Lágrimas Do Tridente escrita por Icaro Pratti


Capítulo 1
Capítulo 1 - Globos de Vidro


Notas iniciais do capítulo

Narrada por uma visão diferente dos jogos vorazes, pretendo mostrar uma nova face, o que passa-se pela cabeça de alguém de fora sobre os jogos vorazes? Seu tributo sabe como reagir às suas expectativas? Se ele não reagir, isso custará sua vida e a mais de quem? Espero que gostem. Boa leitura ^^

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Não sou movido por reviews, mas pelo menos deixar um "Nossa, amei" ou "Não gostei" me basta muito, gosto de saber a opinião de vocês...



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Dia da colheita, dia de apreensão, dia de luto, dia de respeito. São assim todos os anos. O Hall da Justiça está sóbrio e posso perceber que em poucas horas o pôr do sol dará um pouco de vida ao local que recebe com angústia famílias que, em um azar, possam ter seus pequenos filhos sorteados para os Jogos Vorazes. Relembrar esta palavra faz-me prender a anos atrás, 4 ou 5, já não sou capaz de pensar naquilo que foi o pior ano da minha vida. Tão jovem e astuto, os Jogos Vorazes consumiram uma parte da minha memória, do meu emocional que, talvez, jamais volte a ser minha. As lacunas que foram abertas jamais serão preenchidas, todos os anos seguir com os novos tributos para a capital só torna mais apreensível tanta submissão, é fazer ou morrer.





Posso ouvir o mar, o barulho das ondas que batem nas pedras e as ondas que se desfazem próximas à areia. Som da onda, som que um tempo atrás pensei que fosse ofuscado pelo barulho de um canhão, um tributo morto. Meus reflexos aumentaram, cada barulho significa a chance que alguém pode ter de te matar, ou então, de matar alguém próximo a você. Ficar em alerta, alerta para quem se aproxima de você, alerta para quem se afasta de você, alerta de viver. O barulho de qualquer coisa metálica ensurdecedora traz um reflexo para a sua origem, é involuntário o nosso movimento, virar-se e pegar a coisa mais próxima na tentativa de defender-se de algo que não existe.








– Finnick? – ouço uma voz confortante me chamar.









Meus pensamentos voltam para a realidade, meus dedos apertavam forte o acolchoado da poltrona azul que estou sentado, tenho a sensação de tirá-los rápido de modo que ninguém perceba que estou impaciente. Toda colheita é assim, tento canalizar todos os meus pensamentos longe de tudo que aconteceu, mas é inevitável, tudo vem à tona.








– Algum problema Finn? – ouço perguntar novamente.





– Não, nenhum – digo levantando o rosto.


Percebo o quão impaciente estou, olho fundo nos olhos de Maggs e posso ver, apesar de tentar ofuscar, que uma apreensão está visível em sua mente. As dores de um passado doloroso, de uma arena e de um parceiro morto, todos devem passar por isso. Estamos juntos, tem sido assim nos últimos cinco anos, devo minha vitória a ela, moveu tudo que foi possível para me ajudar e é a quem tenho que agradecer por estar vivo. Uma das únicas pessoas na qual eu posso confiar. Percebo que meus olhos estão a lacrimejar, uma sensação estranha. Uma lágrima escorre pelo meu rosto e sinto seus dedos um pouco enrugados tocarem nele e secar a lágrima que acabara de escorrer.

Agradeço por ela não dizer qualquer palavra, mas sim por estar ali do meu lado. Seus dedos gelados se esquentam agora sobre minhas mãos que fecharam em torno das suas, encosto minha cabeça em seus joelhos e encontro ali meu aconchego, minha segunda mãe.

– Está chegando a hora – fala a voz de um homem chegando ao cômodo. Desculpem interromper, em poucos minutos, Maggs, bem... – diz como se não precisasse ser feito mais nada, e sai do cômodo por uma porta de madeira ao qual se podem ver talhados vários peixes e anzóis, afinal, eis a única forma lucrativa do Distrito 4.

Maggs levanta minha cabeça e segura meu queixo com as mãos, olha no fundo dos meus olhos. Não é preciso dizer nada, a verdade de um olhar diz tudo. A segurança passada por ela ultrapassa qualquer outra coisa neste momento. Ela levanta e vejo-a pegar um vestido próximo a cadeira em que ela estava sentada. Caminha até a extremidade do cômodo e entra por uma porta. Percebo que também devo trocar de roupas, caminho na direção oposta à tomada por Maggs na tentativa de procurar um banheiro. Abro uma porta de madeira e entro em um grande banheiro, não tão grande e luxuoso como os banheiros da capital, mas um bom banheiro. Tiro a roupa e caminho para de baixo do chuveiro deixando a porta aberta. Não é necessário esconder meu corpo para ninguém de Panem.

Termino meu banho, me seco e começo a trocar de roupa. Pensamentos voando em torno do que está prestes a ser retomado, mais uma colheita, mais dois tributos. Coloco minha calça bufante e uma camisa.

– Me ajuda Finn? – Maggs diz entrando no banheiro.

Ainda com a camisa sem abotoar vou para perto dela e começo a abotoar a parte de trás do vestido. Azul, várias formas que parecem ostras formam um colar na parte de cima do vestido, a parte de trás os botões são como pérolas. Ostras, pérolas e azul, uma combinação perfeita do que é o Distrito 4. Termino de abotoar e vira para arrumar meus cabelos que estão bagunçados.

– Você é tão careta Finn, que camisa feia é esta? Quero uma azul para combinar comigo – exalta com um pequeno sorriso no rosto.

A calça bufante branca realmente ficava muito melhor com a camisa azul que Maggs escolhera para completar o conjunto. Formávamos um par agora, o par de mentores do Distrito. Meus pensamentos acompanham a necessidade que temos de todos os anos seguir esta tortura, acompanhar jovens em torno da morte.

Ela segura minha mão e caminha até o cômodo que estávamos antes, não lembro que cômodo era do Hall da Justiça, sala de conveniências, ou algo do tipo. Nossas malas estão no canto. Maggs se aproxima da porta e chama um pacificador, sempre aqueles homens a favor da capital. Vejo-a apontando para as malas, possivelmente para despachar as malas logo ao trem de modo que não tenha qualquer problema com todas nossas bagagens depois. Três pacificadores entram na sala e colocam todas as malas em um carrinho e caminham pela enorme porta por um corredor bem iluminado. O barulho de madeira rangendo com o passar do peso causa-me um arrepio momentâneo.

– Preparado? – ouço-a perto de mim esticando a mão para me levantar.

Percebo que até agora não disse qualquer palavra, deve estar sendo agonizante para ela o meu silêncio, a minha falta de expressão, a minha incoerência. Ela segura minhas mãos e parece estar tentando fazer força para me levantar, não tenho como evitar, mas sinto que estou com uma pequena risada em meu rosto. É engraçado vê-la tentando me levantar e imperceptível que meus lábios moveram-se para um sorriso. Uso minha força para levantar e me apoio ao seu lado.

– Não sabia que estava tão forte Maggs – tento descontrair.

As palavras fizeram efeito e senti-la apertar minhas mãos e soltar uma risada fina e engraçada. Entrelaçou seu braço em torno do meu e passamos pela porta que dava direto ao saguão de entrada do Hall da Justiça, uma enorme porta cinza daria direto para o palco onde estariam duas bolas de vidro.

Já era possível escutar os murmúrios e passos das pessoas lá fora, os jovens organizando-se frente ao palco preparados para um nome de um dos seus amigos ser sorteado. Foi assim comigo, foi assim com Maggs e será assim com muitos outros. A apreensão toma conta de mim, consigo observar por uma janela o número de pacificadores que se encontra do lado de fora montando um cerco em volta dos habitantes que vêm chegando. Uma enorme fila encontra-se organizada entrando, todos indo para os locais que dividem-nos pela idade, sexo, enfileirados, justificando respeito ao que podemos chamar de Capital.

Maggs solta minha mão e caminha para perto do prefeito ao qual conversam baixinho perto ao corredor que nos deu acesso ao cômodo. Paro para perceber que o sol está perto de começara se por, final da tarde muito bonito mas rodeado de tanta dor, a maré está baixa. Anos atrás estaria ali, parado à procura de qualquer movimento de peixe com meu tridente em mãos. Estaria acompanhado de meu pai, ensinando como deve-se usar uma rede, uma lança, qualquer coisa capaz de capturar peixes e obter alimentos para nossa casa. O silêncio estaria à tona, nenhuma conversa e nenhum movimento.

As portas se abrem e Maggs segura nos meus braços, é hora de ir. Passamos pela porta que foi aberta por dois pacificadores, ambos com grandes armas nas mãos apontadas para os pés. Suas roupas brancas e grandes coletes guardam boa parte do seu corpo. Posso ver ao fundo o céu que começa a adquirir uma combinação de cores, azul, roxo e laranja, o reflexo no mar é perfeito.

Volto meus olhos aos jovens e crianças ali presentes e sei que só tem uma pessoa que meus olhos querem encontrar e isso não demora muito à acontecer. Em meio a outras garotas nossos olhos se encontram e posso sentira apreensão do seu olhar, a dúvida, o medo. Vejo-a apertando as mãos, uma contra as outras na tentativa de dissipar qualquer sentimento negativo.

Tenho por um momento nossa ligação quebrada, Maggs segura meu braço e juntos sentamos em duas poltronas próximas à uma janela ainda no palco. O prefeito, que estava na terceira cadeira, levanta e se dispõe entre os dois globos de vidro com diversos papeis que, um dia já recebeu dois deles escritos: Finnick Odair.

O tilintar do relógio marca cinco horas, hora de começar o discurso. Como todos os anos a história de Panem é contada aos milhares de habitantes que estão dispostos ali na rua e na porção de areia da praia que se encontra em frente ao Edifício da Justiça. Como todos os prefeitos de todos os distritos, começa a listar todos os desastres que vieram a ocorrer nos dias sombrios.

Barulho de água. Pesca. Tridente. A única forma de me salvar é usar a única arma que eu possa me adaptar. Uma regalia, um paraquedas. Talvez o maior que já foi mandando para a arena. Corro até o enorme paraquedas,abro e meus olhos brilham, finalmente o menino de catorze anos tem uma chance, derrotar os carreiristas. Segurar no tridente passa uma confiança, estou novamente em casa, hora de caçar meus peixes. Atacar o tridente em uma pessoa, matá-la, não é o que eu quero, não é o que sempre quis. “Finnick Odair” foi o nome tirado de um globo de vidro, era eu quem estava nos Jogos Vorazes, era eu quem devia sobreviver pelo meu distrito, Annie, viver com Annie vários anos da minha vida. Um barulho ensurdecedor faz voltar a realidade, com certeza a maresia interferiu nos aparelhos eletrônicos da capital, algum erro de som ou nos fios, mas eles são rápidos e logo começam a trocar alguns materiais, Paném toda está vendo a programação.

Vejo Maggs em meio aos dois globos de vidro cheio de papeis, passando o dedo em volta dos dois globos de modo que toda Panem, principalmente a Capital pense que está tudo certo e que é um enorme suspense elaborado por ela. Encontro meus olhos com o de Annie novamente, tenho que mandar confiança a ela. Levo minha mão direita até a boca e beijo-a,vou abaixando-a reta e faço um gesto de assopro em sua direção. A resposta dela é imediata e repete o que foi feito.

“Te amo” – faço com os lábios sem emitir qualquer som.

“Te amo, sempre” – ela repete sem emitir qualquer som adquirindo uma cor rosada em suas bochechas e abaixando o rosto com um pouco de vergonha.

– Testando – Maggs anuncia próxima ao microfone. - Vamos ao sorteio? “Que a sorte sempre esteja ao seu favor” – ouço-a dizer abafando o final com o barulho de uma enorme onda batendo nas pedras da orla da praia.

Sinto meus dedos doerem, aperto-os uns contra os outros. Ter a sensação de sortear o nome de uma criança cria uma angústia tão grande, daqui alguns anos meus filhos terão que colocar seus nomes aqui, e assim será com meus netos. Caso tenham sorte suficiente, seus nomes não serão sorteados. O barulho do pequeno tamanco de Maggs faz um barulho na madeira irritante, abafado apenas pelo barulho das ondas que se desmancham na praia. O silêncio é absoluto.

– Seguindo a tradição, primeiro as damas – diz afastando-se do microfone.

Após afastar-se do microfone, Maggs caminha até sua direita e fica de frente à um dos globos de vidro. Paralisa sua mão no ar por um tempo e logo depois a coloca em meio aos vários papéis contendo nome de vários jovens e crianças. Ela rodopia a mão e remexe os papeis, logo depois de alguns segundos levanta a mão com um papel em mãos.

Segurando o papel, ela campinha até o microfone em meio aos dois globos, Rompe o lacre e abre o papel em duas partes. Ela abaixa a cabeça olhando ao papel em direção ao microfone, mas antes de falar qualquer coisa prende o ar e vira-se para mim imperceptivelmente, fecha os olhos após seu olhar encontrar com o meu, solta o ar e volta seus olhos ao papel.

– Annie, Annie Cresta.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham curtido o primeiro de muitos capítulos.. Este é o primeiro e gostaria muito de críticas, sugestões e/ou elogios, serão muito bem recebidas e, se possíveis, aplicadas. Thks!

NÃO SOU MOVIDO POR REVIEWS, MAS GOSTO DE CONHECER MEUS LEITORES, DEEM AS CARAS PELO MENOS EM ALGUM CAPÍTULO POR AÍ... COMENTAR EM TODOS É UMA OPÇÃO SUA E IREI AMAR SE FIZER ISSO.

Eu gosto pelo menos que deixem no capítulo 1, caso forem comentar só uma vez, preciso ter ideia de quem pelo menos chegou até aqui e parou ou continuou.