"Faça uma vez que lhe retorna em três." Ela repetia baixinho, de três em três tempos musicais. Seus olhos estavam pregados em um rapaz e tudo que tinha em mente era o quanto gostava dele.

Naquele tempo, o que estava fazendo poderia lhe custar muito, muito mesmo. Daria um belo pedaço de carvão.

Riu da própria piada, às vezes tinha esse senso de humor mórbido, adorava assustar as irmãs mais novas com esse tipo de brincadeira. Tinha aprendido, tanto as anedotas, quanto o feitiço, conversando com a esposa do boticário, uma senhora pequena e gordinha, de dificíl trato, exceto com a menina, a quem considerava quase uma filha, sua aprendiz.

Adorava gatos, mas seu animal favorito era um sapo que chamava de Verruguinha e vivia debaixo das plantas que mamãe cultivava no fundo do quintal. Tinha aprendido de observar a utilidade de cada uma das plantas para fazer chás, pastas e infusões.

A mamãe sempre reclamava de quando a encontrava recitando feitiços. "Tome cuidado, minha querida." Deveria tomar cuidado pois corvos que não era os de Morrigan estavam a espreita.

"Bobagem. Aprenda a lutar, menina. Igual a caçadora Diana ou as Valquirias do Norte." falou a idosa, sacodindo no ar seu velho cajado. Ela tinha muitos e muitos anos e ainda lembrava das Senhoras dos Antigos.
Mas isso é segredo, sabia bem.

Passava da avó, para a mãe e, então, para a menina.

Tomou uma pequena vassoura em mãos, para limpar a diminuta cozinha da casa onde vivia. Desprendia um cheiro bom do caldeirão, mamãe havia deixado uma sopa cozinhando.

"Faça uma vez que lhe retorna em três." Ela repetia baixinho, de três em três tempos musicais.

As três faces de Hecate sorriam, sabidas do encantamento.