Silent Town escrita por Jhay


Capítulo 18
Capítulo 18


Notas iniciais do capítulo

Hohoho... Demorou, mas chegou. E esse é o final de Silent Town u.u Não sei se foi um final que vocês estavam esperando e tal... Mas foi oq eu achei pela minha mente aqui. Espero que vocês tenham gostado.



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10 de julho de 2012. 13h00min

– James, puta merda! O que você fez?! - repetiu pasma.
   – Hã? Não. Não fui eu. Eu não fiz uma coisa dessas. Porra Alyce, eu nem sai de perto de vocês, como ia fazer uma coisa dessas? - disse indignado.
   – Não sei! - gritou.
 Na árvore que James havia apontado estava um cadáver. Era uma mulher, por volta dos seus 30 anos, cabelos negros curtos, olhos costurados, boca escancarada de terror. Suas roupas haviam sido jogadas em algum lugar, pois ela estava com somente calcinha e sutiã, ambos em um estado deplorável. A mulher não tinha mais a perna direta, nem o antebraço esquerdo, assim como os dedos da outra mão. Pedaços aleatórios do corpo estavam com feridas e mordidas necrosadas. Era horrível.
   – Lembra-se daquele grito? O de quando estávamos na casa?
   – É, lembro - ela maneou a cabeça.
   – Então, acho que o grito saiu dela. Ou então de quem fez isso com ela. A casa é bem aqui perto, então a gente ouviu.
   – Hm... - ela não sabia mais o que dizer.
   – Enfim... Eu sei onde Lucy está.
   – Sabe? - ela arregalou os olhos para ele - Onde? Fala logo!
   – Isso eu não vou dizer - seu sorriso misturado com as sombras o fez parecer macabro.
   – O que aconteceu com você? Você não é o James que eu conheço - franziu a testa.
   – Alyce! - alguém gritou ao longe - Alyce!
 Parecia a voz de Leon e de Kaio. Mas ela não soube o porquê de eles a chamarem. De repente viu James se aproximando rápido.
   – O que você vai fazer?
   – Ah, cale a boca, sua puta! - sua voz foi misturada com uma que não era de James.
 Alyce se assustou com aquilo. Não era James, mas ao mesmo tempo era. Era como se algo ou alguém estivesse atrás dele falando junto com ele.
   – James?... - a sensação de pânico estava voltando aos poucos.
 Ele estava com os olhos vermelhos e o rosto estava com uma expressão maldosa. Ele se aproximou dela e colocou as mãos em seus ombros. Alyce não conseguia se mover. Ele a empurrou e ela se desequilibrou, caindo direto no lago e levando James junto.

 Seu corpo afundava e as bolhas surgiam cada vez mais. James estava logo a sua frente, olhando em seus olhos com um ar distante. O tempo ali parecia não existir mais. Eram só os dois, flutuando em um fluido, imersos em um silêncio indiferente. Era James e algo mais. Quem era aquele algo mais? Será que James tinha sido possuído? Alyce tinha visto filmes e histórias sobre possessões, mas nunca tinha achado ser verdade. Se bem que há algumas horas não acreditava em monstros demoníacos e fantasmas... Estava assustada. Seu medo parecia ser tanto que não conseguia sentir nada. Parecia vazia, com uma agonia indescritível. O que vou fazer? O que devo fazer?!, gritava consigo mesma. Não sabia como prosseguir. Não podia simplesmente matar seu melhor amigo.
   – E se ele não for seu melhor amigo? Já parou pra pensar que seu amigo pode estar morto? - uma voz sibilava em sua mente.
 Aquela voz... A voz de sempre. A voz que ninguém poderia descobrir, pois se descobrissem iriam mandá-la para algum lugar estranho. Aquela voz... A voz de todos e de ninguém, de vários lugares e de nenhum deles. A voz sem gênero definido. Conversava com ela. Dava dicas. Alertava. Parecia fazer o papel de sua consciência. Talvez você seja minha consciência, e talvez todo mundo também tenha uma voz assim. Eu não sou louca, sou?, pensou.
 Os olhos do suposto James pareciam sem vida e sombrios. Sentiu algo envolver seu pescoço e soube que era as mãos assassinas de seu amigo, levando-a cada vez mais para o fundo do lago. Não queria morrer. Não podia morrer depois de tudo. Tinha que lutar. Tinha que ignorar a dor latejante do antebraço mordido e das feridas que nem sabia que tinha. Sentia seus pulmões prestes a protestarem por oxigênio. Aguentem mais um pouco, por favor, implorou para si mesma.
 Não sabia se daria certo e nem se sua força era o bastante, mas tinha que lutar. Pelo menos não morreria sem tentar salvar a própria pele. Sua vontade de viver e rever as pessoas que amava era grande. Grande o bastante para fazê-la ter coragem para fazer o que fez.
 Enfiou o dedo indicador e o do meio nos olhos de James. Ele recuou e retirou as mãos de seu pescoço. Livre, Alyce tentou nadar até a superfície. A parte clara no topo estava ficando próxima. Seus pulmões já começavam a querer gritar. Finalmente sua cabeça emergiu das águas gélidas e pôde fornecer o que seu corpo tanto ansiava em receber. Uma mão agarrou seu tornozelo e a puxou para baixo novamente. Engoliu bastante água, e não conseguiu adquirir fôlego suficiente. Começava a ficar desesperada. Debatia as pernas e os braços para tentar escapar. Sentiu seu pé batendo em algo, provavelmente a cabeça de James, e a mão que antes segurava seu tornozelo agora se perdia em meio à escuridão do lago. Alyce não tinha mais ar. Sua mente começava a ficar negra. Pontos escuros se formavam em sua visão. Não conseguia mais pensar com clareza. Decidiu que não podia fazer mais nada. Deveria se entregar? Achou melhor sim. Antes que a escuridão a dominasse viu uma forma vindo em sua direção esticando a mão e pegando em seu pulso.

-–––––––––––––––––––––

 Alyce não fazia ideia da onde estava. Parecia flutuar em um espaço-tempo inexistente. Podia sentir a presença de alguma outra coisa e olhos a observando em algum lugar. Não queria voltar. Era assustador demais, irreal. Mas deveria voltar, não deveria? Alguém estava esperando por ela. Não sabia se esse alguém era bom ou mau. Tinha que abrir os olhos. Fazer um pouco de força para se levantar e continuar.
 Abriu os olhos vagarosamente. Por mais que a luz ali não fosse muita, feriu-lhe os olhos, fazendo-a piscar algumas vezes. Dois rostos desfocados estavam em seu campo de visão.
   – Ei! Alyce, você está bem? - Uma das cabeças perguntou.
   – Acho que sim - sua cabeça doía, assim como seu corpo.
   – Ah, que alívio saber disso! - era uma voz feminina que não vinha de nenhum dos dois rostos.
   – Lucy?! - Alyce se sentou.
   – Quem mais poderia ser? - perguntou com ironia enquanto dava um abraço em Alyce.
   – Não acredito... Como... Onde você estava?
   – Eu me perdi. Vi uma coisa estranha acontecendo, parecia um redemoinho negro, sei lá. Aí fui ver o que era, imaginei que vocês poderiam estar por lá... Encontrei Leon e Kaio juntos. Contaram-me tudo que aconteceu. Cara... Nem consigo acreditar direito nisso tudo. É tudo tão surreal - seu olho estava arregalado.
   – Eu sei... - Alyce sorriu.
 Então o time estava completo. Todos reunidos mais uma vez. A não ser por James. James...
   – O que diabos aconteceu com James? - perguntou olhando para o rosto de cada um.
   – Não parecia ser ele... Parece que ele foi possuído, ou algo assim - respondeu Leon.
   – É... Vimos quando ele atacou você e te levou para o lago. Ficamos desesperados com aquilo! - disse Kaio - Vimos você surgindo e até ficamos aliviados, até que você foi puxada lá pra baixo mais uma vez. Então eu mergulhei e trouxe você pra superfície.
 Agora que Alyce tinha percebido, Kaio estava com as roupas encharcadas e o cabelo molhado e bagunçado. Leon a ajudou a ficar de pé. Tudo doía muito, principalmente seu antebraço, onde havia uma mordida.
   – Vamos embora antes que aconteça mais alguma coisa estranha por aqui - disse Kaio.
 Eles começaram a andar, mas Alyce percebeu que sua irmã continuava no mesmo lugar.
   – Lucy... O que foi? - perguntou.
 Lucy abriu a boca tentando dizer algo, mas sua voz não saia. Sua expressão era de puro medo e surpresa.
   – Lucy...
   – Eu amo vocês - conseguiu sussurrar.
 Sangue começava a aparecer no meio da barriga da garota. Ninguém estava entendo o que estava acontecendo. De repente Lucy foi puxada para trás com brutalidade e levada para dentro do lago. Leon correu o máximo que pode e pulou para tentar salvá-la.
   – Lucy! Leon! - Alyce gritava enquanto se colocava de joelhos na borda do lago para tentar enxergar algo.
 Via bolhas no lugar onde Leon pulara, mas nenhum outro sinal deles.Tudo estava quieto. Um silêncio desesperador e incomodo. Lágrimas começaram a se misturar com a água doce. Sua respiração estava mais rápida. Era difícil manter o controle. Conseguiu ver uma forma disforme se aproximando da superfície. Leon apareceu sem fôlego.
   – Lucy! Lucy! – ele gritava e olhava por todos os lados desesperado.
   – Leon! Volta pra cá agora! – gritou Alyce.
   – Cadê ela? Quando eu mergulhei ela tinha sumido... – ele disse.
   – Ela se foi Leon... Ela se foi... – sua voz estava falhando.
 Não conseguia mais. Já bastava. Tudo aquilo podia acabar. Sim, podia. Colocou as mãos na cabeça. Tudo rodava. Tudo passava em sua mente como pedaços desconexos. Eles chegando na cidade. As placas de cuidado. A casa velha. O grito. Leon sendo levado. O rosto da mulher. A caixa. O sótão. O garoto, Mathews. Os monstros. Três pessoas. O grupo se desfazendo. Ela sozinha. Mais monstros. Fantasmas. O centro. A mensagem. Amigos despedaçados. Pessoas desaparecidas. Kaio, não Kaio. Leon de volta. O monstro enorme. A chave. A caixa. O demônio. James. Rostos disformes.
 Alyce olhou para cima. O céu ainda estava nublado. Um cinza escuro melancólico e deprimente. Um grupo de pássaros em forma de v passava por ali grasnindo. Tudo agora estava em silencio. A mente de Alyce iria explodir. Era isso. Explodiria sem aviso prévio. Gritou com todas as forças que tinha e curvou-se. O grito ecoava por todo lado. Ninguém para escutar. Ninguém para se importar.
 De repente veio um pensamento em sua mente: Lucy pegando em sua mão. As duas em uma praia, viradas para o pôr-do-sol. Lucy chorava, mas ela não entendia o porque. Era só uma criança, com seus oito anos. "Por que você está chorando?", "Papai e mamãe não poderão mais vir", "Por que?", "Alyce, eles estão mortos".
 E com esse pensamento - a irmã chorando e olhando para o pôr-do-sol - ela apagou.

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 Por que estou aqui? Por que está tão gelado? O que aconteceu?

 Uma luz forte dominou todo o cenário preto. A luz se transformou em uma imagem. Lá estavam todos, Kaio, Leon, Lucy e James, todos reunidos em uma rodinha  numa sala de estar caindo aos pedaços de tão velha. "Venha logo Alyce! James vai contar a história" dizia Leon animado. "Isso não é real", ela dizia, "Nada disso é real. Vocês se foram. Todos se foram". E a imagem se foi, dando lugar ao vazio de lugar algum.

 Por que estou aqui? Meu corpo está congelando. Me tire daqui. Alguém? O que está acontecendo? Você está me ouvindo? Ei!

   – Será que ela tá bem? - Alyce ouvia, mas não sabia de onde vinha - Você viu, os olhos dela tremeram!
   – É, eu vi, mas não sei se isso é alguma coisa... - outra voz dizia.
   – Claro que é. Quer dizer que ela está viva!

Ei! Vocês! Poderiam me ajudar? Não consigo me levantar. O que está acontecendo comigo? Meus olhos pesam, minha voz não sai, meus dedos não se mexem, meu corpo está paralisado. Podem me explicar? Podem me acordar?

   – Ela já está ai faz um tempo, claro que um tremer de olhos tem significado. Pelo menos sabemos que em algum momento ela vai acordar.
   – Mas quando?
   – Isso ninguém pode dizer. Mas vamos ter esperanças, certo?
   – Temos outra alternativa?
   – Infelizmente não.

Do que vocês estão falando? Já faz um tempo? Então quer dizer que eu estou dormindo? Dormindo a quanto tempo? Vocês poderiam dizer? Ei! Estão me ouvindo? Acho que não. Mas... Se tiverem, poderiam parar de conversar e me ajudar a sair daqui?! Por favor! Eu estou presa comigo mesma. Presa em minha própria mente. Não posso falar. Não posso me mexer. Não posso fazer nada, só conversar comigo mesma, e implorar meu despertar para ninguém especifico. Olá! Alguém! Vocês dois aí fora! poderiam me tirar daqui?

   – O que você acha que vai acontecer com ela quando acordar? Quero dizer, o que será que ela vai pensar? Será que vai se lembrar da gente?

 Me lembrar de vocês? Eu os conheço? Bem, se conheço, então vocês sabem meu nome, certo? Se sabem, então poderiam me dizer? Poderiam dizer quem eu sou, como me chamo e o que aconteceu comigo? Pois eu não sei de nada. Só sei que estou aqui, flutuando em lugar nenhum, em um escuro desconfortável, ouvindo todos ao meu redor, mas não podendo abrir os olhos e nem me mexer. Estou em coma? Como sei dessas coisas? Como sei o que é coma se eu não sei nem mesmo quem sou? Está muito confuso. Sei de coisas que eu não sei como sei. Sinto frio, sinto sede, sinto o vento, sinto um pedaço do meu corpo em contato com algo quente e reconfortante, sinto água. Gotinhas de água aleatórias caindo em meu rosto. Não pode ser chuva, porque as gotas são poucas. Sinto essa água em meus lábios. Tem gosto de sal e açúcar. Isso tem um nome, não tem? Isso se chama lágrimas. Lágrimas! Alguém está chorando por mim?! Ei! Ei você que está chorando por mim! Me acorde! Sacuda meu corpo para que eu me desperte. Me tire dessa agonia sem fim! Por favor! Não está me escutando, está?

   – Você não pode ficar ai para sempre, Kaio - essa era uma voz feminina
   – Se for preciso ficar aqui para sempre eu ficarei. Que se dane tudo! É ela quem eu amo! É com ela que eu quero passar o resto da minha vida, mesmo que seja aqui desse hospital idiota! - a voz estava próxima e embargada.
   – Não posso forças você a ir embora aqui, mas eu estou pedindo. Saia um pouco. Viva um pouco pelo menos!
   – Não perca seu tempo falando essas coisas. Economize suas palavras.

Kaio... Então esse é o seu nome. Ei! Kaio, você me ama? Me perdoe, mas não sei quem você é. Mas se você me acordar, quem sabe eu lembre, hein? Quem sabe se eu acordar eu lembre quem eu sou e o porque de estar aqui? Então, o que está esperando? Me acorde, caramba! Hãn? Que luz é essa? O que está acontecendo?
   – Olá Alyce - era um garoto branco de cabelos e olhos negros
   – Quem é você? - estou confusa.
   – Não se lembra de mim?
   – Não me lembro nem de quem eu sou, mas... Deveria lembrar de você?
   – Sou Mathews... Ah meu Deus! Você perdeu a memória!
   – É, acho que sim. Não me lembro de nada. Só sei que estava em um lugar escuro e desconfortável.
   – Bem... Acho que quando acordar você se lembrará de tudo.
   – Ah, então você vai me fazer acordar.
   – Vou.
   – Ótimo! Agora vou poder me lembrar de tudo.
   – Não fique tão animada assim. Suas memórias não são tão boas assim.
   – Mesmo?
   – É.
   – O que foi que aconteceu?
   – Você se lembrará. Agora você tem ir.
 Volte! Hã? Onde estou? Escuro novamente? Mas ele disse que eu iria acordar... Ele mentiu para mim!
Tente abrir os olhos, sua tonta!, que voz é essa? Ei, você não é minha própria voz! Ei! Abrir os olhos? Mas eu já tentei... Tentei outra vez!

 Alyce abriu os olhos. A luz artificial fazia sua cabeça doer. Agora conseguia sentir seu corpo. Sentia uma mão apertando a sua. Olhou em volta. Estava deitada em uma cama de lençóis brancos em um quarto pequeno de paredes branco gelo. Seu corpo estava vestido somente com aquelas roupas de hospital e vários fios estavam pendurados em volta do corpo. Uma mangueira estava conectada em sua pulso por uma agulha. Ao seu lado, sentado em uma cadeira desconfortável, estava um garoto ruivo com óculos desajeitados. Estava dormindo em uma posição não muito agradável, com a cabeça pendendo perto do peito. Alyce abriu um enorme sorriso e apertou a mão em sua mão.
   – Kaio! - gritou e percebeu que a boca estava seca como um deserto.
 O garoto acordou em um susto, olhando Alyce com os olhos negros arregalados. Sua boca abria e fechava, como se estive ensaiando antes de dizer algo.
   – Alyce - ele sussurrou - Você está acordada mesmo?
   – É, estou. Poderia me dar água - lutava para conseguir falar. A língua caia pesadamente na boca.
   – Ah, claro! - ele pegou um copo vazio de uma bandeja ao lado da cama e a encheu com água que estava em uma jarra de alumínio - Aqui.
 Alyce bebeu a água ferozmente. O que não foi muito inteligente, pois sentiu como a água se rebelava ao bater nas paredes do estômago vazio. Engoliu para evitar que a água voltasse com tudo.
   – Nossa, vai com calma - ele disse sorrindo - Nem acredito que você está acordada!
   – Quando tempo fiquei dormindo? - franziu o cenho.
   – Acho que seis meses, ou mais. Perdi a noção do tempo.
   – Você ficou esse tempo todo aqui?
   – Sim - disse acanhado - Não consegui sair. Quer dizer... Você podia acordar a qualquer momento... Não podia deixar você sozinha. Só sai algumas vezes pra buscar roupas novas, mas Leon ficou por aqui, caso você acordasse.
   – Leon?! Ele está bem?
   – Está. Assim como eu, ele não queria sair daqui, mas sabe como é né... Ele tinha que trabalhar e tal.
   – E Lucy?
   – Você não se lembra? - seu olhar ficou triste.
   – Deveria me lembrar de algo?
   – Ela... Naquele dia, em Silent Town... Você se lembra daquele dia?
   – É, eu me lembro sim. A gente foi até lá, eu, você, Leon, Lucy e James. Fomos até lá para ver aquela casa... Ai o James contou uma história de arrepiar e tal. Mas... Não aconteceu nada demais...
   – Ah meu Deus... Você não se lembra?! - ele arregalou os olhos.
   – Do que eu deveria me lembrar Kaio? - ela perguntou desconfiada.
   – Alyce... Lucy... Lucy morreu.
   – O que? - aquelas palavras atingiram-na com força - O que você está dizendo? Não! Lucy não morreu!
   – Alyce...
   – Kaio, não! Você não pode ficar brincando com esses coisas. Lucy não morreu! - ela gritava e começou a esmurrá-lo.
   – Ela morreu Alyce! - ele segurou suas mãos e a abraçou com força, sem se importar com os fios.
   – Não! Não! Não! - ela foi abaixando a voz até começar a chorar desesperadamente - Como? Por que?
   – Ela... - Kaio chorava também - Alguma coisa atingiu ela quando a gente estava no lago. Ela caiu lá dentro e sumiu. Leon tentou mergulhar para encontrá-la, mas não achou. Simplesmente sumiu.
   – Não!

 Alyce não se lembrava daquilo. E também não se lembrava de nada que Kaio tentava explicar para ela. Ele falava de monstros e fantasmas e de um redemoinho que era um demônio. Dizia que tinham mais três pessoas, e que essas três pessoas morram, devoradas pelos monstros. Disse que Alyce abrira uma caixa e liberara um demônio, que levou todos os monstros e fantasmas da cidade assombrada. Mas o demônio possuiu James, que tentou atacá-la e matá-la. Depois Lucy apareceu e morreu. Alyce desmaiou e só acordou depois de seis meses e meio.
 Aquilo tudo era loucura. Achou que Kaio havia pirado, mas Leon também falava sobre isso e afirmava que aquilo era realmente verdade. Não conseguia acreditar. Era surreal demais. E se tivesse acontecido, por que raios ela não se lembrava de nada?
 
 Agora estava em seu quarto, sentada em sua cama e olhando através da janela, pensando em nada e em tudo. Tentando vasculhar em sua mente sobre Silent Town, mas não conseguia encontrar nada além de fragmentos que não faziam sentido. Saiu da cama e pegou seu casaco. Lá fora fazia frio. Um papel caiu do bolso do casaco. Mais especificamente uma carta. Alyce abriu o envelope e leu seu conteúdo.

Querida Alyce,
 Você se lembra de mim? Meu nome é Mathews. Bem... Não tenho certeza se você se lembra de tudo o que aconteceu. Mas por via das dúvidas...

 Bem, Silent Town é uma cidade que foi amaldiçoada, Um demônio chamado Regnatimalus foi solto e trouxe para a cidade monstros demoníacos, e quando foi selado em uma caixa, os monstros e os fantasmas das pessoas da cidade ficaram presos nela. Você e seus amigos chegaram aqui e tiveram que tirar a maldição para que todos vivessem em paz. Te agradeço por isso. Mas... Você deve lembrar, não deve? Se você não se lembra mais então eu vou te ajudar. No envelope dessa carta tem uma chave. Pegue-a. Quando pegá-la você vai se lembrar.


Cuidado, as lembranças podem trazer dor de cabeça. E podem fazer você sofrer.
 É só isso mesmo. Desejo sorte para você e seus amigos.


De seu querido amigo fantasma,
Mathews


 Alyce olhou para o envelope na cama. Tinha um volume nele. Deveria pegar aquela chave? Deveria trazer de volta todas aquelas lembranças? Não pensou em mais nada. Tirou a chave do envelope e a rodou entre os dedos.
 De repente tudo veio a mente. Aquele único dia que mudou toda a sua vida. Passou como um filme. Toda a história. Todos os monstros, demônios, fantasmas e mortes. Agora ela sabia. Sabia como James e Lucy morreram. Sabia o porque de Kaio sempre estar confuso e distante. Agora entendia. Sabia que tudo era muito impossível, mas aconteceu. Era verídico.


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Notas finais do capítulo

Bem, eu espero os comentários de vocês né...
Então... A gente se encontra em outra ocasião, ou melhor, em outra história :D



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