Hoje ela não foi a praia para banhar-se. Somente sentou sobre a areia e, com a ponta do dedo, passou a traçar linhas retas e curvas, formando desenhos e palavras.

O próprio nome e a figura de uma menina surgiram no chão. Não tinha nada especifico em mente, então pegou um punhado de areia e deslizou pelos vãos dos dedos, como se o mineral fosse líquido, corredeiras de uma cachoeira cujo curso d'água matava a sede de um unicórnio branco e alado. O monte que se formou era um castelo em plena glória. As conchas, uma coroa para a princesa inventora desse pequeno universo. Pegou gravetos para fazer o povo mágico rodeando o palácio de flores e canções. Uma folha caída era um dragão no qual se podia montar e voar. Era tudo feito um velho conto-de-fadas naquele reino. Menos o coração da princesa.

Não era um coração para ser roubado por uma Rainha Má ou arrebatado pelo Príncipe. Não havia Príncipe, nem Rainha Má. Era selvagem demais para ser aprisionado. Era um coração que brilhava liberto, o da Dama do secreto reino de calcário.

A plena imaginação cavalgava em um corcel de fogo na direção do horizonte, jamais escrava do "assim deve ser". Uma mulher livre, senhora de seu reino, seus pensamentos e suas paixões.