Suteki da Nee escrita por Yoruki Hiiragizawa


Capítulo 22
Eu Nunca vi os Sinais...


Notas iniciais do capítulo

Música do Capítulo: "When did you fall?" interpretada por Chris Rice.
*Capítulo Especial de duas horas...*
Boa Leitura!!



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SUTEKI DA NEE
por Yoruki Hiiragizawa

Capítulo Vinte e Dois
“I never saw the signs”


O sinal indicando o final da aula de Literatura tocou, fazendo com que a professora interrompesse o comentário sobre uma das questões.

“Lembrem-se de responder com atenção ao questionário, pois isso será cobrado na próxima prova!” – aconselhou a professora Mayu enquanto arrumava seu material. – “Tenham um bom almoço e preparem-se adequadamente para a excursão depois de amanhã!”.

“Vai almoçar na sala, Sakura?” – Tomoyo indagou, vendo-a concordar levemente, ainda mexendo no material da aula.

“Sim, eu trouxe almoço hoje!” – comentou antes de fechar o caderno e suspirar. – “Vocês?” – encarou a morena e o inglês.

“Eriol vai comprar nosso almoço na cafeteria...” – disse, vendo o inglês bater continência com um sonoro: ‘sim, senhora!’, em tom divertido. – “Bobo!” – ela rolou os olhos, vendo-o se afastar rindo.

“E você, Shaoran?” – Sakura olhou para o rapaz que encarava a porta com uma careta de desgosto, o que a fez olhar naquela direção e abrir um sorriso.

“Você reparou que o Yoshida tem aparecido quase todos os dias, ultimamente?” – Tomoyo indagou, fazendo Sakura alargar o sorriso e olhar de soslaio para Naoko antes de confirmar.

“E eu não faço a mínima ideia do porquê...” – brincou, arrancando um riso da amiga ainda observando o rapaz que conversava animadamente com Yamazaki.

“Eu vou comprar meu almoço, não que isso importe...” – o chinês comentou com um tom de voz pesado antes de se afastar. A atitude dele fez Sakura se espantar.

“Aconteceu alguma coisa? Vocês brigaram de novo?” – Tomoyo quis saber, vendo Sakura desviar o olhar da porta, por onde o rapaz acabara de sair, para encará-la.

“Não, por que pergunta?” – trazia uma expressão confusa no rosto.

“Ele não tem agido de maneira muito normal essa semana...” – a outra comentou.

“Bem...” – Sakura suspirou pesadamente. – “Eu acho que ele ficou um pouco chateado comigo no sábado... por que eu não quis contar o motivo de ter faltado...”.

“E por que não conta a ele sobre os exames?” – ergueu uma sobrancelha.

“Eu já disse, Tomoyo! Eu não quero que ele se preocupe à toa...” – encolheu os ombros. – “Até porque talvez nem haja motivo para isso. A Dra. Tanifumi está convencida de que foi um quadro nervoso... O que faz sentido, pois eu realmente estava uma pilha de nervos aquele dia...”.

“Ainda acho que...” – Tomoyo começou, mas foi interrompida.

“Meninas...” – Chiharu se aproximou ao lado de Naoko e Rika. – “Vocês já compraram tudo o que vão precisar para a viagem?”.

“Eu ainda preciso comprar algumas coisas...” – Tomoyo disse; Sakura concordou.

“Eu comprei quase tudo em Kyoto durante as férias, mas ainda preciso de roupas isotérmicas para o caso de irmos esquiar...” – comentou com um sorriso.

“Então não querem ir às compras com a gente hoje à tarde?” – Rika convidou.

“Eu ouvi alguém falar sobre ir às compras?” – Yoshida se aproximou, acenando para o grupo com um largo sorriso.

“Sim, para a excursão...” – Naoko explicou, vendo-o concordar.

“Entendo. Eu ainda não comprei roupas adequadas para esquiar...” – comentou sugestivamente.

“Por que não vem com a gente, então?” – Sakura sugeriu, contendo-se para não rir.

“Seria legal, mas só se eu não for atrapalhar...” – encolheu levemente os ombros.

“É claro que não!” – Naoko garantiu rapidamente, ao que as garotas imediatamente concordaram com sorrisos cúmplices.

“Então eu aceito o convite...” – ele sorriu. Enquanto acertavam os detalhes, os olhos de Isamu se voltavam repetidamente para Naoko, mas a garota evitava encará-lo. – “Ah, Yanagizawa...” – chamou-a subitamente, como se acabasse de lembrar algo. – “Você soube que A.N.Jell vai se apresentar no SuperDome na véspera do Natal?” – indagou, fazendo-a suspirar desanimada.

“Nem me fale...” – foi a resposta chateada. – “Você acredita que em 15 dias os ingressos esgotaram?”.

“Isso não é possível...” – ele estranhou.

“Pois foi o que aconteceu...” – ela cruzou os braços meneando a cabeça. – “Eu fui até lá ontem depois do cursinho e...” – ela encolheu os ombros.

“E não tinha mais ingressos?” – indagou, vendo-a negar.

“Vocês estão falando daquele grupo coreano que ganhou uma porção de prêmios durante esse ano?” – Tomoyo perguntou, interessada. – “Eles fizeram uma ótima regravação de uma das minhas músicas favoritas...”.

“Regravação... Ah! Você está falando de Eottekhajyo?” – Naoko disse animada, vendo Tomoyo concordar e em poucos instantes as duas jovens já se encontravam completamente absortas em comentários sobre a banda.

Chiharu e Rika voltaram para seus lugares e Sakura desviou sua atenção para Yoshida que se afastava devagar. Ele parecia um tanto frustrado.

“Você ia convidá-la para ir ao show com você, não ia?” – perguntou disfarçadamente, acompanhando-o até a porta e recebendo um olhar espantado.

“Ficou assim tão óbvio?” – ele se espantou, mas Sakura negou veementemente.

“Não, mas...” – ela se calou, ficando enrubescida.

“Mas o quê?” – ele insistiu, fazendo-a desviar o olhar.

“Acho que acabei desenvolvendo certa sensibilidade aos seus convites por causa de...” – encolheu-se, vendo-o sorrir.

“...de todas as vezes em que a convidei para sair...” – completou, ficando em silêncio em seguida o que criou um clima desconfortável por alguns instantes.

“Bem... sim...” – Sakura suspirou, voltando a encará-lo. – “De qualquer forma... Se você quiser, eu talvez consiga ingressos para esse show...” – comentou, vendo-o erguer uma sobrancelha. – “Não é garantido, mas eu talvez consiga... Se você estiver interessado...”.

“Se você conseguir, é claro que estarei interessado, mas como...” – ela ergueu uma mão, interrompendo-o.

“Eu tenho meus métodos...” – piscou para ele ao chegarem à porta. – “Falarei com você assim que tiver uma resposta...” – garantiu com um sorriso brilhante, antes de se virar para voltar ao seu lugar.

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Enquanto atravessava o parque em direção a sua casa, Sakura pensava a respeito do que Tomoyo dissera mais cedo sobre contar a Shaoran dos exames médicos que fizera naquela semana. Tomara a decisão de não comentar nada com ele antes de ter um diagnóstico porque sabia que ele se preocuparia, mas precisava admitir que manter o segredo estava causando conflitos desnecessários e prejudicando o relacionamento deles.

“Talvez eu deva simplesmente abrir o jogo de uma vez...” – murmurou pensativamente, mudando de direção e seguindo para o apartamento do chinês.

Ao chegar à portaria do edifício do rapaz, foi autorizada a subir imediatamente pelo segurança e, antes que percebesse, encontrava-se diante do apartamento, aguardando que Shaoran atendesse à porta. Foi só então que sentiu o coração acelerar ao se dar conta de onde estava e um nervosismo bobo se apossou dela.

Seria a primeira vez em que os dois se encontrariam completamente a sós, sem a perspectiva de alguém aparecer a qualquer minuto, desde a chegada da mãe do rapaz... e tanta coisa acontecera desde então...

Todos os beijos que trocaram, súbita e inadvertidamente, vieram à mente da moça, fazendo com que sentisse uma quentura no corpo ao mesmo tempo em que um frio no estômago tornava difícil controlar os arrepios que subiam e desciam a espinha.

Assim que ouviu o som das chaves na porta, sentiu o rosto esquentar intensamente e prendeu a respiração, esperando ver o rapaz, mas nada no mundo poderia tê-la preparado para o que se seguiu...

“Quem... Sakura!” – o tom inegavelmente surpreso foi a segunda coisa que a garota registrou em sua mente, pois, assim que a porta foi aberta, seus olhos foram imediatamente capturados por um avental amarelo gema que ostentava orgulhosamente o desenho fofo de um panda comendo bambu.

Os olhos verdes da garota foram rapidamente desviados do bebê-panda para o esfregão que o rapaz ineficazmente tentou esconder às suas costas, voltando em seguida para o amarelo do avental que se tornara ainda mais chamativo quando contrastado com o tom de tomate que tomou conta do rosto e pescoço de Shaoran.

Eles ficaram ali; o momento parado. Sakura estupefata. Shaoran corando terrivelmente. E o panda com aquele sorriso bobo na boca cheia de bambu. O silêncio se estendeu por segundos intermináveis até que o rapaz soltou um suspiro pesado e disse, como alguém se declarando culpado em um tribunal: “Está bem... pode rir, vai...”.

Ordem imediatamente obedecida pela garota que caiu na gargalhada...

O rapaz meneou a cabeça e cruzou os braços observando Sakura rir de maneira descontrolada e esperou...

… ela precisou se escorar contra a parede para não cair no chão...

… Ele rolou os olhos e esperou...

… e dobrou-se, abraçando o estômago...

… E esperou, rangendo os dentes...

… com o rosto vermelho molhado de lágrimas...

… E ele bufou irritado e...

“Agora já chega, nee!” – exclamou, fazendo-a dar um pulo assustada, mas sem conseguir parar de rir e respirando com sofreguidão. – “Sakura!” – chamou-a em um misto de zanga e preocupação segundos antes de fechar a porta com estrondo.

Reunindo todo o autocontrole que ainda lhe restava, e que até instantes atrás a havia abandonado, Sakura respirou fundo. Não sabia explicar o que se apossara dela para ter aquela reação, mas agora se preocupava com as consequências. Se as situações fossem invertidas não saberia dizer quando o perdoaria. Bateu na porta do apartamento do rapaz, fechando os olhos, tentou expulsar a cara debochada do panda de sua mente, mas quase se viu perdendo o controle novamente.

“Shaoran... ai... eu parei!” – declarou com o riso ainda evidente na voz. – “Abre a... ai... porta, Shaoran!” – enxugou as lágrimas e massageou a barriga que doía, antes de bater novamente. – “Desculpa, Shaoran... Abre a porta... por favor!” – pediu, batendo insistentemente na porta.

Quando ele abriu a porta novamente, sem o avental, Sakura ofegou ao levar a mão à boca para sufocar uma última risada. Não soube dizer se conseguiu controlar o riso porque o momento passara ou por causa do olhar atravessado que Shaoran lhe lançou.

“Não recomece com isso!” – ele a advertiu, fazendo-a concordar e desviar o olhar para o teto respirando profundamente antes de se arriscar a falar novamente.

“Prometo que não vou mais rir...” – garantiu, sentindo que seu coração aos poucos se acalmava. – “Posso entrar?” – perguntou vendo-o abrir caminho para que passasse.

“Só não repare na bagunça...” – ele comentou ao fechar a porta e indo em direção à cozinha, seguido de perto pela garota. – “Eu tive um problema mais cedo...”.

Sakura estacou na porta da cozinha com os olhos arregalados.

“O que aconteceu aqui?” – ela indagou assustada, vendo o chão inundado e enlameado, baldes e bacias cheios de água no meio da cozinha e pilhas de louça amontoadas sobre a mesa e os balcões.

“Eu estava lavando a louça da janta quando a torneira da pia estourou...” – ele encolheu os ombros olhando desolado para a cozinha.

“Como assim ‘estourou’?” – ela o olhou sem entender como aquilo era possível. Shaoran suspirou pesadamente.

“Quando eu voltei de Hong Kong percebi que a torneira ficava pingando e, ao invés de trocá-la, eu comecei a fechá-la cada vez com mais força...” – explicou.

“Não acredito nisso!” – meneou a cabeça, vendo-o fazer um olhar exageradamente ultrajado.

“O que você quer dizer com isso?” – cruzou os braços com um sorriso debochado. – “Por acaso não acha que eu sou forte o suficiente para estourar uma torneira?”.

“De forma alguma! Eu acho que você é forte como um panda...” – respondeu irônica, vendo-o franzir a sobrancelha. Ela respirou fundo voltando a olhar a bagunça. – “Eu entendo a água, mas de onde veio a lama?” – fez uma careta, notando que ele olhava desolado para aquilo tudo sem ter ideia de por onde começar a limpar.

“Da bota do encanador...” – ele disse mal-humorado. – “Eu tinha acabado de limpar a lama do corredor quando você chegou...” – observou-a de lado a espera de um novo ataque de risos, mas ao invés disso, ela apenas concordou com a cabeça; os olhos estavam fixos na confusão.

“A cozinha não vai se limpar sozinha...” – declarou subitamente, arregaçando as mangas da blusa que usava e entrando na cozinha. – “Precisamos afastar o fogão e a geladeira, primeiro... E vamos trocar a água desses baldes...” – instruiu-o, pegando um esfregão para começar a limpeza.

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Shaoran suspirou satisfeito, notando a cozinha praticamente brilhar e olhou para Sakura com um sorriso.

“Não sei como agradecer...” – declarou parando diante dela.

“Deixe de besteira, não fiz nada demais...” – deu de ombros, pegando uma das mãos do rapaz e encarando-o ternamente por alguns segundos em que não falaram nada.

“Janta comigo?” – ele perguntou subitamente, fazendo-a arregalar os olhos em surpresa. – “Fora, para não sujarmos a cozinha...” – esclareceu.

“Bem... Eu estou morrendo de fome...” – sorriu, timidamente. – “Mas não acho que esteja em condições de sair para jantar...” – ela comentou, passando a mão nos cabelos e ajeitando a blusa que estava toda amarrotada.

“Apenas me dê dez minutos para tomar uma chuveirada...” – ele falou decidido. – “Depois eu a levo até sua casa para se arrumar antes de irmos comer algo...” – sugeriu, vendo-a ficar pensativa por alguns instantes.

Agora que eles terminaram de ajeitar as coisas e tudo se acalmara, o motivo que a levou a passar ali voltou à sua mente. Ela ainda queria conversar com ele e, por não saber como entrar no assunto, talvez o jantar fosse uma boa ideia... talvez fosse o melhor a se fazer.

“Está bem...” – concordou, fazendo um sorriso se abrir no rosto dele.

“Ótimo! Fique à vontade... Ligue a TV se quiser...” – começou a se afastar seguindo pelo corredor.

Sakura deu um passo à frente, parando sob o arco da porta e vendo Shaoran tirar a camiseta no meio do caminho, sem saber estar sendo observado. Com o rosto em chamas, ela sentiu o ar faltar e deu um passo para trás, abanando-se freneticamente enquanto tentava bloquear as imagens que invadiram sua mente.

‘Ah... Isso não é bom...’, pensou respirando fundo. – “Controle-se, Sakura!” – murmurou, meneando a cabeça enquanto se sentava e ligava a televisão.

Durante alguns minutos a televisão ficou ligada, mas, como não estava realmente assistindo-a, decidiu desligá-la. Recostou-se no sofá, suspirando pesadamente e fechou os olhos divagando tanto sobre fatos recentes quanto antigos. Pensou em como, desde sábado, ela e Shaoran não conversavam nem estudavam mandarim; ele nem mesmo lhe dissera ‘Wǒ wánquán fúhé nǐ de ài’ naquela semana... E, agora que se dava conta do fato, percebia que sentia falta de ouvi-lo dizer aquilo, mesmo que ainda não soubesse o que significava.

Abriu os olhos, sentando-se abruptamente no sofá quando o telefone soou barulhento ao seu lado. Olhou para a entrada da sala, ainda ouvindo o chuveiro. Sem ter o que fazer, levantou-se e começou a caminhar pelo cômodo enquanto o som insistente ecoava. Por fim, o toque de chamada deu lugar a um tom mais agudo, indicando que a secretária eletrônica atenderia a ligação. Ela olhava pensativa para as luzes da cidade através da janela quando uma voz feminina a pegou de surpresa ao se pronunciar em mandarim...

“Xiao Lang, é a Mei Ling!” – ela reconheceu a sentença dita com grande familiaridade e, involuntariamente, repassou os nomes das irmãs dele em sua mente tentando lembrar se havia alguma Mei Ling entre elas... Não havia! O resto da mensagem foi deixado tão rápida e atropeladamente que apenas conseguiu captar algumas poucas palavras. – “Desculpe incomodar... os anciões... sua responsabilidade... me faria tão feliz... preciso de você... me ligue... mil beijos!”.

Com os olhos fixos no aparelho, Sakura sentiu um gosto amargo na boca enquanto sua mente desenterrava as lembranças de uma conversa que tivera com Shaoran, na época da chegada de Eriol ao Japão, sobre as tradições familiares do Clã Li. Ouviu sua própria voz ecoando em sua cabeça ao indagar: ‘Você não se preocupa de acabarem lhe colocando em um casamento arranjado?’.

Acompanhando isso, um pensamento nefasto brotou como uma flor negra e cheia de espinhos ao redor de seu coração. Um problema familiar fizera Shaoran ir para Hong Kong com urgência, mas ele nunca explicou com exatidão o que era... Apenas dissera que os anciões estavam aprontando e que ele tinha que se impor para não acabar em uma posição desagradável... E se o problema todo fosse um...

“Sei que levei mais de dez minutos! Desculpe a demora!” – ele entrou na sala com os cabelos ainda úmidos e deixou uma jaqueta sobre o sofá. – “Está pronta pa-...”.

“Quem é Meilin, Shaoran?” – interrompeu-o gravemente, fazendo com que ele arregalasse os olhos, espantado.

“Mei Ling...?” – ele pareceu confuso por um instante e aquele foi o tempo necessário para que Sakura se desse conta do que acabara de fazer; perguntar aquilo como se ele lhe devesse satisfações... Ela respirou profundamente e se forçou a relaxar, abrindo um sorriso amarelo.

“É que essa... Meilin ligou enquanto você estava no banho e deixou um recado...” – apontou para a secretária eletrônica, vendo-o franzir o cenho.

“O que aconteceu agora?” – ele murmurou entre irritado e preocupado, colocando a mensagem para tocar e ficando com a expressão mais fechada a cada instante. – “Por Buda! Será que os velhos não podem dar à minha prima um único dia de sossego?” – reclamou, desviando o olhar para Sakura, que tremia levemente olhando para o chão. – “Ei, está tudo bem?” – aproximou-se, vendo-a confirmar com a cabeça. Mas ela ainda estava estremecida, então a forçou a se sentar no sofá.

“Então... Meilin é sua prima...?” – ela se pronunciou com a voz tão repleta de um alívio cristalino que algo estalou na mente do rapaz... Sakura entendia um pouco de mandarim e a mensagem da prima foi tão intimista que poderia ser mal interpretada e causar... ciúmes.

“É, sim!” – sentou-se ao lado dela com um sorriso realizado e ajeitou delicadamente uma mecha dos cabelos caramelo atrás da orelha, só para ter uma desculpa pela qual tocá-la. – “Ela passou por maus bocados nos últimos tempos com o falecimento do marido, o nascimento precoce de Hua Jing e os anciões grudados nos calcanhares dela o tempo todo, feito cães famintos...” – comentou tristemente encarando-a curiosamente. – “Está melhor, agora?” – indagou, vendo-a desviar o olhar antes de confirmar. – “Que bom!”.

“Eu não sei exatamente o que aconteceu, mas deve ter sido difícil para ela...” – sussurrou, encarando os próprios pés. – “Ficar viúva e... ela deve ter sentido muito medo de perder a filha também...”.

“Se fosse assim tão simples...” – suspirou cansado, olhando para o telefone. – “Eu preciso ligar para Hong Kong e falar com Mei Ling a respeito da última barreira que os anciões colocaram na vida dela... Mas antes eu vou encomendar nosso jantar e pedir que eles entreguem aqui em casa...” – declarou, recebendo um olhar espantado. – “Depois disso eu poderei lhe contar em detalhes como realmente foram as minhas férias...” – segurou-a brevemente pela mão, antes de se levantar e pedir o jantar.

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Shaoran observava à distância enquanto Sakura se movia apressadamente no saguão do aeroporto de Hakodate, passando de um grupo a outro para conferir se estava tudo em ordem, repassando recados e organizando os alunos para que pudessem pegar os ônibus dentro de alguns minutos. Era possível sentir uma considerável mudança no clima, mas, apesar disso, foram poucos os alunos que decidiram se agasalhar melhor. Shaoran tinha a impressão, entretanto, que, mesmo que o clima da região deixasse-os a ponto de congelar, nada mudaria na animação que impregnava o ar. Afinal aquela excursão fora ansiosamente esperada pelas quatro turmas do terceiro colegial.

“Está tudo certo por aqui? Todos vocês já têm cópias do cronograma de viagem?” – Yamazaki indagou, atraindo a atenção do chinês para o pessoal que compunha seu grupo. Após conversar brevemente com Chiharu, o rapaz, que estava no chamado “grupo organizador” junto a Sakura, Yamazato, Yoshida e duas garotas de outras salas e que Shaoran não lembrava os nomes, seguiu em frente, continuando suas tarefas.

“Deve ser chato vocês não poderem aproveitar a excursão juntos, nee...” – Rika comentou com Chiharu que apenas sorriu conformada acompanhando o namorado se afastar.

“Nem todos tem a sorte de Eriol e Tomoyo...” – Naoko disse, brincalhona, vendo os amigos trocarem um olhar sorridente.

“As vantagens de não ser um dos organizadores...” – Tomoyo gracejou se aproximando das amigas enquanto Eriol dirigia-se até Shaoran.

“Não deve ser fácil para ti também...” – observou complacente, vendo o amigo suspirar pesadamente.

“Não sei o que me incomoda mais...” – começou pensativo, mas então meneou a cabeça. – “Pensando bem, eu sei, sim... Não é tanto o fato de estarmos em grupos separados, mas ela estar no mesmo grupo do Yoshida que mais me preocupa...”.

“Do Yoshida?” – Eriol espantou-se, forçando-se a ficar sério. – “Então... você não percebeu?”.

“Se está falando do fato de o Yoshida ter passado quase mais tempo na nossa sala do que na dele no último mês... é claro que percebi!” – retrucou impaciente, falhando em perceber o brilho divertido por trás dos óculos do britânico quando os professores chamaram a todos para embarcarem nos ônibus.

Havia três veículos aguardando no estacionamento e os alunos foram rapidamente divididos em três filas aos cuidados de um professor e dois monitores cada. Shaoran, que aguardava ao lado de Eriol para colocar sua mala no bagageiro, cruzou os braços resmungando ao ver que os monitores de seu ônibus eram Yoshida e Yamazato.

“Acalma-te, Shaoran!” – Eriol aconselhou, recebendo um olhar atravessado.

“É fácil para você falar isso...“ – disse entre os dentes, ajeitando a bagagem no porta-malas. – “Afinal, sua namorada vai estar ao seu lado durante toda a excursão...” – afastou-se, entrando no ônibus e deixando Eriol, que rolava os olhos, para trás.

As meninas do grupo estavam sentadas quase nas últimas poltronas e, assim que o viram entrar, chamaram-no para se juntar a elas.

“Você está curiosamente calado hoje, Li!” – Chiharu comentou, fazendo-o se espantar com a observação.

“Desculpem-me por isso...” – abriu um sorriso amarelo. – “Acho que ainda não entrei no clima da viagem...”.

Ele percebeu que Tomoyo o encarava com uma sobrancelha erguida deixando claro que sabia bem o motivo de sua falta de animação e, por isso, desviou o olhar da morena, vendo Eriol entrar no ônibus com um sorriso matreiro; seguido de Yoshida e do professor.

“Atenção, atenção!” – o professor chamou a todos, pedindo silêncio. – “Partiremos em instantes e faremos um trajeto de aproximadamente dez minutos até nossa primeira parada em Hakodate: o Forte Goryokaku...” – anunciou, erguendo o cronograma acima da cabeça. – “Chegando lá, visitaremos o Museu do Antigo Palácio dos Magistrados e a Torre Goryokaku. Depois disso os grupos terão tempo livre para explorarem o forte como quiserem até o horário do almoço...” – continuou, fazendo os ânimos se eletrificarem. ‘Tempo Livre’ era uma expressão quase mágica durante excursões. – “E não se esqueçam que, em caso de problemas, vocês devem entrar em contato comigo; com Yoshida ou com Kinomoto imediatamente...” – concluiu, sentando-se no banco da primeira fila e dando passagem para Sakura, que estivera apenas esperando o professor terminar de passar os recados para ir ao seu lugar.

O rosto de Shaoran se iluminou e o coração disparou com aquela notícia. Ela se encaminhou para o fundo do ônibus e sorriu ternamente passando por ele, que se virou para vê-la se sentar. E então toda a felicidade que sentira se desfez em um segundo, como um balão que entra em contato com um arbusto de espinhos... quando ela se sentou ao lado de Yoshida.

“Eu estou surpresa, Sakura!” – Tomoyo disse, observando-a por cima de sua poltrona. – “Achei que Yamazato fosse a outra monitora do nosso grupo...”.

“Ela era...” – respondeu com um sorriso. – “Mas como a Mishima e a Takada fazem parte do grupo que eu cuidava, ela me pediu para trocarmos...” – encolheu os ombros, como se não fosse nada demais, mas seus olhos pousaram sobre o chinês com um brilho de contentamento. Um olhar que ele não notou, porque estava voltado para frente com um ar de desânimo e consternação.

Pouco depois, o ônibus se colocou em movimento, mas o curto percurso nem deu tempo para relaxar. As risadas e conversas cheias de expectativa preenchiam o ambiente, mas para Shaoran aquele clima de festa era abafado por uma sensação de apreensão como ele nunca sentira antes.

Um estranho silêncio contemplativo se instalou no ar, fazendo-o despertar e olhar através da janela do ônibus e quase perder o fôlego. Ao redor de uma massiva Cidadela em forma de estrela, construída aos moldes ocidentais; centenas de cerejeiras com as folhas cadenciando entre o amarelo e o carmesim, formavam uma visão única e espetacular, capaz de fazer qualquer um esquecer, mesmo que momentaneamente, seus problemas. A fortaleza era enorme e o tempo para explorá-la, tanto no passeio guiado pelos professores quanto no período livre, pareceu insuficiente.

Shaoran sentia-se tão desanimado que não conseguiu fazer outra coisa a não ser acompanhar os colegas de um lado para o outro sem realmente aproveitar nem prestar atenção no que acontecia ao seu redor. Não via as brincadeiras dos companheiros, perdia as piadas e não prestava atenção nas atrações. Seus olhos buscavam incansavelmente por Sakura, e seu coração se comprimia cada vez que a localizava conversando com Yoshida.

Depois do almoço, voltaram ao ônibus e o professor anunciou que o próximo destino seria Hakodate Motomachi, uma antiga área residencial que havia sido ocupada por estrangeiros e cujo grande atrativo era as edificações ocidentais. Para Shaoran, que morara na Europa, aquilo não era nenhuma novidade e ele, novamente, deixou-se levar. Quase no fim da tarde, dirigiram-se até Kanemori Akarenga Soko, um edifício com a fachada de tijolos vermelhos, que costumava servir de armazém, mas havia sido convertido em uma área comercial e cultural, com restaurantes, cursos e museus. Neste lugar, os professores liberaram os grupos para explorarem o que mais lhes interessasse por duas horas, antes de se reunirem em um dos restaurantes dali, para o jantar. Shaoran, outra vez, foi carregado pelos amigos de um lado para o outro.

Quando, depois do jantar, chegaram ao hotel onde passariam a noite, Eriol puxou Shaoran para um canto a fim de terem uma conversa particular.

“Não quero pisar no teu calo, meu caro, mas não podes, pelo menos, fingir um pouco de entusiasmo?” – repreendeu-o exaltado. – “Se vais ficar com este humor horroroso, porque não te declaras para ela de uma vez?”.

“Não é tão simples, Eriol...” – rebateu, fazendo um olhar indagador surgir no rosto do amigo. – “Mas tentarei ser mais participativo amanhã, se isso o fizer feliz...” – bufou, rolando os olhos enquanto o outro meneava a cabeça.

“Se tu prestares um pouco mais de atenção e parares com a paranoia, verás o quanto estás sendo ridículo nisso tudo...” – encarou-o diretamente por um instante e, em seguida, afastou-se.

Shaoran permaneceu imóvel por alguns minutos, ponderando sobre as palavras do inglês. ‘De que maneira eu estaria sendo paranoico?’, indagou-se, suspirando pesadamente, antes de seguir Eriol.

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Sakura acordou no sábado com o som das vozes das colegas e de passos apressados percorrendo o quarto de um lado para o outro. Abriu os olhos encarando o teto enquanto se espreguiçava e notou que quase todas as meninas já estavam acordadas e a maioria delas já estava pronta para descer e tomar o desjejum. Havia uma pilha de futons a um canto do quarto e uma porção de malas no outro. Sentia-se um pouco cansada e estava um tanto surpresa de ver tanta gente de pé, pois haviam ficado até tarde jogando baralho, contando histórias e fazendo guerra de travesseiro.

“Sakura...” – Tomoyo a chamou, aparecendo na porta do quarto. – “A professora Mayu pediu para você ir até o refeitório, assim que puder...” – avisou, fazendo a amiga despertar completamente.

“Irei em um instante...” – começou a dobrar o futon em que dormira enquanto tentava localizar sua mala para pegar o uniforme. Arrumou-se rapidamente e, após ajeitar ligeiramente suas coisas na bolsa, saiu enquanto amarrava os cabelos.

Percorreu os corredores do hotel com passos apressados em direção às escadas quando, por não estar prestando atenção no caminho, esbarrou com alguém, que a segurou pelo braço para que não caísse.

“Hei, cuidado!” – ouviu a voz de Isamu quando a soltou. – “Machucou-se?” – indagou, vendo-a negar rapidamente.

“Está indo ao refeitório?” – ela perguntou, continuando a caminhar ao seu lado.

“Sim...” – suspirou um tanto cansado. – “Se eu soubesse que teríamos tanto trabalho, não teria me envolvido com a monitoria...” – reclamou, fazendo-a rir.

“Isso tudo deve ser frustrante para você...” – ela comentou, fazendo-o erguer uma sobrancelha. – “Não tem muito tempo para passar com Naoko...” – o fez desviar o olhar, um tanto embaraçado.

“E você não tem tempo para passar com o Li...” – ele retrucou, fazendo-a rir.

“Verdade...” – meneou a cabeça, tristemente. – “É realmente frustrante...”.

“Mas, hei... Teremos um dia inteiro para atividades livres na terça-feira!” – lembrou-a, tentando animá-la, mas acabou deixando-a pensativa.

Terça-feira também seria o dia em que Shaoran lhe diria o significado daquela frase... Ela tinha a sensação, cada vez mais forte, de que sua vida mudaria com isso. ‘E algo me diz que será para melhor...’, considerou silenciosamente.

“Que bom que vocês chegaram!” – a professora Mayu declarou, convidando-os a se sentar assim que entraram no refeitório e afastando aqueles pensamentos da mente de Sakura.

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Shaoran olhava mal-humorado para Eriol na poltrona à frente da sua no ônibus enquanto o amigo falava docemente com a namorada, mantendo um sorriso idiota no rosto. Era fácil sorrir daquele jeito... O inglês não tinha que ficar assistindo enquanto a mulher que amava era cercada por outro cara.

Desviou o olhar para a janela, vendo o professor se aproximar conversando com os monitores. Seus olhos se fixaram em Sakura quando ela ficou para trás, vendo alguma coisa no celular e abriu um sorriso animado.

“Posso sentar aqui, Li?” – desviou o olhar da janela e encarou Naoko, parada no corredor. Acenou positivamente com a cabeça, forçando um pequeno sorriso. Não queria dar motivos para Eriol voltar a implicar com ele porque acabaria se irritando e poderia até cair no braço com o inglês de volta, como acontecia quando eram crianças. Os olhos do rapaz acompanharam Sakura e Yoshida conforme passavam para o fundo do ônibus e sentavam-se duas fileiras atrás de si.

“Estão todos aqui?” – o professor indagou, fazendo a contagem e parando lá na frente, antes de se pronunciar. – “Estamos de partida para Sapporo, mas faremos uma breve parada no Parque Onuma em cerca de uma hora...” – avisou, antes de falar brevemente com o motorista que colocou o carro em movimento.

Alguns alunos puxaram um coro de músicas de viagem durante a primeira parte do trajeto, mas cansaram-se logo da brincadeira e quase metade do percurso acabou sendo feito em considerável silêncio, fator que Shaoran aproveitou para fechar os olhos e tentar cochilar por algum tempo. Quem sabe, assim, conseguisse ignorar a voz de Sakura conversando com Yoshida...

Mas fechar os olhos apenas pareceu aumentar a percepção de seus ouvidos que inadvertidamente se concentraram no que ela dizia...

“... não me pergunte como, mas eu tenho boas notícias sobre o que conversamos quarta-feira no colégio...” – ela disse em tom conspiratório.

“Não acredito!” – Yoshida parecia agradavelmente surpreso. – “Você conseguiu os...” – foi interrompido por ela.

“... os ingressos para o show que você queria? Consegui, sim...” – sua voz estava repleta de uma diversão nítida. – “Eu vou pegá-los assim que voltarmos de viagem e...”.

Não querendo ouvir mais, Shaoran abriu os olhos e se ajeitou na poltrona, tentando se concentrar em qualquer outra coisa que não fosse aquele sentimento devastador que lhe martelava o peito.

‘Por que isso está acontecendo?’, indagava-se ressentido. Tudo parecia estar tão certo entre eles. Ele até tivera a impressão de ter detectado ciúmes de Sakura no dia em que Mei Ling ligara para seu apartamento. ‘Então o que foi que deu errado?’, encarou o teto do ônibus, franzindo o cenho até quase sentir dor. Claro que o fato de ela ter sentido ciúmes não significava necessariamente que aceitasse ou conseguisse identificar os próprios sentimentos. Ele mesmo passara muito tempo sentindo ciúmes da melhor amiga antes de compreender o que aquilo significava...

“Algo errado, Li? Está se sentindo mal?” – foi arrancado de seus pensamentos pela voz de Naoko.

“Ah... Não, nada errado...” – forçou um sorriso, mas o olhar no rosto da garota continuava preocupado. Ela abriu a boca para falar algo mais...

“Naoko...” – Sakura a chamou, parando no corredor ao seu lado. – “Importa-se de trocar de lugar comigo por algum tempo?” – pediu, fazendo a garota arregalar os olhos. – “Eu gostaria de conversar um pouco com Shaoran...” – explicou.

“Ah, claro...” – concordou, levantando-se. Ao se cruzarem, Naoko murmurou algo para Sakura que a fez se voltar para encarar Shaoran com preocupação no olhar.

Ela se sentou sem desviar o olhar do rosto dele, como se procurasse por alguma indicação de problema. E, por mais chateado que ele estivesse, não conseguia fazer outra coisa a não ser retribuir o olhar, mergulhando nas joias esmeralda.

“Alguma coisa o está preocupando...” – ela declarou, sem um pingo de dúvida na voz e, erguendo a mão, passou-a carinhosamente pelo cabelo desalinhado.

Shaoran suspirou e pousou sua mão sobre a dela, trazendo-a para os lábios enquanto uma certeza se instalava em sua mente e coração. ‘Não posso desistir assim tão fácil...’, sentiu que um sorriso se formava em seus lábios. ‘Não vou desistir!’, assegurou a si mesmo.

“Também não vou perder...” – murmurou em chinês, fazendo-a arregalar os olhos de forma confusa em uma tentativa de entender. Quando ela deu indicações de que iria perguntar o que ele dissera, o rapaz continuou. – “Wǒ wánquán fúhé nǐ de ài...” – pronunciou com uma ênfase que, por um instante, a fez perder o fôlego...

O momento foi interrompido por um som abafado, parecido com um muxoxo inconformado, vindo da poltrona da frente onde Eriol meneava a cabeça enquanto Tomoyo dormia com a cabeça em seu ombro. Aquela reação do inglês fez Sakura ficar ainda mais curiosa quanto ao significado daquela frase, pois sabia que Eriol falava mandarim... Mas ela não poderia perguntar e ainda tinha quatro dias pela frente para tentar descobrir... Encarou Shaoran com um sorriso embaraçado.

“Já fazia tempo que... que não praticávamos...” – ela disse cuidadosamente, vendo-o concordar. Antes de iniciarem a conversa, ela percebeu que continuavam de mãos dadas e ele não dava indicações de que a soltaria tão cedo.

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O humor de Shaoran melhorou consideravelmente durante a viagem até Sapporo, principalmente quando, ao voltarem para o ônibus depois da parada em Onuma, Sakura voltou a sentar ao seu lado, abandonando Yoshida. Ele também estava satisfeito por saber que os monitores não eram obrigados a andar todos juntos, já que tinham como função auxiliar o maior número de alunos possível.

Sua mente logo começou a maquinar maneiras de afastá-la do monitor pelo máximo de tempo possível. Precisava usar os próximos quatro dias para fazer com que Sakura se apaixonasse por ele de uma vez por todas, e tirar seu rival da jogada era o primeiro passo para isso. No momento, entretanto, ele só queria aproveitar a proximidade de Sakura que cochilava com a cabeça encostada em seu ombro com o semblante pacífico. Respirando profundamente e aspirando o perfume dos cabelos suaves, relaxou e acabou adormecendo também.

Conforme se aproximavam da cidade, os jovens começaram a se agitar, de forma que os dois despertaram. Sakura se afastou, espreguiçando-se e massageando o pescoço. Shaoran sentiu-se subitamente gelado com a distância que foi imposta pelo afastamento dela.

“Acabei dormindo...” – ela sorriu um pouco sem-graça, encarando-o e vendo-o bocejar.

“Não tem problema... Eu também peguei no sono...” – ele respondeu, percebendo que o ônibus estava parando. Sakura suspirou pesadamente ao ver o professor se levantar.

“De volta ao trabalho...” – murmurou, encarando-o de forma apologética antes de se levantar.

O clima ali estava bem mais congelante que em Hakodate e todos vestiram casacos mais grossos antes de descer do ônibus. Assim que desembarcaram em frente à Torre do Relógio Tokeidai, no centro de Sapporo, os alunos logo começaram suas atividades, tiraram fotos, discutiram a importância histórica daquele edifício... Estavam em uma excursão escolar, afinal. E, uma vez que cada grupo estaria por conta própria até o almoço, começaram a planejar a rota que tomariam para os próximos pontos de interesse da região.

“Eu sugiro visitar Sapporo Factory primeiro...” – Eriol comentou, olhando o mapa da área que estava anexado ao cronograma. – “Fica a dez minutos de caminhada daqui e é o ponto mais distante, mas, se fizermos o trajeto Sapporo Factory, Nijo Ichiba, Odori Koen, teremos o Jardim Botânico como próxima parada e bem a tempo para o almoço...” – comentou, traçando com a caneta o percurso sugerido e formando um desenho de espiral.

“E podemos deixar o Edifício Akarengo para depois do almoço...” – Tomoyo pegou a caneta da mão de Eriol e traçou uma nova linha no mapa.

“É uma boa ideia!” – Rika analisou o plano com um sorriso. – “Nós precisamos estar no Jardim Botânico à uma e meia, visitaremos Akarengo antes de voltarmos ao ônibus e... Depois disso para onde iremos?” – perguntou, pedindo para ver o programa que Chiharu tinha nas mãos.

“Ao Observatório Okurayama, até às cinco horas...” – Sakura respondeu com um sorriso, juntando-se ao grupo. – “E depois teremos tempo livre até o pôr-do-sol em Hitsuji-ga-oka, antes de irmos ao hotel...”.

“Não é nesse lugar que tem a estátua daquele homem que dizia: ‘Rapazes, sejam ambiciosos’?” – Tomoyo falava, intrigada. – “Qual era o nome dele, mesmo?”.

“Dr. William S. Clark...” – Shaoran respondeu, vendo Sakura confirmar com a cabeça.

“Vocês já decidiram o que visitarão primeiro?” – a jovem de olhos esmeralda observou o mapa que Eriol estendeu a ela com aprovação. – “Ótimo!... Importam-se de eu ir com vocês?” – pediu sendo imediatamente aceita.

“É melhor irmos, então!” – Eriol falou com um tom de riso ao ver a expressão de felicidade que se formou no rosto de Shaoran quando Sakura se postou ao seu lado.

A caminho de Sapporo Factory, encontraram outros grupos que planejaram fazer o mesmo percurso e juntaram-se a eles, formando um grupo de quase vinte pessoas. Neste dia, o passeio foi bem mais proveitoso para o chinês que, colocando-se lado a lado com Sakura, finalmente começou a entrar no clima de festa da ocasião.

Sakura também estava mais tranquila neste momento do que se permitira sentir no dia anterior, sob o olhar atencioso dos professores. Divertia-se com as brincadeiras e ria alegremente apenas por poder passar aquele tempo ao lado de Shaoran e esquecer quaisquer dúvidas ou problemas.

Mas aquele tempo não durou tanto quanto ambos gostariam, pois, quando saíam de Nijo Ichiba, cruzaram com outro grande grupo de colegas que era acompanhado por Isamu.

Sakura, após trocarem algumas palavras, decidiu trocar de lugar com ele, partindo em uma direção diferente à dos amigos. Sentiu parte de sua felicidade ser deixada para trás, junto a um par de olhos âmbares. Mal sabia ela que esses mesmos olhos agora se voltavam com muito rancor para Yoshida, a quem julgava ter propositalmente separado-os.

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“Isso é tudo por hoje...” – a professora Mayu declarou, pegando das mãos de Sakura os relatórios com o resumo dos eventos do dia e olhando para o relógio no saguão do hotel. – “Muito obrigada pelo trabalho árduo...” – a mulher se levantou da mesa que ocupava, sendo imitada pela jovem. – “Agora aproveite para descansar...” – recomendou.

“A senhora, também! Tenha uma boa noite, professora!” – prestou reverência, vendo a mulher se afastar.

Suspirando pesadamente, alongou-se demoradamente, sentindo os músculos das costas rígidos após passar quase duas horas sentada numa mesma posição. Tudo o que queria agora era tomar um bom banho, cair na cama e dormir feito uma pedra até a manhã seguinte. Entretanto, sabia que as garotas com quem dividia o quarto dificilmente estariam tão cansadas quanto ela.

“Não tem jeito...” – murmurou, colocando-se a caminho do quarto com pouca perspectiva de dormir. Subiu as escadas e atravessou o corredor com passos vagarosos.

“Nossa, Sakura...” – Tomoyo falou, parando ao seu lado e enganchando os braços. – “Você parece ter sido atropelada por um caminhão...” – brincou, fazendo a amiga rir.

“Obrigada pela sinceridade...” – observou os cabelos negros da morena, ainda úmidos, e a aparência recém-saída do banho. – “Está voltando do onsen?” – perguntou, recebendo assentimento.

“Sim... as coisas estavam bem agitadas por lá até pouco tempo... os garotos não nos deixavam relaxar...” – falou contendo um riso. – “Mas é divertido frequentar termas mistas de vez em quando...”.

“Se eles estão fazendo tanta bagunça assim, vou tomar banho no quarto mesmo antes de dormir...” – suspirou cansada, vendo Tomoyo menear a cabeça.

“Os garotos se cansaram logo... Eu e Chiharu fomos as últimas a sair de lá agora a pouco...” – disse gentilmente, pegando a mão de Sakura. – “Você trabalhou bastante hoje... merece relaxar...” – comentou quando entravam no quarto, vendo uma roda de garotas apostando doces num jogo de cartas animado. – “E não vai conseguir fazer isso por aqui...”.

Bastou olhar de relance o ambiente do quarto para Sakura perceber que Tomoyo tinha razão. Quando ouviu os convites para entrar no jogo, já havia decidido pegar sua roupa de banho e descer para as piscinas térmicas do hotel.

Enquanto colocava o maiô no vestiário feminino sentia o peso do dia sobre seus ombros, como se o cansaço tivesse um corpo físico. Não fazia a mínima ideia de como conseguiria aguentar os próximos dias.

‘Nossa, que silêncio...’, pensou quando abriu a porta de correr das fontes termais e verificou que, como Tomoyo havia dito, não havia mais ninguém ali. Agradeceu mentalmente à amiga por tê-la aconselhado a descer e mergulhou o corpo na água quente.

‘Nem lembro mais quando foi a última vez que estive em um onsen...’, sentiu os músculos relaxarem quase que imediatamente.

Enquanto seu corpo recuperava as energias, começou a pensar no dia que passou. Depois de ter trocado de lugar com Isamu para dar ao rapaz a chance de estar com Naoko, não conseguiu mais passar tempo algum com Shaoran. Uma das muitas desvantagens que estava tendo naquela viagem era o reduzido tempo de atividades livres, pois, com exceção da hora do almoço e de dormir, passava o tempo todo realizando tarefas para os professores.

Após vários minutos naquele ambiente completamente relaxante não foi surpresa que, por alguns instantes, Sakura sentisse a cabeça flutuar em um estado de semiconsciência. Dando-se conta da própria sonolência, o pensamento de sair das termas havia acabado de cruzar sua mente quando o som da porta se abrindo a fez despertar. Sentou-se rapidamente, assumindo uma postura alerta.

'Seria realmente pedir demais querer ter esse lugar só pra mim por muito tempo...', sentiu a água se agitar e rapidamente se virou para sair dali. Não queria estar a sós naquele lugar com um estranho.

“Sakura?” – ouviu chamarem seu nome quando alcançou o roupão e se voltou para a entrada, com o coração acelerado.

“Ainda bem que é você...” – sorriu levemente, voltando a mergulhar o corpo na água, enquanto o dono dos olhos âmbares se aproximava um tanto hesitante.

“Você está sozinha aqui?” – ele estranhou, vendo-a confirmar.

“Eu terminei as atividades de monitoria há pouco tempo e vim para cá relaxar, aproveitando o silêncio...” – explicou, encarando-o contente. – “Quando ouvi a porta se abrir achei que teria de sair, mas...” – encolheu os ombros.

Mas o quê?” – ergueu curiosamente uma sobrancelha.

“Mas é você, então está tudo bem...” – completou com um risinho desconcertado.

Shaoran se recostou à borda da piscina, ao lado de Sakura sem desviar o olhar do dela, incerto quanto ao que pensar daquilo. Embora se sentisse feliz por ela não o considerar uma ameaça, não se sentia exatamente confortável com a constatação de ser o único a sentir aquela tensão por estarem a sós...

E quanto mais pensava naquilo, pior lhe parecia a situação, pois, qualquer que fosse o ponto de vista que tomasse, ele era um rapaz e ela, uma garota... ‘E estamos os dois a sós...’, pensou, sentindo a garganta se fechar ao notar como os cabelos dela, presos em um coque bagunçado, deixavam à mostra a linha do pescoço delicado, ao mesmo tempo em que gotejavam sobre a clavícula e a alça do maiô.

"Você não devia estar tão à vontade sozinha aqui comigo..." – comentou com a voz profunda e rouca, desviando o olhar para se controlar. Não era o momento para ficar pensando naquelas coisas.

"Por que não?” – Sakura indagou erguendo uma sobrancelha e atraindo a atenção dele novamente. – “Eu sei que você não fará nada que eu também não queira..." – encolheu os ombros com um sorriso de lado que o fez estremecer. – "Você fica nervoso por estar aqui comigo?".

Ao voltar a focar os olhos esmeraldinos, a ternura e confiança que ele encontrou refletidos ali eram tão intensos que toda a tensão que sentia, simplesmente, esvaíram-se. Naquele momento Shaoran compreendeu que, por mais forte que fosse a atração que sentisse por ela, e ele sabia que realmente era forte, não havia nervosismo... apenas... ‘O quê?’, indagou-se, sendo retirado de seus pensamentos quando ela suspirou pesadamente e fechou os olhos brevemente demonstrando cansaço.

“Você está esgotada, não é?” – viu-a negar com a cabeça ao mesmo tempo em que bocejava. – “Teimosa!” – sorriu gentilmente, deixando-a amuada.

“Eu quero ficar para conversarmos mais...” – declarou, subitamente, em mandarim, espantando-o. – “Precisamos praticar mais por que...” – ela fez uma pausa buscando pelas palavras corretas. – “...Porque eu só tenho mais três dias para descobrir sozinha o que ‘Wǒ wánquán fúhé nǐ de ài’ significa...” – comentou enrubescida, mordendo levemente o lábio inferior.

Shaoran abriu ainda mais o sorriso que tinha nos lábios ao ouvi-la pronunciar aquelas palavras. Sabia que ela não fazia ideia do que queriam dizer, mas seu coração insistia em falhar uma batida. Perguntou-se intimamente se ela voltaria a repetir aquela frase depois que soubesse o significado e, por um momento, considerou revelar tudo e encerrar aquele assunto de uma vez... Mas não podia fazer aquilo porque havia prometido...

Voltando a encará-la, percebeu que, por mais que tentasse se fazer de forte, Sakura estava realmente muito cansada e mal conseguia manter os olhos abertos.

“Teremos outras oportunidades de conversar...” – respondeu, vendo-a voltar a bocejar.

Durante alguns instantes apenas se encararam em silêncio, até que Sakura se sentiu obrigada a concordar, desanimada. Sem falar nada, ela apenas se colocou de joelhos para alcançar o roupão.

“Eu também vou sair...” – ele declarou de forma inesperada, assustando-a e fazendo-a se desequilibrar no piso escorregadio, indo de encontro à borda da piscina. Os segundos seguintes se passaram em um borrão quando, para evitar que Sakura se machucasse, Shaoran instintivamente a puxou para si, segurando-a firmemente pela cintura.

Subitamente, Sakura se viu envolvida pelos braços do chinês e seu coração batia tão forte no peito que ela mal conseguia ouvir os próprios pensamentos. Por um breve instante, fechou os olhos deixando-se ficar naquele abraço. Simplesmente aproveitando a sensação de estar ali. Ouviu a voz dele ecoar em alguma parte de sua mente que não estava completamente absorta no momento.

“Sakura!” – chamou-a, fazendo com que ela arregalasse os olhos, abaixando o rosto enrubescido. – “Você está bem?” – ele perguntou, aparentemente não pela primeira vez, preocupado.

“Estou...” – ela murmurou sem encará-lo. Afastou-se levemente, embora ele não a tenha soltado, sentindo-se envergonhada tanto pelo escorregão como por ter se deixado levar pela imaginação numa situação daquelas.

“Tem certeza?” – insistiu, vendo-a concordar com a cabeça, ainda evitando olhá-lo. Shaoran suspirou exasperado; daquele jeito não tinha como saber se ela falava a verdade ou apenas tentava evitar que ele se preocupasse, como era de costume. – “Sakura?” – chamou-a inquisitivamente.

“Eu estou bem, Shaoran!” – respondeu, mexendo-se levemente incomodada e tentando se afastar um pouco mais.

“Então por que não olha para mim?” – indagou, levando a mão até o queixo dela e erguendo-o gentilmente até que seus olhos se encontrassem.

A intensidade dos sentimentos refletidos nos olhos verdes, fizeram com que ele perdesse o fôlego momentaneamente e seus pensamentos foram envolvidos por uma névoa densa, tornando-se confusos. Não conseguia pensar em mais nada, mas não era realmente novidade que aqueles olhos tivessem o poder de hipnotizá-lo.

O casal apenas permaneceu se encarando, perdendo completamente a noção do que acontecia ao seu redor. Palavras fugiam-lhes do alcance, mas não fazia diferença... não precisavam delas! Seus olhos falavam diretamente aos seus corações e não deixavam espaço para enganos.

Nem ao menos perceberam quando, como se fossem atraídos por um imã, começaram a se aproximar, resfolegantes. As mãos de Sakura, espalmadas no peito de Shaoran, subiam e desciam com o esforço dele em busca de ar. O calor das respirações misturavam-se ao vapor do onsen, acariciando-os e fazendo com que os lábios estremecessem de antecipação. Já fazia tanto tempo desde a última vez em que...

“Tem alguém aí?” – uma voz masculina perguntou, fazendo-os se separarem um tanto quanto bruscamente, instantes antes de a porta se abrir, dando passagem a um homem que usava o uniforme do hotel. – “Desculpem incomodá-los, mas o onsen fecha às onze horas para manutenção e limpeza...” – explicou polidamente, sem demonstrar estranhamento ou desconfiança ao encontrá-los a sós por ali, o que Sakura agradeceu mentalmente enquanto alcançava o roupão.

“Vou sair primeiro!” – anunciou a Shaoran, cobrindo-se assim que deixou a piscina a caminho do vestiário.

Enquanto secava os cabelos, já vestida, Sakura tentava em vão acalmar o coração palpitante em seu peito. Seu corpo estava pegando fogo e isso nada tinha a ver com o fato de ter acabado de sair de uma fonte termal vulcânica. Se o funcionário do hotel não tivesse aparecido, eles teriam se beijado e... O calor apenas aumentou, apressando-a a sair do vestiário abafado o mais depressa possível.

Ela só lembrava de ter sentido aquela intensidade de sentimentos uma única vez: sob o Pinguim Real em Tomoeda durante o período em que ainda estavam experimentando.

‘E todos sabemos como as coisas acabaram daquela vez...’, não conseguiu evitar o pensamento ao se deparar com Shaoran, que estivera evidentemente aguardando-a sair. Respirando profundamente, ela parou diante dele enquanto uma apreensão inusitada crescia em seu peito e esmagava a excitação que sentia até alguns instantes.

“Você não está aqui para se desculpar... ou está?” – indagou, direta, encarando-o seriamente e o viu piscar confuso antes de esboçar um sorriso.

“Pelo quê?” – fez-se de desentendido, mostrando que não estava nem um pouco arrependido de tê-la quase beijado.

“Bem...” – ela sorriu; o receio que sentira desapareceu feito mágica. Começou a caminhar lentamente em direção ao quarto com o chinês ao seu lado. – “Se você não sabe, eu é que não vou explicar...” – brincou, olhando-o de soslaio. – “Obrigada por ter me esperado...”.

“É sempre um prazer...” – a resposta galante a fez rir, antes de iniciarem uma conversa sobre banalidades que os levou a vagar pelos corredores do hotel até o horário de irem para os próprios quartos.

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Sakura entrou no saguão do hotel vasculhando o lugar quase vazio com os olhos. Apertou firmemente a sacola que trazia nas mãos, divertindo-se intimamente só de imaginar a expressão no rosto de Shaoran quando abrisse o pacote.

“Isso se eu conseguir encontrá-lo...” – resmungou, virando-se para sair, mas parou ao escutar a voz inconfundível do chinês. Localizou-o sentado a uma mesa no canto da sala com Eriol, Yamazaki e outros garotos da turma que conversavam divertindo-se; ela se aproximou aproveitando para observá-lo atentamente. Quase não tinham se visto durante aquele dia.

Eriol foi o primeiro a vê-la e deu uma cotovelada em Shaoran, falando algo que o fez erguer o olhar e abrir um sorriso enquanto se levantava. Os garotos fizeram alguns comentários soltando risadinhas, fato que o fez alargar o sorriso e menear a cabeça.

“O que eles disseram?” – ela perguntou curiosamente, quando ele parou a sua frente.

“Uma porção de besteiras...” – foi a resposta evasiva dele, encarando-a carinhosamente. – “Eriol disse que você estava perguntando por mim antes da janta...” – indicou uma mesa afastada da visão dos colegas para conversarem. – “Mas ninguém sabia dizer onde você estava mais cedo...”.

“Você também não é a pessoa mais fácil do mundo de se localizar...” – ela reclamou, sentando-se diante dele. – “Faz mais de meia hora que o estou procurando e este hotel nem é assim tão grande...”.

“E por que estava me procurando?” – ele quis saber, vendo um sorriso matreiro surgir no rosto dela quando colocou a sacola de presente sobre a mesa.

“Vi isso na loja de souvenirs do zoológico Asahiyama esta tarde e lembrei imediatamente de você...” – comentou sorrindo. – “Abre, vai!” – ela o incentivou, vendo-o erguer uma sobrancelha em desconfiança.

Shaoran suspirou ao tirar a touca de panda do pacote, ficando em silêncio por alguns segundos. Ela sabia que talvez não devesse, mas a ideia de provocá-lo com aquilo foi tão deliciosa que não conseguiu se conter.

“Eu imaginei que seria algo parecido...” – ele comentou, colocando a touca na cabeça. – “É bem quentinha! Como fiquei?” – perguntou para surpresa dela que começou a rir.

“Está muito fofo!” – Sakura declarou, vendo-o dar de ombros.

“Você nunca vai se esquecer daquele avental ridículo, não é?” – indagou, encarando-a seriamente.

“Provavelmente não...” – ela abriu ainda mais o sorriso, mas então seu olhar mudou tornando-se, de certa forma, sugestivo. – “Mas... acho que vai depender de eu ter outras coisas nas quais pensar...” – comentou e Shaoran arregalou os olhos. Sakura lançou um olhar para um ponto atrás dele e, vendo os rapazes que estavam com Shaoran mais cedo se aproximarem, esticou-se sobre a mesa e puxou a touca da cabeça dele, deixando os cabelos castanhos ainda mais bagunçados que o normal. – “Acho que vou ficar com isso pra mim...” – guardou-a de volta na sacola, sem desviar o olhar do dele.

“Shaoran...” – Yamazaki o chamou, fazendo-o erguer um pouco o rosto para indicar que estava ouvindo. – “Estamos indo jogar boliche ali do outro lado da rua...” – continuou, alguns passos atrás do chinês. – “Você vem?” – indagou, vendo-o concordar levemente.

“Vão na frente que eu já os alcanço...” – respondeu, ainda sem desviar os olhos da japonesa. Yamazaki logo se afastou e Shaoran se aproximou, ainda mergulhado nos orbes esmeralda. – “Você pode guardar isso, por enquanto, mas...” – abriu um sorriso, levantando-se. – “Depois eu pego o que é meu...” – e, dizendo isso, deu meia-volta e saiu, seguindo os rapazes.

Sakura acompanhou com os olhos enquanto Shaoran saía do salão. Seu coração ressoava com a força de tambores e sua mente tinha dificuldades para conciliar o que acabara de acontecer: eles estavam flertando descaradamente um com outro... Sacudiu a cabeça, tentando colocar ordem nos pensamentos, mas deu-se conta de que um sorriso bobo estava estampado em seu rosto.

“Posso me sentar aqui?” – ouviu alguém perguntar e, ao olhar para cima, viu Yamazato parada ao seu lado com um bolo de papéis na mão.

“Claro!” – concordou, vendo-a sentar-se e suspirar cansada. – “Está fazendo os relatórios de hoje?” – indagou, recebendo assentimento.

“Seria mentira se eu dissesse que não gosto de ser monitora, mas...” – pegou uma caneta, preparando-se para iniciar o trabalho. – “Essa parte do trabalho é realmente chata...” – comentou, começando a passar a limpo os eventos do dia.

“Sei muito bem disso...” – Sakura observou por um instante enquanto a ruiva trabalhava. – “Foi horrível ter que fazer isso ontem à noite enquanto todos se divertiam à minha volta...” – suspirou, meneando a cabeça. – “Deixe-me ajudá-la, vai...” – pegou uma folha, recebendo um olhar de estranhamento.

“Tem certeza? Sabe que não precisa fazer isso...” – retrucou, estendendo a ela uma caneta.

“Eu sei, mas...” – deu levemente de ombros. – “Esse é um trabalho tão maçante que não o desejo a ninguém...” – completou, lendo o que estava escrito em uma das folhas.

“Nem mesmo para mim?” – Yamazato perguntou tão subitamente, que Sakura ergueu o rosto assustada.

“É claro que...” – começou vendo um esboço de riso nos lábios da outra e, percebendo se tratar de uma brincadeira, meneou a cabeça rindo também.

“Você consegue entender a caligrafia do Yoshida? Ou a do Yamazaki?” – Akio indagou, franzindo o cenho. – “Não entendo metade do que está escrito aqui...” – comentou, entregando a folha para Sakura que a pediu com um gesto.

“Não é tão ruim assim...” – riu, começando a ditar o que estava escrito para que a ruiva passasse a limpo. – “Você nunca viu a escrita do meu irmão na época em que ele estava na faculdade... Nem ele se entendia, às vezes...” – devolveu a folha a Akio, voltando a trabalhar na sua.

“Pelo que eu me lembre, a caligrafia do Li também não é das melhores...” – Yamazato disse com um pequeno sorriso. – “Posso lhe fazer uma pergunta bem pessoal?” – começou subitamente, fazendo Sakura erguer os olhos para observá-la com curiosidade.

“Minha nossa!” – alguém disse, apoiando-se nas costas da cadeira de Akio. – “Vocês estão assim tão íntimas para ficar trocando confidências sobre suas vidas pessoais?”.

“O que você quer agora, Akami?” – a ruiva se endireitou na cadeira, enrijecendo as feições. Sakura as olhou com estranhamento, mas se manteve em silêncio e voltou a trabalhar em seu relatório. – “Cansou de perturbar a Hikari?”.

“O que foi isso, amiga?” – a morena se sentou na cadeira ao lado da ruiva com um sorriso sardônico. – “Agora que arrumou outra amiguinha, não precisa mais de mim?” – fez-se de ofendida.

“Não se faça de desentendida... É você quem está me evitando, Aka-...” – Akio começou, mas foi interrompida.

“Não me venha com desculpas, minha querida, porque eu sei muito bem como a sua mente funciona...” – acusou, virando-se para Sakura que se assustou levemente com o rompante. – “Não se deixe enganar, Kinomoto. Esta aqui só está sendo toda agradavelzinha porque a reputação dela depende de você agora!” – abriu um sorriso de lado.

“Você está enganada, Akami!” – a ruiva tentou argumentar, mas foi cortada.

“Agora vai me dizer que você ama a mosca morta da Kinomoto com todo seu coração?” – perguntou com um riso irônico, quando Sakura murmurou um ‘Hei!’. – “Você finalmente está provando do seu próprio veneno, isso sim!”.

“Mas do que você está falando?” – Yamazato encarou-a confusa. – “Eu posso ter sido uma megera com muita gente, mas nunca fiz nada contra você!” – declarou, assustada. – “Akami... você sempre foi minha melhor amiga... minha confidente!”.

“Eu nunca fui sua amiga!... Eu era sua sombra!” – exaltou-se, pondo-se de pé e encarando a ruiva com raiva e consternação. – “Mas eu nunca mais vou ser usada e reduzida por sua causa! Está me ouvindo?” – empurrou Yamazato, quando esta tentou se aproximar. – “Meu coração nunca mais vai ser pisoteado por pessoas que querem se aproximar da herdeira dos Yamazato através do elo mais fraco!” – declarou, lançando à outra um olhar de superioridade.

“Akami... eu não sabia...” – murmurou, sentando-se com uma expressão de derrota e lágrimas de dor nos olhos. Sakura evitava até respirar, pois se sentia uma intrusa naquela discussão.

“Mas a minha vingança tem sido lenta e doce...” – Akami riu-se de uma piada que apenas ela entendia. – “Você não imagina o quanto eu me diverti nos últimos três anos, vendo você se apaixonar aos poucos por um ‘suposto’ pé-rapado... e assistindo de camarote enquanto você se contorcia de ciúme por causa daquela ridícula amizade colorida entre ele e a Kinomoto, aqui...” – declarou acidamente. Akio cobriu a boca, embaraçada, evitando olhar na direção de Sakura, mas sentindo toda a intensidade com que ela a encarava. – “E como eu ri quando descobrimos que o Li era um herdeiro abastado, sabendo que você já não tinha mais nenhuma chance...”.

“Akami... Basta!” – Akio declarou firmemente, recebendo um olhar de desdém.

“Tudo bem...” – deu de ombros. – “O que me importa realmente é saber que agora você está à sombra da Kinomoto e eu...” – respirou profundamente, como se, pela primeira vez, estivesse se sentindo livre. – “Eu agora sou o centro das atenções entre nossos amigos. Eles agora vêm falar comigo para fofocar a seu respeito e rir à sua custa...”.

“Se você está feliz com isso, tudo bem...” – Sakura finalmente se pronunciou, atraindo a atenção das duas. – “Mas, essas pessoas que se dizem seus amigos também irão abandoná-la ao primeiro sinal de problemas...” – continuou calmamente, ignorando o olhar revoltado de Akami. – “Porque tudo o que eles veem é a herdeira dos Mishima e toda a fortuna atrelada a isso... Nada mais...”.

“Não se engane...” – a morena retrucou com um sorriso de lado e a encarou friamente. – “Não terei a mesma sorte que sua amiguinha aí...” – completou com uma careta de escárnio antes de se virar e sair.

O clima na mesa se tornou silencioso e pesado. Akio observava o salão vazio com uma atenção desnecessária, apenas para evitar ter que encarar a jovem de olhos verdes do outro lado da mesa. Sentia o coração pesar com a dor que as revelações de Akami lhe causaram, mas também de mágoa pela traição. Confiara na morena, confidenciara-lhe seus sentimentos pelo chinês. Jamais imaginara que seriam revelados, muito menos diante da pessoa por quem...

“É verdade isso?” – ouviu Sakura perguntar em um sussurro, mas não esboçou resposta. O que poderia dizer sem parecer ainda mais deplorável? – “Yamazato...” – voltou a ser chamada e, criando coragem, encarou duramente os olhos esmeralda.

“De onde você acha que surgiu toda a antipatia que eu sentia por você?” – retrucou, não conseguindo sustentar o olhar da outra. – “Eu morria de inveja do seu relacionamento com o Li... e sentia tanta raiva por ver que, não tendo nada que a impedisse de ficar com ele, você se mantinha inerte, mesmo que todos pudessem perceber o quanto você queria bem mais que apenas amizade...” – apertava as mãos fortemente e sua voz soou estremecida. – “E sinto tanto desgosto por ter me deixado conduzir por meus pais e pela maneira deles de pensar...” – sentia um bolo preso na garganta.

“Você está enganada quando fala que nada me impedia de ficar com Shaoran...” – Sakura começou com um sorriso triste. – “Você sempre esteve presente entre nós dois...” – suspirou pesadamente. – “Ele falava de você o tempo todo... pensava em você o tempo todo...” – fechou os olhos, meneando a cabeça. – “Eu posso não ter sido tão evidente em minhas atitudes, mas sentia inveja... e raiva de você também...” – voltou a abrir os olhos, sentindo-se estranhamente mais leve por ter admitido aquilo.

“Eu nunca imaginaria...” – Akio voltou a encarar Sakura e as duas caíram num silêncio reflexivo por um tempo que não souberam precisar. Pela primeira vez, ambas realmente sentiam uma compreensão mútua, livre de quaisquer outras presenças ou fatores. Não eram amigas; mas também não eram inimigas e, apenas com isso, elas podiam se entender.

“Você pretende se declarar para ele?” – Sakura indagou subitamente, fazendo a ruiva franzir o cenho.

“Não!” – meneou a cabeça violentamente. – “Por que eu faria isso sabendo que serei rejeitada?” – pegou novamente uma caneta, tentando voltar às suas tarefas para encerrar o assunto.

“Você não acha que se arrependerá de não ter, ao menos, tentado?” – questionou, vendo Yamazato abrir um sorriso.

“Como se você pudesse falar sobre isso...” – comentou irônica, mas Sakura não se deixou abalar.

“Mas eu conheço a sensação que nos consome ao olharmos para trás e nos depararmos com nossa própria covardia...” – desviou o olhar para o teto, sentindo a visão turva. – “Conheço o arrependimento de saber que, por medo do desfecho, a felicidade pode ter nos escapado por entre os dedos...” – voltou a encarar a ruiva. – “Então, eu acho que posso, sim, falar sobre isso...”.

“E o que você pretende fazer a respeito?” – Yamazato quis saber, fazendo Sakura sorrir com determinação.

“Vou me declarar a ele... Depois de amanhã...” – garantiu, lançando um olhar de desafio à outra. – “Eu e Shaoran temos alguns assuntos a resolver na terça-feira. Resolverei isso também...” – encararam-se por um momento em silêncio. Depois voltaram a preencher os relatórios sem trocar mais nenhuma palavra.

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Shaoran estremeceu levemente com o vento gelado e deu mais uma volta no cachecol que trazia no pescoço. Durante a viagem de Asahikawa a Wakkanai ele desejara intensamente que a previsão meteorológica para o dia estivesse errada... Mas não estava. A temperatura na região mais setentrional do país era de 1ºC, e ainda iria cair até a noite. Pela primeira vez durante a excursão, os alunos se encontravam amontoados e parados, prestando atenção ao que os professores explicavam a respeito de certo lugar, mas, por mais que tentasse evitar, ele não conseguia impedir que seus olhos se desviassem da pirâmide triangular de pedra, um dos marcos históricos do Cabo Soya, a procura de certo gorro de panda. Simplesmente parecia-lhe menos interessante o fato de estarem a 43 quilômetros da Rússia do que tentar entender o porquê de Sakura o estar evitando desde cedo.

“Vocês têm uma hora para explorar a área...” – o professor declarou, ouvindo um burburinho que, nem de longe, lembrava a animação dos dias anteriores à menção de tempo livre.

Shaoran voltou rapidamente seu olhar para onde vira “o panda” segundos antes, mas ele não estava mais ali.

‘O que está havendo?’, estranhou adiantando-se alguns passos para procurar por Sakura, mas foi abordado por Yamazato no caminho.

“Posso falar com você por um instante, Li?” – ela indagou com uma expressão estranhamente séria e obstinada.

“Ah...Tudo bem...” – concordou, olhando novamente para o lugar onde vira Sakura antes de seguir Yamazato.

“Eu gostaria de visitar o monumento Hisaya Morishige...” – ela comentou apontando para uma pedra que ficava a uns 200 metros de onde estavam. – “Importa-se de me acompanhar até lá?” – pediu, deixando-o curioso.

“Não, eu... eu vou… com você, claro...” – respondeu olhando ao redor a procura do chapéu de panda. Yamazato abriu um sorriso aliviado quando ele a encarou.

Akio puxou levemente a touca de lã que usava e esfregou as mãos cobertas pelas luvas carmins para aquecê-las enquanto começava a se afastar seguida pelo chinês.

“Eu sabia que era frio aqui, mas não imaginei que fosse tanto...” – comentou após algum tempo, observando o rapaz ao seu lado. – “Embora esse clima seja perfeito quando se está acompanhado...” – viu-o arregalar levemente os olhos.

“O que mais assusta é estar fazendo todo esse frio em pleno outubro...” – ele respondeu, colocando-se na defensiva, fazendo um sorriso triste se desenhar nos lábios da garota.

O silêncio voltou a se instalar entre eles, conforme se aproximavam do monumento que, Shaoran começava a perceber, não se tratava de uma pedra.

“Este é o chamado Monumento Musical?” – Shaoran decidiu falar alguma coisa, tentando desfazer o ambiente pesado entre eles.

“Sim...” – Akio sorriu levemente por ele ter decidido falar alguma coisa desta vez. – “Quando paramos em frente a ele, a música “Soya-misaki” começa a tocar...”.

“Não conheço essa música...” – ele comentou, encolhendo-se por causa de um vento mais frio que passou por eles vindo do mar.

“É uma música muito bonita...” – ela suspirou pesadamente, pensando em outro tópico de conversa apenas para não deixar o silêncio se estabelecer novamente. – “Você pretende ir esquiar amanhã?” – indagou, vendo-o confirmar com a cabeça.

“Sim... Sakura me fez comprar um agasalho especialmente para a ocasião...” – abriu um sorriso caloroso ao mencionar a jovem de olhos verdes que levou lágrimas aos olhos de Akio.

“Ah! Chegamos!” – Yamazato exclamou subitamente, correndo os últimos metros que faltavam até o monumento e parando a alguns passos de uma placa negra com as notações musicais e a letra do hino de Cabo Soya.

Shaoran chegou perto do monumento calmamente, ouvindo com mais e mais clareza o som do tonkori e das flautas mesclarem-se à voz da intérprete em uma canção repleta de tristeza... Mas o que mais lhe chamou a atenção foi o movimento contido dos ombros da ruiva à sua frente, que se sacudiam levemente, como se ela estivesse chorando.

“Aconteceu alguma coisa?” – por um instante ele não soube exatamente o que fazer, mas, hesitante, aproximou-se até parar atrás da garota. – “Você está bem?” – colocou a mão sobre o ombro trêmulo, fazendo-a se virar com o rosto marcado pelas trilhas de lágrimas derramadas.

“Há algo que eu quero lhe dizer...” – ela começou, fungando levemente e aceitando um lenço que ele lhe ofereceu. – “Mas você precisa prometer que não me interromperá por que...” – secou o rosto. – “... se o fizer, posso não ter coragem para terminar de falar...”.

“Prometo... Não vou interrompê-la...” – ele garantiu, encarando-a diretamente e aguardando que falasse. Viu os olhos azuis se encherem de lágrimas mais uma vez, mas ela as afastou, piscando repetidamente enquanto buscava forças para o que faria a seguir.

“Primeiro de tudo, quero que você entenda que não tenho nenhuma expectativa ao dizer isso...” – encolheu os ombros um pouco e suspirou, meneando a cabeça. – “É apenas algo que eu tenho que fazer porque, como dizem, não há arrependimento pior do que aquele que sentimos pelas coisas que não fizemos...” – desviou o olhar brevemente, voltando a encará-lo em seguida. – “O que eu tenho a dizer é que... já faz algum tempo que eu sou apaixonada por você!” – afirmou seriamente, vendo um olhar de espanto tomar conta do rosto de Shaoran. – “Eu sei que fui uma completa idiota e que eu pisei em seus sentimentos, mas, mesmo naquela época, eu já era apaixonada por você...” – viu-o abrir a boca para falar, mas se adiantou. – “E entendo que não posso culpar a ninguém além de mim mesma pela forma como as coisas estão hoje... Eu sabia que, em algum momento, você iria se cansar de ter seus sentimentos rejeitados, mas, eu não tinha forças para agir de maneira diferente...” – fechou os olhos por um momento, tentando impedir que novas lágrimas se formassem em seus olhos. – “Eu não peço por retribuição... apenas espero que você possa acreditar no que eu estou falando...” – encarou-o insegura. – “Você acredita em mim?”.

Shaoran desviou o olhar, sentindo-se momentaneamente desnorteado. Se ela tivesse lhe dito aquilo alguns meses antes, ele teria sido elevado aos céus, mas... Voltou a encará-la, vendo a mesma insegurança turvar os olhos azuis.

“Sim, eu acredito em você...” – viu-a abrir um sorriso de gratidão, enquanto uma lágrima solitária escorria pela bochecha rosada do frio. – “Não acho que exista alguém no mundo capaz de se manter indiferente ao saber que é amado...” – repousou ternamente uma mão no ombro de Akio. – “E você não imagina a felicidade que sinto por você ter dito isso... Mas...”.

“Por favor, não diga mais nada...” – ela estendeu as mãos, impedindo-o de continuar. – “Saber que você ficou feliz por causa de meus sentimentos elevou meu coração às nuvens e quero guardar essa sensação pelo maior tempo possível antes de voltar ao chão...” – ela o encarou com um sorriso forçado.

“Então não direi mais nada...” – replicou com um sorriso, calando-se em seguida.

“É estranho, mas não estou me sentindo tão decepcionada quanto deveria...” – Akio sorriu tristemente. – “Acho que é por causa dela... da Kinomoto...” – viu-o arregalar os olhos, assustado. – “Ela é uma pessoa muito melhor que eu...” – deu um passo para trás, virando-se de costas para ele e fazendo a música do monumento tocar novamente.

“Yamazato...” – ele começou incerto quanto ao que falar, mas ela voltou a encará-lo com um sorriso que o desencorajou.

“Não se preocupe tanto... Eu já sabia qual seria a sua resposta, mas eu precisava lhe contar ou me arrependeria eternamente...” – encolheu os ombros, abrindo um sorriso divertido. – “E, pelo menos, eu fui a primeira a dizer...” – piscou para ele, deixando-o um tanto confuso. – “É melhor voltarmos agora ou seremos deixados para trás...” – e saiu correndo antes que ele pudesse perguntar qualquer coisa.

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“Aqui vou eu!” – Sakura exclamou, deslizando com o trenó até parar em frente ao restaurante da estação de esqui. Nem o frio, nem os quase quinze centímetros de neve aos seus pés, nem o céu encoberto de nuvens a incomodavam, pois ela finalmente estava aproveitando aquela viagem. Além disso, havia outros motivos pelos quais estivera esperando ansiosamente por aquela terça-feira...

“Sai da frente!” – Yamazaki se aproximou rapidamente, fazendo-a sorrir quando a neve se esparramou por todos os cantos.

“Esperem por nós!” – Chiharu reclamou quando parou diante do namorado que entregava o próprio trenó para um dos funcionários da estação.

“Não seja tão má, Chiharu...” – Naoko a repreendeu sorridente. – “Eles estão com energia acumulada pelo tempo que passaram na monitoria da excursão...”.

“Não quero nem ouvir falar de monitoria hoje...” – Yoshida parou ao lado de Naoko e puxou a touca que ela usava para baixo, cobrindo os óculos com uma risada. Voltou-se para Shaoran, que observava o grupo de braços cruzados, a alguns passos de distância. – "Já que não participou da corrida de trenós com a gente, você pode escolher o que faremos agora, Li..." – sugeriu, vendo-o abrir um sorriso irônico.

“Eu vim aqui para esquiar...” – disse secamente, fazendo Sakura franzir as sobrancelhas.

“O que há com você? Está agindo de forma estranha desde ontem...” – repreendeu-o, puxando-o levemente para o lado. – “Você sabe que vamos esquiar à tarde, depois que os outros fizerem as aulas práticas...”.

“Eu não sei quanto a vocês, mas eu estou com fome...” – Naoko comentou, desfazendo um pouco da tensão que começava a se formar.

“Eu sou completamente a favor de almoçarmos...” – Chiharu enganchou seu braço no de Takashi. – “E de bebermos alguma coisa quente... porque parece que estou congelando aqui...”.

“Vamos comer, então...” – Shaoran determinou, notando que Sakura seguia o grupo um pouco entristecida por causa de sua atitude. Suspirou, sentindo-se desconfortável com aquela constatação.

Observando os colegas, o rapaz olhou com estranhamento para Yoshida quando este buscou, voluntariamente, a companhia de Naoko, deixando para ele o lugar ao lado de Sakura.

“Escuta, Sakura...” – Yoshida a chamou, atraindo a atenção de todos. – “Não acho justo que você e Li sejam impedidos de aproveitar tudo o que puderem da Estação porque não sabemos esquiar direito...” – começou, olhando para os outros em busca de concordância. – “Depois do almoço nós quatro teremos as aulas práticas com os instrutores, então acho que vocês dois deviam aproveitar as pistas mais avançadas...”.

“Eu concordo!” – Yamazaki continuou, vendo-a fazer menção de retrucar. – “Não há motivos para esperarem por nós...” – sorriu, piscando imperceptivelmente para o chinês.

“Se vocês realmente não se importam, então, tudo bem...” – ela os agradeceu com um sorriso, mas evitou olhar para Shaoran, apenas para mostrar que ainda estava aborrecida.

Durante a refeição, entre risos e brincadeiras, a chateação dela com o rapaz acabou diminuindo e tornou-se muito sutil, ao ponto em que Shaoran sabia ser o único capaz de percebê-la. Quando faltavam quinze minutos para o início das aulas, o grupo decidiu sair do restaurante. Enquanto os amigos se encaminharam para o local onde seriam ministradas as lições, Sakura e Shaoran desceram uma trilha paralela à rampa, dirigindo-se ao teleférico mais próximo em um silêncio incômodo e incomum.

Em dado momento, Shaoran meneou a cabeça, suspirando pesadamente. Estava na hora de resolver aquele assunto de uma vez por todas...

“Uma coisa muito estranha aconteceu ontem...” – ele comentou, rompendo o silêncio esmagador. – “Yamazato veio falar comigo...” – pelo canto dos olhos, ele a viu abrir um pequeno sorriso.

“Ah... Eu não sabia com certeza se ela iria...” – disse pensativa, desviando o olhar. 'Bom pra ela...', suspirou. Agora só restava a ela fazer sua parte e se declarar...

“Então...” – Shaoran chamou sua atenção e ela o viu com o semblante confuso. – “Você realmente disse para ela se declarar?” – indagou perplexo, pois havia quase se convencido que interpretou mal o que a ruiva dissera no dia anterior.

“Bem...” – ela encolheu os ombros. – “Isso é uma forma simplista de colocar as coisas... é mais como se tivéssemos entrado numa espécie de entendimento...” – comentou vagamente, percebendo que ele parou de caminhar. Voltou-se para trás.

“Por quê? Por que você faria isso?” – sua voz era um misto de zanga e incredulidade, cujo motivo ela não conseguia entender.

“Você... está chateado...” – ela declarou um tanto desorientada.

“O que você faria se...” – Shaoran começou atropeladamente, mas não concluiu a frase. Apenas respirou profundamente, antes de encará-la novamente. – “E se eu ainda gostasse dela, Sakura? Você parou para pensar nisso?” – viu um brilho estranho iluminar os olhos dela.

“Não... Eu não cheguei a pensar no que você faria...” – retrucou, erguendo levemente os ombros e suspirando. – “Como eu disse antes: não foi algo tão simples... Várias coisas aconteceram e... e eu não quis que ela acabasse se arrependendo por nunca ter se declarado, só isso...” – explicou calmamente, mas ele continuava a encará-la com o cenho franzido. – “Além disso, o que eu poderia fazer se você ainda gostasse dela? Eu me conformaria...” – respondeu com tristeza. Não seria algo muito diferente do que fizera durante os últimos dois anos e meio.

“Você nem ao menos se importa com isso!” – acusou-a com grosseria não conseguindo acreditar que ela, a garota de quem ele gostava, estivesse incitando outras garotas a se declararem para ele daquele jeito!

“Por que você está agindo assim, Shaoran?” – perguntou chateada, estranhando aquele comportamento.

“Qualquer pessoa, no meu lugar, ficaria desse jeito!” – ele retrucou irritado.

“Tudo bem que você tenha ficado numa posição constrangedora quando ela se declarou para você, Shaoran, mas isso não é justificativa para ficar tão bravo!” – colocou-se diante dele com as mãos na cintura. – “Agora vai me dizer que é por causa disso que você ficou enfezado pelos cantos, destratando nossos amigos durante todo o dia hoje?” – perguntou em tom de censura.

“Isso não é da sua conta!” – respondeu atravessado, cruzando os braços. ‘A única pessoa que eu destratei foi o Yoshida...’, remoeu mentalmente sentindo sua raiva chegar a níveis estratosféricos.

“Claro que é da minha conta, afinal, eu sou sua amiga!” – aquela atitude de Shaoran estava acabando com a paciência dela.

“Ah! Que ótimo!” – exclamou ironicamente. – “Minha amiga saberia que eu não quero mais nada com a Yamazato e que seria constrangedor escutar uma declaração de amor da parte dela!” – reclamou bufando de raiva.

“O que é ‘ótimo’?” – Sakura eriçou-se toda com o sarcasmo dele.

“Esqueça!” – disse entre dentes, cortando o ar com o braço.

“O que você est-...” – começou elevando a voz, mas se interrompeu erguendo as mãos e meneando a cabeça em sinal de derrota. – “Quer saber? Quem está ficando nervosa agora sou eu, então, se ainda quiser esquiar, afinal foi para isso que você veio...” – insinuou irônica. – “...que vá sozinho! Eu vou voltar!” – completou irritada antes de passar por ele.

‘Isso é simplesmente maravilhoso!’, Sakura arfava, subindo a trilha novamente. Ela fizera planos e tinha diversas expectativas para aquele dia e a última coisa que imaginara era que ia acabar brigando com Shaoran, mas... ‘O que raios deu nele, afinal?’, pisou mais forte, sentindo o pé afundar na neve. – “Droga!” – resmungou, parando depois de se afastar alguns passos com a respiração pesada e os olhos embaçados.

Conforme Sakura se afastava, o que aconteceu bateu com toda força em Shaoran... Ele não tinha planejado brigar com ela, mas a situação era tão frustrante! Ele tinha todo o direito de ficar bravo!... Será que ela não entendia como ele se sentia com tudo aquilo?

‘E como ela poderia entender se você não explica?’, uma vozinha dentro dele sussurrou, fazendo-o tirar a touca que usava e passar a mão pelos cabelos numa tentativa de se acalmar.

‘De que adiantaria? Ela não sente o mesmo...’, tentou justificar-se. Era uma situação complicada e ele tinha que tomar uma decisão: precisava explicar o que estava sentindo ou desistir de uma vez por todas... Mas sabia que não poderia deixar as coisas daquela forma! Não depois de ter aguardado tão ansiosamente que aquele dia chegasse... ‘Ou posso me arrepender pelo resto de minha vida...’, lembrou-se do que Yamazato lhe disse no dia anterior. Independentemente da resposta que seria obtida...

“Sakura...” – chamou-a, virando-se e vendo-a parada com a postura toda tensa. Ele sentiu o coração agitar-se com tanta força que seu corpo todo tremia. A voz ficou presa em sua garganta e o estômago se contraiu.

“É melhor não falar comigo ainda, Shaoran...” – respondeu, sem se voltar para ele. – “Porque nada do que você diga irá melhorar a situa-...”.

“Eu amo você!”.

E o tempo subitamente parou naquela montanha.

Sakura sentia o coração dar cambalhotas em seu peito e sua respiração ficou suspensa por tanto tempo que não sabia como ainda se encontrava de pé. Em sua mente a voz de Shaoran repetia, de novo e mais uma vez, aquelas palavras que tanto aguardara ouvir e o resto do mundo, simplesmente, perdera a importância. Parecia estar voando e sentia um calor tão intenso em seu coração que temia transformar a neve em rio...

“Sakura...” – o tom de voz levemente angustiado dele ao chamá-la fez com que seus pés tocassem novamente o chão. – “Você ouviu o que eu disse?” – indagou; e ela pôde perceber que ele estava se aproximando. – “Eu disse que... que a amo...” – repetiu, fazendo-a se virar para encará-lo com lágrimas nos olhos.

“Shaoran, eu...” – deu um passo à frente e... desabou. – “Ah!”.

“Sakura!” – ele se assustou e, rapidamente, abaixou-se ao lado dela, vendo-a sentada no chão segurando com força o tornozelo e gemendo de dor. – “O que houve? Deixe-me ver!” – pediu, mas ela meneou rapidamente a cabeça.

“Torci o pé...” – choramingou, sentindo-o retirar sua mão da área machucada para pressioná-la levemente por sobre a bota para neve. – “Está doendo...” – reclamou, fazendo-o soltá-la.

"Droga! Espero que não tenha fraturado nada!” – acariciou de leve o rosto lívido pela dor. – “É melhor irmos até a enfermaria...” – encarou-a, preocupado. – “Acha que consegue colocar o pé no chão?... Claro que não... que pergunta idiota...” – deu um tapa na própria testa ao vê-la fazer uma careta de dor. – “Então, não tem jeito...” – sorriu de lado e a pegou no colo sem nenhum aviso. Sakura, instintivamente, envolveu-o pelo pescoço devido ao susto e Shaoran riu baixinho, como se tivesse planejado tê-la daquele jeito em seus braços. – “Não vou deixá-la cair...” – ele garantiu com um sorriso tímido, voltando a descer a trilha para alcançar o hotel.

Estando ali, e com a dor relegada a um canto de sua mente, Sakura percebeu o que acabara de acontecer... Como podia ter se machucado daquele jeito?... E justo naquele instante... Observou-o de perfil, sentindo seu coração acelerar e o rosto esquentar.

‘Ele me ama!’, pensou, sentindo borboletas no estômago e lágrimas nos olhos que nada tinham a ver com seu pé machucado. Enquanto tentava se acalmar, inspirou profundamente, aspirando o perfume tão característico e lembrando-se que ainda devia a Shaoran uma resposta...

“Shaoran...” – chamou-o com a voz trêmula. Ele parou de caminhar e se voltou para ela que repousou, suavemente, a mão em seu rosto e o puxou para si até seus lábios se tocarem de maneira breve e doce. Um leve roçar apenas, marcado pela surpresa dele àquela atitude tão repentina; mas não era o suficiente... Ao se afastarem, a jovem estremeceu levemente quando os olhares se encontraram e mal teve tempo para reagir quando ele a apertou um pouco mais em seus braços, tomando seus lábios arrebatadoramente, da forma como ambos ansiavam havia tanto tempo.

Interromperam-se abafando a risada quando ele quase perdeu o equilíbrio por causa de seu pé que deslizou alguns centímetros na neve.

“Eu me declarei e você torceu o tornozelo...” – ele começou seriamente, atraindo a atenção dela. – “E, quando nos beijamos, eu quase caí com nós dois...” – deu uma entonação levemente dramática ao que estava dizendo e, então abriu um sorriso. – “Eu acho melhor você esperar até chegarmos lá embaixo para dizer que também me ama... ou não sairemos vivos daqui!” – declarou fazendo-a rir e abraçá-lo fortemente.

“Eu não me importaria nem se a montanha desabasse ao nosso redor...” – declarou roçando suavemente os lábios no queixo dele. – “Eu amo você...” – sussurrou em seu ouvido, fazendo-o mergulhar o rosto nos cabelos cor de mel.

Por alguns instantes, o casal ficou ali parado, absorto em uma realidade distante; mas logo voltaram a si, pois ele era um homem com uma missão e quanto mais cedo chegassem à enfermaria, mais cedo ele poderia abraçá-la e beijá-la como desejava. Ao chegarem no hotel, foram rapidamente encaminhados ao ambulatório e, enquanto o funcionário ia chamar a enfermeira, Shaoran delicadamente depositou sua carga na maca.

“Desculpa por estar sempre lhe dando trabalho...” – ela murmurou timidamente, ainda abraçando-o pelo pescoço.

“Não é trabalho algum, Sakura...” – ele respondeu com um sorriso, acariciando-lhe os cabelos. – “Eu gosto de cuidar de você...” – completou, vendo-a afastar-se ligeiramente para encará-lo. Shaoran passou, suavemente, os dedos pelos lábios rosados e aproximou-se até as respirações se misturarem completamente...

O beijo foi terno e amoroso, a princípio, mas era inevitável aprofundá-lo... Shaoran a puxou para o círculo de seus braços, sentindo-a mergulhar os dedos em seus cabelos, e suspirou completamente entregue àquelas sensações. Se pudesse, passaria cada minuto de sua vida provando o sabor dos lábios dela...

"Shaoran..." - Sakura murmurou com os lábios ainda colados aos dele.

"O quê?" - afastou-se levemente para encontrar um olhar curioso no rosto dela.

"O que significa 'wǒ wánquán fúhé nǐ de ài'?" - indagou, vendo-o abrir um sorriso.

"Mas... eu já lhe disse o que significa..." - declarou erguendo levemente uma sobrancelha.

"Não... você nã-... Oh!" - interrompeu-se, arregalando os olhos. - "Mas eu pensei que...".

"'Wǒ ài nǐ' me pareceu simples demais para descrever o que eu sinto..." - explicou, encostando a sua testa na dela e vendo-a abrir um sorriso.

Um leve pigarro, vindo da direção da porta, fez com que se afastassem enquanto a atendente entrava na sala.

“Desculpem pela interrupção...” – a enfermeira aproximou-se da mesa de exame. – "Eu sou a enfermeira Rubby..." – sorriu enquanto ajeitava o material que seria utilizado para o exame. – "Qual das duas gracinhas é meu paciente?" – perguntou, vendo Sakura levantar a mão e Shaoran se encostar à parede ao lado da maca. – “E seu nome é...?”.

“Ahm... Sakura Kinomoto...” – abriu um sorriso tímido. – “Muito prazer...”

“O prazer é todo meu!” – retribuiu o sorriso, desviando o olhar para o rapaz. – “Tenho uma boa notícia para você: estou com uma promoção de injeções hoje, que é excelente...” – comentou e o viu erguer uma sobrancelha. – “A Srta. Sakura leva uma; e o acompanhante ganha outra, grátis!” – completou seriamente.

“O q-...?” – ele se espantou, fazendo Sakura rir.

“Acho que ela está pedindo para você sair, Shaoran...” – explicou, vendo-o desviar o olhar um pouco sem-jeito.

“Eu já sabia disso...” – ele disfarçou, encaminhando-se para a porta.

“Você tem um namorado bem superprotetor...” – a enfermeira comentou, suspirando. Sakura ergueu o olhar e viu que Shaoran parara à porta ao escutar a observação. Encararam-se em silêncio por um instante e ela notou um leve brilho de expectativa nos orbes âmbares que a fez abrir um sorriso antes de responder:

“Sim... eu tenho mesmo...” – declarou, sentindo o coração acelerar.

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Epílogo
Seis meses depois...


“... e enquanto dançavam, a jovem o abraçou com mais força, sabendo que seria a sua única oportunidade. Ele não tinha muito tempo naquela forma e enfraquecia a cada passo dado, mas não trocaria aquele momento com ela por nada.”


Sakura se reclinou na cadeira, esfregando levemente os olhos e salvou o documento, olhando rapidamente para o relógio. Sete horas...

“Ah... estou atrasada...” – murmurou, espreguiçando-se. Tomoyo estaria passando no sobrado amarelo a qualquer minuto e ela ainda precisava terminar de se arrumar. Desligou o notebook e seguiu até o guarda-roupa a procura do bolero que usaria por cima do vestido ao mesmo tempo em que passava a escova nos cabelos.

“Sakura!” – ouviu seu pai chamar do andar inferior. – “Tomoyo está aqui...” – avisou-a, fazendo com que agarrasse o casaco e a bolsa e saísse correndo.

“Já estou indo... estou indo...” – desceu as escadas, deparando-se com Fujitaka no corredor.

“Perdeu a hora trabalhando no seu livro?” – indagou, vendo-a concordar.

“Estou quase terminando, agora...” – sorriu, calçando o sapato. – “Estou de saída!" – levantou-se e depositou um beijo no rosto do pai.

“Vá com cuidado!” – recomendou, vendo-a sair apressada e entrar no carro.

“Oi, Tomoyo!” – sorriu, passando a mão nos cabelos antes de tirar uma presilha da bolsa para prendê-lo.

“Boa noite, Sakura!” – a morena a cumprimentou alegremente. – “Teve notícias de Shaoran?”.

“Não desde anteontem...” – meneou a cabeça, suspirando. – “O voo dele estava marcado para hoje porque a formatura é depois de amanhã, mas disse que ia tentar remarcar para mais cedo...”.

“Tomara que tenha conseguido, porque Yamazaki e Chiharu ficarão muito chateados se ele não comparecer ao jantar de noivado que eles estão planejando desde que voltaram de Hokkaido...” – comentou reticente.

Todos ficaram bastante surpresos quando, logo após voltarem da excursão, descobriram que o casal vinha considerando a ideia de se casar ao terminar o colegial desde o início do ano letivo. Em nenhum momento sequer comentaram com ninguém a respeito do assunto.

Sakura suspirou, contraindo levemente o rosto e passando a mão sobre o estômago, parecendo incomodada, fato que atraiu a atenção de Tomoyo.

“Há algo errado?”.

“Devo ter comido algo que não me fez bem e agora estou com um pouco de azia...” – explicou desconfortavelmente.

“Quer passar em uma farmácia para comprar um antiácido?” – Tomoyo a encarou, preocupada, mas Sakura dispensou o assunto com um gesto, dizendo não estar tão ruim assim. – “Voltando a falar sobre seu namorado...” – viu Sakura menear a cabeça. – “Eu ainda não entendo por que ele foi para Hong Kong tão em cima da formatura...” – comentou e a amiga desviou o olhar com um sorriso. – “Na verdade, nenhuma das viagens que ele fez nos últimos meses foi bem explicada...”.

“É algo que ele, simplesmente, precisa fazer, Tomoyo...” – falou tranquilamente. – “Sabe se Rika já voltou de Fukuoka?” – mudou de assunto, vendo a morena suspirar resignada.

“Só voltará amanhã depois do aniversário do irmãozinho do namorado dela...” – a morena olhou pela janela, vendo que se aproximavam de seu destino.

“É uma pena que ela estará ausente hoje...” – comentou quando o carro parou diante do Atsui Hana, pomposamente enfeitado e reservado. – “Afinal, ela é a amiga mais antiga de Chiharu...”.

“É uma pena, sim...” – Tomoyo olhou para Sakura pesarosamente. – “... e é por isso que precisamos fazer nossa parte para que a ausência dela não seja tão sentida...” – completou, estranhando o olhar de pavor que surgiu no rosto da amiga.

“Oh, céus... você vai me fazer comer a parte dela, não vai?” – um brilho de divertimento surgiu nos olhos verdes, contrastando imensamente com sua expressão e fazendo a morena gargalhar antes de saírem do carro.

Assim que entraram, as garotas ficaram surpresas com a decoração e a música pop que animava o ambiente. O interior da lanchonete estava tão formal quanto uma reunião de adolescentes com balões vermelhos e brancos flutuando rente ao teto e um arranjo em forma de um grande coração no centro do salão. As mesas, cobertas por toalhas de cetim perolizado, exibiam orgulhosamente os enfeites de rosas brancas e amarelas enquanto meia dúzia de garçons e garçonetes uniformizados, passavam entre os convidados oferecendo drinks de fruta (não alcoólicos) e canapés. Sobre os balcões estavam organizadas adoráveis caixinhas com delicados cupcakes: lembrancinhas que seriam entregues aos convidados no fim do jantar.

Não demorou muito, localizaram Naoko e Yoshida sentados com Eriol ao lado de uma mesa ocupada por parentes dos noivos e dirigiram-se até lá, sendo paradas no meio do caminho pela Sra. Yamazaki que as cumprimentou agradecendo animadamente pela presença.

“Boa noite!” – Sakura cumprimentou o casal à mesa, vendo Eriol se levantar para cumprimentar Tomoyo com um beijo carinhoso, antes de puxar as cadeiras para elas se sentarem.

“Ainda bem que chegaram...” – Isamu comentou, com um sorriso de troça. – “Hiiragizawa já estava ficando preocupado com o atraso de quinze minutos de vocês...” – riu, levando um cutucão de Naoko.

“Pare de implicar com ele...” – repreendeu-o, contendo o riso.

“Será que posso saber qual a piada?” – Yamazaki os interrompeu brincalhão. – “Espero que não estejam falando do meu novo corte de cabelo...” – comentou, fazendo os amigos voltarem a atenção para os fios negros.

“Que corte de cabelo, Takashi?” – Chiharu indagou rolando os olhos. – “Você esqueceu completamente do horário que eu marquei para você no salão...” – ralhou levemente, voltando-se para os amigos com um sorriso. – “Estou tão feliz por vocês terem vindo...”.

“Não perderíamos isso por nada!” – Eriol afirmou, recebendo concordância em coro.

“E quanto ao Li?” – Yamazaki se voltou para Sakura, fazendo-a suspirar.

“Ele disse que faria o possível para vir, mas não sei se conseguirá...” – explicou em tom apologético.

“De qualquer forma...” – Yamazaki começou, após alguns segundos de silêncio, erguendo levemente o indicador, mas foi interrompido ao ser chamado pela mãe. – “Volto já...” – disse, dando um beijo na testa da noiva antes de se afastar.

“Ah, Sakura... Encontrei a professora Miz-... Kinomoto na padaria hoje cedo...” – Chiharu se corrigiu, com um sorriso sem-graça. Muitos alunos ainda se referiam à professora pelo nome de solteiro. – “Foi uma surpresa... ela está com um barrigão que é a coisa mais linda!”.

“Estranho, pensei que ela tivesse que ficar de repouso...” – Naoko comentou, meditativa.

“Sim! Afinal, é por isso que ela não comparecerá à nossa cerimônia de formatura, não é?” – Yoshida indagou, voltando o olhar para Sakura.

“Sim, o médico recomendou a ela que repousasse nas próximas duas semanas...” – Sakura disse, pensando em Kaho e nos mimos exagerados de Touya.

“Talvez ela tenha sentido um desejo súbito por pão quentinho...” – Tomoyo mencionou, interpretando o silêncio pensativo de Sakura como preocupação. – “E como mora ao lado da panificadora, isso não deve ter sido esforço algum...”.

‘Ela devia é estar fugindo do zelo superprotetor de meu irmão, isso sim...’, Sakura considerou esboçando um sorriso ao lembrar de um comentário da cunhada sobre como Touya a estava deixando maluca. Se ela sequer se virasse no sofá para se ajeitar, ele já estava de pé com as chaves do carro na mão, a bolsa da maternidade enfiada no braço e perguntando: "Já é a hora? Já é a hora?".

“Sim, deve ter sido algum desejo...” – sorriu tranquila. – “E tenho certeza que Kaho não faria nada arriscado para o bebê...” – completou vendo Yamazaki se aproximar.

“Com licença, pessoal, mas nós dois temos que voltar a circular!” – falou, colocando a mão nas costas de Chiharu.

“Ah... olha, Takashi!” – a garota apontou para a entrada conforme se afastavam. – “Ikeda acabou de chegar com a Yamazato...”.

Sakura olhou para a porta com um sorriso ao ver a ruiva entrar de mãos dadas com o namorado...

Ao voltarem da excursão, Sakura chegou a recear que a situação entre elas fosse desandar, mas tivera uma agradável surpresa com a reação de Yamazato que, decidida a se reerguer da rasteira que levara em Hokkaido, pedira a Sakura por conselhos sobre como se aproximar de Hikari para conhecê-la melhor. Numa conversa recente, Akio admitira que a característica da amiga que mais detestava antes, a coragem de dizer a verdadeira opinião e não aquilo que ela queria ouvir, era justamente a mais valiosa de todas.

Sendo honesta consigo mesma, até pouco tempo, Sakura sentia uma pontada de tristeza toda vez que via o desânimo nos olhos da antiga rival. Uma tristeza que começara a desaparecer quando Ikeda se declarou durante o hatsumode.

“Oi, pessoal!” – Ikeda cumprimentou a todos com um trejeito ao parar ao lado da mesa.

“Boa noite!” – Yamazato sorriu, sentando-se ao lado de Naoko. – “Uhm... parece que chegamos numa boa hora, Masao...” – indicou com a cabeça o garçom que se aproximava com uma bandeja de bebidas.

“Eles têm suco de pêssego, Aki-chan... Vai querer?” – ele a encarou com carinho, fazendo-a corar antes de confirmar.

“Ah... vejo que ele entrou na etapa em que começa a chamá-la por um apelido fofo... Bom pra você!” – Naoko a provocou, fazendo as outras meninas rirem.

“Naoko!” – Tomoyo chamou-lhe a atenção, meneando a cabeça.

“O que foi?” – fez-se de desentendida, piscando para Akio.

Assim que todos se serviram, engajaram em uma conversa animada e Sakura bem que tentou não pensar no assunto, mas, ao ver-se entre casais, ficava difícil ignorar a ausência de Shaoran ali. Entre um assunto e outro, pegava-se, invariavelmente, olhando para a entrada, esperando ver o namorado aparecer.

‘Bem... é melhor eu me acostumar com isso...’, suspirou ao pensar que as coisas seriam daquela forma quando ele voltasse definitivamente para Hong Kong...

“Com licença, pessoal...” – Yamazaki chamou a atenção de todos para o centro do salão e a música foi interrompida. – “Eu gostaria de falar algumas palavras antes de passarmos para a atração principal...” – sorriu, estendendo a mão para que Chiharu fosse para seu lado. – “Primeiramente, gostaríamos de agradecer a presença de todos vocês a esse momento tão importante em nossas vidas...” – inclinou levemente a cabeça em direção aos familiares de ambos e depois aos amigos. – “Em segundo lugar, eu entendo que este jantar deveria ser oferecido em um ambiente mais formal, mas este é um dos meus lugares favoritos em todo o mundo...” – desviou o olhar para os próprios pais com um sorriso de gratidão. – “Um lugar que eu vi surgir e crescer para o sucesso ao longo de minha vida graças ao trabalho árduo de meus pais...” – e então voltou o olhar para os pais de Chiharu. – “Portanto, Sr. Mihara, espero que não se importe com minha escolha...” – disse, vendo o futuro sogro sorrir em sinal de aprovação. – “E, finalmente...” – voltou-se para a noiva com carinho. – “Chiharu, diante de nossos amigos e familiares, eu gostaria de lhe perguntar...” – pegou-lhe a mão. – “Você aceita se casar comigo?”.

“Sim, eu aceito!” – ela disse sorrindo, recebendo um breve beijo, selando o compromisso. O salão rompeu em ovações e desejos de felicitações.

“Tem certeza?” – o rapaz voltou a perguntar, fazendo os convidados rirem.

“Nem adianta tentar se livrar de mim agora...” – ela deu um soquinho no braço dele, tentando falar com seriedade, mas estava feliz demais para isso. Takashi então passou o braço pela cintura de noiva e olhou para todos.

“O jantar será servido agora... Aproveitem a refeição!” – o casal se sentou junto aos familiares enquanto os garçons traziam a comida, passando de mesa em mesa.

A música e as conversas foram retomadas, mas, apesar do jantar estar saboroso, Sakura não conseguiu aproveitá-lo muito bem, pois a queimação no estômago que sentia antes se tornara mais forte.

“Diga-me, Sakura, tu estás de dieta?” – Eriol indagou a certo ponto do jantar, percebendo que a amiga não havia comido quase nada.

“Não... eu...” – ela começou, mas Tomoyo a interrompeu.

“A azia piorou, não é?” – ergueu uma sobrancelha.

Sakura pensou em dizer que estava bem, mas a dor de estômago estava se tornando quase insuportável, então apenas confirmou.

“Por que não disse antes?” – Yamazato meneou a cabeça, pegando sua bolsa. – “Eu acho que tenho sal de frutas aqui... Sim! Aqui está...” – entregou o envelope do remédio à jovem de olhos verdes.

“Obrigada...” – Sakura sorriu levemente, levantando-se. – “Eu vou até a cozinha pedir um copo d’água. Volto já!” – disse antes de afastar-se.

Enquanto cruzava o salão, Sakura sentia o desconforto aumentar, deixando-a levemente enjoada. ‘Por kami... o que quer que eu tenha comido, vou evitar de agora em diante...’, pensou, tentando lembrar o que poderia ter-lhe feito tão mal.

Estava quase chegando à cozinha quando sentiu seu braço ser segurado e, ao se voltar para ver quem era, deparou-se com um par de olhos âmbares que, independente de qualquer coisa que pudesse estar sentindo, fez um sorriso desenhar-se em seus lábios.

“Estou muito atrasado?” – perguntou, vendo-a negar enquanto o abraçava fortemente.

“O que importa é que veio...” – murmurou, fechando os olhos ao aconchegar-se nos braços dele. – “Senti tanto a sua falta...” – disse ao afastarem-se.

“E eu a sua...” – sorriu antes de beijá-la ternamente. – “E... se não tivéssemos plateia, eu a beijaria adequadamente...” – sussurrou-lhe ao ouvido quando se afastaram, deixando-a enrubescida. – “Onde estão os noivos?” – ele perguntou, segurando-a pela cintura.

“A última vez que os vi, eles estav-...” – Sakura começou, mas sentiu uma pontada de dor no estômago e se interrompeu, fazendo uma careta.

“O que houve?” – Shaoran perguntou com o semblante preocupado.

“Não é nada demais...” – disse, vendo a expressão contrariada surgir no rosto dele.

“Sakura...” – chamou-a, em tom de aviso.

“É sério, Shaoran!” – ela exclamou, colocando uma mão na cintura. – “Estou sentindo um pouco azia desde cedo... É só isso!” – garantiu, erguendo o envelope de antiácido. – “Mas já vai passar...” – encarou-o seriamente, vendo-o suspirar.

“Você me contaria se estivesse sentindo aquelas tonturas novamente, não é?” – indagou, inseguro. Ela sorriu gentilmente, acariciando-lhe o rosto.

“Eu já prometi que contaria, não prometi?” – beijou-o brevemente. – “Além disso, não há porque ficar tão preocupado... Os exames não apontaram nada de errado comigo...” – garantiu, levando a mão ao estômago, desconfortavelmente. – “É melhor eu tomar o remédio logo...” – afastou-se, apontando com um gesto para Chiharu e Yamazaki que se aproximavam para cumprimentá-lo.

Após beber o remédio efervescente, Sakura sentiu um alívio imediato e, quando voltou à mesa em que estavam os amigos, sentando-se ao lado do namorado, a queimação havia diminuído bastante.

“Eu acho que o mal de Sakura era saudade do namorado e nada mais...” – Eriol brincou.

“Não adianta tentar me constranger, Eriol...” – ela aconchegou-se melhor a Shaoran que passara o braço por seus ombros. – “Não vai me fazer sair daqui...” – e virou-se para Yamazato. – “Obrigada de novo pelo remédio. Ajudou bastante!” – sorriu, sentindo-se completamente feliz.

E assim o jantar se estendeu por mais algum tempo entre risos e conversas. Quando terminou, Shaoran se encarregou de levar a namorada de volta para casa e, embora nenhum dos dois tivesse pressa de alcançar o sobrado amarelo, eventualmente, chegaram lá.

“Vamos entrar...” – Sakura sugeriu, segurando-o pela mão. – “Podemos sentar no quintal dos fundos para namorar um pouco mais...” – viu-o abrir um sorriso.

“Duvido que aquele seu projeto de cão vai nos deixar em paz para namorar...” – comentou, encostando-se ao muro da frente e a puxando para si. Enlaçou-a pela cintura enquanto a beijava profundamente. Realmente sentira falta dela!

“Sabe do que eu mais senti falta nesses dias em que você esteve em Hong Kong?” – ela perguntou em chinês, encostando a cabeça no ombro dele, sentindo-o afagar-lhe os cabelos.

“Não... do quê?” – quis saber, sentindo-a afastar-se ligeiramente e colocar a mão sobre seu coração.

“De como seu coração acelera toda vez que eu falo que amo você...” – sussurrou, sorrindo ao mergulhar nos olhos âmbares. Um arrepio gostoso percorreu a espinha do rapaz ao vê-la se aproximar fechando os olhos à espera do beijo que ela sabia que viria.

“Eu também amo você...” – sussurrou, segundos antes de tomar os lábios dela nos seus, amorosamente.

Ficaram abraçados, ouvindo os sons da noite e ela fechou os olhos, ouvindo as batidas do coração dele. Era tão bom estar ali nos braços da pessoa que amava. Era perfeito e ela não se sentia daquele jeito em nenhum outro lugar, mas...

“Você consegue acreditar que em dois dias tudo vai acabar?” – perguntou subitamente, sentindo-o se afastar para encará-la com confusão no olhar. – “A nossa formatura...” – explicou, sentindo-o acariciar-lhe o rosto.

“Do que você está falando, minha flor?” – mergulhou nas joias esmeralda que tanto adorava. – “Não é o fim... Nossas vidas estão apenas começando...” – sorriu, traçando com delicadeza os traços do rosto feminino.

Um sorriso lentamente se desenhou nos lábios dela, conforme aquela ideia germinava em seu coração. Ele tinha toda razão...

Aquele era só o começo...



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Notas finais do capítulo

N/A Aiya, minna!!
É com um enorme prazer que eu trago o último capítulo de SUTEKI DA NEE...
Sei que havia dito que traria o capítulo final até, no máximo, 31 de dezembro, mas gente... eu sofri pra conseguir terminar o capítulo no dia 31... Lutando até as 23:34h para não entrar 2012 com esta história inacabada, usando os fones de ouvido no último volume para abafar os sons dos foguetes de forma a não acabar escrevendo BAM! PARABAM! TATARATAMTAM! no lugar de palavras reais e com sentido... Ah! Como eu sofri...
Antes de mais nada... Sei que muitos de vocês devem estar se perguntando: Como assim esse é o final de Suteki da nee?... Calma, gente... eu explico... Esta história foi planejada para ser o relato da descoberta dos sentimentos entre os dois personagens principais, eis o motivo para tanta embolação no meio do campo... Sim, eles tomaram alguns caminhos que talvez fossem desnecessários, não é?
Mas a graça de escrever é colocar pedras e obstáculos no caminho dos personagens... E isso acontece até nos contos de fadas... Imaginem se a madrasta da Cinderela não a tivesse trancado na torre na hora da prova do sapatinho; ou se a Úrsula não tivesse ido para terra firme disfarçada e enfeitiçado o Príncipe Eric; ou se o Gaston não tivesse inventado de internar o pai da Bela... Não ia ter graça!!!... Enfim, saí do assunto...
O que eu quero dizer a todos é: SUTEKI DA NEE acabou porque eles já percorreram todo o caminho até terem seus sentimentos esclarecidos... o que não significa que a história de Shaoran e Sakura tenha acabado aí... E, antes que vocês comecem a pedir... SDNEE vai, sim, ter uma continuação... Sabem quando uma série termina e, depois de tudo, vem um filme como uma espécie de conclusão? Bem... NÃO é isso que eu vou fazer... (risos) O que eu tenho em mente é algo que se assemelha mais a um OVA, do que um filme... Já é algo que venho planejando há bastante tempo (Não me orgulho em dizer que estou escrevendo SDN há oito anos...). Não vai ser algo muito extenso... Terá algo entre 4~6 capítulos, não necessariamente sequenciais e em cada capítulo será explorado algum aspecto da construção do futuro deste casal. E isso é o máximo que eu posso lhes contar a respeito... Ah! Acho que posso dizer o título também!! Eien Ni..., que significa pela eternidade. Dramático, nee??
Céus... eu não queria me estender tanto, mas parece ser inevitável... Vamos aos agradecimentos, então... A todos que acompanharam SDNEE, torceram, xingaram, choraram, sofreram e sorriram com os personagens... Eu serei eternamente grata!! O carinho que dedicaram a esta história foi fundamental para meu empenho em conclui-la. Graças a vocês tive condições de buscar força de vontade para ultrapassar as dificuldades que surgiram no meio do caminho... Agradecimentos especiais a Rosana, Cherry-Hi, RubbyMoon, Trellinha, Minhoquinha e NaM (este capítulo é merecidamente dedicado a você por ter me distraído o suficiente durante os últimos dias do ano para que eu produzisse adequadamente... Mil Beijos!!).
Peço desculpas por tantas vezes ter falhado com vocês na questão da atualização... Sei que em diversas ocasiões deixei a desejar na pontualidade, mas garanto que NUNCA lhes entreguei um capítulo apenas por entregar... Cada um dos capítulos de SUTEKI DA NEE tem um pedaço da minha alma e do meu coração entregue a vocês com o melhor que eu poderia fazer em cada ocasião...
Por ora, eu me despeço de vocês leitores com um beijo carinhoso e um forte abraço! Desejo a todos um 2012 repleto de paz, felicidade e sucesso!
Yoru. (31 de dezembro de 2011, 23:34h - "É acreditando nas rosas que as fazemos desabrochar." - Anatole France).