Ouvi alguém gritar meu nome, senti alguém me pegar no colo, eu estava fora de mim, eu não podia ouvir mais nada, eu não conseguia me mexer, eu não conseguia abrir os olhos, eu estava na escuridão.

 Senti todo meu corpo pesado, alguém sussurrava no local, abri meus olhos e vi o teto branco, pude sentir agulhas em meu braço, ao olhar em volta eu soube que estava em um hospital.

-Bells! –Ouvi a voz do meu pai e o vi se aproximar.

-O que aconteceu? –Questionei.

-Faltou ar no seu cérebro, você parou de respirar e desmaiou. –Ele disse e vi seus olhos encherem de água. –Os meninos me contaram o que ouve na escola, Edward subiu atrás de você para ver se você estava bem quando você não respondeu, ele entrou e te viu caída.

-Quando vou poder ir para casa? –Questionei.

-Logo. –Ele disse e alisou meu rosto. –Bella você tinha prometido.

-O que pai? –Questionei, ele tocou meu pulso e soube do que ele falava.

-Quem viu foi Edward, ele me questionou sobre isso. –Ele disse e eu desviei os olhos, a porta se abriu e Edward adentrou o quarto pedindo licença.

-Não quero falar sobre isso. –Eu disse sem olhar para nenhum deles.

-Vou chamar o médico. –Meu pai disse e saiu do quarto.

-Como você esta? –Edward falou ainda encostado na parede.

-Só quero sair daqui. –Eu disse.

-Todos estão preocupados. –Ele continuou.

-Não estou tentando me matar ok? Vocês não precisam se preocupar comigo, eu sei me virar. –Eu disse com raiva, eu me sentia exposta, me sentia na mira de todas as balas perdidas.

-Somos uma família Isabella, nós cuidamos da nossa família. –Ele disse com raiva subindo o tom.

-Eu não faço parte da sua família. –Eu gritei na hora o médico entrou acompanhado por meu pai.

 Deitada em minha cama, encolhida e escondida pela coberta eu deixei que o sono chegasse, senti que era levada para longe, era como se me tirassem do meu corpo, eu sabia o que estava a caminho, eu sabia que havia mais um pesadelo.

 Eu pude olhar em volta eu estava dentro do guarda-roupa eu ouvia tudo ser quebrado no andar de baixo, eu pude ver ela chegar a porta, eu queria gritar, queria que ela entrasse ali comigo, mas nada saia da minha voz, eu tremia e eu queria fechar os olhos, olhar para o outro lado já que nada poderia fazer para ajudar, mas meu corpo não obedecia minhas ordens, eu vi quando eles entraram no quarto, quando ela gritou por ajuda, eu não conseguia me mexer, eu queria gritar, eu queria fechar meus olhos eu queria ajuda-la, mas eu a vi morrer, ela queimava, ela caiu de joelho tentando apagar o fogo, ela gritou, gritou bem alto, a policia invadiu o quarto, tiros foram trocados, mas ela continuava pegando fogo, finalmente meu corpo reagiu, gritando eu me atirei para fora do guarda roupa e tentei alcança-la, braços rodearam meu corpo tentando me tirar do quarto, o fogo foi apagado ela estava morta.

-Não! –Eu gritei. –Apaga, apaga, salvem ela, salvem ela. –A porta foi aberta meus olhos estavam parados no chão do quarto onde eu ainda podia ouvir seus gritos e ver seu corpo.

-Bella. –Ouvi a voz de Alice, mas não desviei meus olhos.

-Salvem ela. –Eu gritei mais alto, tentei sair da cama, mas quatro braços me mantiveram no lugar. –Me soltem, vocês precisam salva-la, precisam apagar o fogo, façam alguma coisa. –Lagrimas lavavam meu rosto.

-Bella. –Ouvi a voz do meu pai, enquanto ouvia soluços no quarto, ele entrou na minha frente.

-Eu vi pai, ela ainda esta queimando, ela ta queimando, eles colocaram fogo nela, ela me mandou ficar no guarda roupa, eu obedeci, eu sempre obedeci, por que? Por que ela ta queimando? –Eu questionei ainda tentando sair do aperto que faziam nos meus braços.

-Bella, acorde. –Ele disse. –Acorde!

 Eu senti seu braço em meu corpo e encostei minha cabeça em seu ombro, de olhos fechados senti a realidade voltar, soluços saíram dos meus lábios enquanto eu sentia braços me soltarem, apenas meu pai me mantinha em seus braços.

-Por que ela e não eu? –Eu questionei em um sussurro.

-Vai ficar tudo bem. –Eu o ouvi falar, mas sua voz era cortada, minha cama mexeu o que significava que alguém se levantava, ao olhar em volta eu soube que quem me segurava era Esme e Alice, enquanto os outros se mantinham na porta.

-Fiquem. –Eu disse em um suspiro. –Eu sinto muito por ter acordado a todos. –Encostei-me á cama, meu pai ao meu lado, eu bati na cama os chamando a sentar. Quando todos se sentaram eu respirei fundo. –Vocês têm razão, vocês não sabem com um terço do que estão lidando.

-Esta tudo bem Bella. –Esme disse.

-Eu tinha cinco anos. –Comecei. –Nenhum de nós nunca fala sobre o assunto. –Eu abaixei os olhos sentindo as lagrimas rolarem. –Foi quando os pesadelos começaram. “Meus pais ainda eram casados, alguém os odiava muito, nunca entendemos da onde saiu tanta violência. Eu tinha uma irmã, o nome dela era Isadora, ela tinha dez anos, meus pais haviam saído para ir ao supermercado, nos deu a ordem de não abrirmos a porta para ninguém, ouvimos alguém bater no portão, nós estávamos na sala, Isadora me puxou escada a cima. Nós adentramos o quarto, ela me empurrou para o armário, ela sabia que caçariam por nós, ela ligou para nossos pais e para a policia, ela era minha protetora, sempre cuidava de mim, ela ordenou que eu não saísse do armário até que a policia chegasse, eu a obedeci, ela era uma criança tão madura. Quando eles entraram no quarto, eles riram, eram três homens, eles estavam armados, um deles bateu na cara dela, ela chorou, eu vi quando tacaram gasolina em seu pequeno corpo, eu estremeci por ela, eu queria gritar, mas eu lembrava da sua ordem, eu fiquei ali calada, escondida, eu vi quando atiçaram fogo nela e ela gritou, minha irmã queimou na minha frente, quando a policia chegou e matou os três caras ela já estava morta, eu gritei, pedi para salvarem ela, nada poderia ser feito.”

-OMG! –Ouvi Alice e Rosalie disserem ao mesmo tempo, eu ouvi meu pai suspirar, ele secou as lagrimas e me abraçou, eu também sequei a minha.

-Agora vocês sabem um deles. –Eu disse e olhei para meu pulso onde cortes eram vistos. –Todos os dias eu me questiono por que ela salvou minha vida, por que ela não entrou naquele armário comigo, por que não eu, será que ela sabia que iria morrer?

-Ela achava que você deveria viver. –Emmett disse de repente. –Ela achava que você merecia isso, que você valia a pena.

 Eu apenas respirei e me encolhi nos braços do meu pai, fechei os olhos e acabei por adormecer. Ao acordar na manhã seguinte parecia que um peso havia saído do meu ombro, tomei uma ducha e ao olhar para fora um sol ameaçava sair, alguém bateu na porta.

-Entre. –Disse abrindo meu guarda roupa.

-Coloque uma roupa fresca, vai fazer sol. –Rosalie disse animada.

-Ok. –Respondi rindo.

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 Desci as escadas e me sentei a mesa, todos conversavam como se a conversa na noite passada não tivesse acontecido, Edward novamente parecia o mais calado, enquanto os outros pareciam mais agitados a cada minuto.

 Ao entrar no carro com as meninas naquela manha eu pude ver que meu mundo estava mudando, tudo estava mudando, eu estava me sentindo mais leve, menos culpada, mas eles só sabiam de um pesadelo, eles não tinham noção dos outros dois piores momentos da minha vida.

 Nós conversávamos encostados no carro quando eu vi James e seus amigos passarem, senti um arrepio passar pela minha coluna, eles não olharam para nós.

-Eles não vão chegar perto de você! –Jasper disse.

-Assim eu espero. –Eu disse.

 Ficamos conversando até o sinal tocar, entramos juntos, eu ainda me sentia um pouco na defensiva, mas eu estava começando a gostar deles, nos separamos e cada um foi para sua turma.

 No segundo horário entrei na sala e encontrei as meninas juntas, me sentei perto delas, parecia que Alice e Rosalie tinham uma facilidade grande de chamar a atenção, todos as cumprimentavam, enquanto andávamos no corredor era como se elas fossem o centro das atenções, eu acho que nunca me acostumaria com aquilo.

 No intervalo sentei-me á mesa com os outros, Edward não se encontrava lá, conversávamos banalidades quando ele entrou abraçado a uma garota loira, eu não sabia o que eu tinha sentido, mas eu não gostei de vê-lo sorri para garota enquanto pareciam contar segredos.

-Não acredito nisso. –Rosalie disse e vi-a fulminar Edward e a garota.

-Quem é ela? –Questionei e percebi que nenhum deles na mesa parecia gostar dela.

-Victória. –Emmett disse.

-Era ex dele, parece que nosso querido Edward gosta de sofrer. –Alice disse com nojo na voz.

-Só parece? –Jasper questionou debochado.

 Ele andou até nós e ao seu lado Victória estava pendurada em seu pescoço, até eu senti nojo de como ela parecia fútil.

-E ai? –Edward disse e se sentou Victória também se sentou.

-Ei gente. –Victória disse e sua voz me deu náuseas. –Você é Isabella certo?

-Sim. –Eu disse pegando minha lata de refrigerante.

-Sou Victória namorada de Edward. –Ela disse sorrindo e eu senti um tom ameaçador na voz, aquilo era um aviso nas entrelinhas para dizer que Edward tinha dono.

-Sério? Há quanto tempo estão juntos? –Questionei e coloquei um sorriso doce nos lábios, eu tinha que dizer, às vezes eu era uma ótima atriz.

-Bom nós reatamos hoje, mas namoramos há algum tempo atrás. –Ela disse sorrindo falso.

-Sério? E por que terminaram? –Questionei lhe dando corda.

-Por que ela é uma vadia e botou um par de chifres na cabeça dele. –Rosalie disse e eu tive que segurar o riso ao ouvir o deboche explicita em sua voz.

-Vadia é você! –Victória disse.

-Chega. –Edward disse. –Eu e Victória estamos juntos de novo, espero que minha família me apóie.

-Se quer ser o corno manso de Forks o problema é seu, não conte comigo. –Alice disse se levantando.

-Na verdade conosco. –Jasper disse e todos levantaram.

-Quer saber de uma coisa Edward. –Eu disse e me inclinei na mesa quando ficamos apenas nós três. –Não acho que ninguém vale a pena se nos afasta de nossa família.

-Desde quando você entende de família. –Ele disse com raiva eu me pus de pé.

-Eu sei o que é perder uma irmã não esqueça disso. –Eu disse com raiva, virei as costas e segui para onde os outros tinham saído, mas em vez de ir até eles eu apenas segui para minha próxima aula, sentia a raiva se apossar do meu corpo.

 Sentada na mesa do laboratório eu vi Edward entrar sozinho, todos já estavam sentados e o professor tinha acabado de entrar, ele se sentou ao meu lado, eu não o olhei apenas continuei escrevendo o que o professor passava, sentia ele me olhar enquanto a aula passava, mas nada disse.

 O sinal tocou, eu joguei minhas coisas na mochila e sai da sala, no corredor Edward puxou meu braço e eu senti novamente aquela eletricidade passar por meu corpo.

-Me desculpe. –Ele disse.

-Não. –Eu disse curta e grossa. –Eu não sei nada sobre famílias.