Forever & Ever escrita por soulsbee


Capítulo 23
Perdas e uma saída


Notas iniciais do capítulo

Eu vim mais cedo do que o imaginado para a alegria de vocês o/
Então, ontem deu vontade de escrever o Forever e quando eu vi já tinha feito 6 capítulos cheios de surpresas e acontecimentos interessantes que explicam um pouco sobre a linhagem da Hayley e seu passado sombrio em relação às paranoias.

Com isso, vou publicar um capítulo novo a cada semana sem falta, então não deixem de reservar um dia ai para se atualizarem :P



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Apesar do clima frio entre nós ter sido deixado para trás no momento em que saímos da floresta, não conseguia conversar, não tinha cabeça para pensar nem tentar ser amigável. Permaneci em silencio, no banco do passageiro, observando a paisagem fria e morta ao nosso redor, o breu era assustador lá fora, parecia haver milhares de almas e entidades à solta, esperando apenas uma brecha para poder matar qualquer alma viva que ali passasse.

Era de dar calafrios, não conseguia tirar a imagem de algum espírito negro na estrada, nos observando passar atentamente e, logo após, o carro girar na estrada por culpa de algum cervo e, misteriosamente, parar de funcionar. Uma armadilha que atrairia Jared para fora do veiculo para ver o que deu de errado tendo, nesse exato momento, seu corpo arrastado violentamente mata a dentro. Eu seria deixada sozinha, trancaria a porta, apavorada procurando um maldito sinal no celular para pedir ajuda, frustrada, não conseguiria e então a entidade entraria no carro e me mataria, ou eu sairia a procura do garoto e teria o mesmo fim que ele. Entretanto, pessoas como eu, que vêem essas coisas, tem fins mais dramáticos.

Me imaginava sendo presa em uma sala sombria e gélida, estaria com o corpo completamente machucado, me arrastando até a porta e tentando abri-la em uma tentativa falha de fuga, iria surtar comigo mesma lá dentro tendo as piores alucinações possíveis e não sairia dali tão fácil, se saísse um dia. Não veria mais a luz do dia, perderia a noção de quantas horas estaria ali presa ou se não dias, até ter forças o suficiente para me esconder em qualquer lugar de um hospício abandonado, ou hospital, até mesmo uma mansão, mas o monstro me acharia facilmente e eu teria o fim mais traumático de todos...

– Hayley? – Jared me chamou. Ele me olhava pelo retrovisor meio preocupado, percebi estar viajando muito alto ao observar a mata lá fora.

– Oi...? – Suspirei sentindo dores de cabeça por ter sido removida de meus pensamentos. Era comum aquilo acontecer, por um momento, conseguia imaginar um filme perfeito diante dos meus olhos, com personagens completamente detalhados seguindo o roteiro da minha mente e, em um piscar de olhos, eles desapareciam e se tornavam uma lembrança breve e distante. Isso doía quase sempre.

– Passou o caminho todo muda, pensando em que? – Perguntou tentando me manter nesse plano terrestre.

– Coisas – Podia ver as arvores ao longe, a floresta foi deixada para trás, tomando em seu lugar, as luzes brancas e amarelas da cidade, o asfalto bem feito, as casas grandes e o manto de garoa cobrindo cada poste dando um ar diferente e único. Adorava essa sensação de frio, era aconchegante para mim.

– Tudo bem, se não quer conversar... – Deu de ombros desistindo de arrancar alguma coisa de mim. Na maior parte do tempo, me mantenho calada apenas observando, criando minhas teorias... – Você mudou tanto... – Sussurrou lançando um breve olhar para mim. – Não é mais a garota inocente, frágil, sensível...

– Eu só deixei de ser idiota... – Balancei a cabeça afastando algumas lembranças que estavam vindo em minha mente. Não precisava me lembrar delas agora, nem nunca mais.

– Você escolheu ser mais fria... – Corrigiu-me da maneira que achava mais apropriada.

– Eu não escolhi, as pessoas me forçaram a isso, então, apenas sou um reflexo da atitude alheia – Corrigi-o da minha maneira calando-o.

O silencio voltou a tomar conta do ambiente, mas estávamos perto da minha casa, pude avistar o topo da casa de Robert a poucos quilômetros de distancia da nossa rua, sua casa era a maior de todas da região, bem, pelo menos o telhado batia com a altura de todos os outros.

Suspirei aliviada por uma parte do meu pesadelo ter chegado ao fim, mas agora começaria para valer as buscas para as respostas de todas as minhas duvidas, só não sei se conseguiria isso tão cedo e nem sabia por onde começar, apenas o básico: Assassinos, suspeitos, lembranças falhas e assombrações que me perseguiam.

– Até outra hora – disse estacionando o carro na beirada da calçada, em frente a minha casa.

– Meus pais estão aqui? – Perguntei para mim mesma vendo o sedan azul escuro do meu pai estacionado em frente a garagem.

– Que?

– Nada – Abri a porta e sai do carro observando as luzes de quase toda a minha casa acessa, não entendia o porque eles chegaram mais cedo do que o combinado, provavelmente algo de muito ruim aconteceu.

– De nada! – Ouvi Jared dizer ao arrancar com seu veiculo e sair.

– Obrigada – respondi baixo sem olhar para ele, não queria chamar a atenção dos meus pais, precisava descobrir o que se passava antes deles inventarem alguma mentira qualquer para acobertar algum segredinho particular

Caminhei silenciosamente para os fundos da casa, passando pela larga janela da sala de cabeça abaixada, quase me arrastando na grama, apenas para eles não me verem ali. Conseguia ouvir toda a agitação dentro da casa e o barulho de alguns objetos sendo movidos rapidamente e jogados de um canto para o outro, levantei a cabeça um pouco para ter uma visão ampla dali.

Observei meu pai de costas colocando alguns objetos de seu escritório em uma mala preta grande, ele estava vestindo a camisa social branca de sempre, com as mangas dobradas até o pulso e um jeans azul marinho, um pouco largo, com sapatos sociais complementando seu visual com os cabelos grisalhos meio arrepiados e olhos penetrantes cor de mel. Ele sempre teve um sorriso belo, minha mãe disse que esse foi um dos motivos pelo qual se casou com ele, pela maneira que ele a olhava quando estavam juntos, mas, de uns tempos para cá, ele andava meio perdido no trabalho, passando a maior parte do tempo longe de casa e quando foi transferido para a unidade mais longe foi quando tudo piorou.

– Você sabe que não precisamos fazer isso! – Disse alto, não por estar nervoso e sim por minha mãe estar no quarto, no andar de cima.

– Connor, já falamos sobre isso, ela era a minha mãe! – Minha mãe disse no mesmo tom.

– Sim Joanne, essa parte eu entendi, ela era sua mãe, claro que não vamos deixar de ir no velório dela, mas para que levar Hayley?! – Perguntou incrédulo.

Velório? Minha avó morreu? Perdi parcialmente o controle da minha reação relembrando os poucos momentos que tive ao lado dela quando criança e lembrando de algumas histórias que ela me contava antes de dormir sobre os monstros e como nós conseguíamos derrotá-los. Senti uma lagrimas escorrer pela minha bochecha.

– Porque ela gostava da avó! – Disse com a maior naturalidade descendo as escadas com uma mala cinza enorme na mão.

– Eu realmente não te entendo, você sabe como ela sofreu quando criança por culpa... daquelas coisas e quer levá-la de volta para lá? – Parou no batente da porta, observando sua mulher de costas organizando as ultimas coisas dentro da mala.

– Escuta! – Ela se virou para ele de braços cruzados com um olhar frio – Ela precisa se... – Tentei ouvir o resto da conversa, mas ela abaixou o tom me impossibilitando de compreende-la. Queria terminar de ouvir, mas já sabia do suficiente.

Caminhei pela porta da frente, como se estivesse chegando agora, e, com a maior naturalidade, fingi destrancar a porta com minha chave e entrar. Coloquei meu casaco no cabide ao lado da porta e olhei para eles com um olhar de surpresa.

– Pai, mãe!

– Como vai baixinha? – Ele veio em minha direção me dando um abraço caloroso e muito apertado. Nossa mais semelhança era a perfeita atuação. Eu fingindo não ter ouvido nada e ele agindo como se não tivesse dito nada.

– Tudo bem, como andam as pesquisas? – Perguntei para descontrair.

– Está tudo uma zona, o laboratório está perdendo os investidores... – Respondeu preocupado com o que poderia acontecer.

– E você mãe? – Seus olhos castanhos, quase negros, se focaram em mim um pouco distantes. Provavelmente traçando uma linha do tempo e imaginando o que perdeu enquanto passou alguns meses fora fazendo pesquisas para o seu trabalho.

– Na mesma situação que Connor – Deu de ombros.

Ambos trabalhavam para a mesma empresa, mas em pesquisas distintas, o que os forçavam há passar muito tempo focados em seu trabalho exaustivo corrigindo os erros que surgiam no decorrer do processo. Estava acostumada com sua distanciação, não me incomodava mais com aquilo, mas minha mãe se torturava internamente por não poder estar ao meu lado observando minha evolução pessoal.

– Porque tantas malas? – Arqueei uma sobrancelha esperando pela verdade ou pela mentira.

– Vamos para a casa da sua avó em Littlefork... – Minha mãe suspirou distante controlando algumas lagrimas que surgiram em seus olhos. Ela poderia estar a um bom tempo afastada de sua mãe devido ao trabalho, mas isso não a tornava menos da família.

– Porque? – Tentei parecer preocupada.

– Ela morreu essa manhã... – Meu pai disse ao notar minha mãe incapaz de pronunciar uma palavra sequer.

Não consegui expressar muita reação, apenas algumas outras poucas lagrimas escorreram pelos meus olhos, queimando de um jeito terrível. Não que não gostasse dela, pelo contrario, a amava, adorava estar ao lado dela quando criança, mas minhas lembranças ficaram bagunçadas e eu também quase não conseguia chorar pela morte de alguém desde que perdi minha avó paterna, a qual passava três vezes por semana em minha casa, toda semana.

– Arrume suas coisas, vamos ainda essa noite... – Completou voltando ao seu escritório e retirando algumas coisas de lá.

Subi em silencio para o meu quarto e abri a mala que levei para a casa na praia a algum tempo atrás, ainda estava atolada de roupa, não a havia desfeito. Joguei tudo em cima da cama e coloquei roupas mais quentes, pois sabia que lá era um pouco frio, não tanto quanto aqui, mas estaria.

Carreguei a mala para o andar debaixo e deixei jogada-a em frente ao sofá, meus pais permaneceram em silencio arrumando suas coisas, segui para a porta o mais rápido que pude, dando passos largos em direção a casa de Robert. Queria chamá-lo para vir junto, mesmo com nossa amizade meio abalada nesses últimos tempos. Ele sempre esteve ao meu lado me distraindo, porque agora seria diferente? Por culpa de Jared? Eu adorava ele também, mas precisava dar um tempo.

– Robert! – Bati na porta de sua casa varias vezes até ele abri-la mal humorado e imerso em sono.

– Pra que tanto barulho? – Sua voz estava baixa e arrastada, ele estava mole, parecendo um boneco de cordas.

– Vai comigo para a casa da minha vó, por favor? – Implorei.

– Hayley! – Ele me puxou para os seus braços me abraçando com muita força e saindo de seu estado de sono – Está tudo bem? – Perguntou rapidamente se afastando um pouco de mim e olhando no fundo dos meus olhos. Assenti em resposta – Sim eu vou – Completou se lembrando da minha pergunta

– Ótimo, faça suas malas, vamos hoje – Quase ordenei.

– Tudo bem, vamos lá escolher algumas roupas... Entre – Convidou-me quase me empurrando para dentro da casa.

Segui, sem ele dizer, para o andar de cima marchando em direção ao seu quarto no fim do corredor escuro. Entrei e vi algumas coisas jogadas por todos os lados, pedaços de papeis rabiscados com alguns desenhos, tentei ver melhor um deles, mas Robert os pegou e os empilhou em um montinho jogando-os dentro de uma gaveta. Queria vê-los, mas não tinha tempo para brincadeiras de ultima hora.

– Então, como foi com o Jared – Robert, sua curiosidade e seu tom enojado ao falar aquele nome.

– Fomos para a floresta... – Disse. Não queria esconder nada de Rob e se eu fosse arrancar alguma coisa dele, seria indiretamente, então qualquer coisa que ele me disser a partir de agora poderá ser usado como uma pista. Talvez eu comece por isso para resolver meu mistério.

– Ah não, aquele idiota! – Ficou instável de um momento para o outro me assustando um pouco. Para que essa alteração? - O que ele te disse? – Ficou furioso e parou de arrumar suas coisas para me olhar.

– Nada, eu apenas vi coisas – Dei de ombros. – Lembranças breves daquilo.

– Hm... Algo a mais? – Cruzou os braços me fitando no fundo dos olhos tentando arrancar algo de mim. Esse jogo não vai funcionar.

Deveria ter cuidado de alguns assuntos antes de deixá-la longe... Te lembra alguma coisa? – Repeti tentando imitar seu tom de voz. Ele permaneceu estático, chocado com o que ouvira - O que era ? – Meu tom de voz soava irônico e ameaçador ao mesmo tempo, como se eu o obrigasse a falar algo que ele não queria ou não podia.

– Não posso contar... – Encarou o chão frustrado. Estava exausta desses joguinhos e se ele não me contasse por bem, seria por mal.

– Ah, por favor! – Joguei os braços para cima irritada com aquilo. – É sempre isso!

– Você está procurando as respostas, não está? Porque não tenta achar algo na casa da sua avó? – Sugeriu me dando uma idéia e mudando de assunto rapidamente.

– O que eu iria procurar lá? – Indaguei.

– Não sei, coisas sobre o seu passado, sobre a sua família, motivos para alguém ter te atacado, sei lá, coisas que os policiais fariam em uma investigação.

– O que eu gostaria de saber sobre mim, Sherlock? – Mantive um tom ainda mais irônico.

– Não sei, talvez explicações sobre o porque você vê os espíritos – Respondeu com naturalidade. Ele escondia algo e isso era evidente.

– E porque ela saberia algo sobre mim sendo que ela só me viu quando criança?! – Ironizei.

– O passado esconde muito, acredite.


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Notas finais do capítulo

Robert e Hayley, ambos não conseguem ficar muito tempo longe, não é mesmo? Mas é isso, espero que tenham sentido uma pontada do início do furacão e tenham gostado, fui!



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