SADIE

Fala sério, existe coisa pior do que acordar e saber que tem aula? Eu acho que não.

Bom, acordei com aquele barulhinho irritante do despertador. Levantei relutante e segui para o banheiro. Tomei um banho frio para ver se eu acordava. Voltei para o meu quarto e optei pelo básico: Vesti uma calça jeans clara, uma regata cinza, um casaquinho roxo e meus coturnos.

Desci as escadas correndo e por isso fui repreendida pela minha avó.

- Sadie, minha querida, assim você vai acabar caindo e quebrando um osso.

- Vovó, eu to bem. E nós duas sabemos que eu não vou parar. – respondi minha avó com um beijo na bochecha de bom dia, peguei uma barra de cereais e minha mochila e sai andando pela calçada em direção à escola.

Enquanto caminhava peguei meu celular e os fones de ouvido. Meus fones vibravam enquanto tocava Katy Perry Hot N Cold. Joguei meus cabelos para o lado, um tanto desconfortada. Eu me sentia observada. Mas eu acho que é coisa da minha cabeça. Será?

- Ei gata! Quer companhia? – Virei para o lado e sorri para Jake, meu melhor amigo.

Jake era dono de um corpo forte, cabelos e olhos castanhos. Um menino incrível e de personalidade forte. Como eu!

- Olha, depende muito de quem for me acompanhar. – eu disse pausadamente e tirei um dos fones de ouvido para poder ouvi-lo.

Jake ergueu uma sobrancelha e abraçou meus ombros.

- Eu, logicamente.

Não me contive e comecei a rir.

 - Nossa, depois dessa! Beleza então. Vou te deixar sozinha.

Ele fingiu uma cara magoada e saiu andando mais rápido. Antes que ele alcançasse uma distancia considerável eu segurei seu braço e o forcei a caminhar no meu ritmo.

- Seu palhaço – eu disse rindo da cara dele de convencido.

- É você quem não resiste a mim! – ele retrucou teimoso.

Durante todo o caminho fomos conversando sobre coisas totalmente sem nexos. Parecia uma conversa entre bêbados. Mas era legal. Nós riamos por besteiras e depois não conseguíamos parar.

No meio do caminho encontramos Liz e Emma. Pronto, preciso dizer que chegamos atrasados e totalmente sem fôlego de tanto rir? Eu acho que não.

Foi incrível a cara que o vice-diretor fez assim que nos viu chegando quando ele estava fechando os portões da escola. Entramos correndo e meu primeiro pensamento foi: Ótimo, estou encrencada. De novo! Mas o que posso fazer? Não sou nenhuma santa!

- Vocês quatro para sala do diretor, agora. – o diretor era incrível, um cara super legal para um coroa de 50 anos. Mas o seu vice... Olha, eu te juro que Nekhbet é muito mais legal.

Quando entramos na pequena sala do diretor ele cravou seus olhos em mim enquanto o seu vice fazia um discurso dramático e com muitos detalhes a mais do que realmente tinha. Ao contrario do que qualquer aluno fazia, eu não baixei os olhos e encarei com a mesma intensidade os olhos castanhos do diretor.

- Já está bom, Otávio. – o diretor dispensou aquela mala e se virou para nós – Já é a terceira vez neste mês que vocês quatro chegam atrasados. Que isso não se repita. Podem ir.

Viramos-nos para sair até ele completar a sua frase com o que eu já estava acostumada.

- Você não Sadie.

Contive um suspiro e me virei para novamente encara-lo.

- Por quê? Porque sempre eu? Pede pra Liz ficar. Isso já esta ficando muito cansativo!

Dessa vez foi ele quem suspirou.

- Sadie... Isso já não é comum...

- O que? Não é comum? Por favor, até parece que você foi um aluno perfeitinho. Nunca perdeu a hora? E por favor, se fosse pra chegar atrasada de propósito eu nem teria vindo.

- Não Sadie. Eu não fui um aluno perfeitinho. Bom você tem razão como sempre! – ele deu um sorriso um tanto forçado como se admitir isso fosse ruim.

-Então acho que a nossa conversa termina por aqui. – Lhe dei o meu melhor sorriso, aquele do tipo eu ganhei e novamente me dirigi até a porta.

- Prometa que vai melhorar. – Ele disse com a voz firme.

Abri a porta e me virei para encara-lo. Lancei um olhar maroto e um sorriso.

- Eu não prometo nada.

Sai da sala e fui em direção à sala de aula. Mentira! Eu não fui para a sala de aula. Fui em direção dos armários e enrolar uns bons 15 minutos para pegar um livro.

Vou te dar um bom motivo para chegar atrasada nessa aula: Andrea, a vaca da minha professora de geografia. Ela tem cabelos curtos na altura dos ombros loiros falsos (a maioria dos alunos diz que isso é inveja do meu cabelo, mas...) e olhos castanhos tão frios quanto gelo. Ela esta no seu auge. Tem cerca de 20, 23 anos. Você provavelmente não entendeu o porquê da minha pessoa não gostar dela. Ela fica dando encima do todos os meninos da escola e detesta qualquer menina. Principalmente as mais bonitas que ela.

 Entre essas poucas azaradas que estavam na lista negra dela: Liz, Emma, Milena (minha inimiga declarada. Explico depois) e Eu. Que surpresa.

Pronto já havia passado mais de 10 minutos e eu já não podia enrolar mais. Suspirei claramente acabada e, dessa vez, não tive escapatória se não ir para a sala de aula. Bati na porta e, como de costume, a professora jogou os cabelos para o lado, baixou um pouco o decote da blusa e disse com uma voz irritantemente sedutora:

- Entre. – Ela parecia um gato ronronando. E eu tive que conter a ânsia de vomito.

Abri a porta, e a primeira coisa que escuto são alguns suspiros e vejo muitos sorrisos sexys dirigidos a mim por praticamente todos os meninos da classe. A professora (se é que eu posso chama-la assim) mudou o seu olhar de “sou fácil e te quero agora” para “ quem essa vadiazinha pensa que é?”. Eu já estava mais que acostumada com os olhares que ela dirigia a mim.

Eu entrei e fechei a porta e voltei a encara-la.

Sabe aquela tensão acumulada no ar? Então nossa sala de aula estava exatamente assim. Nossa sala era conhecida por ser a mais barulhenta, a mais animada e participativa. Ou seja, os alunos nunca calavam a boca. Mas sempre que algum aluno enfrentava um professor de frente (eu) a sala parecia mais um cemitério. Tudo deserto e em silencio. Parecia que todos tinham parado de respirar.

- E então, qual é motivo de você estar tão atrasada assim para a minha aula? Você sabe o quanto eu detesto meninas que tentam chamar a atenção de todos. – ela disse fria e asperamente.

Eu não consegui conter o riso que ecoou por toda a sala vazia. Algumas almas ali presentes riram junto e quando eu voltei a falar todos perderam a fala.

- Então você não gosta de si mesma! E para o seu governo, querida, essa blusa não combina com você. Te deixa gorda.

A classe inteira explodiu em risos e eu fui para o meu lugar no fundo da sala. A professora me lançou um olhar assassino e tentou controlar a sala, mas todos estavam rindo descontroladamente e vindo me cumprimentar. Claro que depois que a crise de risos passou todos começaram a conversar e ninguém mais deu atenção aquela vadia que todos chamavam de “professora”.

Finalmente o sinal tocou avisando a nós que teríamos aula de educação física. Graças aos deuses! Eu não aguentava mais aquela loira oxigenada.

Todos os alunos saíram da sala e eu, Emma e Liz fomos as ultimas.

- Você fica Sadie.

Ao contrario do que aconteceu na sala do diretor, Liz e Emma não saíram do meu lado.

- Bom, vejo que vocês são mesmo muito unidas.

- Que bom! Isso é um sinal de que você tem olhos... – Liz começou e Emma completou sua frase.

- E um cérebro para entender o que vê!

Foi oficial nos três soltamos risinhos descontrolados e a “professora” ficou vermelha. Seu olhar era tão frio que pela primeira vez eu acho que ela estava realmente disposta a fazer o possível para me ver fora da sua vida.

- Vocês adoram encrenca, mas não sabem com quem estão se metendo. – Ela ameaçou com um meio sorriso.

Apoie minhas mãos na mesa dela e inclinei meu corpo para frente.

-Ai, querida professorinha, eu acho que é você quem não sabe com quem esta se metendo. Acho bom você pensar duas vezes antes de mexer comigo ou com os meus amigos, sua gorda.

Dei um sorrisinho vitorioso e sai da sala com minhas amigas do meu lado rindo do ocorrido.

- Isso não acabou aqui, Kane. – Ela gritou do lado de fora da sala e eu me virei para encara-la. Toda a nossa turma estava nos observando junto com o professor de educação física e eu só percebi agora.

Eles olhavam para mim tensos, principalmente o professor.

- Tem razão. Isso é só o começo. – Minha frase teve um efeito tão forte em todos eles que eu não pude evitar um sorriso maroto.

Fomos à direção do professor e seguimos para a aula de educação física. Jake segurou-me o pulso e falou baixo para apenas eu e as meninas ouvirmos.

- Eu achei que você tinha mudado sua personalidade no ano passado. – Ele tinha um sorriso tão travesso e orgulhoso que me fez sentir em casa.

- Certas coisas nunca mudam meu querido Jake.