Vivo Por Ela escrita por MayLiam


Capítulo 9
Não posso sentir isso.


Notas iniciais do capítulo

Ai eu queria tanto postar essa... Boa leitura!



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–Duque. – Rebekah chama a porta de meu quarto.

–Pode entrar.

–O doutor já está de saída.

–Bom, faça com que ele me espere na biblioteca. – ela assente e já se prepara para se retirar.– E Rebekah... – ela para - Ela comeu? – sorri.

–Sim. Está mais bem disposta na minha opinião, passou esta última semana seguindo fielmente as ordens do doutor Smith. Acho que ela quer mesmo ficar bem logo.

–Claro que quer. – estou seguro que quer, se vai se ver livre de mim. – Avise o doutor.

–Sim, duque.

A temporada de bailes começa em uma semana e eu não quero que ela vá. Mas se tem uma coisa que aprendi sobre Elena é que ela não para até conseguir o que quer. Algo em que nos parecemos demais.

Ela continua brava comigo e eu não tenho muito o que fazer quanto a isso. Na verdade não me importo. Ou me importo? Não importa! Minha mente anda muito confusa ultimamente. Ando refazendo em minha mente a conversa desagradável entre meu irmão, Elena e eu. Toda a discussão sobre o que ela deveria fazer, se deveria ir ao baile ou não. Me peguei pensando no porque daquela mudança de curso. Algo que começou tão leve e depois ganhou aquele peso enorme e, como resultado, Elena ficou magoada comigo.

“Você provocou isso, Damon. Falando daquela maneira com ela.”

Mas porque estou pensando nisso? Não me importa. Nada disso me importa. Ah menos que... Não. Não mesmo!

Eu saio do quarto a caminho da biblioteca, como falei,falar com o doutor. Mas ao passar de frente ao quarto dela, ouço risadas. Resolvo me aproximar mais e então ouço a voz de Kol.

–Mas o que diabos ele faz no quarto dela? – antes que possa reprimir meus instintos estou dentro do quarto e a cena não me cai nada bem: Elena sentada na poltrona, próxima a janela, cabelos soltos, pegando um pouco de sol, apenas usando combinação e Kol bem diante dela. Estou doido pra saber o por que. Eles param os risinhos assim que me veem parado na entrada do quarto. Kol parece ter perdido todo o sangue de seu corpo.

–Duque. – ele sobressalta-se e pigarreia assim que me vê. Elena imediatamente assume uma postura que só me diz o quanto ela anseia que eu saia. Interrompi algum momento? Pouco me importa! Ele não devia estar aqui com ela, ainda mais vestida assim.

–Onde está o doutor Smith? – pergunto olhando pra ele. Que engole e responde, meio hesitante.

–Minha... A senhora Sage o acompanhou até a biblioteca para que o esperasse. – olho pra Elena, que não tira os olhos dele.

–Então desça e avise a ele que já estou indo. – falo incisivo e ele assenti.

–Claro senhor. Com licença senhorita Gilbert. – fala sem jeito e ela lhe dirige um largo sorriso.

–Tem toda Kol. – ele passou por mim como um raio. Eu a encaro incrédulo.

–Perdeu a noção de decoro?

–Bom dia pra você também, a propósito, Damon. – ela levanta e caminha até perto de sua penteadeira, começando a escovar os cabelos.

–Não estou com humor para seus desafios, Elena. Como você recebe o Kol em seu quarto, a sós, vestida dessa maneira? – dá de ombros e minha encara pelo espelho.

–Já o recebi diversas vezes assim, aqui, e mesmo fui vê-lo assim no seu.

–Está me comparando? – só pode ser piada.

–E deve haver diferença? – inspiro, buscando por controle.

–Se você não se dá ao respeito, ao menos respeite meu irmão. – ela para de se pentear e bate a escova contra o móvel, se virando pra me encarar de frente.

–Se não é falta de respeito com você, também não seria com ele. Mal decoro é mal decoro, não importa a quem se refira, não acha? – seu to esnobe me inquieta.

–Por quê insiste tanto em me desafiar, Elena? – suspiro, sentindo o resto da paciência se esvair.

–Por que você sempre escolhe me insultar. – ele se levanta e finalmente fica de frente diante de mim - Acha que tem poderes sobre mim, me ofende, tenta intimidar. É rude, mal humorado, me tira dos eixos e eu não vejo a hora de ir embora daqui, para encontrar-me com Stefan.- ela fala tão rápido que der o fôlego no fim e o revoga com grande esforço.

–Entendo... – eu sei que não tem pensado em mais nada. Estranhamente, minha voz soa tristonha. - Pelo que soube tem se esforçado bastante para isso. – a encaro de relance e desvio.

–Nada que você não possa apreciar. – fala com rispidez.

–As aparências enganam... – suspiro e quando a encaro, ela está com cenho franzido -Vou descer e falar com o médico. Se ele liberar você, antes que a próxima semana acabe estará a caminho da corte a tempo pra sua temporada de bailes. – dou as costas mas ela me para antes que eu passe pela porta.

–Agora crê que é uma boa ideia que eu vá? – é?

–Não. – sai de minha boca antes que eu pense muito sobre isso. - Mas você quer ir. E eu não sou conhecido por prender pessoas que não querem estar comigo, ao meu lado. Então você pode estar certa de que irá, se assim ele permitir. - tento sair novamente, mas ela me impede outra vez.

–E você irá mandar alguém comigo? Talvez Kol? – Kol? Mas como assim? Viro pra ela novamente e digo sem o menor tom cortês.

–Escreverei para Stefan. Meu irmão deve ter uma própria guarda pessoal, que poderá lhe servir de escolta. Os serviços de Kol não lhe serão necessários. Ao menos não desta vez. – ela inspira fortemente.

–Você sempre tem que colocar um duplo sentido nas coisas que diz pra mim? Sua ironia é estafante. – dou-lhe as costas determinado a deixá-la.

–Se me der licença, senhorita Gilbert...

–Tem toda, meu caro Duque de ValeFord. – escuto já depois de passar pela porta.

....

–Está seguro disso Smith?

–Sim. O risco ainda está lá. Mas duvido muito que poderemos manter a senhorita Gilbert presa aqui.

–Também duvido. O que podemos fazer, então?

–Se você escrever detalhadamente para seu irmão, explicando-lhe minhas recomendações, tenho certeza de que ela ficará bem.

–Certamente. – mas eu não quero. Porque não quero que ela vá. Hein? Foco Damon!

–A condição dela inspira cuidados, mas mantê-la presa aqui não fará muita diferença. Essa última semana ela reagiu bem e se fortificou com os remédios. Está disposta para uma viagem assim. Se não se esforçar demais, ou se expor demais, não vejo por que não deixá-la dançar um pouco com seu noivo. – o tom dele me faz o encarar e ele está todo risonho.

–Eu entendi. – digo cortante e ele sorri ainda mais.

–E como tem passado Duque?

–Você é o médico. Me diga você. – ele sorri vencido.

–Por anos eu apenas via em você enfermidades que refletiam seu estilo de vida. Pelo que pude notar em minhas novas visitas ele certamente mudou. Sua anemia, suas dores musculares e febres. Você parece de fato muito melhor, Damon.

–E estive. Por um tempo... – ele franze o cenho.

–Não entendi. Não está mais?

–Sim, estou... Eu... – estou? - Finn irá levá-lo de volta. Eu agradeço sua atenção. Direi a ela que está liberada para a viagem. Obrigado, Elijah.

–Se cuide, Damon.

....

–Isso é maravilhoso! Quando poderei ir? – ela está radiante com a notícia.

–Imediatamente, se assim desejar. Rebekah lhe ajudará com as malas. Rebekah pode acompanhá-la nesta viagem se você quiser.

–Não! - Rebekah grita do nada e eu a olho de imediato -Perdão... Senhor, eu prefiro ficar. Mas talvez minha tia possa acompanhá-la.

–Bem, senhorita Gilbert. Você decide. Vou escrever para meu irmão. Quando a guarda aparecer para buscá-la, sugiro que esteja pronta. – falo e dou as costas saindo, não antes de ouvir o seu:

–Eu já estou.

.....

–Estou feliz que tenha aceitado ir comigo. – falo para Sage que sorri com doçura.

–Apenas para cuidar de você. E fazer com que siga o que o médico pediu. – ela fala enquanto arruma minha cama. E Então algo que a muito queria confirmar, surge em mi há mente.

–Rebekah sente algo pelo Duque? – ela para imediatamente e me encara.

–Por deus, criança! Não volte a repetir isso. – confirmado.

–Um simples sim, responderia. – ela sorri, e eu me aproximo, ambas ficamos sentadas em minha cama.

–É uma coisa de menina. Ela é jovem. Sonhadora. E o admira desde criança. As coisas podem ficar confusas.

–Ele sabe? – ela sorri.

–O duque é um homem muito mais experiente do que aparenta. Uma das razões para pedir as coisas mais revoltantes apenas para Rebekah vem da segurança de que ela jamais se negaria a fazer.

–Então, o que está dizendo é que ele sabe e usa isso? – dá de ombros.

–Você tem se expressado muito rudemente. – fala se levantando - Não deixe que a pouca convivência que teve com o mal humor dele a influencie. Eu diria que ele apenas sabe o que deve pedir a ela. – sorrimos.

–Você gosta muito dele. Todos que vivem aqui parecem gostar, respeitar.

–E você aí falando como se não fizesse parte dessa pequena minoria de seres viventes. – deito na cama frustrada. Pior que faço. Como fazer diferente? Aquele homem me inquieta.

–Não o vi o resto do dia. Voltou a trancar-se em seu quarto?

–Bem, logo depois que o doutor se foi, ele pediu para Kol ir até a cidade, enviar a carta ao menino Stefan e depois eu não o vi mais. Ele não quis comer no almoço.- volto a sentar a encarando e ela suspira.

–Também não apareceu para o jantar...- dá de ombros.

–Vocês estão discutiram muito nos últimos dias. Por quê ele apareceria?

–Seu tom implica que eu tenho culpa de algo?

–Meu tom implica que vocês dois estão sentindo falta um do outro. Mas são orgulhosos, teimosos. E agora você vai embora e ele no fundo não quer isso, porque se acostumou com você, as aulas de piano, conversas na biblioteca, os chás da tarde. E algo me diz que se ele fosse capaz de se desculpar como deveria, você até mesmo desistiria dessa viagem a corte.

–Não há esta possibilidade. – deito outro vez.

–Bem, poderia não desistir, mas certamente não ficaria por aí repetindo que não voltaria mais.Você o está provocado.

–E você acha que estou conseguindo? Acha que ele está... Você sabe... Triste? – espero sua resposta enquanto encaro o teto do quarto.

–E você não está? – a pergunta me pega de surpresa. Estou? – Está tarde. Deite-se e se aqueça. Amanhã será um dia longo. E depois de amanhã sua viagem.

–Boa noite, Sage!

–Durma bem, criança!

Se ao menos eu conseguisse... Se ele não quer que eu vá, ou se quer fazer as pazes, por que ele não faz? Eu não estou o impedindo. Ou estou? Não! Não. Ele é que está errado. Com toda aquela pose e prepotência. Talvez esse tempo longe de mim, longe de Sage e de Stefan o faça refletir melhor sobre a ideia de um dia acabar sozinho. Com aquele humor... Quando só restar a submissa Rebekah ao seu lado, talvez ele perceba que as únicas pessoas capazes de o suportar são aquelas que não tem escolha ou não conseguem evitar.

Se ao menos ele pudesse retirar o que disse... E...

Esqueça, Elena! Você estará longe daqui em alguns dias, isso o fará um bem inestimável. E a você também. Do que eu estou reclamando, afinal? Vou me ver longe dele. talvez eu cumpra o que disse. Talvez eu não volte mais. É o que ele sempre quis, certo? Me ter longe.

Conseguiu!

.....

Eu acordo sobressaltada, lá fora chove, mas são os gritos vindos de cima que me fazem pular da cama. Damon!

A muito ele não sofria com pesadelos. Antes certamente eu ficaria no quarto, escutando e me perguntando o porquê, mas agora, antes que eu perceba estou abrindo a porta de seu quarto e o avistando na cama, enquanto se contorce e chora.

–Damon! – eu chamo e me aproximo um pouco mais.

–Por favor... Não! – ele chora ainda afogado em seus delírios.

Involuntariamente lágrimas rolam de meu rosto, ele parece tão frágil e ferido, seus gemidos e soluços o deixam como um menino, ou mesmo um animal assustado. É de cortar o coração.

–Oh, meu Deus! – Rebekah, surge e rapidamente, tem mais ação que eu. Ela molha uma pequena toalha e se debruça sobre ele, molhando sua testa. – Senhor, por favor, acorde. Está tudo bem.

Ela continua chamando por ele, mas Damon parece estar preso em seus tormentos de tal maneira que não consegue se livrar do pesadelo.

–Ele está com febre. Vou descer, pegar umas compressas, pode ficar com ele? – apenas assinto e ela se vai.

Me volto para Damon e ele ainda chora. O que fazer?

–Damon... – tento outra vez. – Por favor. Fique calmo, estou aqui. Por favor...

–Andie... Por favor... Não, Andie. – Andie? Os soluços dele são um tormento. – Não me deixe. – ele suplica. – Eu amo você. Eu amo, amo... Por favor... Não. Não! – ele grita. – Ai! Isso queima.

–Damon...

–Não! – do nada ele senta na cama. – olhos arregalados, perdidos... ofegante e confuso, ele treme sem parar.

–Damon? – ele salta com minha voz e me encara perdido.

–Não. – ele ofega e tenta sair da cama, mas o seguro pelo braço.

–Damon, espera. Você está com febre e...

–Por que você não vai embora de uma vez? – ele grita, puxa bruscamente seu braço de minhas mãos - Não é isso que você quer? Quis isso poucas semanas depois de chegar aqui. Então porque não vai de uma vez?

–Fica calmo, por favor. Deita aqui...

–Não. Me deixa. Eu não quero. Saia daqui! – me dá as costas.

–Não! – digo e me aproximo mais dele na cama, estou de joelhos diante de suas costas e sua respiração está descompassada. Ele passa as mãos pelo cabelo em extrema agonia.

–Sai! – grita outra vez, eu pulo com o grito, mas não me movo.

–Não saio. – ele geme em desespero e afunda o rosto entre as mãos, se curvando contra os joelhos.– Damon, não é o que você quer... – me aproximo devagar e toco seu ombro, ele está suado e muito quente. - Não é o que eu quero também.

–Mas você vai. – ele diz do nada, voz chorosa. Mas o que está acontecendo aqui?

–Eu vou voltar. – ele vira pra mim de novo, eu me assusto com seu movimento brusco, e agora estamos frente a frente.

–Vai voltar? – sua voz tem um tom suplicante, seu olhar está marejado - Promete? –assinto e acaricio a cama.

–Deita aqui. Rebekah foi pegar umas compressas, sua febre vai baixar.- ele obedece, se acomodando nas almofadas, e antes que eu possa evitar, estou acariciando seus cabelos.

–Minha cabeça está doendo.- ele geme.

–Vai ficar tudo bem. – ele se encolhe e volto a escutar seus soluços. Nunca o vi assim. É terrível!

–Vai ficar aqui? – ele pergunta e busca meu olhar - Agora?

–Vou. Não vou sair. – ele assenti e fecha os olhos, tentando se acalmar, continuo mexendo em seus cabelos, sentada ao longe.

–Me desculpa... – ele soluça - O que eu disse. Eu me importo, sinto falta dos sorrisos sim. Eu...

–Shh! Calma. – toco seu rosto, suavemente com minha mão. Ele fecha os olhos- Você está tremendo.

–Não vai me deixar, não é? Não vai fazer com ela. Você não vai. – seu desespero me corta.

–Não. Eu vou voltar.

–Está tão frio... – ele se encolhe mais.

–Vai esquentar. – puxo os cobertores para cima dele.

Rebekah volta com Sage e as compressas e passamos o resto da noite e boa parte do inicio da manhã com ele. Até que pouco antes do amanhecer, ele se acalma e dorme outra vez. Quando eu voltei pro meu quarto, minha cabeça estava dando voltas.

O que foi tudo aquilo? Eu nunca poderia imaginar um dia que veria o duque tão exposto, tão... Sensível. E quem é Andie? E porque ele implorava para ela não o deixar? E porque ele me implorou para ficar?

Pego no sono vencida pela exaustão. Eu nunca poderia imaginar uma noite assim.

...

Quando acordo, noto que o sol já está alto. Quando me recomponho e desço Sage me encontra em meios as escadas.

–Como ele está?

–Ele está quente ainda. Se queixa de dor no corpo, mas está bem melhor.

–Será que é uma boa ideia vê-lo?

–Por que não faz a refeição com ele? – ela sugere e eu assinto.

Vou com ela até a cozinha e a ajudo a levar as coisas pro quarto do duque.

–Bom dia! – falo assim que entramos.

–Já acordada? – ele pergunta meio surpreso.

–Descansei o suficiente. – falo deixando as coisas na mesa e me aproximando da cama - Como se sente? – ele suspira.

–Cansado. Imagino que você também. Talvez seja melhor ir deitar. Os homens de meu irmão estarão aqui pela manhã e... - ele para, me encara hesitante e continua. - Bem, viajar descansada é melhor que...

–Não vou a lugar algum até você estar recuperado. – ele visivelmente se surpreende, Sage faz um pequeno ruído com os talheres às minhas costas.

–Meu irmão a espera Elena...

–Bem, ele compreenderá. – ele parece confuso.

–Não preciso que fique. Rebekah está aqui e...

–Sou totalmente consciente da capacidade que Rebekah tem para cuidar de você e também lidar com seu humor, mas eu não irei até ter certeza que está bem. – termino me sentando ao pé de sua cama. Ele abre e fecha a boca várias vezes, sem saber bem como se expressar, finalmente formula algo.

–É apenas uma virose. Bem comum nessa época dizem.

–Sim, claro. – sorrio - Vamos almoçar?

–Você acabou de acordar...

–Sim, e morta de fome.- levanto e caminho até perto de Sage.

–Me perdoe por ontem, eu...- paraliso e a encaro, ela sorri e me dá as costas. Volto a encarar Damon.

–Oh não. Você estava adorável de fato. Não se desculpe por se mostrar tão sensibilizado.- ele sorri com minha piada.

–Não perde a chance de troçar de mim?

–É algo inevitável.- sorrimos.

–Não precisa se sentir presa a nenhuma promessa que fez a uma pessoa em delírios.

–Se está falando sobre eu voltar, nem se incomode.

–Arrependeu-se? – ele fala em tom urgente, alarmado.

–Pelo contrário. Voltarei, certamente. –ele relaxa e fica um pouco vermelho, desviando o olhar. - Quem é Andie? – ele arregala os olhos pra mim.

–Como você... – dou de ombros - Oh!

–Não precisa falar se não quiser. – recuo ao notar a cara que ele fez, mas ele nega com a cabeça,

–Não... Tudo bem é só...

–Com licença, senhor... – Sage diz encontrando o tempo perfeito para nos deixar a sós.

–Toda.

–Senhorita... – eu sorrio para ela.

–Então?... – falo sentando novamente, perto dele.

–Ela seria sua cunhada, se não tivesse recusado meu pedido de casamento.

–Oh meu Deus! Isso... Você ainda a vê? – ele faz uma careta - Perdão, foi uma pergunta sem sentido.

–Ela mudou-se para a França pouco tempo depois de me rechaçar. Eu não passei a levar muito a sério relacionamentos, desde então.

Ele fica me olhando e do nada vejo que essa é minha deixa para a nossa refeição. Então logo nos dirigimos à mesa que Sage serviu e ele começa a comer. Me alegro em ver que seu apetite não muda quando está doente.

–Algum dia vai me contar sobre o que são? – digo no meio de nossa refeição.

–O que? – pergunta confuso.

–Seus pesadelos. Eu nunca o ouvi chamar por ela. Só ontem.

–Eu não... Ao menos não antes... Eh... – ele está totalmente perdido - Eu não quero que vá embora. – ele diz do nada e faço um esforço enorme pra não engasgar com o pedaço de carne que acabei de por na boca - Talvez esse... esse sentimento tenha me despertado a lembrança dela. Não é como se as pessoas que se afastam de mim voltassem. E acontece que por mais que eu odeie admitir, você... Sentiria muito sua falta, se decidisse não voltar. Eu só...

–Já disse que não vou a lugar algum. – falo assim que consigo.

–Bem, você está indo à corte, onde seu noivo está, onde ele vive e nada mais natural se... é o seu lugar, certo? Perto dele, com ele e...

–Eu vou voltar. Eu prometi.

–Já disse que não deve se sentir presa. – ele joga o guardanapo na mesa e se levanta do nada.

–Está bem, então eu vou voltar porque eu quero. – digo o seguindo, mas ele está de costas pra mim - E que por mais que seja horrível admitir, vou sentir sua falta.

–Um mês?- pergunta sem me encarar.

–Um mês. – ele vira para mim e sorri, corando.

–Está cansada pra uma aula de piano?- abro a boca surpresa e ele cora mais, sorrindo timidamente.

–Depois de uma refeição tão boa, me sinto renovada.

–Você vai ficar um bom tempo sem praticar... – ele diz caminhando para o seu piano.

–Arrumarei um piano, tenho certeza. Talvez eu já volte uma concertista.- ele sorri.

–Acho que não há nada que você não consiga Elena. Ao menos quando se dispõe a ter. – ele fala ao sentar-se ao piano e eu imediatamente sento ao seu lado -Vou fazer uma pergunta indiscreta.

–Estou curiosa.- ele sorri.

–Qual a sua idade? – Quer saber minha idade?

–Qual a sua idade? – brinco.

–Você não sabe?- desafia.

–Você nunca me disse.- ele dá de ombros.

–Bem, achei que soubesse... – faço um gesto negativo, eu não sei.

–Não.

–Certo. – ele hesita - Trinta e um anos.

–Tenho vinte.- ele abre a boca e sorri.

–Oh! Eu... Ah... – fica tão vermelho que chega a ser engraçado.

–Eu nunca percebi como você cora com facilidade.- ele consegue ficar ainda mais corado e eu gargalho.

–Acredito que é porque nunca corei assim antes. – ele tenta se defender - Estou me sentindo muito estranho sobre ontem, e acontece que não sei como agir.

–Bem, você está mais agradável, comunicativo, simpático. E sem a ironia habitual. Se for pra eu escolher, eu prefiro você confuso e sem jeito.

–Certamente prefere. Mas não me sinto bem assim.

Ficamos em silêncio, e ele começa a dedilhar o piano, distraído.

–Pra falar verdade eu me acostumei com seu mal humor. – ele para e me encara - É estranho te ver assim tão... Bonzinho. – gargalha. E essa sim é nova.

–Pelo menos concordamos em algo.

–Sempre podemos fazer funcionar.

–Sim.

–Amigos?

–Amigos.

–Não me faça me arrepender de dar-lhe meus sorrisos outra vez. - ele assenti.

–Não.

Voltamos pra nossa aula. E acho que é um recomeço. Só não sei do quê. Porque mal sei se havíamos começado alguma coisa. Porém estou feliz em retomar.

....

Eu fiquei melhor, depois de uns dois dias, a dor no corpo e febre haviam me deixado. Mas ela também se foi. E eu apenas fiquei com sua promessa de que voltaria. Eu certamente não posso sentir o que estou sentindo por Elena. Certamente seria uma das coisas mais difíceis de superar. Por ela, por Stefan. Eu não podia. Mas estava.

E à muito tempo não me sentia assim.

Como pude deixar isso acontecer?

Que Deus me ajude!


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Notas finais do capítulo

até mais!