Perdi a noção de quanto tempo fiquei na torre de astronomia. Ora chorando, ora apenas observando o céu estrelado, é estranho, mas tal paisagem me acalma e me deixa extremamente melhor.

O fato é que eu não tenho a mínima noção do tempo que se passou, se foram 10 minutos ou 10 horas. Eu me sentia tão bem ali, longe de tudo e todos, somente eu, podendo pensar o que quisesse chorar o quanto quisesse, sem que ninguém me incomodasse. Estava decidido. A torre de astronomia seria meu lugar de refúgio, o lugar que me reconfortaria, que me deixaria pensar sozinha.

Suspirei, e apoiei as mãos na parede gélida, tomando impulso para frente e me levantando em um salto, minha bunda tinha ficado dormente de tanto tempo que eu estava sentada no chão gelado. Passei as mãos pelos olhos, tentando disfarçar o inchaço desses, limpei as vestes no lugar onde eu tinha me sentado, e me estiquei preguiçosamente, ouvindo os ossos das minhas costas estalarem em uma sensação maravilhosa.

Saí da torre fria e escura, e passei a caminhar pelos corredores, tão escuros quanto a torre. Tateei as vestes a procura da minha varinha, e assim que a encontrei presa do lado direito da minha cintura, tirei e sussurrei:

– Lumus – O que fez com que um feixe de luz branca se ascendesse na ponta da minha varinha e fizesse surgir várias reclamações dos quadros, reclamações que eu apenas ignorava.

Fiz a caminhada lenta e concentrada em direção ao salão comunal da Grifinória, prestando bem atenção por onde eu estava andando. Por incrível que pareça, mesmo eu tendo sido monitora no ano passado e estudando aqui à 5 anos, eu ainda tenho que prestar atenção para não me perder dentro desse castelo gigante.

Isso fez com que eu me lembrasse da minha “primeira aventura” com Harry e Rony. A vez que por acidente entramos em uma sala com um cão de três cabeças, graças à minha grande genialidade de saber o feitiço pra tentar “salvar a nossa pele” do Filch, quando quase cavei nossa própria cova. Esse pensamento me fez sorrir.

Finalmente, cheguei à frente do quadro da mulher gorda, porém lembrei que eu estava sem a senha, de novo! Mas que inferno.

– A senha, por favor? – A senhora pediu.

– E-Eu...

– Sangue de salamandra! – Ouvi uma voz atrás de mim, e a mulher gorda se girou no quadro, liberando a passagem.

Olhei para trás, um pouco confusa, e Neville passou por mim.

– Hey, Neville. – O chamei, assim que adentrei o vão que o quadro tinha deixado e parei no corredor.

– Sim, Hermione? – Ele perguntou, parando e se virando.

– Obrigada... Digo, eu não sabia a senha, salvou minha vida. – Ri divertida, e pude ouvi-lo me acompanhando.

– Está certo! - Sua voz soou entre os risos.

Dei-lhe um tapinha no ombro, ele passou pelo corredor e seguiu para a escada, e eu saí do corredor e adentrei a grande sala comunal, onde se encontrava Harry todo encolhido na poltrona, com Gina sobre seu colo, Rony no sofá maior, enganchando Lilá pela cintura e a aninhando contra seu peito, todos conversando alegremente, enquanto Fred, Jorge e Lino estavam no chão, conversando distraidamente, Lino com um pergaminho em mãos enquanto pedia a opinião dos dois, Jorge opinava contente e entusiasmado, e Fred ficava mexendo no tapete felpudo do chão da sala comunal, com uma expressão não tão comum quanto a que ele costumava ter, alegre, sorridente, calorosa. Era mais uma expressão distraída e abalada, do tipo de pessoa que se distrai com qualquer coisa para esquecer os problemas. Do tipo de pessoa que é como eu.

Todos estavam vestidos com seus pijamas. Harry usava um pijama de algodão e linho listrado azul e branco, Lilá um conjunto do mesmo tecido de Harry só que com desenhos de flores e coraçõezinhos cor-de-rosa, enquanto todos os Weasley tinham um conjunto, também do mesmo tecido, linho e algodão, cada um de uma cor e com a primeira letra do nome bem grande estampada na parte da frente. O de Gina era um rosa bebê, com o grande “G” na cor vermelha. Os de Fred e Jorge eram da mesma cor, verde-água, e as letras “F” e “J” estavam destacadas na cor dourada, e por fim, o pijama de Rony era de um azul bebê com o “R” em bronze. Lino usava um conjunto todo branco, com alguns dizeres que eu não consegui identificar, na parte da frente da blusa.

Havia também alguns primeiranistas conversando animadamente e comentando em como as coisas dos seus livros de poções e defesa contra as artes das trevas eram bacanas e super interessantes.

Certo. Todos estavam distraídos. Talvez eu conseguisse subir e me deitar, passando por despercebida.

Vamos lá Hermione, você consegue.

Um passo, dois passos, três passos, quatr...

– Hey, Hermione!

Droga!

Virei-me, forçando o meu melhor sorriso, e coloquei o cabelo atrás da orelha, procurando de onde a voz tinha vindo, o que foi meio difícil de encontrar, porque agora todo mundo olhava para mim.

– Onde estava? – Então, eu encontrei a voz, era de Harry.

– Eu... Hã, bom, eu... Quer dizer, eu não estava com fome, então eu hã, resolvi vir para a sala comunal fazer minha grade de estudos... Só que eu não tinha a senha e a mulher gorda não me deixou entrar... Então eu mudei de ideia e fui para a torre de astronomia. A vista de lá é realmente magnífica essa hora. E eu acabei perdendo a noção do tempo, e pelo visto cheguei bem atrasada, aliás, que horas são? – Soltei uma lufada de ar, e sorri, tentando convencer a todos.

– Ah, sim! São dez e meia. – Harry concordou e sorriu brevemente, todos olhando para mim e assentindo, céus, como eu odiava ser o centro das atenções de todos.

Podia ate sentir minha pele ruborizando um pouco, principalmente porque eu estava mentindo, ou de certa forma não, tanto faz.

– Ah sim. – Dei de ombros, indiferente, e varri a sala com o olhar. Agora os primeiranistas tinham subido as escadas.

– Mas Hermione, você não sabia a senha, porque quando entrou aqui todo mundo tinha entrado. – Lino palpitou.

– Então, eu, inteligentíssima, fui pensar nisso só depois, aí, quando eu estava tentando enrolar a mulher gorda, Neville apareceu atrás de mim e disse a senha. – Ri, ruborizando ainda mais.

– Hmmm, essa história está muito mal contada Hermione, esteve na torre de astronomia com o Neville, digamos, esquentando o ambiente? – Jorge prontificou-se a dizer, arrancando riso de todos, inclusive de mim, que peguei uma almofada do colo da Gina e joguei em seu nariz. – HEY! – O ruivo protestou, coçando o nariz vermelho e soltando um espirro logo em seguida. Todos riam calorosamente.

Então, eu senti um incômodo nos pés por ter ficado em pé durante tanto tempo.

– Esperem aí vocês, eu já venho. – Disse, e passei a caminhar, subi as escadas caracol em direção ao dormitório feminino. Ao chegar lá em cima, abri a maçaneta revestida em ouro da grande porta de madeira bem detalhada, e adentrei o dormitório largo e espaçoso, com várias camas dispostas, todas com cortinas penduradas.

Meu olhar varreu o dormitório, a procura do malão negro com as letras “H.G” em relevo dourado. Assim que o encontrei, caminhei decididamente até este, abri e, ao invés de perder meu tempo procurando, eu usei o feitiço convocatório para pegar meu pijama.

Era de moletom, nas cores brancas e vermelhas. Me vesti no banheiro e assim que terminei, desci para a sala comunal, todos ainda conversavam.

Fui até eles, e me sentei ao lado de Fred, que desviou sua atenção do tapete e passou a conversar conosco.

Ficamos ali no salão comunal por horas e mais horas, conversando sobre nada e ao mesmo tempo sobre tudo. Ouvimos de Lilá e Lino o que eles fizeram nas férias, eu e Harry dissemos o que passamos na casa dos Weasley enquanto eles acrescentavam seu lado da história. Fred, Jorge e Lino passaram a nos contar sobre os novos projetos para as Gêmealidades Weasley; suas ideias eram realmente interessantes, estavam criando alguns logros mata-aulas diferentes, que causavam ferimentos sem dor, como por exemplo, furúnculos que estouravam, mas não causavam dor em sua pele. A ideia era realmente genial, eles até testaram um recém-feito em Lino, era como se fosse uma balinha em formato de feijõezinhos de todos os sabores na cor verde, e além dos furúnculos parecerem muito reais ela não sentia dor nenhuma, daria pra enganar qualquer professor, apesar de ser completamente desonesto, eu jamais usaria algo desse tipo, nem que a aula estivesse extremamente chata, como costumam ser as aulas do Snape.

Mas, o que eu pude observar, é que na maior parte do tempo, Fred não se manifestava, a não ser que a palavra fosse dirigida a ele. E os sorrisos que ele esboçava não eram tão sinceros, é como se a grande parte dele não estivesse presente, e sim em outro lugar, com outros pensamentos, o ruivo chegava a parecer um tanto perturbado com algumas coisas.

Ou devia ser apenas coisa da minha cabeça, sendo que eu estou agindo assim na maior parte do tempo. Fingindo. Sorrindo, sem querer sorrir. Agindo, sem querer agir. Apenas sendo a Hermione de sempre, sem arrancar dúvidas ou preocupações de ninguém. Atuando.