Nós não havíamos dito mais nada depois do que acontecera. Em algum momento naquela escuridão que cobria o quarto, eu havia adormecido.

E pela primeira vez, depois que eu havia sido transformada, sonhei.

Olhos cinza me observavam querendo me devorar, me seguindo. Eu tentava fugir , para algum lugar onde aquele olhar não me alcançasse. Mas, era em vão. Até que comecei ver sangue por todos os lados, uma trilha de corpos à minha frente, comecei a seguir e no final quatro corpos, os únicos que eu reconheci: James, Carlos, Logan e Kendall.

De algum modo, sabia que aquilo era apenas um sonho, mas foi tão real que meus olhos se abriram e meu coração acelerou.

Olhei o quarto, o sol começava a aparecer, o céu estava pintado com alguns tons rosados, tentei me acalmar e afugentar as lágrimas.

– James? – Chamei e não tive resposta. Passei a mão pela cama e as imagens vieram à minha mente. Fechei os olhos por alguns instantes lembrando o seu toque tão doce e tão cheio de desejo.

Por fim, me levantei e enchi a banheira. Deixei que a água quente me relaxasse, aquilo que tinha visto em meu sonho não saía da cabeça.

Alguma coisa ruim estava me esperando. Disso eu já estava convencida. Coloquei a roupa que o James havia deixado para mim e andei até a varanda. Diferentemente do meu antigo quarto aqui, ele tinha vista direto para o pátio e para o portão principal.

E lá estava ele, com mais alguns vampiros, conversando... Não. Dando instruções.

Acho que desde que o James descobriu (em sua tentativa de suicídio) que vampiros de sangue puro podem andar sob o sol, ele havia comunicado a todos.

Hoje nós iríamos rumo às colinas.

(.)

– Você está com medo? – James perguntou no meu ouvido enquanto caminhávamos lado a lado.

– Não sei.

– Eu prometi que nada iria acontecer à você, Lua. Vou cumprir minha promessa. – Ele ficou de frente para mim, segurando firme minha mão e depositou um beijo nos meus lábios entreabertos, sem me dar tempo para corresponder.

Se o que eu estivesse sentindo agora fosse medo, não era por mim, James não enxergava isso. Dava para notar em seus olhos que estava triste, angustiado, afinal era o seu próprio pai que ele iria enfrentar.

O dia já havia passado da metade, chegamos ao lugar marcado.

Os lobos iriam aguardar do lado de fora do castelo das colinas, esperando o sinal para que pudéssemos dar um fim a tudo isso. Eu, James, Kendall e mais 7 vampiros estavam os esperando. Eu sabia que eram poucos, mas, algo maior iria chamar atenção.

Ao longe pude escutar vozes e corações um pouco acelerados.

O primeiro que eu vi foi o Carlos com a Daphene ao seu lado, 6 lobos ( na forma humana, claro) e mais atrás, Logan.

Não.

Respirei fundo. Ele não.

O clima ficou um pouco tenso, antigos inimigos se encaravam sem dizer ao menos uma palavra.

O olhar do Logan me fuzilava, e eu tentava esconder meu corpo atrás de James.

– Nós vamos nos unir, hoje, lembráramos que tudo passou de uma armadilha- Carlos começou a falar – Se queremos realmente ficar em paz, precisamos enfrentar e arrancar o mal pela raiz. Então, sem mortes entre nós.

Algumas criaturas concordaram com a voz baixa.

E, então, começamos a seguir nosso caminho.

A cada passo que eu dava, algo se remexia dentro de mim. Uma parte minha sabia que esse era o fim.

Kendall conversava com o Carlos, o informando, todos que estavam ali sabiam do perigo que os aguardava. Rápido demais eu vi a árvore que o Carlos havia me mostrado.

Meus pés travaram no chão, James levantou a cortina de folhas que pendiam até o chão, liberando a visão do castelo. Senti meus joelhos cederem e meu corpo perder força, como da primeira vez.

Um grito estridente escapou da minha garganta, enquanto um dor atravessava todo o meu corpo. Segurei minha cabeça com as mãos, meus olhos não enxergavam, parecia que eu iria explodir em chamas, novamente os olhos cinza do meu sonho vieram nos meus pensamentos.

Alguém se ajoelhou do meu lado e puxou meu corpo para perto.

– Lua. Calma!

– Apenas, faça parar, por favor!

– Só você pode fazer isso. – A voz do Logan estava perto demais.

– Tá doendo. – Falei com dificuldade, sentindo meu rosto molhado pelas lágrimas quentes. – Tá doendo muito.

Eu sentia o sangue correndo com velocidade pelo meu corpo, estava tudo queimando, tudo em chamas. Mas, diferente eu estava tentando ser mais forte, tentava não perder as forças.

– Bloqueie a dor, Lua! Não se transforme. – Logan falava rápido me apertando forte contra o seu corpo.

– Logan... – Choraminguei.

– Estou aqui. Se lembre de quem você é. Você se lembra quando nos conhecemos? Você pensou que eu era um vampiro. Se me recordo bem, você estava com uma vassoura. – Soltei um gemido quando meu coração desacelerou de vez – Respire devagar, isso Lua.

Abri os olhos e me deparei com o castanho dos seus.

– Não me odeie. – Falei um pouco com dificuldade.

– Eu não iria conseguir, mesmo se quisesse.

Aos poucos, minha visão voltava ao normal, como também a dor se dissipava. James correu para o nosso lado, e se abaixou ficando na mesma altura que eu.

– O que foi que aconteceu, Lua?

– Tentei de contar ontem, mas...

– Ela não precisa de você sanguessuga! - Logan me soltou, e ficou em pé. – Eu sempre estive com ela.

– E por que não a protegeu quando ela foi atacada?! Você pode me dizer?

– Chega! – Carlos se meteu na discussão. – Estamos juntos nessa, não vamos brigar.

Logan ficou calado e nos deu as costas, encostando-se a uma árvore. James me ajudou a levantar, sussurrando um pedido de desculpas em meu ouvido.

Desculpas por não ter sido ele quem afastou a minha dor.

– Vamos descer. – Kendall falou na beira do penhasco e dando um passo para frente, deixou que a gravidade o puxasse para baixo.

– Nos vamos pular? – James assentiu – Mas, e os lobos?

– Lua, isso não vai matar-los, ele nem vão sentir dor. – Eu, realmente, não sabia de quase nada.

Nós dois ficamos por último. James segurou minha cintura, olhei para baixo, mal dava para ver o chão, lancei um último olhar para o castelo das colinas e um calafrio percorreu minha coluna.

– Você confia em mim? – Ele perguntou no meu ouvido, novamente, fazendo com que eu sentisse sua respiração.

– A minha vida... Ou o que sobrou dela. – James deu um sorriso sem mostrar dentes, e mergulhou no nada.

Senti o vento balançando meu cabelo e antes que eu pudesse perceber, meus pés encostaram-se ao solo.

– Carlos, vocês vão ficar perto do castelo, com as armas se preparando para a hora certa, Kendall irá dar o sinal quando for o momento – Eles assentiram, James quando liderava assumia um tom de voz autoritário – Os outros vampiros vão ficar também, não queremos chamar atenção. Eu vou entrar pelo portão da frente, como o filho dele, antes de qualquer coisa, preciso ter uma conversa com o meu pai. – Ele praticamente cuspiu.

– Eu vou com você. – Falei.

– Não, você não vai entrar lá. – Logan deu um passo a frente.

Droga, é claro que ele não iria deixar. Aproximei-me e toque seu braço levemente.

– Eu preciso, Logan. É algo que eu tenho que fazer, preciso encarar o primeiro vampiro e saber o real motivo de ser quem eu sou agora.

– Tem como eu te impedir? – Balancei a cabeça negativamente. Inclinei-me e iria depositar um beijo no rosto dele mas, Logan virou um pouco fazendo com que nossos lábios se encostassem. Afastei-me rapidamente.

– Essa pode ser a última vez que nos vemos.

– Eu sei.

– Lua?! Já está pronta? – James chamou. Acho que ele não tinha visto. Abracei o Logan fortemente, sentindo meus olhos ardendo. Kendall que ainda conversava com o Carlos e juntamente com a Daphene, apertou as mãos deles e andou até James.

– Fique viva. – Sorri, exatamente as mesmas palavras que a minha mãe havia falado antes de morrer.

(.)

Nós três paramos em frente a um grande portão de ferro. Em poucos instantes escutei o barulho de corrente e em seguida o portão se abriu.

James foi na frente, por dentro o castelo era um pouco escuro e úmido, vários vampiros olharam para nós espantados, acho que ninguém esperava que James voltasse... Pelo menos vivo.

– O que vocês estão olhando? Por acaso não me conhecem?- Um vampiro deu um sorriso de deboche e James apareceu rapidamente na frente o segurando pelo pescoço -Onde está o meu pai, insignificante? – Eu sabia que ele havia assumido a postura de líder.

– No-o S-s-s-salão principal. – o vampiro gaguejou e foi jogado contra a parede mais próxima.

– James não sabe o que está fazendo.- Kendall murmurou ao meu lado, apenas mordi o lábio.

Continuamos a seguir-lo, cada passo que eu dava sentia uma pontada no meu coração, James parou em frente a uma porta, e empurrando-a entrou em uma salão enorme, com o teto alto.

Sentado em um canto, estava uma criatura, que poderia fazer parte da decoração de tão imóvel que estava, ele abriu um sorriso e no segundo seguinte apareceu na frente de James.

Ele.

O primeiro vampiro.

Sua cabeça virou na minha direção, seus olhos me olharam dos pés a cabeça e pararam exatamente nos meus olhos. Foi então que percebi. Olhos cinza.

Os olhos que estavam me atormentando.