Santana não desviava o olhar. Queria muito fazer aquilo. Ela agora passava os dedos na lateral do rosto da ruiva e descia para a mandíbula. Um toque leve, que significava muito. Encarava aqueles lábios vermelhos, levemente entreabertos esperando o que viria a seguir...

De repente uma batida forte na porta fez as duas se sobressaltarem e saírem do transe que estavam. Jessica deu um riso tímido e voltou seu olhar para o fogão. Santana se afastou um pouco e amaldiçoou mentalmente quem quer que estivesse batendo naquela maldita porta!

Bateram novamente e reconheceram a voz de Rachel bronqueando com Kurt.

- Se elas estiverem aí, duvido que vão nos atender Kurt! – ela dizia desesperada. Não queria provocar a ira de Snixx.

- Eu quero mais é não dar paz pra essa latina folgada! São só amigas, esqueceu? – o garoto respondia rindo.

Mal sabia ela que já havia provocado. A latina balançou a cabeça, como não se conformasse com aqueles dois lá fora. Ela e Jessie agora se encaravam com um sorriso tímido, novamente hipnotizadas. A ruiva quebrou o silêncio.

- San... quer que eu atenda? –

- Vai...porque se for eu, acho que mato os dois assim que abrir a porta! – ela ria enquanto pegava a colher da mão da ruiva para continuar a mexer o molho.

Jessica saiu rindo. Estava quase explodindo de felicidade. Santana realmente queria beijá-la! QUASE! Por um triz! Isso significava que havia uma esperança. Elas poderiam ser mais que amigas!

- Oláaa! A que devo a honra pela visita dos meus lindos vizinhos? – A ruiva praticamente cantarolava. Estava exultante. – Não me digam que a Santana deixou o apartamento aberto e bagunçado novamente?

- Estamos atrapalhando? – Rachel perguntava desconfiada.

- Imagiiiiine, você nunca atrapalham- Santana gritou em tom irônico da cozinha.

-Estamos fazendo almoço... Vocês querem nos acompanhar? Tem para todo mundo!

- Oh não... Já almoçamos. Já são quase quatro da tarde! Estamos indo ao teatro. Isabelle, minha chefe me deu duas entradas e como Santana não voltou lá pra casa resolvemos passar aqui para avisá-la e...

Santana num piscar de olhos apareceu na porta, com a colher de pau na mão, apontando para os amigos. Todos se assustaram com a agilidade que ela teve enquanto estavam distraídos. Jessie observava a cena.

- Porcelana e Hobbit... Vocês já ouviram falar num aparelho chamado celular? Precisava vir aqui ao vivo? Isso vai ter troco! Não pense você que eu vou esquecer senhor Kurt... você queria bisbilhotar!

- Claro que não Santana! Só estávamos preocupados e queríamos conferir se você estava com a cópia da chave do nosso apartamento. Você está?

- Obvio que sim, não sou sem noção... – ela colocava a mão nos bolsos da calça e percebia que não tinha nenhuma chave como ela pensava. Santana agora aliviou a expressão raivosa que tinha e adquiriu uma expressão pensativa. – É... eu tinha certeza que havia pego.

- E nós sabíamos que não. Ela estava em cima da sua cômoda. – Rachel tentava apaziguar – Agora tudo bem, te entregamos a chave, você nos agradece e deixamos vocês a vontade pra continuar o que quer que...

- O MOLHOOO! TÁ QUEIMANDOOO! – Jessie saiu correndo falando em português em direção a cozinha pegando a colher de pau que estava na mão da latina. – Tchau pessoal, boa peça de teatro pra vocês – ela gritou de lá.

Kurt entregou a chave para Santana e ficou parado no lugar a encarando, até que ela se tocasse e dissesse as palavrinhas mágicas.

- Obrigada Lady Hummel... Agora podem ir! Creio que só vão me ver amanhã, daqui a pouco vou para o bar. Agora tchau, estou morrendo de fome!

- Nós sabemos que você nos ama Santanás! Bom trabalho! – Kurt dizia enquanto Rachel o puxava e Santana ia fechando a porta na cara dos dois.

Jessica ria enquanto arrumava a pequena mesa de 4 lugares.

- San, eles se preocupam com você! Deveria ser grata por isso! Não sei como eles aguentam esse seu mau gênio!

- Você acha que tenho um mau gênio? – a latina levantou uma sobrancelha com olhar inquisidor. Apoiando as duas mãos na mesa, projetando o corpo pra mais perto da ruiva. Voltou a encarar os olhos verdes.

- Sim... eu...huuum, não – Jessie não conseguia pensar com aqueles olhos vidrados nela, olhava pro chão, pro alto...menos para a latina – Comigo você é diferente. Prefiro assim.

Agora ela conseguiu olhar para Santana, que sorriu concordando. Silencio constrangedor. A latina então resolveu acabar com isso.

- Não se preocupe, estão acostumados com meu jeitinho carinhoso! – ela dava de ombros – Mas devo admitir que gosto da preocupação que tem comigo...

Sentaram-se frente a frente. Olhavam-se timidamente. Ambas pensavam naquele “quase-beijo” que havia acontecido. Até quando isso ia durar?

Assim que começaram a comer as expressões mudaram. Estavam varadas de fome. A comida estava ótima. Santana comia e soltava murmúrios de “muito bom”. Jessica também se concentrou na comida, contente que a latina havia gostado.

- Então, você fazia parte do Glee Club da sua escola? –

- Isso mesmo – Santana tinha uma coxa de frango numa das mãos e lambia os dedos da outra – Nós arrasávamos nas competições! A chata da Berry era quem sempre levava os melhores solos! Mas a primeira competição que vencemos, foi eu que cantei o solo! Valerie!

- Uau! Sua voz é bem sex... é, legal! Deve ser demais ouvi-la numa música!

- Modéstia a parte, minha voz rouca é um diferencial... mas há tempos não canto – ela agora tinha uma carinha triste e a boca engordurada.

- Você nunca comeu frango assado? – Jessie provocava. Estava adorando ver que a latina realmente tinha gostado do que ela tinha feito.

- Já, mas sinceramente, não tão bom quanto esse! E pra sua informação, a etiqueta manda comer frango com as mãos ao invés de talheres. – Se levantou para lavar as mãos. – Estou satisfeitíssima! Estava tudo ótimo!

- Que bom! Gosto das minhas visitas bem alimentadas! – ela agora se levantava e recolhia a louça.

A latina observava e estava morrendo de preguiça. Queria tirar um cochilo antes do trabalho. Mas não era justo deixar Jessie fazer praticamente todo o almoço e ainda lavar a louça. Ela nunca fazia isso com Kurt e Rachel, muito menos na casa dela. Mas sentia vontade de agradar a ruiva, de deixá-la feliz e mostrar-se útil.

- Deixa que a louça eu lavo! – ela foi em direção a pia, roçando seu corpo do da ruiva que estava ao lado. Outra corrente elétrica passou pelo corpo de ambas.

- Sério Santana...você não tem cara de quem faz esse tipo de coisa! Eu sou a menina órfã, deixa que faço! – ela sorria pela atitude da latina que já ia pegando a esponja e o detergente das suas mãos.

- Pode deixar! Eu quase nunca faço, mas hoje, depois desse rango maravilhoso é o mínimo que posso fazer! – ela dava um sorriso envergonhado – Vai descansar, vai...

- Já está quase na hora de rumarmos pro bar! Quero dançar muito naquele balcão hoje! Vou tomar um banho! – ela foi indo em direção ao quarto.

- Bem lembrado...quando é que vou poder dançar naquele balcão também? – Santana perguntava enquanto esfregava uma panela.

- Só no dia que você cantar uma música pra mim! – a ruiva gritou do banheiro, fazendo uma carinha marota.

Santana sorriu. Lembrou-se das muitas canções que cantou para Brittany expressando seu amor por ela. Sabia que era através das músicas que ela conseguia se expressar melhor. Dizer o que não tinha coragem. Talvez fosse a hora de cantar para outra pessoa...

Com espanto a latina percebeu que havia pensado em Brittany mais uma vez e não tinha sentido nenhuma dor ou vontade de chorar. Sentiu apenas um calorzinho bom no coração, lembrando-se dos vários momentos com sua eterna melhor amiga. Sua loira preferida só queria que ela fosse feliz!

- San... me ajuda a desmanchar essa sua trança!? O que foi que você fez aqui no meu cabelo menina? – a ruiva saía do banheiro, já nua, enrolada somente na toalha.

Santana enxugou as mãos e foi até a garota na sala. Engoliu em seco. Aí já era demais! A ruiva virou-se de costas, enquanto ela desmanchava o penteado que havia feito de manhã. Cabelos macios, cheirosos, pele alva... Enquanto passava a mão para separar os fios, fazia de propósito e tocava a nuca da ruiva com a ponta dos dedos. Deixando a garota com os pelinhos da nuca arrepiados. Percebia que Jessie prendia a respiração a cada toque que sentia. Seu coração estava disparado. Apenas silencio e as duas desfrutavam do momento de cumplicidade. Assim que terminou a ruiva agradeceu sorridente, virando –se de e encarando a latina que estava sem fala e voltou para o banheiro. A morena se jogou no sofá e percebeu que definitivamente precisava ir pra casa tomar um banho frio pra acalmar os ânimos.

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Chegaram ao bar e Jessica se atualizou do que tinha acontecido no dia anterior que estavam de folga. Conversou com Tracy a respeito do estoque. Quando ela estava no bar parecia outra pessoa. Era responsável, preocupada. Conversa com as outras garçonetes séria e se organizava com elas para atender as mesas. Não dava trela pra nenhum espertinho que vinha com cantadas pra cima dela.

Santana agora conversava mais com as outras garotas. Estava mais esperta para servir mesas e já sabia onde se localizava a maioria das bebidas na prateleira, isso sem dizer que usava todo o charme pra servir os clientes, com aquele sorrisinho maroto. Num momento de folga, ela conseguiu perguntar pra Hailey se ela sabia o dia do aniversário da Jessica. Pretendia fazer com que o dia fosse especial, mas sabia que a ruiva não ia dizer o dia exato. Por sorte a garota sabia. Faltavam apenas 4 dias, então a latina começou a pensar consigo mesma o que fazer para surpreende-la.

Jessica observou de longe as duas garotas aos cochichos e sentiu um peso no estômago. Meu Deus, ela não devia estar assim, apaixonada, muito menos com ciúme da latina que conhecia a menos de um mês. Mas ela estava! Nunca fazia o que devia fazer mesmo... Aquele dia havia sido perfeito! Desde o seu comecinho, quando ela abriu os olhos e a primeira coisa que viu foi Santana a observando dormir! Quando pensava nisso sentia borboletas no estômago e ficava mais feliz ainda por ter quase certeza que o sentimento que estava crescendo nela era recíproco.

Era a hora do show. 4 meninas, incluindo Jessica começaram suas apresentações. Dançavam ao som de uma música country enquanto fazia coquetéis e serviam com sensualidade os clientes mais próximos ao balcão. Santana observava com um sorriso enquanto servia as mesas. Aquela ruiva safada se revelava quando estava dançando em cima daquele balcão e a latina adorou assistir aquilo.

Ambas estavam felizes, o tempo passou rápido no bar. Meio da madrugada e lá estavam elas indo rumo a estação do metrô para voltar para casa. Conversavam, riam, comentavam dos clientes do bar. Santana elogiou a ruiva por sua performance, a deixando vermelha. A tensão entre as duas estava cada vez maior. Pareciam imã e metal, uma força as empurrava para ficarem próximas, grudadas. E foi assim que entraram e saíram do metrô. Jessica estava exausta e acabou deitando a cabeça no ombro da latina que sorriu com o gesto. Estava grata e queria retribuir o cuidado que a ruiva havia demonstrado com ela. Nada mais justo que dar um colinho para a amiga.

Despediram-se em frente ao apartamento da ruiva. Mas ainda tinham vontade de ficarem juntas. Santana subiu relutante as escadas enquanto Jessica entrava em casa. Não queria que uma tempestade como a da noite passada se repetisse tão cedo, mas gostaria muito que pudesse dormir sendo acalentada por alguém novamente.

Ambas deitaram-se exaustas em suas respectivas camas e relembravam os momentos do dia. O dia havia sido muito proveitoso, porém cansativo e logo adormeceram com doces sonhos.