Radioactive. escrita por nsengelhardt


Capítulo 10
Lar morto lar


Notas iniciais do capítulo

Depois de muito tempo sem postar nada, cá estou eu.
Espero que gostem! (:



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Preparei-me para o ataque assim que a mulher-aranha caiu à minha frente, estendendo seus braços humanos para tentar me agarrar. Com um rápido movimento, agarrei suas mãos e, com toda minha força, derrubei-a no chão. Um crak ecoou, e ela demonstrou dor, mas por apenas alguns segundos.

Antes de me dar conta, ela já estava em cima de mim novamente, dessa vez cravando suas unhas no meu pescoço. Soltei um grito de dor. Agarrei seus pulsos o mais forte que eu consegui, até ela afrouxar as mão do meu pescoço. Logo dei-lhe um chute no abdômen, que a fez atravessar uma parede da cozinha. Fiquei olhando para o buraco escuro, esperando a mulher-aranha voltar, mas houve apenas silêncio e nenhum movimento. Estava tudo muito quieto.

Fui até a parede, passando meus olhos pelo buraco. Estava tudo escuro e silencioso. Então ouvi um ruído distante. Vadia!, murmurei pra mim mesma, e, sem pensar duas vezes, entrei no buraco. Graças a qualquer coisa, eu conseguia enxergar um pouco no escuro, apenas o suficiente pra detectar um inimigo próximo. Agradeci por ter uma boa audição no momento em que a mulher-aranha pulou em mim, puxando meus cabelos até o chão. Gemi de dor, mas então me recuperei assim que ela soltou meus cachos castanhos. Soltei em direção ao seu peito, acertando-lhe um soco um pouco abaixo do pescoço. Então outro soco, dessa vez no lugar certo. Assim que minha mão foi enterrada abaixo do seu maxilar, a mulher-aranha caiu no chão. Acertei-a com um chute no rosto.

– Isso é pelo meu pescoço, sua vaca! – falei, dando outro chute em seu pescoço.

Assim que percebi que ela não respirava mais, saí pelo buraco na parede da cozinha e consegui arrastar um móvel alto e pesado para a frente do buraco. Só por precaução, pensei.

Ajuntei minha mochila do chão e joguei-a por cima de um ombro. A chuva lá fora já havia cessado e o relógio da cozinha marcava 3:02h da manhã. Hora de partir, Lieni. Fui até o lado de fora da pequena pousada. Havia uma garagem no meio do terreno, perto de um pequeno lago. Fui caminhando até lá, com meus pés batendo nos cascalhos molhados. A noite estava agradável e um leve vento frio brincava com fios do meu cabelo e gelava minhas bochechas. Quando cheguei perto da garagem, vi que uma porta lateral estava aberta, mas preferi abrir o portão por onde passaria o carro – se é que havia algum carro ali.

Assim que abri o portão, um gato branco passou correndo por mim, e então sentou-se e ficou me observando a alguns metros. Adentrei na garagem, e logo achei um interruptor ao lado do portão. Acendi a luz e me dei de cara com um Opala 6cc vermelho com teto branco.

– Já tá de bom tamanho. – falei, jogando minha mochila no banco do caroneiro. – Oooh, Treze! Como pretendo dirigir um carro sem chaves? – xinguei, batendo a cabeça no volante.

Ei! Eu podia dirigir um carro sem as chaves! E sem entender nada de mecânica, eu acho. Levantei a cabeça, fechando os olhos e concentrando toda a minha energia no motor do carro. O motor arrancou, mas logo morreu. Só mais um pouco, murmurei, continue assim. Então o motor ligou de novo, mas antes de criar expectativas, esperei alguns minutos até ter certeza de que era seguro dirigir.

Finalmente, depois de uns cinco minutos, engatei a marcha ré e saí da garagem. Eu sabia que estava perto de casa, não demoraria tanto pra chegar até lá.

. . .

Quando finalmente avistei minha casa no final da rua, o sol já iluminava grande parte da cidade e das montanhas que a cercavam. Parei com o carro na entrada da garagem, agarrei minha mochila e fui correndo para a porta da frente.

O hall e a sala de visitas estavam iluminados pelo sol, o que era estranho, já que as cortinas sempre ficavam fechadas. Larguei minha mochila na entrada e corri para a cozinha.

– Mãe? Pai? – gritei, ofegante, olhando em todos os cantos da cozinha e da sala de jantar. – Eu voltei! Voltei pra vocês!

Nenhuma resposta. Fui até a sala de chá, mas não encontrei ninguém. Abri a grande porta de vidro que dava pra enorme sala onde ficava nossa piscina interna. E de novo, nada. Por fim, desisti de procurá-los, concluindo que estavam no trabalho.

Subi para o meu velho quarto. Abri devagar a porta e encontrei tudo arrumado e as cortinas totalmente abertas. Larguei a mochila perto da cama e fui para o banheiro. Só me lembrei da minha transformação quando encarei o espelho. Meus cabelos recém tingidos de castanho estavam bagunçados. Lentes escuras ocultavam minha heterocromia. Suspirei, desejando que fosse tudo um sonho. Me despi, deixando minhas roupas espalhadas por todo o banheiro e as lentes de contato em cima da pia, e desabei na minha banheira. Essa era a primeira vez que eu a usava desde que a casa foi construída. Nunca gostei de banheiras, mas depois de tanto tempo andando, lutando e dirigindo, eu estava sem estrutura para ficar de pé para tomar um banho, mesmo que fosse rápido.

Abri a torneira de água quente e deixei a banheira encher até a metade. Quando finalmente me senti totalmente limpa e pronta pra seguir com a vida, me levantei da banheira, puxando a tampa do ralo. Vesti um roupão e voltei ao quarto, me jogando na minha cama. Tudo o que eu precisava naquele momento era de um bom e longo sono. Mas não foi bem isso o que aconteceu.

. . .

Eu acordava cada instante, com qualquer barulho na casa.

– Lieni, se acalma. – falei pra mim mesma. – É apenas o... SR. BATATAS! – Pulei da cama quando meu velho gatinho caolho entrou no quarto. Peguei-o no colo e o apertei tão forte que ele soltou um miado de desespero. – Oi, meu bebê! Quanto tempo! Eu tava com saudades de você, Batatinha.

Dei-lhe um beijo no topo da cabeça, e ele retribuiu batendo a cabeça levemente no meu peito. Então o deixei livre no chão. Saí do quarto, correndo pelo corredor até chegar no quarto dos meus pais, pensando ter ouvido algo.

– Mãe? – falei, abrindo a porta. – Ai meu Deus! – o que eu encontrei eu não desejaria nem que meu pior inimigo visse.

Minha mãe estava jogada no chão, com uma adaga cravada no peito. Uma poça de sangue seco envolvia seu corpo. O sangue do seu peito já estava coagulado e sua pele estava quase transparente.

Agachei-me ao lado do corpo de minha mãe. Minhas lágrimas caíam em seu rosto sem vida. Minha respiração, forte e profunda, mexia com seus cabelos ruivos. Eu não conseguiria nunca expressar com palavras o que eu sentia naquele momento. Quando alguém morre, você fica atordoado. Mas quando alguém que você ama morre, seu mundo deixe de existir. Nada mais importa. Uma parte de você vai com a pessoa, e você sente que nunca terá preenchido o espaço que ela deixou.

Minhas mãos tremiam enquanto eu acariciava as mechas ruivas de Sheba. Eu estava prestes a cair do seu lado e ficar ali pra sempre quando me dei conta de que meu pai não estava no quarto. Não, por favor, não!, pensei, enquanto ia até a porta do banheiro. Sim, sim e sim, uma voz dizia.

Soltei um grito rouco quando encontrei meu pai dentro da banheira ensangüentada.

POR QUÊ? – chutei o balcão da pia. Caí no chão, com as costas apoiadas na parede.

Eu não tinha mais nada.

Nada.


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