Ela não sabia como, não fazia ideia de quando e assim que descobrisse o porquê, ela tinha certeza que o encheria de socos.

O "alvo" em questão era o jovem de cabelos castanhos que a abraçava por trás pela cintura.

–Maldito... – Ela praguejou em pensamento. Bela maneira de acordar de manhã, com o seu amigo de infância idiota na sua cama quando ele devia estar na dele.

 E ela não estava corando, definitivamente.

Isso não era novidade, eles costumavam dormir juntos e abraçados desse mesmo jeito, era uma ótima maneira de afastar pesadelos.

Mas isso era quando eles eram crianças! Não agora!

–Kano... - Ela cutucou o jovem com o cotovelo, não ligando para a quantidade de força que usava, para que ele se afastasse dela.

Só que o efeito foi contrário, fazendo-o abraçá-la com mais força enfiando seu nariz no pescoço dela.

–Kiih! - Não, não. Ela não estava corando. Bom, talvez só um pouquinho.

Kido olhou de relance para a porta, temendo que alguém entrasse de repente e encontrasse eles naquela situação e é claro que entenderiam tudo errado.

–Tá, já chega. - Ela falou, conseguindo se soltar um pouco do abraço e virando para encará-lo de frente. Então, começou a dar tapas no ombro dele. -Kano. Kano, acorda.

Mas, pelo visto, a sorte não estava do lado dela, pois foi a vez dela de enfiar o nariz no peito dele, sendo puxada pelo mesmo.

Ah, só podia ser brincadeira.

–Kido... - Ele murmurou, fazendo o coração da jovem acelerar um pouco. Ah, nada bom. Droga, e ela nem podia usar o seu poder para escapar dali já que o seu amigo de infância a abraçava com força...

...Espera aí.

A jovem de longos cabelos verdes encarou Kano por alguns segundos, ele tinha uma expressão serena, respirava lentamente e parecia calmo.

Calmo demais.

Foi então que a jovem agarrou o nariz dele, impedindo o ar de entrar. No segundo seguinte, Kano estava olhando para ela, com o seu sorriso de sempre e seus "olhos de gato" com seu brilho peculiar.

–Ei Kido. - Ele começou. - Eu preciso respirar.

–Quantas vezes eu já não falei para você não usar o seu poder em mim, idiota?

–Ora vamos, não fique ass- Ai!

–Sai da minha cama. - Ela sentiu uma veia pulsar em sua testa.

–Eh? Por quê? - Ele fez bico.

–Sai daqui antes que eu te chute. - Ameaçou ela.

O moreno fingiu limpar uma lágrima.

–Ah, a Líder é tão cruel. - Mas ele ainda sorria.

–Kano... - Outra veia começou a pulsar. O jovem apenas respirou fundo.

–Ah, isso é nostalgico.

Ela olhou para ele, impedindo o provável chute que daria.

–Você lembra, não lembra Kido? - Ele perguntou. - Costumávamos dormir assim sempre.

A jovem de cabelos verdes olhou para outro ponto, esquecendo que ele ainda a abraçava pela cintura.

 –Lembro.

–Então, qual o problema? - Ele perguntou aproximando o rosto dele do dela, propositalmente.

–N-Nós eramos crianças! - Ela respondeu, afastando-se.

–E o que tem?

–Argh...

Ela não iria admitir, mas sentia falta daquele tempo, ter o Kano por perto era a única coisa que a acalmava com relação ao seu medo de desaparecer. Ele era aconchegante também e ela lembrava certas noites que Kano parecia sofrer com seus próprios pesadelos, naquele tempo Kido costumava abraçá-lo até que os tais pesadelos fossem embora e sua expressão suavizasse.

E ela rezava para que ele não se lembrasse disso.

–Sinto falta disso. - Murmurou.

Ela piscou.

–Tá falando sério?

–Assim você me machuca, Kido. - Ele respondeu com uma gota.

–Hunf.

–Ei.

–Que é?

–Tudo bem voltar aos velhos tempos de vez em quando, certo?

Ela piscou um par de vezes até entender a pergunta oculta e suspirou.

–Eu não acredito, você não toma jeito mesmo.

–Então? - Perguntou com seus "olhos de gato" brilhando.

A jovem pensou em chutá-lo dali para fora do quarto e simplesmente esquecer o que aconteceu, mas quem disse que isso pararia o moreno?

–Você não me escutaria mesmo. - Ela suspirou. - Então, que seja.

Kano sorriu.

Mas no segundo seguinte levou um enorme tapa bem no meio da testa.

–Mas isso foi por ter entrado no meu quarto sem permissão!