Ele não entendia exatamente o que estava acontecendo e, para uma pessoa que sempre se orgulhou de sua inteligência e racionalidade, aquilo era extremamente frustrante. Ainda assim, por mais ilógico que tudo parecesse, Percy Weasley sabia que não poderia evitar os sentimentos que começavam a se instaurar perigosamente dentro de si.

Havia algo na forma como ela sorria que mexia com ele, algo na forma como brincava desatentamente com os cabelos, os enrolando nos dedos, que parava sua respiração. Cada um de seus gestos, por mais simples que fosse, parecia estrategicamente pensado para provocá-lo e enlouquecê-lo.

Ele não sabia ao certo como tudo aquilo começou, de toda forma, não se importava muito. Já fazia meses que se via preso àquela estranha rotina, contudo, de alguma forma doentia, ele gostava. Parecia tão certo sair do Ministério da Magia, ao fim de mais um exaustivo dia de trabalho, e se dirigir aquele simpático Café trouxa que seus pés o levavam até lá sem que ele percebesse. Talvez ele estivesse extremamente próximo da loucura, ainda assim, algo dentro do ruivo gritava que não deveria se importar.

Então, ele ficava ali durante horas, em completo silêncio, enquanto a observava. Na mesa ao lado a jovem bebia seu cappuccino tranquilamente, enquanto se encontrava totalmente imersa nas páginas de um livro. Ela parecia ignorar o mundo a sua volta, como se tudo o que existisse fosse ela e o livro e tudo o que Percy conseguia pensar era em como ela era linda.

Sua pele branca e aveludada, seus cabelos longos e escuros, que caiam perfeitamente até as costas, seus olhos azuis e hipnotizantes e seus lábios delicados e rosados, lhe conferiam um aspecto de boneca de porcelana. Ela era como um anjo, um ser marcado pela pureza e inocência e simplesmente inacessível. O Weasley nem mesmo sabia seu nome, esse fato, no entanto, não o impedia de sonhar todas as noites com a encantadora e enigmática jovem de incríveis olhos azuis.

A moça continuava ali por longas horas completamente alheia ao mundo. Percy gostava da serenidade que parecia rondá-la, gostava de toda a tranquilidade que ela emanava, ignorando o caos que tomava conta do mundo. Não era como se ele pudesse esperar realmente alguma atitude diferente da jovem, uma vez que ela era uma trouxa e desconhecia o mundo bruxo, assim como o fato dele estar em guerra. Por um lado o ruivo sentia-se feliz pela ignorância da jovem, sentia-se feliz por ela estar longe de toda aquela loucura que acometia sua vida. Ainda assim, ele temia por ela, temia pelo que poderia acontecer se o Lorde das Trevas vencesse a guerra.

Esse simples pensamento era suficiente para lhe causar arrepios. Não fazia sentido se preocupar tanto com uma pessoa com quem nem mesmo se trocou uma palavra, no entanto, a ideia de algo acontecer a ela era tão insuportavelmente dolorosa que ele se obrigou a voltar a observá-la, só para ter certeza de que ela estava bem.

Nesse momento, contudo, seus olhares se cruzaram pela primeira vez e ele sentiu um estranho frio na barriga. A moça sorriu, enquanto desviava o olhar, suas bochechas coraram violentamente e isso só fez Percy ter certeza do quão adorável ela era. O ruivo também desviou os olhos constrangido e passou a encarar atentamente uma das pálidas paredes do lugar.

— Então, o que há de tão interessante nessa parede? — uma voz extremamente doce perguntou, sobressaltando o Weasley. Ele se virou abruptamente para seu indagador e encontrou incríveis olhos azuis o observando com um misto de curiosidade e diversão. Os olhos dela.

Percy ficou estático por um segundo sem saber o que fazer ou dizer, ele realmente não acreditava que a jovem que enamorava platonicamente há meses estava à sua frente tentando manter um diálogo. Ela riu da falta de reação do rapaz.

— Desculpe se te assustei, eu provavelmente deveria ser mais sutil. Será que posso me sentar com você? — a jovem questionou, sorrindo adoravelmente.

Percy sentiu o coração saltar em seu peito.

— É claro que sim. — disse rápido demais e logo se amaldiçoou por isso. A morena riu, enquanto se sentava e para ele o som daquela risada era como uma canção dos anjos.

— Você me acharia muito intrometida se eu perguntasse o que está errado? — ela perguntou gentilmente.

Ele a encarou confuso.

— Como você sabe que algo está errado?

A moça deu de ombros.

— Bom, você vem aqui toda noite, se senta sozinho por horas e bebe café amargo. Isso é bem triste e solitário, caso queira saber minha opinião. Você provavelmente não quer, mas eu gosto de expressá-la. — comentou dando de ombros.

O Weasley sentiu o oxigênio sumir de seus pulmões. Ela reparara nele? Aquilo o deixara tão feliz que ele sentia que poderia começar a dançar ali mesmo, o que era de fato espantoso, uma vez que ele era Percy Weasley e evitava situações que envolvessem humilhação pública.

— Bom, você também vem aqui toda noite sozinha. — ele disse, tentando soar indiferente.

Ela sorriu.

— Eu gosto de café e aqui é um bom lugar para ler, refletir e encontrar estranhos solitários e misteriosos. — ela disse sorrindo sugestivamente, fazendo Percy corar levemente.

— Você está certa quanto ao fato daqui ser um bom lugar para se refletir. — ele disse, desviando o olhar da jovem.

— Você parece o tipo de pessoa que reflete muito antes de tomar uma decisão, mas perdoe-me a falta de sutileza, quando você pretendia tomar uma atitude e vir falar comigo?- ela perguntou inocentemente, deixando o Weasley atônito e então sorriu. — Bom, talvez eu seja um pouco direta demais e nenhum um pouco sutil, me desculpe por isso, mas já que você não tomava a iniciativa de vir falar comigo resolvi fazê-lo. Faz parte de ser uma mulher madura, bem-resolvida e que sabe o que quer. De toda forma, me chamo Audrey. Audrey Campbell.

— Hum... Percy... Weasley.

— É um prazer conhecê-lo, Percy Weasley.

— O prazer é meu, Audrey Campbell.

Ela sorriu se levantando.

— Eu tenho que ir agora, mas amanhã estarei aqui novamente, sentada sozinha em uma mesa, lendo um romance e esperando que um ruivo chamado Percy Weasley venha me fazer companhia. — Audrey disse sorrindo. — Bom, boa noite, Percy!

— Boa noite, Audrey!

Ele permaneceu estático por alguns segundo depois que a morena saiu, mal podia acreditar no que acabara de acontecer e uma parte de si gritava que aquilo era uma loucura: “seja sensato, Percy! Você não pode se envolver com uma trouxa agora, não pode arrastá-la para essa loucura.”

Ele sabia que a atitude racional seria se afastar, no entanto, pela primeira vez na vida Percy Weasley não se importava com o que era racional. Sabia que nenhum argumento seria forte o suficiente para impedi-lo de estar ali no dia seguinte, tomando café com a bela Audrey Campbell. Afinal, por ela até mesmo a guerra poderia ser esquecida por alguns instantes.