Os Olhos Verdes escrita por MahDants


Capítulo 2
Capítulo 2: Pedras Verdes no Escuro


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo o/
Muito obrigada a todos que comentaram capítulo passado, foi uma grande motivação pra mim! Ah... E especialmente obrigada à "Annie Cresta" e "Jéssica Moraes" que favoritaram a fic *-*
Enfim... Capítulo passado foi uma espécie de prólogo, onde Annie apresentou sua vida. E não teve nada demais... Apenas nosso casal lindo se conheceu e Annie recebeu a notícia que o orfanato iria fechar.
Esse capítulo é o anti-penúltimo, já que como disse, essa será uma short-fic de três capítulos, apenas. Espero que gostem *-*
Lembrem-se que o Finnick no capítulo passado não disse seu sobrenome para a Annie, ok? Ela só o conhece como Finn.



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Os pássaros estão cantarolando lá fora. O céu, antes nublado, agora dá espaço ao sol. As crianças do orfanato brincam de pega-pega lá fora enquanto todos os adolescentes estão reunidos na sala da televisão assistindo mais uma vez um filme muito pesado para a maioria deles. O domingo está realmente bonito o suficiente para que ninguém fique trancado dentro de um quarto sozinho.

Porém, como sempre, eu sou a diferente. Eu estaria na praia com meu irmão, se não estivesse com o olho direito inchado e incapacitada de enxergar o ambiente ao meu redor.

Pelo visto, Joanne, Leticia e Carly não gostaram de eu ter dormido com meu irmão e decidiram deixar a marca delas em mim. Hoje de manhã, entrei em meu quarto para pegar uma roupa e tomar banho. Como se tivéssemos combinado, no momento que abri a porta, Carly estava saindo do quarto. “Olha quem resolveu aparecer...” ela gritou para suas amigas. Logo dei dois passos para trás, com medo do que viria a seguir.

As três se aproximaram e Leticia deu um tapa no meu rosto. “Foi dormir com o irmãozinho? Ou arranjou um namorado?”. Recebi outro tapa e logo Joanne puxou meus cabelos, me jogando dentro do quarto. Caí sentada no chão, escutando a risada da loira e da morena, enquanto a outra loira trancava a porta.

Joanne se aproximou segurando meu rosto com força em apenas uma mão e vociferou algumas palavras na minha cara, com os dentes cerrados. Logo se levantou e deu um chute na minha barriga. E depois outro. E outro. Carly chegou com uma pequena faquinha, arranhando meus ombros lentamente.

As lágrimas escorriam pelo meu rosto. A dor era imensa. Eu mordia os lábios pra evitar os gritos. Cada parte do meu corpo doía, mesmo aquelas que não foram tocadas. Era como se minha pele tivesse se rasgando, e como se não bastasse, alguém estivesse jogando álcool em cima da ferida. E mais lágrimas desciam.

De relance vi minha barriga, tinha manchas roxas. O sangue escorria dos meus ombros diretamente para o chão frio do quarto. Abri a boca para me defender, não lembro o que saiu, mas chateou muito uma das três (também não lembro qual), o que resultou no meu olho roxo. Depois disso, elas saíram com fumaça saindo pelos seus narizes.

Logo depois disso, Drew apareceu e pela primeira vez, não tentei esconder as agressões dele. Apenas abracei meus joelhos e ele se sentou ao meu lado, me olhando com cuidado e brincando com alguns fios do meu cabelo. Ele não dizia nada e nem eu queria que dissesse. Apenas sua companhia bastava.

Depois de tanto chorar, levantei e fui ao banheiro fazer minhas higienes matinais. Ao voltar pro quarto, meu sangue não estava mais no chão e Drew estava sentando em minha cama com uma cesta de remédios na mão. Com cuidado e silenciosamente ele cuidou das feridas do ombro e passou gelo na minha barriga. Uma pomada foi passada em meu rosto e agora estou colocando gelo em meu olho direito. Ele continua do meu lado, apenas me observando.

– Achei um ninho na árvore lá de trás – ele fala de repente.

Abro a boca para falar algo, mas a porta se abre e um garotinho de sete anos ruivo entra. Ele se aproxima da minha cama e fala bem baixinho que Lauren está chamando todos os meninos de dez anos. Levanto-me para acompanhar meu irmão, mas o ruivinho diz que a assistente social deixou bem claro que era para ir apenas o Drew. Assinto e deito novamente.

Ao escutar a porta batendo, me levanto e vou atrás dos dois. Sei que é feio espionar, mas é necessário. O Drew é o único motivo pelo qual eu ainda estou aqui vivendo. É por ele que eu apanho, é por ele que eu trabalho... Tudo que eu faço é por ele. Quero construir um futuro melhor para ele. Um futuro diferente do meu. Um futuro onde ele possa seguir seus sonhos e ser feliz.

– Esses quatro são os únicos – falou Lauren por detrás da porta.

– Quais são os seus nomes? – perguntou a voz doce de uma mulher.

– Fred Cooper.

– Alex Johnson.

– Joshua Simpson.

– Drew Cresta.

– Seus olhos são verdes, Drew? – perguntou a mulher com tom de encantamento.

– Sim. Mas você precisa ver os da minha irmã! Eles são...

– Drew – Lauren o interrompe, repreendendo-o.

– Olhe para os meus! Também são verdes. Você gostou?

– Gostei – ele responde. – Mas os da minha irmã são mais verdes ainda.

– Você tem uma irmã?

– Tenho. Posso ir chamar ela? – ele pergunta entusiasmado.

– Claro, querido.

Corro de volta para o meu quarto e me deito na cama, cruzando as pernas e recolocando o gelo no olho. Drew vai ser adotado, eu tenho certeza. O tom de voz da mulher demonstrava isso. Eu não quero me separar do Drew, mas seria egoísmo pedir para ele ficar comigo e impedir a chance, talvez a única, de ser adotado. Pela primeira vez, algum adulto não o tratou com indiferença.

– Nem adianta, Annie. Eu sei que você estava escutando atrás da porta – ele diz ao chegar no quarto e eu bufo levantando-me.

Vou andando até a sala em que a mulher, Lauren e outras três crianças estão. Estou com um olho roxo, eu sei. E posso estragar a chance de meu irmão ser adotado, sei também. Mas o que eu podia fazer? Recusar, talvez.

Giro a maçaneta e encontro com uma mulher com uma roupa formal. Noto sua impecável postura: suas pernas cruzadas e coluna ereta. Ela parece bastante madura ou amarga, mas ao olhar nos seus olhos, encontro tanta doçura que acho impossível que esta mulher não tenha um bom coração. Deve ter quarenta e poucos anos e tem cabelos cacheados louro-avermelhados um pouco depois do ombro. Ela me lança um sorriso verdadeiro e eu retribuo, mas logo em seguida faço uma careta devido a dor insuportável do meu olho.

– Annie, o que aconteceu com você? – Lauren pergunta preocupada notando o olho roxo.

– Nada...

– Mentira – se intromete Drew – Carly e aquelas outras duas meninas feias bateram nela hoje de manhã.

– Drew!

– Não reclame com ele, querida – surpreendo-me ao notar que a dona dessa fala é a mulher das roupas formais. – Ele está apenas querendo o seu bem. Meu nome é Selene Odair, muito prazer.

– Annie Cresta – digo apenas.

– Lauren, poderia conversar a sós com Drew e Annie? – ela pede.

Lauren se retira levando os três garotos com ela. Logo troco olhares com Drew e percebo que ele também não está entendendo nada. Sento no sofá e meu irmão se joga em meu colo, aninhando-se em meu corpo. Ao ver a cena, Selene sorri bondosamente e muda a posição, procurando ficar confortável.

– Antes de falar com meu marido ou com Lauren, gostaria de saber de vocês... Gostariam de ser adotados?

– Você tá falando sério? – pergunto.

– Muito sério. Quando pus os olhos em Drew eu me encantei. E você é irmã dele. Eu não seria tão má de separar vocês dois.

– Ah, entendo...

– Não, não me entenda mal. Eu também gostei de você – ela diz. – Mesmo com esse olho roxo, seus olhos verdes não perderam o brilho. Você continua demonstrando ser meiga e amável. Assim como seu irmão. Então, gostariam de ser adotados?



A partir daquele dia toda nossa vida mudou. Lauren brigou com as meninas e elas pararam de me agredir. Os outros, pararam de nos ofender. Continuamos excluídos, sim, mas agora ninguém ousa mexer com a gente.



Conversamos muito eu, Drew e Selene em várias outras visitas que ela nos fez nos últimos três meses. Descobri que ela tem um filho de dezenove anos, mas não quis me dizer o nome dele. Só disse que sente que nós iremos nos dar muito bem. Os Odair vivem em uma casa enorme e amarela um pouco afastada da cidade e eles têm um cachorro chamado Almofadinhas, em homenagem ao Sirius Black de Harry Potter. O marido de Selene é um cara amargo que só nos viu uma vez e mal nos cumprimentou.

Durante esses três meses, eu terminei o segundo ano do ensino médio e por um milagre de Deus passei em inglês, enquanto o Drew passou para o sexto ano do fundamental. Eu pedi demissão da McDonald’s por ordens da Sra. Odair, minha nova mãe.

Eu não vou chama-la de mãe. Não mesmo. Minha mãe era Julie Elizabeth Cresta e ninguém irá mudar isso. É verdade que Selene virou uma grande amiga e tenho certeza que teremos muitos papos de “mãe e filha”, mas... Não sei explicar. Só quem passa por isso entende.

Hoje? Hoje é noite de 23 de Dezembro, oito dias para o fim do ano e amanhã é véspera de natal. Estou realmente animada com isso. Os papeis da adoção ficaram prontos semana passada e daqui a exatamente quinze minutos Selene vem nos tirar desse inferno. Vou ter meu primeiro Natal de verdade depois de muito tempo. Eu e o Drew. Não poderia estar mais feliz.

Acabo de colocar a última mala na sala, junto ao presente que comprei para Selene e volto ao meu quarto para dar um último adeus. Concordo que não foi a melhor época da minha vida os dias que passei aqui, mas mesmo assim irei sentir falta. Falta da rotina corrida que eu tinha. Falta dos filmes de comédia com Drew. Falta da Lauren. Do meu quarto, de tudo...

Drew chega sorrindo banguela (ele perdeu um dente de leite ontem) e avisa que Selene está nos esperando. Olho-me uma última vez no espelho. Estou com um vestido rosa e laço da mesma cor na cabeça. Batom rosinha e blush. Segundo Drew, estou parecendo uma boneca.

Saio do quarto sorrindo para as três meninas que me agrediram todos esses anos e ao encontrar Lauren meus olhos marejam. Agradeço por tudo que ela já me fez e com um último sorriso, digo para Selene que estou pronta. Procuro as malas, mas Selene diz que o seu filho já colocou-as no carro. Passo a mão pelo ombro de Drew e com um último suspiro, saio do prédio para nunca mais voltar.

A noite está fria, de modo que ao sair do orfanato um vento forte me atinge e passo a mão em volta dos meus braços para aquecer-me. As folhas das árvores balançam causando um som gostoso de se ouvir. As ruas estão silenciosas exceto por um gato preto procurando comida na lata de lixo do orfanato. Lá no céu a Lua está gigante, mas quase não há estrelas. Nem está uma noite tão bonita assim... Somente fria.

Entro no carro prata que nos espera e vejo um homem de cabelos cor de bronze sentado no banco do passageiro. Sua cabeça está encostada no vidro e acho que ele está dormindo. Dou de ombros e sorrio para meu irmão.

Isso tudo é surreal. Há três meses eu estava chorando em uma caverna, lamentando-me com um cara que nunca tinha visto na vida. Não lembro o nome dele, só lembro que ele era absurdamente bonito. E... Forte. Sorrio com a lembrança. Será que um dia irei reencontrá-lo?

Enfim, há três meses eu estava desesperada com medo de separar-me do meu irmãozinho, meu único companheiro. E agora, estou indo para um lar de verdade junto com ele. Eu realmente não poderia estar mais feliz.

– Finnick, acorda – fala Selene ao parar em um sinal. – Annie e Drew Cresta estão aí atrás.

Ele vira o rosto e reconheço-o de algum lugar. Talvez ele frequente o McDonald’s, sei lá. O homem de cabelos cor de bronze abre os olhos e meu coração para. Os seus olhos são verdes. Tão verdes quanto o mar. Finnick... Agora eu sei seu sobrenome. Finnick Odair. Eu não acredito.

– Olá, Annie – ela diz sorrindo. E que sorriso... – Drew.

– Finnick? – meu irmão pergunta.

Eu não consigo falar nada. Congelei. A única informação que processo é Finnick Odair, o cara absurdamente bonito que conheci na caverna, o cara com incríveis olhos verdes, o cara que eu achei que nunca mais veria, agora descubro ser meu... Irmão adotivo!

Nós chegamos na casa dos Odair. O lugar é extremamente grande e bonito. Uma mansão amarela com um enorme jardim, salão de festas exterior, academia e se não me engano... Acho que estou vendo uma piscina lá trás. É, isso mesmo, uma piscina e um bar.

As luzes decoram bem o ambiente, há fontes e... E... O lugar é enorme. Eu não consigo descrever. Ao entrar, dou de cara com uma grande sala de estar, com lareira e sofás aparentemente aconchegantes. A mansão não tem segundo andar, mas isso não impede de ter muitos quartos. Há dois corredores, até onde eu consiga ver... Ou melhor, três.

Viro a cabeça e olho meu irmão. Ele está tão encantado quanto eu. Sinto alguém segurar minha mão e logo meus pés estão em movimento. Ainda estou encantada com a beleza do local, mas desperto quando escuto o barulho da porta batendo e percebo que estou a sós com Finnick Odair.

– Esse é seu quarto – ele diz com as mãos no bolso.

Permito-me olhar ao redor. É quase tão grande quanto o do orfanato, a diferença é que esse eu não divido com ninguém. As paredes são rosa bebê, há uma enorme cama forrada impecavelmente encostada na parede do quarto e enfeites de borboletas no teto. A janela está aberta e as cortinas voam pelo quarto.

Do outro lado do cômodo, há uma escrivaninha com um computador e em cima, há uma estante com muitos livros. Meus pés vão lentamente até lá e passo o dedo por cada um deles, admirada. São livros que já li ou que gostaria muito de ler. Romances antigos, modernos... Todos os livros do Nicholas Sparks estão enfileirados aqui, inclusive o meu favorito A Última Música.

Ao lado do computador, tem porta-retratos com fotos tiradas recentemente. Fotos minhas na praia, com Drew, com Selene... Boas lembranças, enfim. Finnick próximo à porta pigarreia e eu desvio minha atenção ao homem dos olhos verdes.

– Você sabia de tudo isso? – pergunto e quando Finnick não responde, entendo que ele sabia. - Ah, meu Deus, você sabia. Peraí... Você...?

– Eu pedi pra minha mãe te adotar e adotar seu irmão.

– Mas... Mas... Mas... Seu... Filho de uma mãe! Quem você pensa que é? – pergunto me aproximando do deus grego e colocando as mãos na cintura.

– Eu te dou a oportunidade de ficar com seu irmão e é assim que você retribui?

– Onde estão meus modos? Até parece que me esqueço quem eu sou quando estou perto de você! – comento irritada. – Porque eu fico assim perto de você, em? Ah, quer saber? Deixa pra lá. Porque você fez isso?

– O que? Te trazer pra cá?

– Não! Pintar o cabelo de rosa – falo irônica. – É claro que é me trazer pra cá! Porque fez isso?

– Sei lá – ele dá de ombros. – Gostei de você. Minha mãe queria uma criança em casa e sempre quis uma filha. Meu pai faz tudo que ela quer e tem dinheiro pra isso. Apenas uni o útil ao agradável... – ele tirou a mão do bolso e bagunçou os cabelos com timidez.

– Obrigada – abro um sorriso. – Mas você não precisava! Eu estou atrapalhando suas vidas...

– Claro que não Annie – ele tira as mãos do bolso e anda em minha direção. – Eu quero você aqui, tá legal?

– Finnick...

– Amigos? – ele estende a mão.

– Amigos.

Ele abre um sorriso e devo dizer... Que sorriso! Eu até tinha me esquecido do quanto ele é bonito. Seus dentes impecavelmente brancos e seus olhos incrivelmente verdes. O tom bronzeado de sua pele e seus músculos... Tudo que ele tem é perfeito. Até a sua voz grossa me deixa arrepiada.

Voltamos à sala e Selene comenta que o Sr. Odair está viajando, não chegará à tempo para o Natal depois de amanhã. Eu apenas dou de ombro e depois de jantar, eu, Finnick e Drew fomos assistir A Fera.

Drew, como sempre, dorme no meio do filme, mas dessa vez quem o leva para o quarto é Finnick. Depois ele me leva ao meu quarto e se despede com um beijo na bochecha.

Quando a porta se fecha, toco na parte ainda molhada na minha face e um sorriso involuntário se forma. Ganhei liberdade, um lar, escola... Tudo isso graças à ele, enfim. Pois se ele não tivesse pedido nada, eu ainda estaria apanhando no orfanato. Definitivamente, Finnick é meu anjo da guarda e eu tenho uma dívida eterna com ele.



E os dias foram se passando. No Natal, recebi presentes, coisa que nunca tinha acontecido. No Ano Novo, comemoramos rindo e se divertindo. No meu aniversário de 17 anos, ganhei abraços. Quatro meses desde que Selene me adotou e minha vida mudou completamente. Sim, ela mudou. Agora, cada dia é um dia, não participo mais daquela rotina cansativa de antes.


Pra começar, mudei de escola. Tomo café da manhã com a família na mesa e depois o Finnick deixa a mim e meu irmão na porta do colégio. Continuo calada e sem amigos, como sempre. Não é porque minha vida está melhor que vou virar uma menina sempre feliz e sociável. Eu continuo sendo eu, Annie Cresta. Uma menina de dezessete anos, cabelos castanhos e olhos verdes, extremamente tímida e meiga.

Nas aulas de inglês, porém, meus pensamentos não voam mais para o verde do mar, e sim para o verde de outro lugar. O verde dos olhos dele. Não sei o que criamos, mas é forte. Finnick Odair não sai mais dos meus pensamentos e isso me assusta. Assusta pois sei que a partir do momento que assumir meus sentimentos, estarei amadurecendo. E tenho medo disso.

Tenho medo do mundo. Medo das pessoas. Medo de viver, pra ser mais exata. As pessoas só aprendem com os erros, sei disso, mas... Porque tudo não é tão simples quanto é em um conto de fadas? Quero dizer, nos contos, o amor sempre vence tudo. O bem sempre vence o mal e eu já vivi tempo o suficiente para saber que isso não é verdade.

E a cada dia fica mais difícil evitar esse sentimento. Pois, todo dia Finnick Odair dá em cima de mim. Eu não me irrito, até gosto disso tudo... É divertido, enfim. Além disso, tenho total controle do que se passa dentro de mim. Faz dois meses que resisto a isso e vou continuar resistindo até ele desistir, mesmo que a coisa que eu mais queira for agarrá-lo ali mesmo.

Mas não irei fazer isso, pois eu quem decido isso e simplesmente acho que sou muito nova para me apaixonar. Ok, eu tenho 17 anos e nunca beijei ninguém, tô sabendo. Não me culpe, culpe os livros. Os livros que colocaram o amor na minha cabeça. Foram eles que me fizeram acreditar na alma gêmea. E que existe a pessoa certa que fará meu coração acelerar. Aquela que me fará acreditar no “inevitável” e que me provará que não sou eu quem decido isso.

E enquanto essa pessoa não chega, continuarei negando qualquer tipo de relacionamento. Fim.

– Annie... – fala Finnick com a respiração batendo em meu rosto.

É... Simples assim. Eu estou andando no meio do corredor e puf! Sou puxada e quando me dou conta estou a centímetros do rosto dele. Sempre acontece assim. Ele acha o que? Que só porque seus olhos são incrivelmente bonitos eu vou cair na dele? Que só porque seu cheiro me dá vontade de abraçá-lo eu irei fazer isso? Que só porque seu sorriso é perfeito eu irei me derreter? Não!

– Finnick – falo normalmente, nem um pouco afetada. Talvez um pouco.

– Quer um cubo de açúcar? – ele perguntou roçando os lábios no meu.

– Minha taxa de glicose tá alta! – sorrio me afastando e dou um beijo em sua bochecha.

Ele também gosta de me ver arrepiada. Um dia, quando assistíamos um filme qualquer, ele confessou. Depois da proximidade no corredor mais cedo, passo o resto do dia estudando no meu quarto, saindo apenas para preparar um sanduíche.

É quando sinto seus dedos passarem levemente em meu pescoço, pra logo em seguida abraçar minha cintura e deixar um beijo onde há pouco seus dedos estavam. Isso causa uma onda de arrepios inexplicáveis em mim. Ele ri e se afasta, deixando-me atordoada por alguns minutos e os pelos do meu braço em pé.

Volto ao meu quarto com o prato de sanduíche na mão e continuo estudando, afinal, tenho prova de inglês amanhã. Não saio para o jantar, nem pra ver o filme com Drew. Sei que ele passou a tarde jogando futebol com Finn. Quando estou quase dormindo, a porta se abre revelando um Drew de pijama com o cabelo bagunçado.

– Tive um pesadelo.

– Que pesadelo? – pergunto.

– Não quero falar – ele responde. – Posso dormir aqui?

Afirmo e ele deita ao meu lado na cama solteirão. Estamos mais afastados do que antigamente, quando eu só tinha ele e ele só tinha a mim, lá no orfanato. Mas não é por isso que o amor diminuiu. Drew continua sendo minha vida e meu único motivo pra viver.

– No que está pensando? – ele pergunta enquanto faço carinho em sua cabeça.

– Coisas... – respondo. – E você?

– Eu te amo, Ann – ele fala de repente.

– Porque isso agora?

– Nada... É só que... Você é a melhor irmã do mundo! – ele diz e sorrio com suas palavras.

– Também te amo, pequeno. E como anda a escola?

– Legal... Tem uma menina louca gostando de mim. Ela dá medo...

– Meninas de dez anos costumam ser loucas mesmo. E meninos de onze anos costumam se assustar – respondo. – É normal. Meninas amadurecem primeiro.

– Olha o preconceito! Eu sou muito maduro...

– Ok, Sr. Maturidade – brinco. – Que tal dormirmos? Amanhã temos aula!

– Annie... – ele fala com um tom preocupado. – Amanhã é sábado!

– É? – pergunto confusa. - Mas e minha prova?

– Você precisa se organizar! Sua prova é segunda chamada, Annie. Você pode aparecer das 9 até as 17 horas para fazê-la.

– Jura? – pergunto.

– Quanta lerdeza...

– Ok, Sr. Não-lerdo. Podemos dormir mesmo assim? Estou com sono!

As horas se passam e meus olhos não pregam. Drew está no quinto sono enquanto eu me pego tendo diálogos imaginários com o Finnick. E quando eles acabam, me pego lembrando dos momentos que passamos juntos. Me disseram uma vez, que sabe aquela última pessoa que você pensa antes de dormir? Seu coração pertence a ela.

E com esse último pensamento, pego no sono.

Acordo mais ou menos duas horas da manhã com a garganta coçando e os lábios rachados. Preciso urgentemente de água. Vou até a cozinha com os olhos cerrados, o sono me dominando e dou de cara com a silhueta de alguém no escuro. Alguém forte e com cheiro bom. Me aproximo e encontro duas pedras verdes me encarando no escuro.

Sufoco um gritinho com a mão no coração acelerado devido ao susto. Não imaginei que teria alguém aqui a essa hora, porém, vejo que estou enganada, já que Finnick está apenas com a bermuda do pijama e seus cabelos levemente bagunçados. Sim, ele está sem camisa e acho que estou passando mal. Olho pra baixo e percebo o minúsculo pijama que estou usando. Sinto minhas bochechas esquentarem com isso.

– Fome? – ele pergunta mordendo a maçã em sua mão.

– Sede.

Quando estou passando por ele, Finnick segura meu braço com sua mão grande. Encaro seus olhos sem hesitar e ficamos alguns minutos assim, no escuro, escutando apenas nossas respirações descompensadas. Sua mão direita se move, revelando a maçã e lentamente ele morde a fruta. Já disse o quanto ele é sexy?

– Quer maçã? – ele pergunta e incapaz de me conter, confirmo.

Ele aproxima a maçã dos meus lábios e mordo delicadamente a fruta. Finnick joga o que sobrou na pia, ainda me encarando com poucos centímetros de distância. Não sei se foi o escuro, ou a maçã. O fato de ele estar sem camisa, ou o meu sono. Mas deixo ele se aproximar.

Nossos lábios encostam e sinto o gosto de maçã. Em alguns minutos trocaremos salivas e...

– Sua boca tá com gosto de maçã! – falo separando nossos lábios transformando um quase-beijo em um rápido selinho.

Saio dali o mais rápido possível, esquecendo o motivo que me levara até lá. Minha nossa! Quase aconteceu... Eu ia beijar mesmo Finnick Odair. Isso seria nojento e bom ao mesmo tempo. Sinto um friozinho na barriga, já deitada na cama, lembrando-me dos últimos acontecimentos.

Depois de aproximadamente meia hora, a porta se abre e eu rapidamente fecho o olho, fingindo que estou dormindo. Sinto alguém me cobrindo e escuto alguém se abaixando. Acho que é o Finnick. Ele passa a mão no meu rosto fazendo carinho e beija minha testa.

– Boa noite, Ann – ele diz e escuto a porta batendo.

São por causa dessas atitudes que eu fico confusa. Quando ele está prestes a me beijar, ou quando dá em cima de mim, tenho certeza que ele quer apenas me provar e colocar em sua lista. Mas quando ele se preocupa comigo e faz coisas como essa, coisas que não estou vendo, eu fico pensando em algo a mais... Quero dizer, ele me cobriu porque não queria me ver com frio, ele se preocupou comigo. Mas seria impossível ser o que estou imaginando... Porque ele se apaixonaria por mim, afinal? Uma pobre coitada órfã que ele ajudou e agora mora em sua casa. Eu não tenho nada especial!

Minha noite se baseia em cochilos. Fico perdida em pensamentos com os olhos fechados e acabo caindo no sono, porém sou acordada quarenta minutos depois. E aí a situação se repete, repete, repete... Até que...

– Annie, querida, acorde – a voz de Selene é ouvida.

Ela passa a mão na minha testa suada, tirando os fios de cabelo grudados nela. Drew já não está no meu quarto e se ela está aqui me acordando, é que provavelmente passou da hora que eu deveria acordar.

– Bom dia – digo me espreguiçando.

– Bom dia! – ela responde. – Ou melhor, boa tarde...

– Que horas são? – pergunto abrindo os olhos e ela se levanta para abrir as cortinas.

– Vai dar duas horas.

Isso é o suficiente para que eu levante em um pulo e corra ao banheiro. Enquanto tomo banho, meus pensamentos voam para Finnick e para as duas pedras verdes no escuro, ontem. É melhor eu parar de pensar nele. Tenho uma prova daqui a pouco! Como rapidamente revisando o inglês e logo corro pro carro do pesadelo dos meus pensamentos, Finnick Odair.

– Boa tarde, Srta. Cresta – fala ele em tom formal. – Para onde vamos hoje?

– Deixa de ser idiota, Finn – dou um soco em seu braço.

– Ai! – ele fala massageando onde bati. – Para uma menina que parece uma boneca de porcelana... Você é bem forte, hein?

– Finnick, me tira uma dúvida: o futuro no inglês. Shall a gente só pode usar na primeira pessoa, né? E o will em qualquer uma?

– Você tá dando isso em inglês? – ele vira pra mim com uma sobrancelha erguida quando o sinal fica vermelho. – Isso é fácil!

– É, mas eu não sei – falo zangada.

– É isso mesmo, Ann. E o going to também pode ser pra qualquer uma. Now, can we speak in english?

E fomos conversando em inglês, mesmo eu errando a maioria das palavras e ele rindo da minha cara. Ele para na frente da minha escola e dá um beijo no canto da minha boca em despedida. Eu coro quando ele se separa e saio correndo do carro, entrando na escola e procurando a sala de prova.


Depois da prova, Finnick me leva na praia. Coloco o biquíni no banheiro público e me jogo no mar. Não sei se propositalmente ou coincidentemente, acabamos nadando até a mesma caverna que nos conhecemos. O lugar está mais escuro do que me lembrava e a água em um nível mais alto também, de modo que dá para nadar no local.


Ele me puxa para um abraço e coloco minhas pernas em volta do seu corpo. Quando nos separamos nos encaramos por longos minutos até ele desviar os olhos para meus lábios. Eu acabo olhando para os dele também e fico numa luta, dividindo meu olhar entre seus olhos e seus lábios.

Então ele se aproxima e eu me aproximo, chegou a hora. Ele roça os lábios nos meus, como muitas vezes já fez, mas dessa vez eu não me afasto. Ele entreabre a boca e eu faço o mesmo. Nossos lábios se encaixam com perfeição e um frio na barriga me invade.

– Finnick – falo sem me afastar. – Eu não sei beijar, nunca beijei ninguém.

– Aprende.

Depois disso, nos beijamos sem trocar saliva até que a língua dele pede passagem. Céus... Isso é tão nojento! Com esse pensamento eu caio na gargalhada me afastando e Finnick me olha como se eu fosse louca, mas começa a rir também.

– Desculpa – falo ainda rindo.

– Porque você tá rindo, sua louca? – ele pergunta.

Eu falaria “porque isso é nojento”, mas aí ele pensaria que estou falando dele e ele poderia ficar ofendido, então apenas me aproximo de novo e junto nossos lábios sem saber direito o que estou fazendo ou se estou fazendo certo.

Então sua língua pede passagem e eu nem sei se estou fazendo certo cedendo. A única coisa que eu sei é o quanto isso é nojento e mágico ao mesmo tempo. Mágico porque é o Finnick e nojento porque... Estamos trocando salivas! Por favor, isso é muito nojento. Pelo menos agora é nojento.

Nos separamos e sinto minha bochecha esquentar. Começo a rir para aliviar o nervosismo e a vergonha, mas ele me faz parar quando segura meu rosto para encarar seus olhos. Talvez ele seja o meu príncipe encantado. Ele é a pessoa certa. Ele que faz meu coração bater mais rápido.

Eu não decido nada, não tenho controle dos meus sentimentos. Ele me faz acreditar nisso. Todas essas vezes que fugi dele, eu estava apenas me enganando. Eu amo Finnick Odair.

É inevitável.


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Notas finais do capítulo

Capítulo aprovado? Então... Eu gostaria que vocês lessem a fic da vds marie: http://fanfiction.com.br/historia/341883/O_Diario_De_Annie_Cresta
Sério, cara, essa fic é diva *ooooo*

Ok, ok... Então... Mandem reviews, sim? Pfvr *----*
Ah, e vocês que acham que só porque a Annie e o Drew saíram do orfanato e o Finnick e a Annie se beijaram a história teve um fim... Não! Não teve... Ainda tem muita história por vim... Não posso dizer nada. Mas pra vocês terem uma noção, o próximo capítulo vai ter mais ou menos 6 mil palavras. Quer dizer... Já escrevi 6 mil palavras e o cap ainda não tá terminado, então... Tem muita história por vir e pretendo fazer vocês chorarem, haha. Coisas da infância da Annie e do Drew, aquela conversa de "mãe e filha" da Selene com a Annie... Ah, e claro... Muito romance Fannie. Vai ter uma tragédia, também, sabe? Mas aí eu não posso falar. Até o próximo capítulo ;) E lembrem-se: Reviews, sim? Beijos *-*