alma, sua luz. Pois realmente, a semente de esperança que guiava a tripulação em frente fora consumida pelas sombras para nunca mais voltar.

Natsu estava no escuro, sentado na cama olhando pro chão. Ele havia se apegado a ela tão fácil... Ele aprendeu a se importar com ela tão fácil quanto a deixara partir. Ele não sabia o que fazer, ou o que dizer. Ele mal a conhecia... Assim como a conhecia profundamente... Não fazia sentido, mas era como se ele tivesse perdido uma parte de si. Como se não fosse ele morrendo por dentro por ela, mas sim o seu coração. A sua essência. Clamando por ela. Implorando para que voltasse. Mas ele jamais voltaria. Ele devia aceitar isso. Afinal, quem era ela? Ele não fazia ideia. Então por que doía tanto? Lágrimas vieram aos seus olhos. Ele se lembrava das feições dela quando caíra. A sua boca estava entreaberta, visivelmente surpresa, seus olhos se arregalaram e se encheram de lágrimas, e as mãos dela se estenderam em direção a Natsu. Mas este não foi capaz de salvá-la. Ele nunca foi capaz de fazer nada. Por ninguém. Nem por si mesmo.

Ele viu suas lágrimas caírem no chão do quarto, como se o avisassem que ele estava fraquejando cada vez mais. Se Lucy estivesse lá, assim que o visse daquele jeito, ele sabia que ela o abraçaria e diria que tudo ficaria bem, que ela estava lá pra apoiá-lo em tudo que precisava e outras coisas que o fariam se sentir melhor e amado. Mas ela não estava lá para fazê-lo parar de chorar. Por isso ele chorava.

Então um estrondo. Um barulho vinha de lá de fora. Logo murmúrios começaram fazendo o navio se agitar outra vez. Mas de que adiantava ele ir lá checar? Ou melhor, tentar ir? Suas pernas não se moviam, seu rosto provavelmente estava inchado, seus braços estavam moles e tudo que ele conseguia fazer era chorar.

Sua melhor amiga, Erza, quase morrera tentando fugir dos guardas que seus próprios pais mandaram pra capturá-la e matar seu amado, os pais de Natsu já deviam estar preocupados com ele a ponto de se estressarem e Lucy havia morrido. Que sentido fazia se opor ás lágrimas que vinham desesperadamente querendo rolar pelo seu rosto quente?

A porta se abriu. Natsu ignorou isso, até que ele pôde ver botas marrons a sua frente. Onde aquilo já havia sido visto? Então, ele sentiu braços envolverem seu corpo, e uma conhecida voz dizer:

–Está tudo bem. Eu estou aqui.

–L-Lucy? - disse Natsu, levantando a cabeça. Então ele a viu. Seus cabelos loiros estavam atrás da orelha, seus olhos brilhavam e ela estava sorrindo.

–Estou de volta, Natsu. - ela disse, com um sorriso tranquilizador. Ele se levantou e disse:

–Seja bem vinda, Luce. - e ele a abraçou. Chorou no seu ombro enquanto ela fazia carinho em seus cabelos rosados. Ele tivera um vislumbre de um mundo sem ela, um mundo que ele queria esquecer. Um mundo que ele não conseguia enfrentar. Não sozinho. E quem ficaria ao seu lado além dela? Então deixou-se chorar, sentido a sua presença e apenas aproveitando o momento. O silêncio retornara, esmagador, mas por alguns minutos, foi o suficiente. Depois de uns minutos ali, Natsu se afastou dela e disse:

–Eu achei que você tinha morrido... Eu achei que... Achei que nunca mais ía te ver. Se você sumir de novo eu...

–Sim. Eu sei. Desculpe. - disse Lucy.

–Nunca mais suma desse jeito. - disse Natsu, colando sua testa na de Lucy.

–Se é isso que está me pedindo, eu juro nunca vou te deixar. - disse ela, fechando os olhos e sorrindo.

–Ótimo... - disse Natsu, sua voz morrendo aos poucos. Ele aproximou seu rosto mais ainda da loira e num movimento lento e levemente hesitante ele uniu seus lábios aos dela. Ele não imaginou que tocar os lábios de Lucy fosse ser algo tão doce. Quando ele pediu passagem pra aprofundar o beijo, ela cedeu sem hesitar. Foi um beijo recheado de paixão, mas simples e terno. Não era desesperado, era calmo, mas dava para sentir o que cada um deles sentia. E era mágico. Natsu terminou o beijo com um selinho demorado, e quando abriu os olhos pra ver a reação da loira, viu que ela olhava pro chão com o rosto quase que completamente vermelho.

–Ei... O que foi? Ficou... Com vergonha?

–U-Um pouquinho. É que eu nunca tinha...

–Eu também não. Nunca deixei que Lisanna se aproximasse mais do que o necessário. - ela sorriu ao ouvir essa afirmação. Se sentou na cama e ele se sentou ao seu lado.

–Natsu?

–Hum?

–Eu... Eu te amo. - e ele foi pego de surpresa. Depois de se recuperar do pequeno choque, ele disse, com um sorriso.

–Eu acho... Que mesmo estando com você há tão pouco tempo... Bom... Eu realmente acho que também te amo, Luce. - depois de uns minutos Natsu disse:

–Lucy, como exatamente você voltou?

–O Happy. Ele cumpriu sua promessa. - Natsu fez uma cara de interrogação. - A promessa que ele fez a si mesmo. Lembra? Aquela em que ele jurava que ía salvar quem quer que estivesse em perigo no penhasco.

–Isso é ótimo. Aquele gato maluco finalmente serviu pra alguma coisa.

–E adivinhe? Ele aceitou se juntar a nós! Ele está no convés! Acho que vocês serão grandes amigos. - disse Lucy. Natsu respondeu bufando, o que tirou risadas dela.

Ela sorriu e caiu na cama. De acordo com ela, a queda do penhasco, voar até ali com Happy e invadir um reino governado por pessoas potencialmente nervosas a deixara cansada. Ele se deitou ao lado dela e enlaçou a sua cintura, afundando a cara no pescoço dela, sentindo seu cheiro doce que ele pensou que nunca mais fosse sentir. Logo ambos pegaram no sono, sem nem imaginar o que estava pra acontecer e os terríveis segredos que Lucy se veria obrigada a revelar...

*

Enquanto isso, no reino Scarlet, o rei estava nervoso.

–Droga! Porque raios ele não me contou que a maldita loira estava viva? - disse ele a sua esposa.

–Talvez ele achasse que ela morreria de fome, sede ou algo do gênero.

–Desgraçado! Aquele maldito... Essa ideia foi toda dele, ele disse que teríamos benefícios com isso, mas se ela está viva nossos planos podem ir por água abaixo se ela aparecer no reino Strauss e mostrar aquela cara igualzinha a da mãe que ela herdou. Droga, droga, droga!

–Você... Vai fazer algo?

–Não. Mas a Lisaninha vai. Já está mais que na hora de ela mandar as tropas navais do exército Dragneel. Aqueles pirralhos metidos a piratas vão ver. Será que o principezinho Dragneel vai gostar de ver o navio da sua amiga de infância ser bombardeado por suas próprias tropas?