O Príncipe Cinza escrita por Micaela Salvya


Capítulo 9
ECABL Pode Ser Uma Doença Grave


Notas iniciais do capítulo

*Efeitos Colaterais da Abstinência de Bolos de Laranja



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A majestosa porta de cedro se abriu a menina que era aprendiza Amarela nos permitiu entrar.

A sala era enorme, com um pé direito alto e sete cadeiras se disputam em um círculo de acordo com as respectivas cores de seus Conselheiros no arco íris. Permaneci de pé de frente para todos me analisarem. Desconfortante.

- O que nos faria acreditar que essa menina é de fato a escolhida? Uma das três peças da profecia?- perguntou um homem sentado no extremo esquerdo. Seu colar de Cristal de Luminosa parecia brilhar intensamente. Reparei que quando a luz do sol que entrava pelas janelas se refletia no pingente, um leve brilho rubro iluminava seu ser como uma onda de eletricidade.

Profecia? Espera um pouco ai, ninguém me disse nada sobre uma profecia.

- O que quero é que ela primeiramente seja treinada adequadamente, não acho que seja importante agora pensar quem ela pode se tornar ou não. – retrucou Arina.

- Como ousa profanar a Yz deste modo! Sinto lhe dizer Caçadora inconseqüente, mas este mundo está nas mãos dos Escolhidos. É assim tão estranho que eu queira testar aquela que está fadada a nos salvar? – Meu coração começou a bater mais forte. Salvar? Eu estava responsável por vidas?- Sinceramente não acho que ela seja capaz, olhem só para ela, não vou colocar minha vida nas mãos de uma criança. Ainda por cima Caçadora!

- Não acho que cabe a você decidir quem irá nos salvar, ou quem não irá. Esse posto cabe a Yz, me poupe de suas frustrações sei que no fundo você queria ser o herói, mas veja só, a Yz não o escolheu, escolheu? – disse Arina com raiva. Eu nunca a vira deste modo. Eu não sabia o porquê de sua reação.

- Por favor, estamos aqui em paz, não viemos questionar as escolhas do poder que rege nosso reino. Estamos aqui para confirmar a identidade dessa menina. Me desculpe Arina, mas você sabe que iremos precisar de muito mais do uma velha senhora que afirmou que a linhagem de Romania e Timótio estava diretamente ligada a profecia. Necessitamos de provas, e neste momento você não as têm. Portanto eu sugiro que esqueçamos este assunto e mandemos a menina para a Academia Arco. – disse uma mulher com o manto de cor dourada e cabelos tão negros que pareciam azuis. Talvez fossem azuis mesmo.

Analisei cuidadosamente os outros pingentes singelos sustentados por um cordão um pouco comprido de mais para ser um colar. Cada um irradiava uma leve onda de eletricidade respectiva ao seu dono, respectivo a sua cor, como se os estivesse abastecendo.

- Concordo plenamente, não temos provas suficientes de que ela é realmente um dos Escolhidos. Ela pode ser mandada para ser treinada como a mãe foi e só aí nos reuniremos novamente. – disse outra mulher sentada na outra ponta. A mulher tinha olhos violeta que pareciam brilhar. – quem mais concordar levante suas mãos.

Das sete pessoas vestidas com matos dourados, quatro levantaram as mãos. Dona Marel e seu marido, o senhor Vert, foram um deles. A mulher de olhos violeta e a de cabelo azul foram às outras duas.

- Caso concluído. – finalizou Arina e logo em seguida saiu pelas portas de cedro.

- Tudo bem. Já está tudo pronto. Oficialmente você é uma aprendiza em treinamento agora. – disse Arina saindo do quarto espaçoso com um sorriso para mim.

Bom, depois de todo aquele debate com o Conselho de Tinta, foi sentenciado que eu deveria ser treinada na Academia e que assim, só depois minhas capacidades seriam testadas. Eu estava com os nervos à flor da pele, mas não tinha coragem para perguntar a Arina. Ela parecia cansada e uma pilha de nervos. O que era meio que totalmente assustador. Alem do mais eu ainda não tinha me recuperado da cena traumatizante de ter passado pelo Conselho de Tinta. Já mencionei como eu odiava ser o centro das atenções? Ainda mais ser julgada por um bando de super poderosos? Como eu poderia não ficar nervosa?

Eu estava prestes a conhecer minha companheira de quarto e me sentia deslocada. Quero dizer minhas companheiras. Arina me contou que elas eram irmãs, uma muito nova para ser oficialmente uma Caçadora e a outra era uma aprendiza Laranja. Eu estava me sentindo meio estranha, era como entrar numa escola nova, como começar a estudar em um lugar diferente no meio do ano letivo. Só que a diferença era que nós estávamos em dezembro.

Arina me prometeu que no Natal e no Ano Novo eu estaria de volta ao Continente, mas nos outros dias estaríamos trabalhando e treinando o tempo inteiro.

O quarto era muito grande e possuía uma única janela enorme também. Havia três camas, duas escrivaninhas, dois armários grandes, um frigobar e uma parede de armamentos. Alem de uma estante repleta de livros importantes para as aulas. Desde matérias como química e matemática, até outras como técnicas de combate e disfarces.

- Então você é a tal filha de Grande Caçadora? Eu esperava que você fosse mais… alta. – disse uma menininha de nove anos parada na porta com olhos enormes determinados.

- Me desculpe, só tenho 1,63. – disse eu abrindo um sorriso, ela era adorável. Ela usava um vestido azul claro e percebi uma adaga presa na cintura.

- Fliz, você mal a conhece, não seja mal educada. – disse uma menina da minha idade logo atrás da loirinha de olhos cor de mel. Ela tinha mais ou menos a mesma idade do que eu. – Desculpe, minha irmã fica um pouco mal humorada quando não comemos o bolo de laranja no lanche da tarde. E geralmente não o fazemos. Chama-se ECABL, Efeitos Colaterais da Abstinência de Bolos de Laranja. – concluiu ela com uma risada. – Prazer, eu sou Alice.

Alice se parecia muito com sua irmã, exceto pela cor do cabelo. Ela tinha mechas tão alaranjadas que me lembravam as faíscas de uma fogueira crepitante. Sua pele era límpida e branca como a neve. Raríssimas sardas se espalhavam pelo nariz delicado. E seus olhos eram tão grandes quanto os de Fliz.

- Acho que seremos companheiras de quarto daqui para frente. – disse estendendo um bolinho de laranja que eu roubara da cozinha no horário livre.

Fliz sorriu de orelha a orelha.

- Você por acaso não teria chá, teria?

- Me desculpe, não tenho.

Fliz deu de ombros pegou o bolinho e foi se sentar em sua cama com uma colcha azul cobalto.

- Achei que meninas gostassem de rosa. – comentei a Alice.

- Nem mencione isso perto dela, Fliz adora ser diferente, e odeia rosa. Vai entender, ela ama contrariar.

- Não é ruim para ela viver em uma casa cheia de armas e quase ninguém de sua idade? – perguntei.

- Está brincando? Ela não poderia pedir por mais, além disso, ela sempre visita as pessoas do vilarejo, apesar da maioria das pessoas não saber muito sobre a verdade.

- Como assim?

- A maioria das pessoas acha que vivemos num local longe da vila, o que não é de todo mentira. A maioria delas mal sabe sobre as Caçadoras. A Academia é usada como fachada para alunas prodígio. – Ela deu uma olhada para mim surpresa. – Você realmente não é daqui, é?

- Não. -eu disse dando uma risada. – Está assim tão óbvio?

- Você nem imagina.

-Se você pudesse pedir algo próximo da realidade, o que pediria? – perguntei sentada no chão do quarto com Fliz dormindo profundamente em meu colo.

- Essa é uma boa pergunta. Hum, acho que eu gostaria de ter um dia em que eu pudesse ser eu mesma. Um dia em que eu pudesse ser normal.

- Continue.

- Não sei, acho que desde que eu e minha irmã éramos pequenas estive preocupada com cada detalhe, se íamos ter o que comer se íamos ter onde dormir, sabe? Não foi sempre assim. –disse ela sinalizando ao redor.

- Eu achei que vocês tivessem sido pegas pela Academia logo depois da morte dos seus pais. -perguntei.

- Não. Tive que esperar algum sinal de aparência, -eu sabia que ela estava se referindo as manifestações físicas do Conselho. - e não tive até os dez anos. Engraçado, não é? Só fiquei ruiva quando completei dez. Mas eu só poderia me tornar uma aprendiza oficial aos quinze. E Fliz foi um dos casos mais raros que já vi, com quatro ela apresentou as características de Caçadora. Geralmente vem muito mais tarde. Acho que foi no tempo certo teríamos morrido de fome se não fosse por isso.

Uau, no meu caso Fin era um ano mais nova, tivemos a sorte de ter um parente que nos acolheu.

- Como são as características de uma Caçadora? Meu caso foi um pouco fora do normal.

- É mesmo? As Caçadoras têm a Yz branca.  Os reis têm dourada e as rainhas prateada. E cada membro do Conselho possui uma cor respectiva a sua posição. Você nunca usou Yz?

- Pouquíssimas vezes.

- Mas e você?-  indagou Alice de repente.

- Eu o quê?

- Se pudesse pedir algo próximo da realidade, o que pediria?

- A verdade.  Acredite as mentiras estão complicando minha vida mais do que o normal.


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