Mágica Nerfal escrita por Robert Julliander


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

ATT: Capítulo editado em 28/01/2024. Nada na história mudou, apenas corrigindo erros e "amadurecendo" a escrita.



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Eu e a Dani pegamos nossas bandejas, quando ela começou com suas broncas rotineiras. 

— Você está louco? — Olhei pra ela com olhos arregalados, enquanto ela continuava me dando a bronca — Você nem sabe do que ele é capaz e ficou lá encarando ele como se fosse um brinco estranho numa loja de luxo! — É o jeito dela de dizer que encarar estranhos pode ser perigoso e ela não havia parado de me dar o sermão do século — Sei lá Rick. Vai que o cara seja uma daquelas pessoas que são envolvidas com tráfico de drogas? Ou um maníaco, ai meu Deus, um maníaco que decapita as pessoas que encaram ele em seu primeiro dia de aula? Já pensou? 

 Atrapalhei o exagero dela sorrindo. 

— Vai com calma D., nem fiquei encarando tanto assim e... — Enrolei um pouco antes de me explicar mais. — Eu simplesmente acho que maníacos em salas de aula são coisas de filmes de terror. — Ela só levantou o queixo e fez um olhar de desprezo enquanto pegava algumas folhas de alface e colocava na bandeja, continuei — E não vai voltar a acontecer ok? Acho que, sei lá, estava curioso. Admita, ele é uma figura bem diferente do que estamos acostumados a ver. E...  

Acabei sendo interrompido pela curiosidade do Ruan, que já chegou perguntando e roubando minha maçã que eu demorei tanto pra escolher. Grrr... Sim, eu rosnei mentalmente. 

— Quem é uma figura bem diferente que vocês não estão acostumados a ver? 

Eu já iria puxar minha maçã da mão dele, mas ele já tinha acabado com metade dela com apenas uma mordida. 

— O garoto novo e esquisiestranho, que o Erick ficou encarando. — Dani respondeu sarcasticamente olhando pra mim num tom de "nunca mais faça isso". 

— How! Tu é gay maninho? — Ele perguntou sacudindo minha maçã com a mão. 

— Não cara, me deixa em paz. — Respondo franzindo a testa encarando a maçã pela metade. 

— Há saquei. — Ruan só disse isso e foi para mesa dos jogadores de futebol e pior “que raiva”, com minha maçã na boca. 

— Rick eu vou ter uma reunião com as meninas hoje depois das aulas ok? — As meninas eram as líderes de torcida, isso significava que ela não iria pra casa comigo hoje, balancei a cabeça concordando e fomos para uma mesa no meio do refeitório. Não demorou muito tempo até aparecer uma, duas, três, quatro, há pra falar a verdade perdi as contas na oitava garota líder de torcida que sentou-se junto a mesa, depois que não eu, mas a Dani sentou. Obviamente eu estava mais uma vez invisível e me retirei da mesa silenciosamente para Dani não se sentir culpada. 

Logo fui pra uma mesa no canto da parede, ninguém se sentava ali, tipo, era perto do banheiro masculino, uma verdadeira decepção para qualquer narina saudável. Por sorte, hoje não estava tão ruim o que me permitiu sentar sem ficar incomodado pelo estranho cheiro de urina adolescente misturada com cerveja. Peguei meu copinho lacrado, com suco de laranja, não é tão bom, mas era no momento a melhor opção. Eu quase rompi o lacre e beberia tudo de uma vez só, se "Ele" não estivesse se sentando numa mesa à minha frente. Jhonatan Framer, ele nem bandeja tinha em mãos, só sentou e de novo me encarou. Quer saber? Chega! Eu não vou ficar aqui parado, vou saber qual é a dele. Me levantei da cadeira decidido a ir falar com ele, só que, uma coisa bastante estranha aconteceu. A professora Paula chega perto do ouvido dele e sussurra algo, até tentei ler os lábios dela, mas não consegui, aquele cabelo mega armado dela me impediu. O esquisitão levantou, olhou pra mim, franziu a testa e saiu do refeitório seguindo a professora. Mas... o que poderia ser? A professora tem intimidade com ele? O que ele poderia ter feito para ela chamar com tanta discrição. Estou sinceramente muito intrigado com isso, mas fica na sua Erick, isso não é sua conta. 

Depois do intervalo e horas exaustivas fazendo contas nas aulas de exatas. O sinal da escola faz o glorioso barulho que significava que finalmente podíamos ir pra casa. Apressei meus passos e já estava subindo no ônibus escolar quando observei a professora Paula e o tal Jhonatan saindo juntos a caminho do estacionamento. Então fiz uma coisa que pensei que nunca faria, os segui. Apesar de estar embaixo de uma das árvores, numa distância consideravelmente boa dos dois, o sol da tarde estava muito quente, quase fiquei sem ar com o calor e eles só estavam conversando no estacionamento. Porém, observando melhor, eles pareciam estar discutindo. Aparentavam estar furiosos um com o outro. Será que eles são da mesma família? Estou cada vez mais curioso. Tipo, pensando bem, eles usam a mesma base brilhosa e no mesmo dedo, da mesma mão. Agora meio que é pessoal eu preciso saber, esse mistério corrói minha mente a cada segundo. A discursão entre eles parecia calorosa, entre várias gesticulações.  Eles param de repente e andam em direção ao campo de futebol americano. Tentando pateticamente espionar eles, eu os sigo, mas simplesmente os perdi de vista. Era como se tivessem sumido no ar, ou será que eles me perceberam e se esconderam? Droga. 

Corri até o campo de futebol, mas não havia ninguém lá. Como isso é possível? Estou surpreso e com toda certeza ficando maluco. Eles estavam aqui quase agora e apenas sumiram. Sabe? É melhor ir pra casa, eu nem deveria ter começado a seguir eles para começo de conversa. 

— Quase ele nos descobre! Ninguém pode saber de nós! — Escutei um cochicho, olhei para os lados, mas não havia ninguém. Eu realmente devo estar ficando doido e definitivamente  

— Não quero mais ficar aqui. — Pensei alto, a ideia de que minha sanidade mental está fragilizada me assusta. 

Saí do campo correndo e já estava chegando no meio do estacionamento, quando fui surpreendido por uma forte ventania, levantei meu braço esquerdo e coloquei a mão em frente ao rosto, virei minha cabeça para traz do braço levantado, tentando me proteger de possíveis grãos de areia, que podem entrar em meus olhos. Ótimo.  

— Ah claro o ônibus já foi embora. — Pensei alto novamente sendo sarcástico. Olhei para o céu e as nuvens que estavam branquinhas agora a pouco, estão escuras e pareciam se mover com uma velocidade anormal. Todas elas se agrupando acima da área da escola. O céu está nublado e até estavam caindo algumas gotinhas bem geladas de chuva, pude sentir algumas em parte da minha pele descoberta, em meus braços principalmente, mas não estava literalmente chovendo, eram só algumas gostas que caiam. 

Temendo a chuva por sinal muito gelada que poderia surgir, agi por impulso e voltei correndo para debaixo das arquibancadas, nos acentos de madeira do campo. Fiquei por alguns minutos esperando a possível chuva que cairá, sei que ali quase não bateria água em mim, porque eu e a Dani já tínhamos ficado naquele lugar antes. Foi a primeira vez que matamos aula, nos divertimos demais e choveu muito aquele dia. Fugimos para cá e quase não estávamos tão ensopados quanto deveríamos. 

Logo cheguei e não pude deixar de notar que o Jhonatan e a professora Paula estavam no meio do campo, acho que não me perceberam ali. Segundos depois apareceram cinco pessoas encapuzadas de preto, Jhonatan não demorou muito depois que essas pessoas chegaram e também colocou um capuz preto. 

Arregalei os olhos muito assustado. Não consigo acreditar, que no meio de tanta ventania e um céu pra lá de escuro pude enxergar nitidamente, o que me fez ficar super ansioso. Eu só tinha visto esse tipo de coisas em filmes de terror e geralmente, coisas boas não vinham disso. Era um hexagrama, uma estrela de seis pontas enorme desenhada no centro do campo. O que eles pretendiam fazer? Um ritual demoníaco? Eu estava muito nervoso e por mais que eu quisesse sair dali, estou ridiculamente curioso. Decidi ficar, estupido? Burro? Com toda certeza. 

Eles se separaram e ficaram cada um numa das pontas da grande estrela de seis pontas. A minha frente estava o Jhonatan, sei que é ele porque desde que ele colocou o capuz fiquei marcando o posicionamento dele. A professora Paula estava no meio de tudo. Não demorou muito e logo eles começaram a falar coisas estranhas, acho que era latim, não sei, nunca tinha ouvido antes. 

— Novae elections ostendit nobis erit spiritus Fuxia, Madaum, Rodúria et Enulor. — Todos falaram essas palavras acho que repetidamente cinco vezes. Depois da quinta vez pude notar uma nevoa circulando cada um deles, cada nevoa possuía cores diferentes e tonalidades que não sabia que existia, na verdade era assustadoramente bonito. As seis pessoas, o Jhonatan inclusive, começaram a fazer uma dança cheia de saltos e movimentos estranhos, eles estavam super sincronizados, até parecia que treinaram bastante para aprender aqueles passos. Saltaram uma última vez até chegarem ao centro da estrela onde estava a professora. Eu estava particularmente me sentindo muito estranho, até tentei sair, mas minhas pernas estavam paralisadas e não era de medo ou algo do tipo que controlam nossos impulsos em momentos traumáticos. Eu não consegui me mover literalmente. Como se alguma coisa segurasse minhas pernas, mas eu não queria perder nada do que estava acontecendo e continuei olhando o que estava à minha frente, ao mesmo tempo que tentava me mover, na verdade, queria sair dali correndo. 

As nevoas coloridas, que rodeavam as seis pessoas que dançavam naquele sinistro hexagrama, se uniram e fizeram uma grande nevoa sombria. Estou arrepiado e muito assustado, principalmente quando a nevoa densa e escura começou a girar ao redor da professora. Os olhos dela ficaram todos pretos, parecia aquelas mulheres que são possuídas por forças malignas. Ok! Desesperei. Puxei minhas pernas forte com as mãos, mas minhas pernas estavam presas por algum tipo de grama que se agarrou a mim, elas pareciam tentáculos me puxando para baixo. Olhei para o campo rapidamente e de novo para meus pés. Mas o que era aquilo? Voltei a olhar para o campo onde um gigante olho preto se abria acima da Paula. No centro desse imenso olho havia uma luz muito forte, então alguma coisa voou como fogos de artificio para algum lugar. Uma segunda rajada de luz foi disparada, que se dirigiu rápido para algum lugar oposto ao primeiro e o terceiro, veio na minha direção. Outros três saíram rápido ao mesmo tempo, pude ouvir o estrondo barulhento deles, porém, aquela coisa brilhante vinha em minha direção e não tive a curiosidade de olhar para onde os outros foram. 

Tentei me defender com meus braços protegendo minha cabeça, quando recebi um impacto. Percebi meu corpo sendo arremessado para muito longe dali. Foi quando percebi que colidi contra a parede da quadra poliesportiva, que fica numa distância considerável do campo de futebol. Com certeza, era pra eu estar morto agora. Como uma força que me arremessou para um impacto chocante numa parede, não me matou? Uma pessoa não deveria resistir a tal pancada, sem ao menos quebrar todos os ossos ou sei lá, dividir o crânio em várias partes. Depois de me chocar contra a parede, caí rápido no chão sob a grama.  

Deitado e atordoado, uma coisa me incomodou até mais que a dor da batida na estrutura do prédio. Algo em mim queimava e doía. Parei de pensar o quanto o impacto deveria me afetar, a dor na minha mão estava me matando. Que irônico, um uma colisão contra uma parede iria me matar, mas uma queimadura na mão sim? Minha mão direita parecia pegar fogo, enquanto o resto do meu corpo estava congelando, como se tivesse sido mergulhado em um lago congelado. Tentei olhar para minha mão, mas tinha um brilho muito forte nela. Minha garganta estava fechada, é difícil respirar, eu não conseguia falar ou gritar. 

O brilho começou a enfraquecer, observei novamente e alguma coisa estranha estava acontecendo comigo, uma gosma completamente preta se espalhou pelo meu braço direito. Onde essa coisa encostava em minha pele queimava, o que me rendeu um choro cheio de gritos e gemidos desesperados, eu tenho quase certeza que mijei nas calças. Estou ofegante, choroso e aterrorizado. O que era aquilo? O que está acontecendo comigo? As gosmas pretas entraram em meu braço, penetraram meu corpo sob minha pele, parecia que alguma coisa estava mordendo minha carne, como se eu estivesse sendo devorado vivo. Entrava na minha pele e senti tudo queimar ainda mais passando por cada célula da minha existência. Como se aquela sombra, ou gosma, sei lá, estivesse circulando fervente em meu sangue, até que senti uma pontada poderosa no meu coração. 

Finalmente consegui, gritei desesperado e super alto. Um rugido de angústia sai de minha boca. Estava começando a sentir que tinha os movimentos do meu corpo de volta. Coloquei meu rosto no chão, apoiei minha testa na terra cheia de grama e rangi meus dentes de dor. Até que, simplesmente parou. A dor foi decaindo conforme o tempo passava, pareceu uma eternidade. Uma mão pegou firme meu queixo e levantou minha cabeça. 

— Eu sabia, você também é um de nós. — O Jhonatan, estava em minha frente. Eu estava tão amedrontado, o que ele é? E a professora Paula? Sei apenas de uma coisa, não queria ele perto de mim.  

— Se afasta de mim! — Gritei assustado, tirando a mão dele do meu rosto. Reparei que ele foi arremessado para frente, acho que ele se distanciou uns dez metros para longe de mim. Senti um ódio tomar conta de mim e meu sangue ferver e isso me assustou. Outros encapuzados se aproximaram do Jhonatan ajudando-o a levantar, mas eu não queria ficar para saber o que iria acontecer, reunir forças o suficiente e apenas corri, saindo de lá desesperado e indo para o mais longe que podia. 


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