Another Hypocrite Wedding escrita por Wine


Capítulo 5
♦ Capítulo 5


Notas iniciais do capítulo

Devo admitir que este capítulo já está pronto há algum tempo, mas, sinceramente, não tive coragem de postá-lo. Não sei nem como começar a me desculpar por demorar taaaaanto a atualizar aqui, tudo que posso dizer é que precisava desse tempo. Sinto muito. De qualquer forma, aqui está o novo capítulo. Assim que puder responderei os comentários anteriores.



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– Está ridiculamente enganada, Morgana – Arthur Pendragon cuspiu as palavras, recusando-se a sequer olhar diretamente no rosto dos dois que o desafiavam.

Morgana sentiu algo queimar em sua garganta. Como o príncipe de Camelot poderia ser tão ignorante, ela realmente não podia compreender. Pior, a ignorância de Arthur era fruto de uma teimosia infantil, traços que não eram dignos de um futuro rei. Felizmente, ela não estava sozinha em sua argumentação.

– Arthur, Morgana tem razão– As palavras deixaram a boca de um Merlin ligeiramente vermelho. – Este rapaz –

– Este rapaz é um feiticeiro praticante de magia – Arthur o interrompeu exasperado. – Portanto, deve receber a punição merecida.

Um grunhido desesperado deixou a garganta de Morgana. Como ela desejava jogar algo na cabeça do loiro a sua frente...

– Qualquer idiota perceberia que aquele rapaz não é um feiticeiro – ela argumentou, cerrando os punhos com força.

O que Morgana dizia era parcialmente verdade. Um nobre de um reino próximo requisitara uma audiência com Uther, alegando ter importantes informações a discutir. Quando ele apresentou-se como um aprendiz de cientista e sugeriu ter evidencias baseadas em cálculos, observações e desenhos de que talvez a terra estivesse se movimentando no universo ao redor do sol, o rei surtou, exigindo a cabeça do homem por acusa-lo de feitiçaria.

Pessoalmente, Morgana estava pasma. Era um absurdo como pessoas inocentes eram frequentemente punidas nos últimos dias. Ela não suportava assistir sangue puro ser derramado em vão. Morgana era capaz de jurar que o rapaz em questão não era feiticeiro nenhum, ela poderia sentir um usuário de magia caso estivesse na presença dela. Lógico, não havia como a princesa utilizar esse argumento sem ter sua própria cabeça decapitada.

– Exato! – Merlin concordou. – Gaius diz que nas vizinhanças de Camelot alguns cientistas estão trabalhando em teorias reveladoras.

– Não acredito em teorias – Arthur disse apoiando os braços contra uma mesa de madeira. – Teoria é coisa de feiticeiro.

O quê?! – A voz de Morgana subiu algumas oitavas. – Isso é absurdo!

Cuidadosamente, Merlin pousou sua mão no ombro dela para impedir que se exaltasse ainda mais. A maga podia sentir o calor que irradiava dele em cada milímetro do toque, o que fez seus olhos verdes esbugalharem além de sua raiva.

– Arthur, pense sobre isso – Merlin disse calmamente. – Você sabe que o certo deve ser feito.

O príncipe franziu as sobrancelhas, uma expressão confusa tomando conta de seu rosto. Arthur podia literalmente sentir o expressivo peso que carregava nos ombros. Por um lado, as expectativas do pai o assombravam, por outro, Merlin e Morgana não paravam de atormentá-lo com moralidades e sede por justiça. Afinal, o que eles sabiam sobre governar um reino?

– Vocês não deveriam se intrometer em assuntos que não lhes dizem respeito – Arthur não se importou em parecer grosso. Ele não devia satisfações a esses insolentes.

Não me diz respeito? – Era praticamente possível notar uma veia saltar no pescoço de Morgana. – Como se atreve? Gostando ou não sou a Princesa agora.

Arthur oscilou por um momento. É claro, como ele podia se esquecer? Ela era a princesa agora. De qualquer forma, não era como se ele devesse satisfações a mulheres.

– Não muda o fato de Merlin estar abusando de minha boa vontade – Arthur continuou, virando-se para o servo. – Tenho certeza de que há algumas armaduras a serem polidas. Tente ser útil ao menos uma vez na vida, Merlin, e deixe a política para quem realmente entende dela.

– Aparentemente, ele entende de políticas melhor do que você, meu Lorde – Morgana disse no tom mais irreverente que conseguiu reunir antes que Merlin concordasse com as ordens de Arthur.

Abobado e descrente com tanto atrevimento, o príncipe olhou para os rostos determinados, suprindo um grito.

Já estou farto! – Ele resmungou, chutando uma cadeira próxima. – Nenhum dos dois tem direito de opinar sobre essa questão.

– Mas, - Morgana voltou a dizer, seu rosto esquentando.

– Sem mas, Morgana! – Arthur dessa vez gritou, seu temperamento já perdido. Amaldiçoando-os, ele marchou até a porta mais próxima, deixando Merlin e Morgana encarando o nada.

Merlin suspirou derrotado. Conhecendo seu mestre, irrita-lo ainda mais não iria ajudar a situação. Tudo que o mago esperava era que Arthur ouvisse a razão dentro de si antes de permitir que um inocente morresse.

– Ei, - ele disse olhando para uma Morgana que parecia à beira de sofrer um ataque de nervos. – Obrigado.

Ela semicerrou os olhos.

– Pelo quê?

– Você sabe – Merlin deu de ombros. – Me defender das palavras de Arthur.

– Eu não lhe defendi – Morgana fez questão de dizer. Se ela o fez, nem havia percebido. – Só não consigo acreditar que ele possa ser tão idiota.

Merlin assentiu, sentindo-se exausto.

– Eu sei – ele concordou. – Arthur tem um bom coração, só lhe falta a porra de um cérebro.

O garoto não sabia o que esperar depois de sua frase. Talvez Morgana o castigasse por dizer coisas desse nível, mas ele nem se importava mais.

Ao invés disso, ela riu. Gargalhou.

Tudo parecia estar normal novamente, como era antes do casamento. Até, é claro, algo clicar na cabeça de Morgana e ela retornar ao estágio de trata-lo com frieza.

– Volte ao trabalho – ela ordenou e saiu a passos largos do cômodo.

Merlin nunca entenderia as mulheres.

Algumas horas mais tarde, Merlin notou um movimento estranho nos arredores do castelo. Pessoas estavam agitadas, sussurrando rapidamente umas as outras.

Vencido por sua curiosidade, o mago finalmente resolveu se certificar do que estava acontecendo. Ele andou rapidamente, lutando contra o frio que batia em seu rosto. Gaius dizia que àquela altura do ano o frio já deveria ter dado lugar a consideráveis ondas de calor. Por algum motivo, a extensão do inverno fazia com que alguns instintos dele acreditassem que algo ruim estava prestes a acontecer.

Quando Merlin atingiu o local para onde as pessoas se dirigiam seu coração parou. Era tarde demais, a cabeça do jovem cientista já estava separada do corpo. Apesar do horror que dominava seu ser, o feiticeiro podia jurar que essa morte era somente um aviso de que o pior ainda estava por vir.

De qualquer modo, passado alguns dias, ninguém mencionou esse episódio de novo. Nem Morgana. Nem Arthur. Nem mesmo ele próprio.

**

– Arthur – a voz de Uther era tão fria como uma rocha nas profundezas oceânicas. – Você está atrasado.

O loiro murmurou algo indecifrável que deveria ser desculpas, mas que poderia muito bem ser uma reclamação, e se sentou em seu lugar usual na mesa de refeições.

– Só estava terminando o treinamento do novo cavaleiro – Arthur arrepiou-se. – Esse foi difícil.

– Difícil? – Morgana perguntou, não porque estivesse interessada, mas sim porque não tinha nada melhor para fazer. Um mês se passara desde seu casamento e, se ela descobriu algo, é que a vida do príncipe de Camelot era inacreditavelmente chata. Treinar cavaleiros e sair em raras missões buscando recursos ou tratados não era tão excitante quanto parecia.

– É – Arthur assentiu, encarando seu prato cheio de comida. – O garoto mal sabia como segurar uma esp –

O príncipe tropeçou em suas palavras quando notou a mão do servo, ou melhor, da serva, que lhe servia. Não havia mãos que ele conhecesse melhor do que as dela.

Guinevere.

Como se possuíssem um instinto felino aguçado, os olhos de Morgana logo se ergueram de sua própria refeição e se semicerraram para a cena que ocorria em sua frente. Ela mentalmente amaldiçoou a hesitação de Arthur e as mãos tremulas de Gwen.

Todo santo dia era assim. Sempre ocorriam trocas de olhares ou simples palavras entre eles, momentos que Morgana decidia ignorar. Ela sabia que não havia nada entre os dois desde que se casara com Arthur, mas, ainda assim, ela também sabia que deveria tomar providências. Rápido.

– Acho que Arthur está tentando dizer que certas pessoas não foram feitas para lutar – Uther disse quando o filho não se pronunciou mais. – São as primeiras a morrer em batalhas.

Morgana duvidava que Uther estivesse ciente da pequena cena romântica e insolente que ocorria bem ao lado do rei. De fato, ela duvidava que Uther se lembrasse sobre a serva com quem Arthur se relacionara. Caso não tenha utilidade ao líder de Camelot, também não estará nos pensamentos dele. A regra sempre foi essa.

– Sim, - Arthur continuou, tentando agir naturalmente. – Foi exatamente isso que quis dizer. Esse garoto não tem muitas chances em um campo de batalha real.

Olhando fixamente para Arthur, Morgana revidou.

– As aparências podem enganar – assim que terminou sua frase com um tom ligeiramente desafiador, ela cortou um pequeno pedaço da carne que estava em seu prato e levou à boca.

– Dificilmente – o garoto respondeu.

**

– Depois de polir minha armadura completa, poderá dormir, Merlin – Arthur disse, sorrindo bondosamente. – Viu como sou um senhor generoso?

Merlin forçou um sorriso.

– Lógico – ele confirmou. – Só terei de lavar todas as suas roupas fedorentas antes e organizar a lenha que trouxeram mais cedo – Merlin parou e cruzou os braços. – Só vou demorar umas... Quatro horas e meia?

Arthur sorriu e deu tapinhas encorajadores no ombro do servo.

– Quem diria que você também é bom de contas, Merlin? – Ele disse, mal humorado, retirando-se do cômodo.

Merlin bufou, não escondendo seu descontentamento. Destino... Como algo tão grandioso poderia ser tão cruel? Às vezes o mago se perguntava como seriam as coisas se os papéis fossem invertidos; se ele fosse o herdeiro de Camelot e Arthur o portador da magia. Ele poderia ter tudo, a garota, as riquezas... Então, Merlin se lembrava de que Arthur não era inteligente o suficiente para estar no lugar dele e o sonho se desmoronava.

– Merlin? – A voz hesitante de Arthur se pronunciou.

– O quê? – ele respondeu irritado. – Esqueceu-se de me mandar limpar algo mais para eu perder minha noite de vez?

– Não – Arthur ainda estava hesitante. – Não é isso.

Merlin olhou-o espantado. Geralmente, o majestoso príncipe lhe teria repreendido por ser tão desaforado, ou, no mínimo, teria jogado algo em sua cabeça.

– O que é, então? – O mago perguntou.

Cruzando os braços, Arthur mordeu seu lábio inferior.

– Deixe para lá – o loiro balançou a cabeça. – Não é nada.

– Arthur, - Merlin disse, colocando inconscientemente uma mão na cintura. – Essa deve ser a décima vez que você diz algo assim esses dias. Primeiro na floresta, depois no estábulo. Não vamos esquecer quando você apareceu de pijamas no meu quarto, sem dizer nada. Claramente tem algo que você precisa dizer. Ou está apaixonado por mim.

Deus! – Arthur disse exasperado, seus olhos se esbugalhando. – Merlin! Credo! Que horror! É claro que não. Quem poderia se apaixonar por você?

– Eu estou tentando não me ofender aqui, Arthur.

– Você é tão... sabe? – O príncipe continuou. – Aquelas piadinhas de mau gosto que só você entende. Sem falar que você é um lerdo, não é? E burro, não vamos esquecer burro. Também é fracote, não sabe nem mesmo dar um soco como um homem!

– Arthur, - Merlin disse semicerrando os olhos, de repente jogar seu balde no rosto do príncipe de Camelot parecia uma opção muito tentadora. – Acho que você deveria ir embora.

– Não – Arthur negou. – Eu preciso dizer algo. Ou melhor, preciso da sua opinião em um assunto – ele hesitou. – Que horror! Estou tão desesperado que estou pedindo a opinião de alguém...

– Lerdo, burro e fracote? – Merlin completou a frase dele com um olhar assassino.

– Exatamente – Arthur concordou.

Respirando fundo e contando lentamente até dez para se acalmar, Merlin esperou que Arthur continuasse.

– É sobre Morgana.

Era como se alguém atingira Merlin no estômago e, de repente, o mago desejou não ter comido tanto no jantar.

– Acho melhor não falarmos sobre isso – ele disse, tentando desesperadamente evitar ouvir sobre como Arthur ama sua esposa e blá blá blá. – Já está tarde e...

– Meu casamento é uma farsa – Arthur interrompeu-o, admitindo em voz alta a realidade em que vivia pela primeira vez.

A perplexidade dominou a expressão de Merlin, e, se o príncipe não estivesse tão envolto em seus próprios problemas, a felicidade seria visível.

– Vamos falar sobre isso! – Merlin exclamou.

**

As noites eram frias no castelo. Tão frias que, mesmo em sua camisola mais grossa, Morgana ainda se arrepiava.

Rapidamente, ela correu até a cama e cobriu-se antes que Arthur chegasse. Os cobertores eram quentes, fato que seria bom, se Arthur não os puxasse para si todas as noites, deixando-a no frio horrendo.

Realmente, a vida de casada não poderia ser melhor.

Lógico, neste exato momento era como se Morgana não fosse casada, afinal, já era tarde e seu marido não aparecia. Instantaneamente, a imagem de Arthur e Guinevere do jantar apareceu na mente dela.

Morgana odiava seu casamento. Ela odiava Arthur. Odiava Guinevere. Odiava Arthur e Guinevere. Odiava sua própria vida.

Era como se ela estivesse se sufocando. Morgana Le Fay não nascera para interpretar teatrinhos greco-latinos, mas a garota se sentia em um o tempo todo. Não podia revelar sua verdadeira identidade a Uther e Arthur, pois, com toda certeza, seria julgada como bruxa – o que ela era. Não podia contar com a ajuda dos druidas também, pois eles esperavam algo dela que, caso não se tornasse realidade, a maga também seria julgada.

Para qualquer lugar que olhasse, Morgana sentia-se em uma viela sem saída.

Os dias se passavam muito rápido, e ela ainda não avançara nada em seu plano. Arthur precisava se apaixonar por ela o mais rápido possível, caso contrário o feitiço não teria sucesso, e Mordred continuaria vivendo de modo precário e foragido.

A maga prometera que faria tudo em suas mãos para ajuda-lo. Além disso, se fracassasse, Morgana tinha certeza que Charlotte pessoalmente a mataria, do jeito mais doloroso possível.

Ela puxou as cobertas para mais perto de si, mesmo sabendo que não tremia de frio, mas sim medo.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por continuar acompanhando;



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