O Gelo e o Fogo escrita por Sídhe


Capítulo 11
Capítulo 7 (Parte III) - Uma aposta




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A aula com Hylla já havia começado. Leo só conseguia pensar nos poucos dias que faltavam para a competição. Ele já mencionara que era o dia em que Reyna poderia perder feio? Não, ele não mencionara. A professora escrevia com o giz no quadro sobre uma mulheres guerreiras - Amazonas, isso - que prendiam os homens e faziam com eles o que bem entendessem. Ela pediu para que alguém fosse no quadro escrever mais sobre o que sabiam, e Reyna se levantou e foi até lá.

Um papel dobrado parecendo um bilhete batera na cabeça dele e caíra no chão. Quando Leo pegou, olhou para trás e sussurrou "De quem é isso?" e Hylla o espiou pelo canto do olho. Rachel murmurou "Idiota" para Leo, que apenas balançou os ombros e abriu o bilhete. Na folha inteira estava o seguinte conteúdo:

"BOLÃO DE APOSTAS! DREW VS REYNA"

Leo olhou para a sala. Todos viraram ou abaixaram a cabeça ao mesmo tempo quando ele se virou, tentando disfarçar. Reyna ainda escrevia no quadro.

" Quando é a competição mesmo? Mr. Sedução.

Daqui a dois dias, seu bocó. E que diabo de Mister Sedução é esse? Connor.

Não sou bocó, seu ladrão de meia tigela. Eu sou o Mr. Sedução e você o Mr. Cueca Suja. Travis.

Ah, que se dane. QUE COMECEM AS APOSTAS! (vai repassando o bilhete, falou?) Travis.

3 bombons na Reyna aqui! Dakota.

Só 3, Dakota? 10 na Reyna! Katie.

Deixa ele apostar o quanto quiser. Eu acho que a Drew vai vencer de lavada. Qual é, Reyna não sabe nadar... Chris.

Pode apostar latas de refri? Don.

Não. Mr Sedução.

Quer parar com essa de Mr Sedução? Mas se puder apostar em latas, eu tô dentro! Grover.

Tá com invejinha, é? Travis.

Ainda dá tempo da Reyna aprender a nadar. 10 nela. Rachel.

Drew tem chances muito maiores, fala sério. 15 na Tanaka! Will.

Eu me recuso a acreditar que estão fazendo uma aposta com as duas... Okay, eu quero 10 na Reyna. Piper.

Nem a presidente resistiu, olha só, haha. 20 na Reyna! Thalia.

Vocês estão perdendo tempo. Octavian.

Vai estripar ursinhos, vai. 15 na Drew. Kelli.

A quantidade está aumentando, hein?! Então aqui vou eu: 10 na Drew e é só. Mas eu aposto 5 na Reyninha. Silena.

Ugh, Reyninha? Tammi.

Vamos lá, galera, todo mundo apostando. Reyna tem mais apostadores até agora! Gwen.

Espera só ela ver esse bilhete, mata a gente só olhando. Frank.

Eu acho que vou riscar meu nome daqui. Travis.

Ah, agora deixou de ser o Mr. Sedução? Connor.

Não enche. Travis."


Agora que o bilhete estava nas mãos de Leo, e ele não sabia se escrevia algo ou se passava sem nada. Se Reyna descobrisse que ele também apostara... Mas, mesmo assim, ele pegou uma caneta e rabiscou sua frase no fim da folha. Ela se sentou de novo em sua carteira, e Leo fez um avião com o papel e mirou bem na cabeça dela. Reyna olhou confusa de onde aquilo viera e, quando viu Leo apontando para ela ler, seu cenho franziu.




Reyna parecia pronta para perguntar o que aquilo significava, quando viu o que Leo escrevera. Ela levantou uma sobrancelha.




"Vocês não estão com nada, apostadores da Drew! 50 bombons na Rainha do Gelo! Leo."



Ele piscou um olho para ela de sua carteira. Reyna pensou em quanto era grata por tê-lo como amigo. Ela se levantou de supetão, assustando à Hylla e a todos, olhando para os lados com o bilhete na mão. Até Leo engoliu em seco.




– O que deseja? - Hylla disse, franzindo as sobrancelhas. Reyna olhou para a direção de Travis e Connor, nos fundos da sala. Os dois começaram a tremer.




– Eu sei responder novamente, professora. - Ela amassou o papel do bolão de apostas e o jogou na lixeira quando foi para o quadro de novo, desta vez olhando para trás por cima do ombro como se desconfiasse que eles voltassem a falar ou fazer algo em relação a si.


No intervalo, como sempre fazia, Leo foi até a máquina de refrigerantes. Ele tentava decidir em qual botão clicaria para escolher o tipo, e então se assustou com o som de alguém bebendo algo. Piper tomava um refrigerante no espaço entre duas máquinas de refrigerante, grande o suficiente para ela caber lá sentada.

– Mas o que é isso? - Leo se abaixou e pegou a bebida no compartimente em que ela caíra - Não é apertado, não?

Piper deu de ombros, tomando outro gole.

– Você é sombria - Ele disse, indo para a parede oposta às máquinas e se sentando ali no chão, de frente para a Presidente. Ela deu um pequeno sorriso.

– É bem confortável, na verdade. - Ela levantou uma sobrancelha quando viu ele se sentando - Ora, Valdez, está cansado também?

Leo deu um riso sem graça.

– Por causa de uma certa pessoa, eu estou cansado faz tempo... - Ele deixava óbvio que se referia à Reyna. Leo começou a listar em seus dedos - Fazer comida, lavar os pratos, consertar lapiseiras emperradas...

– Ela gosta de você - Piper falou, fechando os olhos e bebendo seu refrigerante novamente - Por isso você não reclama em fazer essas coisas todas para ela.

– Você enlouqueceu, Mclean? - Leo riu - Tudo bem, somos melhores amigos, mas não é como se ela realmente gostasse de mim. Mas é, eu não reclamo não, eu gosto. É como se fosse mais alguém na família.

– Estou falando sério. - Ela disse - Você é cego, isso sim. Reyna ainda gosta muito de Jason, todos conseguem notar isso. Mas ele está comigo agora, apesar de tudo.

– Ela ainda não vai desistir dele, você sabe disso - Leo bebeu um gole - Reyna é que nem água mole em pedra dura, e um dia essa pedra vai furar.

Piper lançou um olhar a ele. Opa. Coisa errada a se dizer era dizer que sua ex-melhor amiga conquistaria seu atual namorado. Leo deu um sorriso amarelo.

– Você quer que ela perca, não quer? - Virou a cabeça para o lado e desviou seu olhar, já mostrando estar chateada - Digo, ela vai passar o verão inteiro com Jason na minha casa de praia. Mas se ela pensa que vou deixá-los sozinhos, eu não vou. Jason é meu namorado, deve ficar comigo.

Leo fez uma expressão de pensamento, puxando os lábios para um lado e não a olhando mais.

– Que casa de praia é essa? - Ele por fim disse, decidindo quebrar a tensão - Quero dizer, seu pai tem uma particular? Com jatinho com 200 opções de bebidas e alavanca especial para gelo?

– 300. - Piper disse, sorrindo bobamente quando Leo levantou as sobrancelhas em surpresa.

A campainha tocara novamente, e eles foram de volta para a sala, antes jogando as latas nas lixeiras ali perto. Reyna já estava sentada em sua carteira, fazendo algumas anotações em seu caderno enquanto Leo ocupava o lugar atrás dela, não se importando se a pessoa que fosse a dona da cadeira chegasse logo depois.

– E aí. - Ele falou, simplesmente. Algumas gotas d'água grudavam na janela próxima a eles, se mostrando como um resultado do céu repleto de nuvens negras lá fora. Reyna não respondeu de cara. Se passaram alguns segundos até ela descansar a caneta e olhar para o clima.

– Quando eu finalmente posso treinar, não teremos aula de piscina. - Ela suspirou quando viu a chuva ficar cada vez mais forte. Um relâmpago apareceu longe, num ponto onde a tempestade estava mais forte. Reyna se virou e o olhou com suas obsidianas de forma analisadora - Como pretende pagar 50 chocolates?

– Eu dou um jeito. - Ele sacudiu os ombros - Posso fazer um bico de me fantasiar de taco gigante com o Sr. Russel. Reyna fez uma expressão impagável para aquilo, como se pensasse que ele provavelmente tinha algum problema mental. - O quê?

– Não faria isso.

– Você ainda duvida? - Leo riu. Dois bilhetes colocados em sua frente o fizeram parar de sorrir, e ele viu Jason os estendendo, com a outra mão no bolço da calça enquanto tinha um pequeno sorriso no rosto.

A garota pegou os ingressos em suas mãos, olhando o que havia escrito. Eram entradas para a piscina pública que havia em Houston. Ela entendeu a situação imediatamente.

– Não posso aceitar.

– Eu apostei todas as minhas fichas em você - Ele disse.

– Você também apostou? - Perguntou à Jason, que afirmava com a cabeça. - Quanto?

– O mesmo que ele - Colocou as duas mãos nos bolos, acenando com a cabeça para a direção de Leo. As sobrancelhas de Reyna se levantaram.

– Nem ao menos sei nadar.

– Você é o tipo de pessoa que se esforça quando quer conseguir algo. - Jason respondeu, fazendo a garota dar um pequeno sorriso para si mesma. - Pegue as entradas, podem ajudar.

Leo tivera uma ideia. O garoto que estava sentado pegou os bilhetes da mão dela e segurou cada um em sua mãos, cada um indo para a direção dos outros dois ali.

– Não poderia ser assim? - Ele sorriu - Eu tenho que fazer um trabalho, então não vou poder ajudar Reyna. - Estava mentindo, é claro. Mas um pequeno empurrão para ela não seria nada demais.

– Definitivamente não - Ele se assustou quando a membro do conselho arrancou o bilhete na direção de Jason, que estava na mão de Leo. Como assim? Não era Reyna que se esforçava tanto para ficar com Jason?

Quando as aulas enfim acabaram - Aleluia! Pensou ele - estava chovendo, tão diferente do dia anterior. Leo pegou um guarda chuva que trouxera e, antes mesmo de o abrir, uma voz à sua direita disse:

– Eu te agradeço, sabe. - Thalia o olhava vitoriosa. Ela usava o uniforme de softball, com a braçadeira de capitã d'As Caçadoras ainda em seu braço e um boné em sua cabeça. Para que ela estava vestida assim, ele não fazia a menor ideia, mas não questionou.

– An... Posso saber por quê?

– Por ter salvo minha melhor amiga - Disse, com um balançar de ombros e um sorriso no rosto salpicado de sardas - Reyna me disse antes: Leo sempre está lá para mim. Limpando, arrumando coisas, apoiando-a...

– São apenas coisas simples. - Ele disse, sem dar muita importância.

– As coisas simples são as mais incríveis.

Leo sorriu, pensando em quanto adorava conversar e ficar perto de Thalia. Já estava decidido: Se Reyna passaria as férias com Piper e Jason, ele se dedicaria em tempo integral à ela.

Ela estendeu o punho fechado para ele.

– Eu acredito em você. Deixarei Reyna em suas mãos.

Leo a olhou estranho.

– E aquela coisa toda de não me perdoar se eu a machucasse?

– Águas passadas. E ali eu pensava que, você sabe, estivessem namorando. - Ela continuava com o punho levantado.

Leo sorriu e fechou o seu também, dando um toque camarada no de Thalia.

– Deixa comigo.

Um silêncio incômodo permaneceu entre eles.

– Vamos? - Reyna apareceu ali, vendo eles juntos. Ela carregava a mochila sobre o ombro, enquanto abria seu próprio guarda-chuva. Thalia tirou o boné e torceu-o entre os dedos.

– Até amanhã - Disse para os dois, entrando novamente na escola.

– Até - Eles responderam, saindo andando pela rua ensopada. Leo sentia seus tênis serem encharcados por água e lama, enquanto andava em seu leve passo de sempre.

Estavam a uma distância suficiente para os guarda-chuvas não se chocarem ou não se ouvirem ao conversar mas, ao invés de continuar assim, Leo fechou o seu e ficou no mesmo de Reyna, mexendo os cabelos agora um pouco úmidos pelas gotas que caíram nele.

– Idiota - Ele colocou o indicador na bochecha dela, a incomodando. - Você deveria ter pego a oportunidade.

Reyna suspirou, tirando a mão dele de seu rosto.

– Eu não posso, Leo. - Ela parecia triste, tirando os dois bilhetes do bolso da calça.

– Jason está com Piper e blá blá blá. É, eu já saquei isso - Leo disse - Mas sei lá, você ao menos passaria um tempo com ele.

– Talvez. - Reyna dissera, chegando à frente do seu condomínio, se abrigando na entrada enquanto fechava o seu guarda-chuva - Eu vou pedir uma pizza, não irei jantar com vocês.

– Pode dar um pedaço para o triste e solitário garoto? - Ele disse numa voz que pedia piedade. Quando ela não esboçou resposta, Leo fez bico - Até amanhã, então. - Ele falou, saindo dali. Pensando melhor, as casas eram tão perto que ele fechou o guarda-chuva, fazendo Reyna levantar uma sobrancelha, e ia andando até a casa dos Valdez deixando-se molhar. Leo pôs a mão num poste, girou e tirou um chapéu imaginário da cabeça. Deslizou na poça que estava ali embaixo. Ninguém merece. Reyna riu pelo nariz com as sobrancelhas levantadas, balançando a cabeça em negação e entrando no hall do prédio.

Ele só esquecera que sua mãe provavelmente o deixaria uma semana lavando os pratos sozinho se ele voltasse para casa completamente encharcado. A não ser que ele... Não faria mal tentar. Chegou à porta de casa e se concentrou. Uma fina camada de calor irradiou à sua volta, e Leo instantaneamente estava seco. Talvez não fosse a coisa mais sensata a fazer, ele nunca usava aquilo, era motivo de chacota, mas era isso ou sua mãe. Isso parecia ser uma melhor opção. Leo entrou em sua casa e foi para a varanda de seu quarto, naquele momento a chuva já havia amenizado. Ele olhou pela janela de Reyna e se perguntava onde ela estaria. No entanto, entrou novamente no quarto e se deitou na cama, com os braços apoiando a cabeça esperando sua mãe chegar para poder decidir o que comer. Em sua mente, a competição que se aproximava voltou. As palavras de Piper que diziam que ele queria que ela perdesse ainda o atordoando. Ele não estava mal de todo, se pudesse ficar o verão com Thalia, não era aquilo que ele sempre quis? Ficar o tempo inteiro com a bela garota punk de quem era afim?


– Tomara que ela ganhe. A Rainha do Gelo vai vencer. Não é, Valdez? - Falou para si mesmo, e ele não imaginava que Reyna estava em sua janela segurando a cortina agora aberta, olhando de esguelha para Leo que desejava que ela vencesse.




– Vamos, Reyna, é só bater as pernas! - Leo disse na tarde seguinte, enquanto tentava ensinar a outra a nadar. Eles estavam na piscina pública de Houston, entre adultos e crianças querendo aproveitar no verão. No entanto, ao contrário destes, Leo e Reyna estavam totalmente focados em fazê-la bater as mãos e pés de forma correta. Alguns garotos riam ao encará-los. Reyna os olhou pelo canto dos olhos e eles engoliram em seco – É só não ligar. – Leo continuou, tentando motivá-la.




Reyna respirou fundo e, ainda se segurando nos braços dele, mergulhou, soltando o ar embaixo da água para acostumar os pulmões com a sensação de se prender a respiração por aquele tempo. Quando ela largou as mãos de Leo, começou a fazer um movimento de vai e vem com os pés, os forçando contra a água da piscina. Ambos sorriram quando Reyna conseguiu permanecer na água sem ter que se apoiar no garoto.


– E com vocês, a campeã do ouro olímpico na competição de 50 metros rasos! - Ele fez um som de trompete com a boca, mexendo os dedos como se tivesse o instrumento entre eles. - Agora só falta aprender a nadar de verdade. Vamos, do jeito que eu te disse, pode escolher o jeito que quer nadar, mas vê se bate essas pernas!

– Eu já entendi, Leo - Ela se movimentava devagar até um canto da piscina onde era mais raso e já podia andar normalmente. Reyna colocou um pé na parede de azulejos da piscina e tomou impulso. De primeiro, ela demorou para pegar o jeito e engoliu um pouco de água, passando a tossir por alguns segundos enquanto Leo chegava novamente perto.

– Tenta colocar os braços assim - Ele mostrou os dois braços esticados à frente da cabeça, com uma mão se unindo encima da outra.

– Certo. - Reyna concordou e voltou à sua posição. Tomou impulso novamente, desta vez nadando um pouco mais do que da última, ainda um tanto devagar. Ela começou a bater os pés com mais força, tanta que a água que chegava no garoto parecia ser feita de algo cortante, e em pouco tempo Reyna já estava quase no outro lado da piscina.

Leo foi nadando até ela.

– Quer me matar com água? Essa pernada foi incrível. Drew já perdeu. É isso - Ele dizia. - Não vou ter que comprar 50 caixas de bombons!

Reyna jogou um pouco de água nele por aquela fala. Leo a encarou sugestivo.

– Quer guerra, é? - Bateu a mão na piscina de uma forma que a água chegara bem no rosto da membro do conselho. E então começara uma batalha por quem fazia uma onda maior atingir o outro. Quando ambos começaram a rir após tudo, Reyna notou vários círculos surgindo na superfície da água. Ela olhou para cima, estava chovendo novamente. E a chuva aumentara muito em segundos, os obrigando a sair da piscina e se abrigarem nos guarda-sóis dali. Reyna pegou uma toalha e se envolveu nela, enquanto Leo secava os cabelos castanhos vagamente com uma outra, a jogando de um jeito qualquer encima da mesinha do guarda-sol.

Ele se sentou numa das cadeiras. Havia resto de comida num prato e latas de refrigerante ali na mesa, de antes deles sequer entrarem na piscina. Leo olhou para o céu, cheio de nuvens escuras com a chuva forte caindo.

– Não acho que vá acabar tão cedo. Logo agora que você estava pegando o jeito. – Ele disse, virando-se para Reyna na outra cadeira, que apoiava o cotovelo na mesa e encarava a piscina. – Deveríamos ir para casa?

– Ir? – Ela repetiu, como se a ideia fosse absurda – A competição é amanhã, não posso ir.

– Quer ficar?

Reyna balançou a cabeça positivamente.

– Hum, você não quer desperdiçar as entradas que o Jason te deu – Leo falou, descansando as costas na cadeira de um jeito largado. – Acertei?

– Não. – Quando ela disse aquilo, Leo murchou – Não é por conta dos ingressos.

– Bom, se você ganhar, significa que eu vou poder passar um bom tempo com a Thalia – Ele tentou argumentar. Reyna franziu o cenho – E você vai poder ficar com Jason.

Reyna tirou a toalha de seus ombros.

– Pelo visto você está finalmente se mostrando. – Ela falou, com a voz raivosa – Está dizendo que só quer me fazer ganhar por conta de Thalia?

– Mas o que... – Ele já esfregava as mãos no rosto em desespero – Eu só estou tentando te entender!

– Eu nunca disse que você necessitava me entender – Reyna afirmou, levantando-se da cadeira e deixando a toalha deslizar por seus ombros até o chão, ficando apenas com seu maiô.

– Ultimamente você tem estado muito estranha. Será que é o gelo congelando seu coração? – Leo disse, sarcástico – Recusou as entradas que Jason te deu por besteiras. Só falta me-

Reyna bateu o punho tão fortemente na mesa que ela estremeceu e derrubou as duas latas que estavam ali, interrompendo Leo que a olhava assustado. A cabeça dela estava abaixada em um ângulo que não deixava ele ver seu rosto claramente, sendo coberto pelos cabelos negros totalmente molhados.

– Sabe o que eu odeio? – Ela disse, baixo.

– Rolinhos primavera?

– Pessoas que tentam entender o que sinto dentro de mim. – Reyna ignorou a ironia dele, ainda falando num tom leve e que escondia grandes sentimentos – Me deixam louca, e você está fazendo isso. Não tente entender o que passa no meu coração, Leo Valdez, porque nem mesmo eu entendo. Está perdendo seu tempo.

Ela pegou sua bolsa encima de uma terceira cadeira dali e saiu andando, sem se importar em estar se molhando.

– Ei, Reyna! – Leo tentava chama-la de volta, mas a garota não o ouvia mais, sendo os gritos abafados pela chuva e pela grande distância entre eles. Ele se sentou desolado em sua cadeira novamente. – Eu nunca vou entender as garotas...

Arrumou suas coisas e foi para casa, tirando qualquer coisa já pronta da geladeira e colocando na mesa da sala. Jantou sozinho, pois sua mãe não havia chegado e Reyna não viera. Olhou o relógio na parede já marcando além da meia noite, se perguntando se fizera algo errado. Mas é claro que fiz. Leo se levantou e, como não havia nada para fazer, foi lavar os pratos sozinho.

Esperanza abriu a porta, caindo de sono e deixando sua mala no chão, se encontrando logo com o filho.

Hijo? – Ela perguntou, esfregando os olhos – Ainda está acordado? – Ela o envolveu pelos ombros num abraço sonolento, se apoiando nele para não cair. – Eu cheguei – Sua voz estava arrastada, embriagada de cansaço – Olhou para a mesa com os olhos semicerrados – Reyna não veio? – Bocejou – Por... que? Você brigou com ela de novo?

– Ela acha que eu não me importo com ela – Leo disse, balançando os ombros enquanto sua mãe se sentava no chão.

– É só isso? – Esperanza disse, com os olhos fechados. – Mas você sabe que a Reyna sempre diz o oposto do que está sentindo. – Ela abraçou as pernas dele – Acho que se alguma vez ela estivesse realmente brava com você, ela não comeria da mesma comida que você. Porque uma hora ou outra ela vai vir aqui para jantar.

Leo parou de limpar um copo de vidro com a esponja. Ele notou que após falar aquilo, Esperanza se calara. Olhou para baixo e viu que sua mãe ressonava num sono leve, abraçada a uma de suas pernas.

– Você nem tirou seu macacão – Ele disse, a segurando pelos ombros e levando-a para seu quarto.

......................................................................

Drew chamava a atenção de todos com seu biquíni, se postando no lugar da posição de largada da competição de natação.

– Não tem jeito da Reyna ganhar. Drew é melhor que ela – Travis disse, ao lado de Leo.

– Como pode dizer isso se ela nem ao menos tentou? – O latino rebateu, esperando ansiosamente que a Rainha do Gelo aparecesse. Eles estavam esperando ela havia minutos, apenas Drew aparecera. Leo estava com medo de que Reyna tivesse desistido de competir. Mas Reyna nunca desiste, era aquele pensamento que o fazia crer que ela ainda viria.

Thalia, como a capitã do time, estava sendo a juíza. Ela vestia um casaco de moletom amarelo por cima da camiseta azul e os shorts pretos, e desta vez não usava botas ou tênis por conta do calor, então estava apenas com chinelos comuns. A garota segurava um cronômetro numa mão, enquanto olhava a hora no relógio de pulso.

Uma das garotas nos guarda-sóis disse:

– Quanto tempo vai nos fazer esperar? Está muito quente, queremos entrar na água.

– Por que ela não está vindo? A Reyna? – Travis disse.

– Quem se importa?! Olha só a Drew ali – Connor apontou para a asiática em seu atrevido biquíni, e Leo também observava ela, no entanto não via nada que lhe atraísse em Drew. Ele preferiu se levantar e ir para junto de Thalia, que se mostrava impaciente. Para sua infelicidade, Drew também chegou perto dos dois e, ainda mascando o tradicional chiclete, perguntou:

– Não faça elas esperarem, é chato. – Cruzou os braços logo abaixo dos seios – Ela não vem, tá com medo.

Thalia sorriu, e Leo só foi entender quando se virou e percebeu que Reyna estava ali, andando em direção à eles.

– Do que você está falando? – Ela perguntou à Drew, num tom desafiador. Todos vibraram quando ela chegara, levantando os punhos pedindo uma competição.

– Por um segundo eu pensei que ela viria armada – Falou Connor, olhando para Reyna. – Ou não viria.

Ambas se postaram em frente à agua, lado a lado. Drew olhava com graça para Reyna, imaginando que venceria num piscar de olhos.

– Vamos começar, então! 50 metros de estilo livre! – Thalia exclamou para que os outros pudessem ouvir. – Em suas marcas – Elas se distanciaram em um pouco mais de um metro – Preparar – Se abaixaram, ficando em posição.

Drew, seu cabelo! – Leo exclamou de onde estava, e a garota se assustou e olhou para o próprio cabelo, se distraindo.

Thalia tocou o apito preso a seu pescoço dando início à competição. Drew perdeu o equilíbrio por estar de uma posição em que servia apenas para ajeitar o cabelo e caiu de mal jeito na água, dando tempo para Reyna seguir na dianteira. Mesmo nadando devagar, ela arrancava os gritos dos amigos e alunos.

– Aquela... imbecil – Drew dizia. Quando ela notou, havia alguma coisa errada. Olhou para si: a parte de cima de seu biquíni havia se soltado – Eu não acredito que isso está acontecendo, não acredito, não acredito – Sua voz exclamava num tom muito agudo, se cobrindo com um dos braços enquanto passava os olhos procurando por sua roupa de banho. Quando o achou e conseguiu o colocar novamente, pegando impulso e começando a nadar, Reyna já estava quase dando a volta.

Mas, ao empurrar os pés novamente na parede da piscina, seu tornozelo doeu fortemente. Uma câimbra a impedira de continuar, e Reyna estava parada tentando fazer a dor passar enquanto uma Drew vitoriosa mandava um beijo para ela enquanto nadava calmamente. Não, pensou a membro do conselho. Leo, que quando começara a largada fora para dentro da piscina como Jason e os Stoll garantindo que não atrapalhariam a competição, perguntou se ela estava estava bem. Reyna afirmou e, com a câimbra indo embora, decidiu voltar a nadar, mesmo que Drew estivesse quase chegando ao destino final.

Leo ouviu alguém atrás de si dizendo “Seu idiota, não empurre, pode ser perigoso!”, mas já era tarde quando sentiu uma dor lancinante em si, o fazendo ir para o fundo da piscina. Alguém fizera a mesma brincadeira de antes, mas agora a pessoa caíra diretamente encima dele, tirando toda a sua possibilidade de respirar.

A última coisa que Leo viu antes de apagar entre várias bolhas e um azul infindável foi o rosto de uma garota.


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Notas finais do capítulo

Duas semanas sem postar, hein? Foi mal, mas agora minhas aulas/trabalhos infindáveis/provas acabaram, então vou estar bem mais livre para escrever.
Review, recomendações ou chute no traseiro?