Math For Love escrita por Valentine


Capítulo 12
Retratos


Notas iniciais do capítulo

Gente, como vão vocês? Finalmente tirei um tempinho maior pra escrever este capítulo, por isso, aumentei o tamanho! Espero que gostem, está sendo o meu favorito até agora! Beijo! Espero comentários.



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À medida que Daniel Harris respondia lentamente às questões propostas por Mary com cálculos complexos, ela observava-o de longe. Estavam a cerca de um metro e meio de distância, em completo silêncio: Mary sentada e ereta no sofá, e Daniel no tapete vermelho, um pouco mais distante, curvado sobre mesa com tampo de madeira que decorava o ambiente rústico daquela sala.

Enquanto respirava fundo, tentando fazer os poucos cálculos que conseguiria até concluir sua avaliação, os olhos dele percorreram distraidamente pela casa. Olhou para cima, fitando o teto de madeira com um pequeno lustre pendurado, combinando com o forro em cor creme do confortável sofá. À sua frente, uma parede revestida por um papel marrom, dava perfeitamente a ilusão de ser feita de pedras polidas, enquanto sustentava uma prateleira de madeira acima da lareira, com alguns porta-retratos. Analisou as fotos, uma por uma. A primeira parecia ser da mãe de Mary, já que ambas tinham muitas semelhanças em termos de cabelo e traços do rosto. Ao ver a segunda, a imagem fofa de Mary quando criança roubara-lhe um sorriso. Seu cabelo estava grande, em cachos longos e sedosamente pretos, presos em chiquinhas no alto de sua cabeça. Segurava uma espécie de livro de colorir em uma das mãos, com a outra sob o queixo. Na terceira foto, separada das demais por um jarro de plantas, havia duas garotas abraçadas. Conseguiu reconhecer Mary pelo mesmo penteado que usava na foto anterior, mas custou a saber quem era a outra, até lembrar-se de que aqueles fios longos e loiros eram muito parecidos com os de Katie.

– Eu nunca poderia imaginar que você é prima da Katie. - Falou, ainda olhando para a foto.

Mary arregalou os olhos, assustada. Então ele sabia do seu parentesco?

– Como você soube disso? - Perguntou, arqueando uma sobrancelha.

– Ela me contou. - Voltou-se para ela. - Algum problema nisso?

A atitude de Katie ao contar, pela primeira vez, que tinha um parentesco com Mary a assustava e a deixava curiosa por ter o feito.

– Não, claro que não. - Respondeu, rapidamente. - Quer dizer, eu só estou achando estranho ela ter contado isso a alguém assim, do nada.

Daniel riu baixo.

– Não foi do nada. - Sorriu, voltando-se para a apostila à sua frente. - Eu arranquei isso dela.

Mary ficou confusa. Arrancou? Como?

– Como assim, arrancou? - Levantou-se e sentou na outra extremidade do sofá, aproximando-se de Daniel, curiosa pela história.

– Ah, como você acha que eu descobri o número de seu armário e o seu nome? - Sorriu de lado para ela. - Eu só vi que os sobrenomes de vocês batiam e perguntei. No final, acabou sendo você mesmo.

Mary sorriu de volta. Então Daniel estava mesmo curioso e procurando informações sobre ela? Meio difícil de se acreditar.

– Por falar em armário... - Ele a interrompeu de seus pensamentos. - Fiquei esperando você responder meu bilhete ontem o dia todo.

O Bilhete!

A ansiedade pelas aulas de reforço após aceitar à proposta do Diretor Simon a fizera esquecer completamente do bilhete. Daniel havia pedido uma resposta, um outro bilhete contando os seus interesses também, mas esquecera completamente. Sua aparência surpresa deu margem à interpretação extremamente correta de Daniel.

Ele riu.

– Você esqueceu, não foi? - Balançou a cabeça negativamente.

– Desculpa, esqueci mesmo. - Ela suspirou. - Ontem o dia foi muito corrido, ainda tive que fazer essa lista de questões para você.

– Tudo bem. - Ele sorriu. - Mas eu ainda estou esperando.

– Certo, vou responder. - Fez uma pausa. - Já terminou? - Apontou com o dedo indicador para o papel após Daniel ter parado de fazer anotações por um certo tempo.

– Ah, sim. - Disse, olhando para o papel.

Mary levantou-se e sentou ao seu lado no tapete, estendendo a mão para pegar a folha, até que Daniel impediu-a.

– Mary, antes que você veja isso... - Fez uma pausa, balançando cabeça negativamente. - Eu quero dizer que não sou o melhor aluno do mundo em matemática, eu sempre pude contar com o Dylan para isso.

Mary franziu o cenho.

– Eu sei, Daniel, eu sei. É pra isso que você está aqui. Agora deixe-me ver as questões!

Daniel abaixou o olhar, entregando-lhe a folha.

Quando viu os cálculos de Daniel, Mary entendeu a razão de ter dito aquilo. Cerca de 60% de sua prova estava em branco, e seu conhecimento se resumia a cálculos simples de equações do segundo grau. À medida que o nível aumentava para questões de lógicas ou equações biquadradas, os cálculos eram interrompidos, abandonados. Sabia que o problema de Daniel era grande, mas não tanto.

"Nossa, tem muita coisa para fazer aqui..." - Pensou, perplexa com a situação intelectual do garoto mesmo estando numa realidade acadêmica completamente diferente.

– A coisa está tão feia assim? - Daniel perguntou, vendo a enorme ruga que aparecia na testa de Mary.

Ela suspirou. Preciso passar confiança, ele precisa confiar em si mesmo...

– Nada que não possamos recuperar com o tempo. Mas é o seguinte, você vai ter de se dedicar muito pra que dê certo.

Daniel desviou seu olhar. Estava mais certo do que nunca de que não iria dar espaço para as cobranças do seu pai, mas como iria fazer isso desse jeito como as coisas estavam andando? Cada minuto a mais que passava com Mary lhe passava uma idéia completamente diferente da que tinha alimentado durante todo aquele tempo. Se rendesse-se às aulas que seu pai obrigara-lhe a frequentar, como iria de encontro ao curso de admininstração?

– Você promete que vai se dedicar à sério nisso aqui? - Mary perguntou, alcançando seu olhar perdido, confundindo completamente tudo o que ele sentia.

Não. Não podia fazer aquilo, definitivamente não. Mary estava confiando nele, seria justo desprezar todo aquele empenho em ajudá-lo? Ficar ali, naquele lugar, com ela, estava interferindo nos seus planos, estava despertando uma motivação dentro dele, e essa motivação criava um medo enorme de dar mais um motivo para ser obrigado a cursar admininstração. Desviou seu olhar mais uma vez de Mary, levantando-se do tapete e ficando de costas para ela.

– Daniel, o que foi? - Ela perguntou, confusa.

– Desculpa, Monroe. - Ele virou-se, olhando diretamente para seu rosto. - Não vai dar.

Andou em direção à porta e saiu da casa, deixando sua tutora perplexa e incrédula no que acabara de acontecer.

O que ele deve estar pensando?– Perguntou-se, confusa pela atitude inesperada dele. Toda aquela seriedade em resolver as questões, em empenhar-se nos estudos, tudo era mentira? Porque Daniel não queria ficar ali?

{…}

– Nossa, obrigada, Dylan! - Jhennifer agradecia, contente pelo presente que recebera. - Eu vou colocá-las no meu quarto, já volto.

Sorridente, Jhennifer subiu as escadas, admirando as hortências que carregava com as duas mãos. Ao chegar em seu quarto, depositou-as em cima do criado mudo ao lado de sua cama, girando o jarro por uns segundos até achar o ângulo perfeito para exibir as flores mais bonitas do arranjo.

– Jhenni, você era bonitinha, o que o tempo fez com você?

Jhennifer deu um pulo, assustada pela voz alta de Dylan ali, no seu quarto. Ele segurava um porta-retratos seu, era uma foto sua de quando criança.

– Você quer me assustar? - Perguntou, irritada.- Quem mandou você subir aqui? Eu pedi pra esperar lá em baixo, não ouviu? - Andou até o garoto, arrancando-lhe o porta-retrato de suas mãos. - Me dá isso aqui, para de me irritar! - Gritou, arrancando risos de Dylan.

A atitude dele em relação a Jhennifer era insuportável, mas ela não sabia que tipos de sentimentos aquilo despertava em si. Colocou o porta-retratos novamente em sua estante de origem.

– Ah! Então isso aqui é para o Daniel? - Dylan perguntou entre risos. - Acho que ele teria um pesadelo com isso!

Jhennifer virou-se rapidamente e deu de cara com o garoto segurando um sutiã vermelho com rendas que estava inicialmente pendurado em um dos ganchos do seu tripé de madeira, junto com alguns casacos e bolsas.

– Dylan!! - Gritou, correndo em sua direção e arrancando a roupa íntima de sua mão, enfiando-a dentro de uma gaveta. - Quem te deu autorização pra pegar isso?

Dylan olhou para o tripé, com uma expressão calma.

– Estava aqui pendurado, como queria que eu não visse?

Ele está indo londe demais!

Jhennifer pensou, exibindo sua fúria crescente.

– Porque você gosta de me irritar, hein? Sabe que eu odeio isso!

Dylan sorriu.

– Eu adoro te ver assim, irritada.

Jhennifer não conseguiu se conter. Sabe aquela sensação de ter um nó na garganta e não saber se expressar? Então, é mais ou menos assim. Ergueu o braço direito e avançou sobre a face de Dylan, que a interrompeu imediatamente, segurando seu punho.

– Calma, Jhenni! - Falou, franzindo as sobrancelhas.

Empurrou-a contra a parede e a pressionou com as mãos.

– Eu estou brincando, não precisa disso! - Ele sorriu, capturando o seu olhar. - Você continua linda.

Jhennifer gelou.

– E pra falar a verdade... - Ele desviou olhar sobre seu corpo. - Até eu me derreteria vendo você naquele sutiã. - Jhennifer corou. Como seu estado de espiríto conseguia mudar tão rápido? Que sensação era aquela que começava logo depois daquele ataque de nervos? - Não se preocupe, estou saindo do seu quarto.

Dylan a soltou, caminhando calmamente para fora do quarto. Pasma e gélida, Jhennifer desabou sobre suas próprias penas, encostando-se na parede.

Como ele consegue agir tão calmamente depois do que acabou de acontecer?

{…}

Cerca de quinze minutos após ter saído da casa de Mary, Daniel já estava perdido. Aquelas ruas de Trenton não lhe eram familiares, e quanto mais tentava voltar ao centro da cidade, mais perdido ficava. Sair daquele jeito da casa de Mary não foi a atitude mais racional que poderia ter tomado, e ele sabia disso. A deixara lá, sem nenhuma explicação depois dela ter planejado todo um dia de estudos para ele. Admitia a falta de consideração que estava tendo e não se orgulhou nem um pouco. Pelo visto, ela nunca mais olharia na sua cara.

Respirou fundo e colocou as mãos nos bolsos de sua jaqueta, sentindo um pequeno volume no lado direito. Retirou-o e lembrou-se da ordem de seu pai mais cedo e das consequências que poderia lhe causar.

Droga, o envelope!– Pensou, retornando instantanemente ao caminho anterior

{…}

O que poderia ter acontecido? Milhares de perguntas rondavam a mente de Mary, enquanto recolhia os livros da mesa e levava-os para sua estante. Ao sair de sua casa tão inesperadamente, Daniel mostrara mais uma vez o quão irresponsável e ingrato era. De repente, toda aquela imagem pintada era verdade? Ele tinha mesmo menosprezado todo o seu trabalho?

A campainha tocou. Deve ser a minha mãe. - Pensou Mary, verificando o relógio e confirmando que era quase a hora do almoço. Abriu a porta e lá estava ele novamente, segurando um pequeno envelope branco nas mãos.

– Você resolveu voltar? - Perguntou, fria.

Daniel evitou olhá-la diretamente.

– Meu pai pediu que te entregasse. - Estendeu a mão direita com o envelope. - Acho que é seu pagamento.

Mary olhou para o envelope branco e suspirou.

– Daniel, você está brincando comigo? - Revirou os olhos. - Eu não quero isso, eu não vou receber pelo que não fiz.

Mary empurrou a porta prestes a fechá-la, mas Daniel a impediu, colocando o pé entre o espaço que lhe restara e bloqueando-a.

– Mary, espera! - Pediu, revirando os olhos. Ela abriu a porta novamente, apoiando-se na parede. - Aceite o envelope, eu não quero que você fique assim comigo!

Mary riu, ironicamente.

– Ficar assim? Como quer que eu fique depois de ter planejado toda a aula pra você sair assim, sem explicação? Tem idéia do trabalho que eu tive pra você agir com essa desconsideração?

Daniel suspirou, sem saber o que fazer.

– As coisas não são assim tão fáceis, Monroe. - Ele finalmente olhou em seu rosto. - Tem muito mais coisas envolvidas nisso, você nem imagina.

Mary assentiu com a cabeça.

– A história é muito longa. - Ele complementou. - Tem tempo suficiente para ela?

Mary riu novamente, erguendo os braços.

– Você ainda pergunta? Daniel, olha para mim! Acha mesmo que eu tenho algo para fazer em pleno sábado?

Daniel sorriu pelo humor de Mary. Era isso, iria contar o que realmente estava acontecendo. Ela já sabia parte de seus segredos, que mal tinha em se abrir um pouco mais?


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Notas finais do capítulo

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