Fernanda:

Acabara de chegar de uma festa, tarde da noite, mas não estava com sono. Então eu liguei o PC, pra ver se tinha mais alguém sofrendo de insônia com quem eu pudesse conversar. Subiu um quadradinho no canto da tela avisando que eu tinha uma nova mensagem de e-mail... da Giovanna.

Giovanna é alemã. Veio pro Brasil em intercâmbio uns dois anos atrás e voltou pra Alemanha no mês passado. Ela foi a primeira amiga que eu tive na escola, eu também era nova no recinto; nunca falei uma vírgula de outro idioma que não o português, então pacientemente ajudava a Giovanna a se comunicar enquanto ela ainda não falava a língua local. A danada aprendeu rápido, mas em compensação ela não me ensinou uma única frase em alemão, fora "nein", que ela fala toda hora.

Enfim. É aquela pessoa fechada, que não fala nada da própria vida pra ninguém (e olha que ela tem cara de que guarda "a" história, sabe? Algo que nem eu, que tenho a imaginação mais fértil da cidade, poderia pensar). Foi exatamente por isso que me espantei quando vi na mensagem alguns anexos que estariam guardados em pastas zipadas. Pensei que tivesse mandado os arquivos por engano, porque tudo estava escrito em alemão; mas como já tinha concluído o download quando notei isso, não resisti à curiosidade e colei tudo num tradutor.

Coisa de gente trouxa escrever diário no bloquinho de notas, era o que pareciam as anotações da Gih. Aliás, não eram só anotações: anexados à mesma mensagem, haviam outros e-mails salvos dela, trocados com outra pessoa desde um pouco antes de ela vir estudar aqui no Brasil.

O que continham os documentos? Bom, primeiramente, a confirmação de que ela esconde, sim, uma história surpreendente. Não devia, mas continuo lendo. E salvando tudo, claro, vai que ela mandou por engano mesmo, apagou e possa querer de volta?