Aura escrita por Lacie


Capítulo 1
Capítulo Único




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Aura

 

Aquela brisa maldita parecia até mesmo persegui-lo até os confins da Terra, levando consigo a presença do outro. Mesmo estando às portas do Elíseos, o olor funesto o abandonava. Mas talvez, Mu repreendeu-se em pensamento, fosse porque sua fonte encontrava-se lutando ao seu lado.

Todos os doze encontravam-se agora à sós, minutos restando para que seus corpos fossem transformados em miríades cinzentas e espelhados pela brisa gélida do Inferno. Eram dolorosos segundos antes de suas vidas serem separadas para sempre.

E Mu não mais sentiria a existência de Shaka perto de si.

 

A tempestade começara de forma tão repentina que o próprio rapaz se assustara ao ouvi-la. O dia começara de forma ensolarada, mas o tempo mudara bruscamente à tarde, para a sorte dele. Bem, Mu pensou, já era o início do inverno. Com certeza em alguns dias a temperatura cairia ainda mais e alvos flocos de neve poderiam ser vistos flutuando pelo ar.

O rapaz de mechas lilases suspirou. E ele era suposto de sair neste tempo! Enquanto arrumava-se para enfrentar a chuva, Mu perguntava-se o motivo de ter se esquecido de comprar mantimentos no dia anterior. Mesmo estando ocupado com um trabalho da faculdade para entregar (afinal, aqueles gêmeos davam-lhe tanto trabalho para organizar o grupo!), ele devia ter se lembrado de ao menos do básico à sobrevivência, principalmente agora que morava sozinho!

Resignando-se, Mu deixou o abrigo confortável que era seu apartamento e embrenhou-se na tempestade. Decidiu ser o mais breve possível, comprando somente os itens mais básicos e algumas comidas prontas para viagem, para voltar o mais rápido possível até seu apartamento.

Ah, as comodidades de ser solteiro. Não possuir uma mulher a atazanar-lhe o juízo sobre seu jeito naturalmente nefelibata e suas pequenas irresponsabilidades era uma pequena felicidade a qual Mu permitia-se ter. Embora seus amigos o apressassem para que descobrisse um futuro consorte, ele nunca se preocupara muito com isso. O rapaz não revelava aos amigos, mas ele próprio sentia-se feliz em sua solidão.

Mas então vinha aquela brisa infeliz, trazendo-lhe toda a nostalgia de um passado perdido.

A chuva já começava a amenizar quando ele retornou ao apartamento. Pelo caminho, muitas pessoas que haviam procurado abrigo debaixo dos toldos dos prédios - algumas o encaravam como se fosse louco por tentar digladiar com a tempestade – haviam voltado para seus caminhos usuais, então fora uma surpresa para Mu ver um jovem loiro agachado em frente à seu edifício.

Apressou-se para junto dele, perguntando-se havia algo errado.

E então seus olhos reencontraram-se com os dele.

 

Era a noite anterior ao ataque de Hades, embora os dois não soubessem disso. Ao menos Áries não sabia. Mesmo possuindo poderes telecinéticos, não era capaz de prever o futuro. Apenas três pessoas em todo o Santuário possuíam clarividência: Athena, por ser uma Deusa, enquanto o Mestre decifrava a alumiação dos astros e... Shaka.

Mas o centrado virginiano encontrou-se pasmo ao deparar-se com o cavaleiro de Áries em seu Templo. E sem trajar a armadura!

Mu sorriu ante ao rosto ofendido e respondeu que apenas necessitava falar com o loiro, mas não como um cavaleiro.

Apenas como “Mu”.

 

Aceitando o convite de Mu para secar-se em seu apartamento, Shaka entrou com cuidado após o ariano, que foi de prontidão buscar a dita toalha que prometera ao outro. Quando voltou, Shaka continuava no mesmo lugar e a indecisão ainda permanecia em seu rosto, como se ele fosse um animal acuado diante de um predador.

Mu sorriu e, em seu imo, sabia que certas coisas nunca mudavam.

O rapaz aproximou-se do outro, e colocou o pano felpudo sobre os cabelos dourados, secando-os vigorosamente. Shaka corou, reclamando que conseguia secar-se sozinho e deixou a toalha pender sob o pescoço.

O ariano sorriu, e iria servir de um bom anfitrião quando se perdeu novamente em seus olhos.

O belo manequim de cabelos dourados o fascinava desde a primeira vez que o vira. Perdera-se no momento que o encontrara, e já não sabia se era ele mesmo ou um amante reencarnado, mas de nada importava, pois o reencontrara novamente. Sua aura.

Shaka era como o vento para ele: intangível e distante, mas seu cheiro continuava a atiçá-lo - mesmo após tantos séculos, após tantas vidas perdidas em saudosa solidão - como um doce à uma criança. E Mu não possuía intenção alguma em resistir ao encanto do loiro.

Seus lábios se uniram numa ausência muda sentida por ambos.

 

Não era como se o cavaleiro de Virgem fosse inconsciente da influência que exercia sobre o ariano.

Shaka ofegava após o beijo partilhado por entre as pilastras do Templo de Virgem, corando violentamente. Mu riu. Se antes soubesse, disse ele, que o loiro ficava tão adoravelmente rubro, teria tido mais coragem para declarar-se.

Quão surpreso ficou ele ao sentir o punho do cavaleiro encontrar-se com sua face e palavras gélidas como o inverno do Jamiel lhe expulsarem da Casa de Virgem?

 

Não fora surpreendente a falta do outro ao seu lado quando acordara. Talvez, em seu íntimo, tivesse ciência do que ocorreria. Mas Mu ainda preferira apostar na pequena esperança que acalorava seu coração e perdera, novamente.

Talvez não fosse possível tocar o vento.

Levantou-se, arrumando-se para ir à faculdade. Decidira viver da mesma maneira como sempre viveu, mas sabia que passaria o resto de sua vida fingindo ser uma pessoa, fazendo de conta que vivia, como um viciado privado de sua droga favorita. Shaka lhe era como a heroína – o único veneno que conseguia respirar.

E agora, era seu destino sufocar-lhe lentamente enquanto sua alma continuava a vagar, na esperança da busca da brisa viciante que dar-lhe-ia o sopro vital.

 

Eles nunca estiveram juntos, - exceto por aquele pequeno pedaço de esperança roubada numa noite qualquer, e aquilo parecia ser tudo na qual a existência do cavaleiro de Atena fundamentava-se agora - mas... Ainda poderia ocorrer um milagre. Mas já era tarde demais.

Os orbes celestes do indiano enfim encontraram-se com os de Mu e ele entendeu a mensagem oculta neles. De que eles nunca poderiam estar juntos. Não naquela vida, dedicada unicamente à Deusa.

Talvez na próxima.

Em seu rosto, Mu sentiu uma terna lágrima correr enquanto acrescia seu cosmo aos demais para quebrar o Muro das Lamentações.

 

Apenas os gêmeos foram capazes de notar alguma leve mudança no comportamento de Mu e mesmo eles foram enganados pelo sorriso e tranqüilidade do ariano. Quando percebeu que os havia enganado por uma semana completa e sem desconfianças, o rapaz sorriu. Ao menos eles não iriam ficar preocupados com seu sofrimento, se é que ele possuía o direito de chamar sua dor de sofrimento – afinal, tornara-se uma coisa com a morte de sua alma e da esperança, logo não era uma pessoa.

Em sua solidão, apenas continuava a brisa a dar-lhe falsas esperanças. Ele começou a odiá-la, e portanto sentiu o desafeto renascer quando ela veio, alvoroçando as mechas lilases ao vento, fazendo o chamado chegar até seus ouvidos.

“Mu.”

Ele virou-se, encarando Shaka, que vinha em sua direção. E os orbes cerúleos contavam de sua decisão. Talvez, Mu pensou, o vento finalmente tivesse o esperado para acompanhá-lo até o final dos tempos.

 


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Notas finais do capítulo

Pra quem não entendeu o título, “Aura” também significa “brisa”. YAY pras palavras cruzadas! =DDD
E Murphy atinge com força total: placa de vídeo quebra, laptop da mãe aparece dando erro de sistema, quase que minha irmã não me deixa usar o PC por medo dessa zica... Estamos bem 8D
Isso é pra aprender nunca mais deixar pra escrever a fanfic em cima do prazo.



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