"Porque? Eu não quero que você vá!

- Akemi, eu já expliquei, não torne as coisas mais difíceis. Eu sempre estarei com você."

Limpei as poucas lágrimas que estavam em meus olhos, merda, porque sou tão sensível? Olhei para Natsu e o vi com uma cara entediada, claro, este não era o tipo de filme para um Dragon Slayer.

Quando não estamos em missão ou enrolados com alguma confusão, assistimos filme. Da última vez assistimos um de guerra, escolhido por Natsu que vibrou ao meu lado o filme inteiro, junto com Happy. Não vou dizer que não gostei, mas o que realmente eu gostava era de comédia romântica ou um bom drama, afinal, eu escrevia romances, precisava de motivação. Por isto desta vez escolhi o filme, para infelicidade do rosado.

Então o casal que a pouco estavam discutindo beijaram-se. Senti minhas bochechas corarem, droga droga droga. Justamente hoje só eu e Natsu assistíamos filme, Happy decidiu ficar na guilda -porque será né?- Era realmente desconfortante. Há um tempo resolvi aceitar os meus sentimentos pelo meu companheiro de time, não dava mais para negar. Ainda não tinha confessado, não estava preparada para isso, muito menos pela resposta. Ele era sempre tão brincalhão, tão cabeça oca que nunca me passara pela cabeça a sua reação. Consequentemente entramos no habitual clichê: eu gosto dele, somos amigos, tenho medo de estragar a amizade, fico quieta. Como eu odiava isso.

Mas... Será que Natsu já havia beijado? Nós somos adolescentes, seria normal se isso tivesse acontecido com ele, não é? Quanto mais eu pensava no assunto, mais dúvidas começavam a surgir. Estávamos sozinhos, podia perguntar a ele. Afinal, somos melhores amigos, isso é normal. Uma curiosidade besta, ele não estranharia. E eu não precisava ficar tão nervosa. E pelo jeito dele, a resposta com certeza seria não.

- Natsu? -chamei tentando ignorar a minha vergonha

- Hm? -olhou-me de canto

- B-Bem, hm... Você já beijou? - o rosto dele tomou um ar divertido e um pequeno sorriso se formou.

- Já. -calma, respira Lucy. Porque esta angústia? Você não disse que seria normal se já tivesse acontecido? Então porque todo esse desespero?- Bom, não digo um beijo como esse do filme. Éramos crianças, foi só um encostar de lábios. Naquela época nem sabíamos o que isso significava, apenas copiamos o que achávamos que era o certo. -ele riu- Bons tempos.

- Hm... E com quem foi? -sua idiota! Pra quê mais detalhes?

- Com a Lisanna.

Que merda, que grande merda. Não bastava saber que já havia beijado, precisava saber que era com ela? Sempre senti um certo incomodo com a presença dela. Não que me trate mal ou algo do tipo, somos colegas, mas ela e Natsu já tiveram uma história juntos. Uma parte da história dele que não participei, um Natsu que não conheci. Sentia ciúmes e de certa forma, inveja. 

- Nós passávamos muito tempo juntos, brincando ou conversando. Então Happy apareceu e decidimos cuidar dele juntos, como se fossemos mãe e pai, um casal. Tinha até construído um lugar para nós. -Eu já sabia disso, mas escutar dele doía mais- E com o tempo, decidimos fazer que nem um casal de verdade, mesmo sem saber o que aquilo significava. Encostamos os lábios e nos separamos, lembro que até comentei: É só isso? -Natsu ria- Ela me pareceu meio chateada com a minha pergunta, mas não disse nada. Dias depois Happy nasceu e esquecemos dessa história de beijo. Cuidamos dele até o dia em que Lisanna foi para aquela missão e recebemos a notícia de sua morte. Foi um tempo bem difícil. Mas pulando essa parte, quando voltou eu realmente fiquei feliz, sentia falta dela na guilda. -pra melhorar ainda preciso saber que você sentia falta dela, argh, como sou egoísta- Percebi também que apesar de crescer ouvindo que ficaríamos juntos, eu não sentia nada especial por ela. Apenas o que amigos normalmente sentem.

- Ah...

Não tinha o que comentar, ainda estava absorvendo as informações. Estava feliz por saber que ele não gostava mais dela, mas  também estava controlando o meu ciúme. A imagem deles se beijando vinha em minha cabeça, aquilo era um inferno! Tudo bem que não sabiam o que estavam fazendo, mas tinha que ter um sentimento por trás daquilo. 

Natsu virou seu corpo em minha direção e o olhei receosa. O braço que estava apoiado no sofá logo atrás de mim agora apoiava a sua cabeça e ele me olhava desconfiado.

- N-Nani? -ele não podia ter descoberto alguma coisa né? Eu não tava com uma cara tão chocada assim, eu acho.

- E você Lucy, já beijou?

Ele havia me pegado de surpresa, o que eu falaria? Até ele já tinha beijado, como falaria que eu, Lucy Heartfilia, não?!

- Qual é Natsu? Haha, claro que sim né. -tentei tirar o nervosismo da minha voz e olhei para televisão, fingindo prestar atenção no filme. 

- Já? -olhou-me surpreso- E como foi? Com quem foi? -não conseguia ver nem um pingo de ciúmes em seus olhos, era apenas curiosidade. Suspirei.

- Foi b-bom. E não acha que está querendo detalhes demais? -perguntei voltando a minha voz normal, saiu até um pouco irritada.

Ele resmungou algo e voltou a olhar o filme. Respirei fundo e tentei esquecer tudo que havia acontecido nesses últimos minutos, mas o silêncio não demorou muito a ser quebrado.

- Nee.. Lucy. Me ensina.

- Ahn? -os olhos dele tinham mudado, um brilho diferente.

- Você já beijou, e bem, um dia eu vou beijar alguém e não quero fazer nada errado. -admitiu um pouco corado- Me ensine a beijar.

tundum ... tundum tundum tundum 

Meu coração batia tão rápido que coloquei uma mão no peito em uma tentativa falha de controlá-lo. Quem ele pensa que era pra me pedir algo desse tipo? E com essa cara tão calma.. Ele não tinha a mínima noção do que tinha falado. E porque raios isso mexeu tanto comigo? Eu não podia me iludir!

- B-B-BAKA! Eu não posso fazer isso!

- Huh? Porque? -perguntou fazendo bico

- P-P-Porque?! Porque... -eu tinha que fugir dessa, alguma ideia, alguma ideia...- Porque eu nunca beijei, ta bom? Eu só não queria ficar pra trás, por isso falei aquilo. -confessei morrendo de vergonha. 

Nunca havia mentido para ele e justamente quando resolvo mentir, ele descobre tudo. Como sou burra! Porque ele não falava nada? Nem zoava de mim? Aquele silêncio estava me matando! Mal tinha coragem de olhar para o seu rosto. Levantei do sofá decidida a sair de casa. Sim, iria fugir, uma decisão muito infantil de minha parte. Quando comecei a andar senti meu pulso ser segurado. Fudeu.

- Lucy... -Eu só queria sumir, evaporar. 

Escutei um barulho, ele provavelmente tinha se levantado. Senti meu corpo ser virado em sua direção e quando encontrei seus olhos rapidamente desviei. Suas mãos seguraram o meu rosto, levantando-o.

- Olhe pra mim.

Mordi meu lábio inferior e olhei. Porque ele estava com um pequeno sorriso em seu rosto? Porque ele não estava bravo ou algo do tipo?

- Não precisava ter mentido pra mim, sua estranha. -Ele se aproximou, estava tão perto, tão perto...- Então vamos aprender juntos.

- Nat...

Não pude terminar de falar, seus lábios me impediram. Isso realmente estava acontecendo? Estava paralisada, não sabia o que fazer. Seus lábios faziam uma pequena pressão sobre os meus e antes que eu pudesse fechar os olhos, ele havia se afastado. Seu rosto estava corado, estava tão lindo. Sua mão esquerda desceu até minha cintura e me aproximou acabando com o espaço de nossos corpos. Seu rosto voltou a se aproximar e abri os meus lábios esperando por ele. Finalmente nos beijamos, e desta vez fechei os olhos. Sua mão direita foi para minha nuca e senti seus dedos entrelaçarem no meu cabelo. Um arrepio forte passou por todo o meu corpo. Não sabia se meu coração ia sair do meu peito de tanto que batia ou se iria parar completamente de bater. Inconscientemente minhas mãos subiram pelo seu corpo e abracei deu pescoço acelerando mais o beijo, eu precisava tanto dele. Eu o amava tanto, tanto... Não me importava de ter o apartamento (na maior parte do tempo) destruído por ele, ter que receber apenas a metade do pagamento da missão já que a outra ia pro concerto da cidade, dos gritos ou de ter que dormir no sofá já que ele ocupava a minha cama inteira. Eu realmente não me importava. O bem que ele me fazia, a alegria que ele me trazia, ultrapassava todos os obstáculos.

Aos poucos o beijo voltou a ser lento, meus braços recuaram um pouco e coloquei a mão em sua nuca enquanto a outra puxava lentamente o seu cabelo. Sua mão desceu pelas minhas costas me abraçando, e terminamos o beijo com outros curtos. Quando abri os olhos me deparei com um Natsu que nunca havia visto. Estávamos ofegantes e corados, podia sentir o seu coração bater acelerado, e isso me encheu de esperanças. Apoiei a minha testa na curva de seu pescoço e segurei em sua blusa. Não vou negar que já tinha imaginado aquela situação, mas não chegou nem perto do que realmente era. Não conseguia me acalmar, nem tirar aquele frio da barriga e respirar era tão difícil! O que você fez comigo Natsu?

Ele retirou o cabelo de meu pescoço e fechei os olhos soltando um baixo gemido quando senti pequenos beijos naquela região subindo até morder a ponta da minha orelha.

- Lucy.. Estou tão empolgado. -preciso dizer que meu corpo se arrepiou de novo? e aquele frio na barriga, aquelas malditas "borboletas" ficaram mais fortes- Quando eu era menor, Gildarts teve uma conversa comigo. -continuou sussurrando em meu ouvido- Ele disse que um dia, eu iria me sentir diferente em relação a uma pessoa. Que eu iria sentir uma estranha necessidade de tê-la por perto, de cuidá-la, protegê-la de qualquer perigo. De vê-la sorrir e ajudá-la em qualquer situação, principalmente se for algo difícil, e sentiria uma angústia tremenda ao vê-la chorar. Disse também que não me importaria de ser qualquer coisa que essa pessoa resolvesse que eu fosse. Amigo ou namorado. Eu iria viver por ela, ia dar a minha vida por ela. Sentiria ciúmes quando algum homem chegasse perto dela e espancaria quem ousasse tocá-la. Ficaria nervoso e provavelmente tropeçaria nas palavras. Falou que iria chegar um ponto que eu não aguentaria mais, a necessidade de tê-la seria tão grande que meu corpo iria clamar por ela. Borboletas invadiriam minha barriga e sentiria um calor inexplicável, diferente do habitual. Ia querer beijá-la e mostrar a todos que ela é minha. Ia querer desvendar todas as partes do corpo dela, beijar cada local e finalmente possuí-la. Eu ia me sentir completo, o homem mais feliz do mundo. Naquele tempo eu não dei a mínima para aquela conversa, não acreditava no que ele dizia e também não entendia como todos aqueles sentimentos podiam me atingir. No final, ele disse que aquilo era o significado de amar uma pessoa. Hoje, eu vejo que ele errou em uma coisa. Eu me sinto o homem mais feliz do mundo apenas por ter a companhia dela e completo por beijá-la. Há muitas coisas que eu quero fazer com você Lucy, por isso, vamos aprender tudo juntos. O que me diz? -ele se afastou e olhou em meus olhos.

Era um sonho, não era? Lágrimas escorriam sem parar pelo meu rosto e eu não conseguia falar. O que eu sentia era indescritível, uma felicidade tremenda. Eu só consegui afirmar com a cabeça dando um sorriso, suas mãos limpavam as minhas lágrimas e o sorriso que eu tanto amava estava em seu rosto.

- Natsu e Lucy vão fazer "aquilo". -disse com as patinhas em frente a boca- Eles se gossssssstam. -E o momento tinha ido todo pro ralo por causa de um maldito gato.

- Happy! -gritamos juntos, meio que o repreendendo e surpresos ao mesmo tempo.

- Mas o Natsu acabou de falar que quer fazer "aquilo" com você Lucy! -disse firme

- O-O que?! C-Claro que não Happy! -falei envergonhada me afastando dele

- É-É! -Natsu disse e o olhei arqueando uma sobrancelha

- "É" Natsu?? -perguntei esquecendo-me da nossa mentirinha improvisada

- Não! Ahn.. É! Quer dizer..

Com um Natsu confuso sem saber o que dizer Happy começou a rir e logo nós três estávamos rindo. Aproveitei aquele momento de descontração e disse que ia fazer peixe pro jantar, talvez Happy parasse de nos perguntar. 

E como havia planejado, tinha funcionado. Enquanto fazia a janta, escutava-os discutindo sobre como o filme que eu escolhi era ruim, aqueles idiotas!

- Já venho Happy.

Vi Natsu abrir a geladeira e colocar um pouco de água no copo, meu coração bateu mais rápido apenas por isso, eu que era uma verdadeira idiota.

- Nee, Lucy. -virei em sua direção- O que eu disse antes era mentira, quer dizer, pro Happy. Pra você é verdade. Perai, falei certo? -ele perguntou confuso, coçando a cabeça. Eu ri e joguei a toalha de secar os pratos nele.

- Baka, eu entendi. 

Ele riu aliviado e foi pra sala. Suspirei. Voltei a fazer a janta com um enorme sorriso em meu rosto, imaginando como seria daqui pra frente.