Mas o que...?

Tudo o que eu via na minha frente era pessoas na minha mansão gritando feito loucas, alguns rostos eu reconhecia, outros não.

Eu estava pasmo, realmente não esperava por aquilo, e ainda não sabia o porquê dessa bagunça toda. Olhei para Elizabeth e ela estava sorrindo pra mim.

“O que significa tudo isso?”.

O trio Phantomhive passou por entre a multidão e me puxaram para dentro.

“BOCCHAN!!! Parabéns!” Finny gritou.

Parabéns?

O seguinte foi Bard.

“Parabéns!”.

“F-Feliz aniversário Bocchan!”.

“Aniversário?!”.

Olhei para minha noiva e ela continuava a sorrir pra mim. Ela me deu um beijo na bochecha.

“Feliz aniversário meu amor”.

“E-Elizabeth...”.

“Você anda tão ocupado assim para esquecer seu próprio aniversário Ciel?”.

Eu estava? Acho que parei de perceber a passagem de tempo depois que virei um Demônio afinal, eu tinha a eternidade. Entendi o porquê de Elizabeth me levar ao Angel Queen hoje, ela só queria me dar um presente que eu realmente gostasse, e com certeza ela tinha conseguido.

Nunca gostei de festas, principalmente festas de aniversários pra mim, nunca tinha gostado dessa data... Porém, entrei no clima da festa por causa do sorriso de minha noiva.

Sorri para ela e para o trio de empregados como agradecimento. Segurei nos braços de minha noiva e segui para o centro do recinto.

“Obrigado pelas pessoas presentes, foi realmente uma surpresa pra mim. Eu reconheço alguns rostos aqui, alguns que eu não vejo faz algum tempo.” Olhei para o grupo de homens de terno e óculos. “Willian, Ronald...” Sorri tentando ignorar Grell sorrindo e acenando pra mim. “Grell...” Ele piscou pra mim. “Alguns rostos eu não reconheço, mas espero conhece-los pessoalmente e espero que aproveitem esse momento. Obrigado a todos!”

Todos me aplaudiram, Finny colocou uma musica para tocar, formaram-se pares e começaram a dançar a valsa. Não foi diferente com Elizabeth e eu, eu a beijei, olhei no fundo de seus olhos e sorri. Sou péssimo para demonstrar o que sinto, mas isso foi suficiente para ela entender. Eu a puxei e começamos a acompanhar a musica devagar.

E assim ficou por um bom tempo, minha noiva e eu dançando juntos, comemorando o meu aniversário, eu assoprando velas, convidados tomando ponche, coisas comuns que acontecem em festas de aniversários. Estranhei o fato de haver algumas pessoas que eu não conhecia, mas suspeitei que fossem amigos distantes de Elizabeth.

Mas não era só isso, Sebastian também não havia mostrado as caras durante a festa toda, e fazia algum tempo que ele não aparecia. Deixei isso de lado por um tempo.

“Lizzy, quer um pouco de ponche?”.

“Sim, por favor”.

“Espere aqui”.

Caminhei até a mesa de comida e coloquei um pouco de ponche em dois copos. Aproveitei e peguei um docinho também.

Quando estava me virando, dei de cara com uma garota que eu não conhecia, quase derramei o ponche sobre ela.

“Oh, sinto muito” Ela disse.

“Tudo bem” Eu respondi.

“Você é o Conde Ciel Phantomhive, não é?”.

“Sim, sou eu“.

“Feliz aniversário”.

“Obrigado, Senhorita...”

“Aria, Aria Kurayami”.

Ela tinha os cabelos negros lisos e volumosos que iam até o seu quadril, estava usando um vestido roxo que descia até os seus joelhos, era um pouco mais baixa do que eu, tinha olhos castanho-claros, a pele clara e o rosto com uma expressão vazia. Eu não fazia ideia de quem ela era, mas, de certo modo, senti como se já tivesse visto ela em algum lugar.

“Oh, sim... Obrigado Aria”.

“Ele está com fome, Ciel...”.

Senti meu corpo inteiro se estremecer.

“Perdão?”.

“Tome cuidado...”.

Ela sabe sobre mim? Sabe sobre Sebastian?

“Demônios não pensam direito quando estão com fome...”.

Senti um arrepio que veio das minhas costas e preencheu o meu corpo todo, ela sabia de alguma coisa e estava tentando me avisar sobre Sebastian.

Ela deu um passo em minha direção, passou a mão pelo meu tronco como se fosse me abraçar, pegou um doce da mesa e o comeu.

“Mantenha seus olhos abertos, Ciel... ambos...” Ela tocou em meu tapa olho.

“C-Com licença...”.

Me retirei do local, e fui o mais rápido possível para perto de Elizabeth, estava com medo que Aria pudesse estar certa e que Sebastian pudesse fazer qualquer coisa pra ter minha alma de volta... E ‘qualquer coisa’ envolve na segurança de minha noiva.

Por sorte, ela estava bem, estava falando com Meyrin sobre a festa e como tudo saiu como o planejado. Entreguei o copo com o ponche a Lizzy e sussurrei no ouvido de Meyrin.

“Fique com Elizabeth, não tire o olho dela, isso é uma ordem!”.

Ela sacudiu a cabeça como forma de entendimento e continuou a conversar com Elizabeth, eu deixei as duas sozinhas e fui à procura dos outros dois empregados.

Passei pela multidão e encontrei Finny e Bard levando pratos de camarões aos convidados e puxei-os para um canto do salão.

“Onde está Sebastian?”.

“Sebastian-san não apareceu desde...”.

“Aquele mordomo não da às caras faz um tempo” Disse Bard interrompendo a fala de Finny.

Onde diabos ele estaria?

“Fiquem de olhos abertos, ele está zangado... sabe-se lá o que ele pode fazer”.

Eles balançaram a cabeça confirmando e continuaram seus trabalhos, mas agora observando cada canto da mansão. Eu saí pela porta dos fundos e arranquei o meu tapa olho.

“Seja lá onde você esteja... Venha Sebastian!!!”.

Eu esperei por um tempo, mas ele não apareceu.

“SEBASTIAN!”.

Estava voltando para dentro da mansão quando olhei para o meu reflexo na janela. Meu olho direito, o olho do contrato, não estava brilhando, tirei o cabelo do meu olho para observar melhor e vi que o símbolo estava apagado, ainda estava lá, mas estava fraco.

Ainda estava observando quando vi mais um reflexo atrás de mim.

Eu me virei, ignorando o fato de eu estar com meu olho direito a mostra. Ela já sabia, então não importava.

“O que você quer?” Perguntei a garota que estava parada a minha frente com a mesma expressão vazia que eu havia visto agora a pouco.

“Seu mordomo se tornou um perigo para os outros Demônios, Ciel Phantomhive”.

Eu dei um sorriso irônico.

“Então essa sensação de já te conhecer... você é um Demônio também não é mesmo, Aria Kurayami?”.

Ela olhou pra baixo por um segundo expressando tristeza e depois continuou a me olhar com a sua expressão vazia.

“Não sou um Demônio qualquer, Ciel... Eu sou como você...”.

Eu levantei uma sobrancelha.

“Eu já fui humana”.

“Oh...”.

“Mas temos uma pequena diferença” Ela tirou uma de suas enormes luvas pretas e mostrou um símbolo em sua mão, um símbolo de um contrato com um humano.

“Então você tem um contrato... mas não está presa a um Demônio como eu estou”.

“Não, não estou. Pelo menos não mais...”.

“Desculpe?”.

“Não sei como, mas Helliott conseguiu ‘se livrar de mim’ por assim dizer. E eu acho que Sebastian está tentando fazer o mesmo contigo”.

“I-isso é possível?”.

“Pelo o que parece sim”.

Eu estava chocado, não imaginava que haveria uma maneira de Sebastian quebrar nosso contrato e ficar livre de mim. Também não queria acreditar que ele faria tal coisa depois de tanto tempo sendo meu mordomo. Ele realmente seria capaz disso? Demônios não pensam direito quando estão com fome. Era isso, Sebastian queria minha alma, e faria tudo para consegui-la de volta, afinal a minha alma era única, o desejo de vários Demônios.

Antes que eu pudesse perguntar mais alguma coisa, Aria disse:

“Preciso ir... Minha Mestre está me chamando”.

“Aria espere!” Eu a segurei pelo braço, impedindo-a de ir embora. “O que faço para parar Sebastian?!”

Ela passou a mão sobre meu cabelo descendo sobre meu olho e deslizando sobre minha bochecha.

“Você terá que descobrir sozinho, olhos azuis...”.

Aria se virou e, num piscar de olhos, sumiu adentrando na floresta.