Não é coisa de mulher decente. Todo mundo dizia, ela não ouvia. Mas era uma Mariazinha muito da corajosa e nem pensou muito para cortar a barra da saia lá perto das coxas. Papai ficou fulo da vida. Vovó rezou um terço. Mariazinha disse amém e jogou um beijo no ar porque tinha um boca linda, carnuda e cheia de dentes que ela não ia ficar escondendo. Nem ia esconder as pernas. Ou os braços. Tampouco seus pensamentos.

"Eu falo o que penso!"

Mariazinha passou um batom bem vermelho. A porteira da escola nem sabia se deixava ela entrar ou não. Mariazinha andava com os meninos e abraçava e beijava quem queria. Amava quem queria. Era toda linda, toda colorida. Ela ouvia bandas estrangeiras sem saber inglês, mas achava os Beatles pouca coisa. Depois gostou de umas músicas brasucas mesmo, que falavam do que estava acontecendo e todo mundo fingia que não.

Usava minissaia e brinco de argola em dia de protesto. Era uma louquinha, dizia a tia. Mariazinha nem sabia direito, mas tinha que fazer alguma coisa.

Eles teriam que aceitar, teriam que aprender.

Nada que fosse feito a impediria de ser, Mariazinha com a boca pintada de vermelho, pés no chão e contestando tudo que não era justo e bom.