"Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante" (Clarice Lispector)

Era aquele tomo velhíssimo, com páginas meio amareladas, algumas roídas pelo tempo e pelas traças. A capa era de papel pardo e causava uma sensação arrepiante quando ela passava os dedos por sobre a superfície. O título estava escrito com letras douradas na primeira folha, essa de um material mais resistente que as sedosas página interiores. Haviam muitas delas e todas cobertas por pequenas letras impressas. Ela ainda não sabia que segredos haviam por trás da bela cobertura tão luxuosa. Passeou com as pontas dos dedos pela lombada do livro. Leu várias vezes o nome do respeitável autor, mas ainda não queria ver suas palavras. Curiosidade tão forte, leu o primeiro parágrafo e o segundo. O coração aos saltos para cada página que lia. Era tão coeso. Mas no momento seguinte fechou o livro e apenas sentou-se à varanda da casa, apertando-o contra o colo. Então leria mais um pouco. E ouviria o sussurro suave do conhecimento aflorando das páginas para seus olhos. Fechava o livro repentinamente, como se tivesse um susto. Queria que a história se estendesse por séculos a fio. Queria estar naquele momento para todo e todo sempre.

E leria. Saboreando essas palavras ancestrais. A novidade das palavras desconhecidas. O saber se refazendo a todo instante.

Leria sobre ciências e fantasias.

Sobre maravilhas intelectuais.

Haveria de ler.

Mas pelo momento só queria ficar por um longo tempo admirando o velho, o belo, o indecifrável tomo sobre seus joelhos.