O que eu sentia já não era mais segredo para meus amigos e amigas e, no entanto, nenhum deles demonstrou qualquer problema com isso. Lógico que Gabu era o único a não saber, eu achava que ainda não o conhecia o suficiente. Will, como era da mesma família que Gabu, portanto o conheci bem, recomendou-me que não contasse, caso contrário, ele me daria às costas. Claro que fiquei triste ao ouvir isso, mas fui obrigado a aceitar. Era o único jeito de continuar me aproximando dele, então eu não faria.

Mesmo que meus amigos sabiam sobre minha orientação sexual, ainda tinha muito sobre mim que eles não sabiam. Coisas que eu jamais ousaria contar a alguém.

Eu não era o único com segredos em nosso ciclo de amizade. Assim era a vida em Falsehoold, baseada em moradores com fatos ocultos. A verdade é que todos estão interessados em saber os segredos de todo mundo, mas ninguém está disposto a falar sobre os seus.

Como de costume, estava com a tarde livre. Resolvi passar um tempo na internet.

Rhaiana Freitas adicionou você como amigo!

Pela foto do perfil, eu nunca tinha visto aquela garota, mesmo assim, resolvi aceita-la.

_Oi! – ela chamou conversa pelo bate-papo.

_Oi! – respondi – Te conheço?

_Provavelmente não.

_Então...

_Eu vi que moramos próximos e resolvi adicionar. Tem problema?

_Não. Onde você mora?

_Na capital!

_Então não estamos nada pertos...

_Poucas horas de distância! rs. Geralmente só vejo por aqui pessoas de outros lugares do país.

_É mesmo. Mas e então, como está?

_Bem... Você é bem bonito!

_Ah, obrigado! – sem querer ser hipócrita, mas ela me ganhou ai – Você também é bem bonita!

Comecei a olhar os seus álbuns de fotos e ela era realmente atraente. Passamos horas conversando, falando de besteiras, da vida, tudo.

Eu já estava me sentindo mais intimo da Rhaiana do que dos meus amigos que conheço há anos. Aquela garota certamente tinha conquistado minha simpatia, e acredito que foi um sentimento recíproco.

Sobretudo, ela me ajudou com o meu maior conflito: aceitação!

Ela soube exatamente como me deixar à vontade a falar sobre Gabu. E ainda me encorajou a não desistir do que eu sonho. Rhaiana era ótima! Quando finalmente a conversa chegou ao fim, eu sentia como tivesse sido a melhor conversa que eu já tivesse tido.

–

Era a semana de jogos na escola.

Ninguém estava nem ai para as aulas, ninguém queria ficar na sala. Todos só pensavam em ir assistir aos jogos. Sem se importar qual era o jogo naquele momento, ou quem estava competindo.

Confesso! Eu era um desses.

Nunca me importei por esportes, mas esse ano era diferente. Gabu era o garoto prodígio do colégio quando o assunto era esporte. Consequentemente, era o maior empolgado com os jogos. Tanto que estava no time de futebol e basquete.

Para a minha infelicidade, as turmas estavam sendo liberadas para fazer parte da torcida em partes. E a minha turma não iria por hoje. Como Gabu teria uma partida naquele dia, não foi assistir nenhuma aula, já ficou direto no ginásio. Mas eu queria vê-lo jogar.

Chamei Adam, Will e Oliver para matarmos aula e ir para o jogo. Mas Will não era desse tipo, que corria riscos de ser pego e ficar mau visto pelo corpo docente. Porém, os outros toparam.

Conseguimos sair da sala e entrar no ginásio sem sermos notados. Embora tivessem professores nossos ali que se nos vissem saberiam que estávamos matando aula, tinha muitas turmas ali, então nos juntamos no meio da galera e assistimos tranquilamente ao jogo. Era basquete.

Gabu não era o melhor do time, talvez pela sua posição, mas ele marcava muitos pontos. Ele era realmente bom. Parecia voar quando ia em direção à cesta.

Logo o jogo acabou. Hayrocks, o time de Gabu tinha ganhado a partida.

_Vamos embora agora. – Oliver disse impaciente.

Olhei para a saída do ginásio e Liah estava lá, parada como um guarda.

_A professora está no portão! – avisei.

_Vamos pelos fundos então.

Fomos até o acesso da saída de emergência, localizada na lateral contrária a saída comum. Fomos caminhando até os fundos do ginásio e demos a volta, para não sermos vistos e encarar problemas com o diretor.

Foi então que vi o que o não desejava. Gabu estava aos beijos com Karen, a capitã das líderes de torcida. COMO?

Fiquei totalmente paralisado com o que via.

_Aquele é o Gabu? – Adam perguntou.

_Ele mesmo... Tá ficando popular! – Oliver respondeu.

Eu ouvia o que eles diziam, mas era como se eu não estivesse ali. Eu estava em choque. Notei que minhas pernas começaram a tremer e meus olhos se encheram de lágrimas, que por sorte minha não escorreram sobre meus rosto, mesmo assim, atrapalhavam minha visão.

_Math? – Adam tentou chamar minha atenção pra mim voltar a realidade.

Olhei para eles e Oliver me olhava estranho, talvez até tivesse soltado um pequeno sorriso, mas eu mal podia enxerga-los a minha frente.

_Vamos logo! – eu disse andando mais rápido e os deixando para trás.

Claro que eles a aquela altura já tinham entendido tudo. Eu agradecia aos céus por Will não ter topado ir, porém com Oliver ali era quase a mesma coisa.

Não sei por que agi daquela forma, era pra mim ter sido mais discreto com minha decepção, mas foi tão de repente, inevitável.

A sorte do dia foi o porteiro estar em seu horário de café e não enfrentarmos nenhuma contra tempo pra sairmos do colégio.

Quando cheguei em casa, já estava um pouco mais conformado com os fatos do dia. Talvez aquele tivesse sido o tapa na cara que eu precisava pra acordar daquela ilusão que eu tinha.

Mesmo assim, não consegui segurar as lágrimas. Eu estava deitado em minha cama, e dessa vez elas caíram, e caíram com força. Fiquei ali chorando, desiludido, até que acabei por adormecer.

–

Acordei por volta das 16:00 horas. Tomei um banho frio e desci pra preparar um lanche. Minha irmã ainda tentou conversar um pouco, mas eu não tinha disposição. Apenas voltei pro meu quarto, me tranquei lá e liguei o notebook.

Mais uma sorte, Rhaiana estava online.

_Novidades? – ela chamou.

_Por hoje, estou triste! E você?

_Estou bem... Mas o que houve com você?

_Lembra-se do garoto que te falei?

_O que você gosta?

_Esse mesmo. Vi-o beijando uma garota hoje!

_Ai que pena! Mas um dia ia acabar acontecendo, não acha?

_Eu sei, mas eu preferia não ter visto.

_Te entendo. Já passei por isso e foi uma droga!

_Mas eu nem posso reclamar, estamos quites agora! – tentei por um humor na conversa. Tentativa fail.

_Quites?

_Eu também já tinha o traído antes! rs

_Traído? Como assim?

_Modo de dizer... EU acabei ficando com um garoto mesmo gostando dele.

_Outro garoto? Mas você disse que ele era único.

_Eu sei, eu nunca disse sobre esse outro com ninguém.

_E como aconteceu?

_Foi no aniversário de uma amiga. Ele me ligou e pediu que eu fosse a casa dele!

_Então se conhecem a tempo?

_Ele estuda com meu irmão há alguns anos.

_Entendi. E posso saber quem é?

Não vi problemas em falar disso com Rhaiana, ela me entendia. Então fui ao perfil do Sam, salvei uma foto dele e mandei para ela.

_Uau! – disse ela – Ele é muito lindo! Muito mesmo.

_É, mas foi só um deslize.

_Gatinho, vou ter que sair agora. Tenho umas coisas pra fazer!

_Tudo bem! Valeu por me ouvir mais uma vez.

_Sempre que quiser pode me contar tudo! Eu vou sempre te ajudar, é só você querer.

_Eu também estou aqui pra te ajudar no que quiser.

_Foi muito bom te conhecer melhor.

E antes que eu pudesse responder, ela ficou off-line.

Achei um pouco estranho isso, mas não tava a fim de pensar em nada. Coloquei minha playlist pra tocar e fiquei ali deitado ouvindo.

–

No outro dia, pensei em não aparecer na escola, mas não consegui um argumento bom o suficiente pra convencer a minha mãe a me deixar ficar.

_Conheci uma garota bem legal da capital! – disse a Debby.

_Da capital? – ela perguntou.

_Sim! Agente conversou bastante nesses últimos dias. Me senti tão ligado a ela que foi como se já nos conhecêssemos a anos.

_Como é? Você confia em uma pessoa que nem conhece pessoalmente e nos deixa de lado?

_Calma! Eu não to deixando de lado.

_Mas do jeito que você disse...

_Eu só achei ela legal!

Debby ficou calada. Parecia estar tendo outro ataque de ciúmes. Então, resolvi deixar essa história pra lá.

_Débora? – Will chamou-a – Preciso falar com você.

Dei as costas e sai calado, deixando-os a sós para falarem do que quiserem.

Entrei na sala olhando diretamente para o lugar do Gabu, para a minha felicidade – nunca pensei que fosse dizer isso – ele não estava. Eu já imaginava que ele não fosse aparecer na aula de novo. Mas considerando os fatos, eu devia estar preocupado em olhar nos olhos de Oliver e Adam, e não de Gabu.

Pensei em voltar para o meu lugar, já não tinha mais tanto sentido eu continuar ali. Mas Victor estava ocupando meu lugar agora. Não tinha como eu simplesmente querer voltar.

Então, apenas me sentei ali mesmo, atrás de Adam e ao lado de Oliver. Todavia, os dois estiveram sendo muito discretos, não se referiram a nada sobre o dia anterior.

_Não vamos ver o jogo hoje? – Oliver questionou Adam.

Ok, cedo demais pra dizer.

Mas Adam manteve a discrição, preferindo deixar Oliver sem resposta. Estava claro que ele tinha perguntado aquilo pra me provocar. Mas como Adam já tinha ignorado, resolvi ignorar também.

As aulas pareciam não passar naquele dia. Eu não falava com ninguém. Estava triste de verdade.

Quando chegou a hora do intervalo, todos correram para o ginásio. Já eu fiquei enrolando para guardar os livros e perder um pouco do tempo. Foi então que percebi alguém entrando na sala e virei-me para olhar. Era Will.

_Math – disse ele – eu tenho uma coisa pra te contar!

_Pode falar!

_A Rhaiana é um fake!

_Como assim um fake?

_Eu e a Debby somos os donos.

_O quê?

(...)