Horizonte escrita por Nyuu D


Capítulo 1
único


Notas iniciais do capítulo

reviews? :D



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Ukitake pousou o masu na mesa, segurando-o com as duas mãos, entrelaçando os dedos em volta da porcelana. No fim de tarde de quinta-feira, ele e Kyouraku paravam todas as suas atividades – isso quando era viável –, sentavam na sala da casa de Shunsui e bebiam saquê. Ukitake não bebia muito, mas era apenas porque queria ter o máximo de controle de seus atos que lhe fosse possível.

Era do costume do maior, entretanto, beber bastante e sempre, por isso, Kyouraku sempre terminava a noite bem relaxado por causa do álcool. Ukitake não se importava, é claro, já que não ficava responsável por carregá-lo até em casa, uma vez que, bem, estavam na casa dele. Ukitake geralmente dormia por ali, nesses dias.

Como todas as tardes de quinta-feira, os dois estavam reunidos na sala e o capitão da 8ª divisão comentava que vinha tendo muitos problemas com sua tenente, Ise Nanao, carinhosamente chamada de "Nanao-chan" por ele. Como ela cobrava que ele fizesse o odioso trabalho burocrático e como se irritava porque ele deixava tudo para a última hora.

– Às vezes ela que parece taichou, não eu. – Kyouraku deu uma risada nasal e bebeu mais uma dose de saquê, sem hesitar. O que eles bebiam não era muito forte, uma vez que a intenção não era ficar bêbado, mas sim, apenas relaxar um pouco do trabalho da semana.

Ukitake deixou o masu ali e levou a mão às têmporas, massageando suavemente ao passo que um silêncio tomava conta do ambiente. Nada anormal, aquele típico momento onde as pessoas se calam simplesmente porque o assunto chegou ao fim. Juushirou não estava com dor de cabeça, nem nada parecido, estava apenas pensando como Kyouraku conseguia se concentrar tanto em mulheres assim.

A pior parte, infelizmente, não era essa— era que... Droga, ele só queria que Shunsui olhasse para ele. Era pedir demais?

– Você tem ideia de com quantas mulheres você já...

– Oh, Ukitake, não faça esse tipo de pergunta... Me deixa constrangido. – Kyouraku deu um sorriso abestalhado e Juushirou ergueu os olhos para ele, semicerrando-os de leve em desconfiança. Constrangido? Ora, por favor, aquele homem ficar constrangido com qualquer coisa? – Mas, se você pergunta, é porque realmente deve querer saber... Bem, eu realmente não sei, sabe, muitas das mulheres têm essa mania de ficar com medo de mim, não sei por quê...

Eu não tenho medo de você. Você pode fazer o que quiser.

– Hum... – Ukitake ergueu as sobrancelhas suavemente e pegou o masu com a ponta dos dedos, por cima, girando de leve para observar o saquê tomar forma de tornado. – Não sabe?

Kyouraku balançou de leve a cabeça em negação. É, ele não sabia mesmo. Era parte da personalidade dele, Ukitake sabia disso.

– Devo perguntar o porquê?

– Nada, era apenas curiosidade.

Shunsui assentiu e bebeu mais uma dose de saquê, inspirando prazerosamente o ar, soando um pouco cansado. Ukitake observou-o mexer os ombros de leve junto com a cabeça. Por vezes, sentia-se um pouco idiota por gostar dele – Kyouraku gostava tanto de mulheres e era obviamente louco por sua tenente. Pedir que o maior olhasse para ele, talvez, fosse sim pedir demais.

– Nanao-chan nunca foge, ela simplesmente é muito cruel comigo. – O moreno apoiou o cotovelo na mesa, tocando o queixo com o punho cerrado suavemente e balançou a cabeça. – Às vezes eu me pergunto por que continuo insistindo, parece besteira minha...

Ukitake fechou os olhos e apertou-os, sentindo-se tontear de leve; era o tipo de dia onde Juushirou encontrava-se um tanto mais deprimido por seu coração ter escolhido alguém que não olhava para ele com os mesmos olhos que ele gostaria.

– Mas que droga, Kyouraku, por que você não para de falar sobre isso um pouco?!

O maior projetou a cabeça de leve para trás, levando em conta que o tom de voz do dono dos cabelos brancos havia crescido consideravelmente.

– Eh?

Ukitake bateu a mão na baixa mesa com violência, fazendo-a estremecer. Kyouraku se acuou e esticou as mãos para alcançar e segurar o que poderia vir a se espatifar caso fosse para o chão.

– Acho que se você falar da Nanao-san de novo, eu vou enlouquecer. Não é possível que—

Juushirou baixou de leve a cabeça e a moveu em negação.

– Ukitake...?

– Não é possível que você não olhe para frente, Kyouraku! – Ele esbravejou, a voz rouca e tapou os lábios com a mão ao sentir um acesso de tosse lhe subir pela garganta.

Ukitake fechou os olhos enquanto tossia e o moreno levantou-se rapidamente, andando até ele e agachou-se ao lado do menor, tocando-lhe os ombros a fim de dar apoio enquanto a tosse não passava. Assim que o acesso acalmou, Juushirou baixou a mão respingada de sangue e pegou um dos guardanapos de pano da mesa para limpá-la. Tomou uma taça de água entre as mãos e bebeu um gole.

– Tudo bem? – Kyouraku amparou o menor pelas costas e passou um dos guardanapos no lábio dele por conta própria. O capitão do 13º esquadrão passou os braços pela lateral da cabeça, escondendo-a entre os cotovelos e Shunsui tocou-lhe o alto dos cabelos brancos. – Passou?

– Sim, perdão. – Juushirou baixou os braços e ergueu a cabeça, respirando fundo e acalmando-se. Virando o rosto, ele pôde ver de perto o suave sorriso nos lábios de Kyouraku, que lhe afagava os fios de cabelo.

– Quando você diz olhar para a frente, quem sabe você diz olhar para você, huh?

Ukitake virou o rosto para o outro lado e Shunsui beijou-lhe o alto da cabeça carinhosamente.

– Não é tão fácil quanto parece eu simplesmente olhar para o outro lado quando quero olhar para frente, Ukitake. Mas como eu sei que posso olhar para frente, agora...

O menor voltou a olhar o outro e suas sobrancelhas estavam ligeiramente franzidas, tal como buscasse compreender as palavras dele com mais transparência. Kyouraku sorriu novamente e deslizou as mãos pelo rosto de Ukitake, segurando-o pelos lados a fim de deixá-lo de frente para si.

Juushirou relaxou a expressão e entreabriu os lábios inconscientemente, sem ter coragem para piscar os olhos e perder um milésimo de segundo sequer daquele momento.

– Isso significa que não é que eu não olhava para frente, eu só evitava olhar para não acabar perdendo a bela visão. Além do mais, parecia estar tão no horizonte...

Ukitake sorriu, soando levemente descrente e seus braços envolveram o pescoço de Shunsui repentinamente, simultaneamente com a junção dos lábios num beijo calmo e fechado, soando um pouco temeroso, de início – como se houvesse um temor de ferir um ao outro, embora o mais frágil ali obviamente fosse Juushirou.

Kyouraku envolveu a cintura do menor e o puxou um tanto para cima, segurando-o contra seu corpo como se fosse de pano (Ukitake estava mesmo com o corpo solto, embora envolvesse o pescoço do moreno. Ele estava, no momento, muito extasiado para preocupar-se em ficar rígido e Shunsui aparentemente podia cuidar disso.)

– Tudo bem, agora, Ukitake... – Falou o maior numa voz suave após os lábios se separarem naturalmente; a boca de Kyouraku tinha gosto de saquê, e Ukitake suspeitava que não era só agora. Devia ter sempre.

Eles tocaram a testa um na do outro e Juushirou sorriu largamente, sentindo-se aquecer por dentro com a sensação de estar olhando um horizonte que lhe parecia tão longe, agora, tão de perto (se não estivesse longe, não era horizonte. Shunsui agora lhe era alcançável e não poderia escapar de seus dedos tão cedo).


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