Dilema Platônico escrita por Metal_Will


Capítulo 56
Capítulo 56 - Final




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    - Eu...gosto de você... - repete Miguel, dessa vez um pouco em voz baixa. A declaração foi ouvida por todos os presentes, quiçá até pela plateia do lado de fora que ainda estava se retirando. Ele realmente disse aquilo? Apesar de não ter sido a melhor forma de se dizer o que sente, ele disse.
    "Ele disse isso mesmo...", pensa Camila.
    "É isso aí! Uma hora você tinha que falar, Miguelito!", pensa Leandro, com um sorriso no rosto.
    "O que...o que foi que eu disse?", pensa Miguel, de certa forma já arrependido do que falou, "Idiota...falar uma coisa dessas assim, de repente. Agora já era!"
    - Miguel... - diz a ruivinha, com uma voz doce
    "Tsc...e agora?", pensa o pobre Miguel, já imaginando todo tipo de coisas que Danieli poderia falar.
    - Ah, Miguel! Eu também gosto muito de você! - diz ela, sorrindo, mas, obviamente, interpretando a fala do garoto de uma outra maneira.
    Todos se entreolham. Bem, Paula e Sandra já sabiam que a amiga era extremamente aérea para esse tipo de assunto. Camila se aproxima de Miguel, de braços cruzados e lançando um suspiro.
    - Acho que ela não entendeu, Miguel...
    - Hã? Não entendi? Como assim? - pergunta Danieli - Eu também gosto muito do Miguel. Somos amigos, não somos?
    - Tenta ser um pouco mais específico - diz a prima - É agora ou nunca
    - Dani...eu...
    - O que foi? Tem mais alguma coisa?
    - Quando eu disse que gosto de você..
    - Hmm?
    - Bem, eu quis dizer que gosto, gosto mesmo...mais do que como amigo! - ele diz, estranhamente conseguindo olhar nos olhos dela. Aparentemente a parte mais difícil já havia passado.
    Agora Danieli mudou claramente de expressão.
    - M-Mais do que como amigo? Como assim? Que brincadeira é essa?
    - Não..não é brincadeira..é sério..eu....eu...gosto mesmo de você
    - Gosta de mim? Espera...você tem certeza? Tudo bem que a gente fez um casal na peça, mas eram só os personagens e..
    - Não! Eu já te olhava bem antes de pensar em fazer essa peça
    - Sério? Mas...você nunca me falou nada
    - Eu...eu nunca cosnegui falar
    - Não conseguia? Como assim?
    Todos ouviam a conversa em silêncio, mas naquela altura Miguel sequer se importava com isso. Aquele instante parecia envolver apenas ele e Danieli. O rapaz, de certa forma, já previa como a garota iria corresponder, mas queria ao menos deixar clara toda a situação.
    - Bem, na verdade...eu não entendia exatamente o que estava sentindo. Eu gostava de você, mas ao mesmo tempo tinah certeza de que você nunca iria corresponder a alguém como eu. É que você é tão...bonita, inteligente e talentosa...eu te via como uma pessoa muito superior. Eu ficava feliz só de te ter por perto. Mas, depois que você contou que iria embora eu...eu não podia deixar você ir sem pelo menos falar isso
    - Puxa, eu..
    - Na verdade - ele diz, olhando para os lados, agora já fugindo mais do olhar da garota - Acho que deixar você ir embora sem saber disso seria o mesmo que mentir para você, Dani - ele volta a olhar para ela
    Danieli não conseguia encontrar palavras para responder. Mas Miguel continuava a falar.
    - Sendo ainda mais sincero...eu sequer tinha interesse em teatro antes de conhecer...eu só entrei nesse curso para tentar te agradar, Dani. Na verdade eu acho que nunca faria esse tipo de curso por mim mesmo.    
    - Puxa...então...você nunca gostou de teatro? - pergunta Dani, com um ar chateado.
    - Não! Não é isso! Eu...eu comecei a gostar das aulas. De verdade. Conforme o tempo foi passando, comecei a ver que era bem divertido. Ainda mais que todos os meus amigos também estavam lá. Eu até consegui fazer o papel principal. Você tem ideia do quanto isso foi difícil para mim?
    - É...é verdade..eu acompanhei todos os seus ensaios..eu sei o quanto você se esforçou
    - Sim. Mas...eu só consegui passar por isso porque você estava por perto. Porque...porque eu gosto muito de você e porque eu queria muito fazer um bom papel...algo que você tivesse orgulho!
    Ela sorri gentilmente e pega nas mãos do rapaz amigavelmente. Todos observavam a cena em silêncio e admirados. O que ela iria dizer?
    - É claro que eu tenho orgulho de você, Miguel! - ela diz, com uma voz terna e gentil - Eu vi o quanto você se esforçou e o quanto você ralou para fazer um bom papel. Mas também...eu sinto muito por ter feito você sofrer tanto assim...se eu conseguisse entender melhor as pessoas...poderia ter percebido antes os seus sentimentos
    - Não! Não! Não pense isso...de jeito nenhum! A culpa é toda minha, por ser covarde demais para não te contar isso antes...eu...eu tinha muito medo e...    - Medo? Acho que te entendo
    - Entende?
    - Você estava com medo do que eu iria falar...ou algo assim, não é?
    - Bem, eu...
    - É exatamente o que eu estou sentindo agora
    - Hã? Como assim?
    - Você não gostaria de estar no meu lugar agora, Miguel...você me colocou numa situação muito complicada
    - Complicada? Mas você...
    - Você deve ter sofrido muito para me contar isso...eu entendo...mas a minha situação é mais sofrida ainda
    - Isso...por que? - pergunta Miguel, embora já estivesse antecipando bem a resposta da garota. Era como tomar injeção: quando a enfermeira passa o algodão você já sabe o que vem em seguida!
    - Porque...infelizmente...eu não posso corresponder o que você sente, Miguel
    E a agulha da injeção entra no braço. Miguel ouve isso, mas, embora se esforçasse absurdamente para segurar as próprias lágrimas, seu olhar parecia bem choroso e sofrido...mas, de certa forma, parecia aliviado.
    - Não...não mesmo
    - Eu repito: eu gosto de você. Gosto muito mesmo. Mas não consigo me imaginar namorando você
    - Bem, eu não sou lá muito atraente mesmo
    - Não é isso! Muitas meninas adorariam ter você ao lado
    "Putz...não força a barra, vai...", pensa Paula, bem quietinha no seu canto.
    - Mas a gente passou tanto tempo junto e você...você se tornou como um irmão para mim! Eu te vejo como o meu irmão mais velho!
    - Aquele que faz gastronomia?
    - É...pena que ele não pode vir hoje. Você iria adorar conhecê-lo
    - Entendo
    - Mas...então...eu...eu não consigo te enxergar como um namorado.
    - Eu já imaginava. Na verdade...eu também sentiria dificuldade em te ter como namorada
    - Hã? Como assim?
    - Eu gosto de você..mas você me parecia tão superior que não conseguia me imaginar te abraçando ou te beijando. Você era como...como uma deusa para mim!
    "Não. Você não falou isso, Miguel! Aí já tá forçando demais!", pensa Camila, desviando o olhar da cena.
    - Que foi, amor? - repara Toni    
    - Nada, nada - ela responde
    Danieli se espanta com aquela declaração, mas responde novamente de forma terna
    - Imagina. Eu tenho mais defeitos que todo mundo aqui. Você é que devia se valorizar mais
    - Eu? Mas eu..
    - Você sim! - diz ela, pegando nas mãos dele de novo - Eu já te disse que você é uma pessoa maravilhosa! Será que só você não percebe isso?
    Miguel ainda estava sem palavras e segurando as próprias lágrimas
    - Eu...eu sinto muito
    - Não precisa falar nada! Eu sou a única pessoa aqui que precisa te pedir desculpas....por não poder te corresponder, mas...mas você ainda é tão novo, vai se apaixonar tantar vezes e..
    - Não acho - interrompe Miguel - Não acho que vá me apaixonar por outra pessoa igual a você, Dani
    - Você diz isso agora...daqui há dez anos você não vai nem lembrar que eu existo
    - Não! Não diz isso! A gente...a gente ainda vai manter contato, não vai?
    - É verdade...semestre que vem eu não estarei mais aqui
    - Você vai mesmo viajar, né Dani? - pergunta Camila, achando que já era possível entrar na conversa
    - Bem. Eu não posso recusar uma oportunidade dessas. O meu sonho é ser atriz, né? Por mais que eu vá sentir falta de todos vocês...eu não posso recusar
    - Eu também não acharia certo você recusar - diz Miguel - Eu...eu não disse isso esperando que você me aceitasse e desistisse de tudo só pra ficar comigo...a vida não é como esses filmes de sessão da tarde. Mas...eu não podia deixar você ir embora sem contar a verdade
    - Eu entendo. Você é uma das pessoas mais corajosas que eu conheço, Miguel
    - Hã? Eu? Mas..
    - Se eu estivesse no seu lugar...acho que não iria ter essa iniciativa de falar essas coisas assim, na lata. Por mais que você tenha escondido isso por tanto tempo você acabou falando. Isso é mesmo admirável!
    "Se ela soubesse a história toda não ia elogiar tanto...", pensa Camila
    - Bem...mas era isso...mesmo você sabendo o que eu sinto...ainda podemos ser amigos, não podemos?
    - É claro! - diz Dani, também tendo trabalho para conter a emoção - Vai...me dá um abraço logo!
    Os dois amigos se abraçam. Dessa vez, Miguel não pode segurar mais as lágrimas. Tudo bem. Todo mundo estava olhando, mas e daí? Eles já ouviram a conversa toda mesmo.
    - Ah, cara... - diz Leandro - Isso foi bonito
    - Chora logo, seu emo! - diz Sandra, dando um tapinha de leve no braço do namorado - É uma moça mesmo...
    - Ei, você que é insensível! - ele responde, também chorando - Miguelito, você sabe que a gente tá sempre com você!
    - Pena que ela não correspondeu, não é? - comenta Toni - Eles seriam um casal legal
    - Pena, é? - responde a loirinha, encostada no peito do namorado - É o que você pensa...para o Miguel já foi uma vitória
    - Você acha?
    - Era como se ele estivesse andando por uma estrada cheia de neblina...e essa neblina se dissipasse agora.
    - Digamos que...ele saiu da caverna - comenta o professor
    - Professor? É verdade..o senhor também sabia dessa história
    - Platão dizia que o amor platônico é amar além do corpóreo...mas será que amar alguém de forma tão secreta também não é uma forma de alienação?
    - Hã?
    - É verdade. Acho que Miguel abandonou a caverna para conhecer a verdade do mundo lá fora. Existe uma boa recompensa quando se sai das próprias amarras
    - Beleza, professor. Acho que a gente já entendeu
    - Puxa...mas é um ponto importante para se refletir
    - Acho que o Miguel não está em muitas condições de refletir agora, professor - comenta Camila - Mesmo assim, aposto que ele está muito aliviado.
    - Acho que a Dani se deu bem nessa
    - Paula? - comenta Sandra - Por que tá dizendo isso?
    - Se eles namorassem não teriam futuro nenhum. Vocês não ouviram ele dizer que não tinha nenhum interesse em teatro?
    - Eu não concordo com você, Paulinha - diz Mateus, que estava ali, também assistindo a toda a cena
    - Hã? Você?
    - Acho que as pessoas são muito mais do que os gostos e opiniões. Como você pode ter tanta certeza de que não daria certo? Não acha que eles poderiam gostar um do outro mesmo com tantas diferenças?
    - Talvez sim, talvez não...bem, como eu disse, quem sou eu para dizer do coração dos outros? Apesar disso...qualquer um de vocês deve ter mais chance de arranjar alguém do que eu
    - Paula... - diz Sandra, meio chateada ao ouvir a declaração da amiga - Tudo bem com você?
    - Perfeitamente bem. Só...estava pensando alto umas coisas e...
    Nisso, Mateus pega uma das mãos da garota
    - Espera, Paula. Eu também não concordo com isso que você disse...
    - Hã?
    - Se você se acalmar e abrir seu coração...com certeza vai achar alguém que goste de você de verdade
    - Hã? - ela diz, meio corada
    - Né? - diz o garoto, sorrindo e também meio vermelho
    - Bom...quem sabe...
    Miguel e Danieli tinham se abraçado e chorado o suficiente. Danieli sorri.
    - Sabe, Miguel. Fiquei muito feliz de tê-lo conhecido.
    - Eu...eu também - ele responde, timidamente.
    - Mas chega de choradeira! - diz o professor Platão, batendo palmas - Rodízio de pizza para todo mundo em comemoração ao sucesso da peça!
    Todos comemoram. Uma noite de comemoração era o que todo mundo estava precisando.
    - Ah! Pode apostar que eu vou aproveitar bem! - comenta Dani - Já ouvi falar que a pizza da Itália é horrível
    - Hahuaha. Pois é
    Ao que parecia, tudo terminou da melhor maneira possível. Dani enviou sua resposta de confirmação para o concurso, indo para a Itália no meio das férias. Todos se despediram dela no aeroporto e ela fez Miguel prometer que iria ser mais confiante dali para frente. Leandro e Sandra continuaram namorando firme. Camila e Toni também, já que Camila superou de vez todos os seus traumas. Professor Platão continuou dando aulas de filosofia e teatro. Já Paula...bem, ela foi vista saindo com Mateus algumas vezes. Miguel simplesmente continuava sua vida tranquilamente, mesmo encalhado como sempre.
    - Ai, ai. Ficou na Internet até tarde ontem de novo, não é? - repara Camila, enquanto Miguel bocejava no caminho para a escola.
    - Estava ajudando numa missão difícil. Tava impossível de parar
    - Sei. Certas coisas nunca mudam
    - Mudam sim. Você não quis continuar na turma de teatro desse semestre, não é?
    - Ah. É que arranjei mais tempo para os treinos de handebol. Espantada fiquei eu de você querer continuar
    - E não só eu, não é?
    - É. Também não acredito que o Toni quis continuar. Depois que ele admitiu para todo mundo que adorava teatro, não quis mais largar
    - É como eu disse...as coisas mudam, sim. Se eu seguir com essas aulas posso até virar um ator de verdade. Ouvi dizer que atores profissionais podem ser dubladores. Já imaginou que legal você assistir um filme com a minha voz
    - Mas todo mundo detesta filme dublado, Miguel
    - Ah...mas e desenhos? Muitos personagens animados possuem a voz como característica marcante
    - Ai, ai. Você não tá querendo ser ator profissional só por causa da...ah, você sabe
    - Não, não. Dessa vez, estou fazendo o que eu quero mesmo. Além disso...ela é só minha amiga, não é?
    - É verdade...mas ainda bem que você falou isso antes dela viajar. Imagina ela na Itália, com todos aqueles italianos fan-tás-ti-cos...e você aqui, chupando o dedo
    - Bah...não vou nem comentar isso
    - Hahahua! Não fica nervoso
    Nisso, uma garota de óculos, cabelos castanhos compridos e corpo curvilíneo passa pelos dois primos.
    - Oi, Camila! E aí? - diz ela, correndo
    - Opa. Tá apressada, heim?
    - Preciso arrumar umas coisas antes da aula começar! Mas eu apareço no treino hoje, viu?
    Miguel fica algum tempo calado, diante da visão daquela moça. Isso até Camila tirá-lo do transe
    - Ei...o que foi? - diz ela, estalando os dedos
    - N-Nada...aquela menina...treina handebol com você?
    - Pois é. É a Aninha. Aluna do primeiro ano - diz Camila, enquanto terminava de acenar para a amiga.
    - Hmmm
    - Por que?
    - Nada...
    - Nada, é? Nada? - diz a prima, sorrindo e fazendo cócegas na barriga dele
    - Para com isso! Já falei que detesto quando você faz isso!
    - Olha lá, heim? Dessa vez eu não vou te ajudar, não!
    - Nada a ver...eu só perguntei...ah, lembrei que também preciso chegar rápido para terminar uma lição
    - Lição? Você nunca faz a lição! Ah, Miguelito, volta aqui!
    Seja como for, a vida de Miguel continuava seguindo normalmente...esperamos que ele encontre uma pessoa que realmente o ame. Mas, até lá, ele ainda passará por muitos dilemas.


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