Eram nove horas da noite quando eu e minha família estávamos voltando do aniversário da nossa tia, irmã de minha mãe. A festa foi monótona- como esperado - por isso passei todo o tempo jogando em meu vídeo game portátil. O jogo era sobre um caçador de bruxas que tem seus filhos sequestrados e procura-os durante toda história. Eu já havia encontrando-os e estava prestes a resgatá-los, entretanto meu irmão mais novo desligou o aparelho.
-Pai, o Dwayne tá me atrapalhando! – gritei completamente irritado
– Mentira! Ele só esta dizendo isso pra eu ficar de castigo. – respondeu Dwayne com sua melhor voz de inocente
-Cala a boca vocês, me deixem escutar minha música em paz! Qual é a dificuldade? É só ficar quieto! – Tyler, o irmão mais velho e o mais emburrado, pronunciou sua raiva, fazendo meu pai, que havia ignorado a discussão anteriormente, se intrometer
-Parem de brigar! Olha, quando eu tinha a idade de vocês era muito inteligente e fazia muita besteira! Mas sabe o que eu sempre fazia? Botava a culpa no meu irmão! Claro, está certíssimo, Dwayne!  – Disse o pai rindo enquanto olhava o filho mais novo pelo retrovisor
-Jason! – minha mãe segurou o riso – Muito bom você falar isso para eles, hein?  Meninos, isso é errado. Dwayne deixa seu irmão em paz.
Mesmo com a música alta que meu pai colocara ainda dava para escutar os pingos de chuva batendo no teto do carro. Cada vez as gotas caíam em maior quantidade e a pista ficava mais escorregadia no caminho.
Olhei para o lado esquerdo e vi meu irmão mais novo quase chorando, enquanto Tyler continuava tranquilo escutando sua música. Sem entender porque Dwayne derramava lágrimas, virei meu rosto para frente. No mesmo instante nosso carro passava por uma curva na estrada quando um relâmpago caiu do céu, assustando todos. Meu pai, instintivamente, tirou as mãos do volante para proteger os olhos da forte luz, perdendo o controle da direção. Senti o veículo girando, capotando e – como se não bastasse - batendo em algum lugar que não consegui ver. Logo em seguida, tive a percepção de que o automóvel estava caindo e, olhando pela janela, notei que despencávamos precipício a baixo.
Segundos depois o impacto da água batendo sobre a frente do carro pode ser sentido por todos no veículo, inclusive por meus irmãos, os quais nem precisei olhar para saber que entraram em pânico. Todo o automóvel estava imerso quando procurei meus pais que jaziam desacordados. Tentei puxar a maçaneta ao lado de Dwayne, o qual me fitava desesperado, mas foi em vão. Decidi sair pela janela aberta – da mesma porta que tentei abrir –, porém antes olhei para Tyler e o vi tentando se soltar do cinto de segurança. Tirei a correia negra do peitoral de meu irmão e o segurei p mais novo com meu braço esquerdo, saindo do carro. Estávamos subindo em direção à superfície quando senti o corpo de Dwayne pesado e percebi que ele estava quase desmaiado, me deixando acuado. Meu ar acabava e eu soltei o menino de meus braços, só me lembro do desespero para sair daquela imensidão azul.