Eu e Você escrita por Hanna Martins


Capítulo 17
Capítulo XVII - Maldito despertador


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo temos um novo personagem...



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Não acredito que não ouvi o despertador tocar. Estou super atrasada para a aula. Nem tomo o café da manhã. Será que o motorista já levou Peeta para o colégio?

Pelo visto meu dia vai ser ótimo, já começou comigo perdendo o horário. Se eu chegar atrasada na aula ainda vou levar uma bronca.

Para minha sorte, encontro o motorista saindo com o carro.

– Espera! – grito.

O carro para e eu corro até ele. O que não é uma boa ideia, pois minha barriga começa a doer, me lembrando da bolada que tomei ontem.

– Você deveria estar tendo um ótimo sonho para só acordar agora – diz Peeta de uma maneira maliciosa.

Olho para ele e nada digo. Maldito despertador, que me faz ter que ir com Peeta para o colégio.

– Fale para mim, Katniss, prometo que não vou espalhar! – solta uma risadinha sacana.

Bufo. Piadinhas de Peeta logo cedo, minha coisa favorita no mundo.

– Não é da sua conta, Peeta.

– Então, você realmente estava tendo um sonho bom! – ri.

O ignoro.

– Deixe-me adivinhar... – faz uma cara de alguém que está pensando – Estava sonhando com... Gale? – você só obterá silêncio como resposta – Se não é isso, então só pode ser...

Me olha, aproximando-se de mim. Ele fica apenas alguns centímetros do meu rosto. Seus olhos azuis me interrogam. Por que você faz isso, Peeta? E por que eu estou corando? Recuo, não quero ficar muito próxima do rosto de Peeta.

– Comigo? Sério, Katniss, você estava sonhando comigo?

– Não! – me apresso a dizer, porém isso faz com que minha negativa soe falsa.

– Katniss, precisamos falar sobre isso – diz maliciosamente – Que tipo de sonho foi? – se aproxima ainda mais de mim, como se quisesse ler meus pensamentos – Sabe... há algumas espécies de sonhos... – me olha com uma das sobrancelhas arqueada – Estou vendo que foi um desses sonhos, Katniss.

– Cala a boca, Peeta – falo furiosa.

Viro meu rosto na direção da janela. Céus! Por que Peeta me deixa neste estado? Ouço a gargalhada dele. De que lugar saiu da cabeça de Peeta que eu tive estas espécies de sonho com ele? Vai sonhando, Peeta.

Durante o resto do trajeto não ouso olhar para outro lugar a não ser fora do carro. Aliás, nem ouso me mover. Quando chegamos ao colégio, pego minhas coisas e saio quase correndo do carro. Até quando Peeta irá me atormentar com isso?

Devido à bolada que tomei na aula de ontem, a professora Coin me dispensa da aula. Uma coisa boa pelo menos. Meu dia pode não ser tão mau assim como havia pensado.

A próxima aula é de literatura. Uma das poucas aulas que me agrada. Hoje conheceremos nosso novo professor, pois a professora Wiress, uma senhora muito simpática (uma das poucas neste lugar), pediu demissão. Se o próximo professor for pelo menos simpático como ela era, já fico feliz.

O novo professor entra na sala. Fico surpresa ao constatar que ele é diferente de todos os professores que conheço. E o mais espantoso, não se veste igual a eles. Em Panem os professores costumam vestir-se com terno ou coisa parecida. Não, ele não se veste assim, usa uma calça jeans preta e uma camiseta branca simples, e calça um All Star preto, um pouco desgastado pelo uso. Também carrega uma mochila preta nas costas, coisa impensável para os professores de Panem, que carregam suas coisas em grandes pastas de couro. Porém, não é apenas a roupa que o diferencia dos demais professores, seu ar é diferente, ele tem algo que não consigo explicar. Me pergunto como ele veio parar em Panem.

Começo a simpatizar com o novo professor, que se chama Cinna, ao não pedir que nos apresentemos. Odeio ter que me apresentar, todos ficam olhando para mim, me mostrando o quanto eu não me encaixo neste mundo. Em vez disso, Cinna começa a aula recitando um poema de Fernando Pessoa (um dos meus poetas preferidos). Sua voz é linda e o modo como recita o poema está carregado de emoção, tornando o poema ainda mais especial. Quando Cinna fala me fascina, pois ele fala com paixão. Paixão? Está aí algo que nunca vi em nenhum professor de Panem. Veredito: Cinna é um ótimo professor. Um professor que eu nunca pensei que encontraria em Panem.

A próxima aula já não é tão interessante quanto a aula de Cinna, é de matemática. Juro que essas fórmulas ainda vão me deixar louca. As horas demoram uma eternidade para passar. Será que meu relógio está quebrado?

A maioria dos meus colegas conversa entre cochichos durante a aula, ou trocam bilhetinhos. Johanna está muito empolgada em organizar uma saída amanhã, já que é feriado. E como sempre ninguém nem lembra de minha existência. Não que eu goste dessas coisas, mas todas as vezes que eles se reúnem desta maneira me lembra o quanto eu não sou bem-vinda neste lugar.

Assim que terminam as aulas, vou rapidamente para a sala do orientador vocacional. Não estamos fazendo muitos progressos nesta área, de acordo com ele. Sinceramente, acredito que não temos feito nenhum progresso.

Vejo que há apenas uma garota sentada no sofá que fica na pequena recepção da sala do orientador. Sento-me na outra ponta do sofá, porém não há muito espaço entre nós, já que o sofá é pequeno. Pego o livro que está em minha mochila e começo a lê-lo.

– Katniss – olho surpresa para Gale, estava tão entretida com a leitura que não notei ele chegar – Parece que vamos nós encontrar muito aqui! – sorri.

– Acho que sim, o orientador disse que vou dar muito trabalho a ele.

– Já eu sou um completo caso perdido – diz, enquanto se senta ao meu lado.

Nunca estive sentada tão perto de Gale, como estou agora. Nossos corpos acabam se tocando. Ficar tão perto assim de Gale faz com que meu corpo fique tenso.

– Você está melhor, Katniss?

– Sim, hoje estou bem melhor. O remédio que a enfermeira me deu, realmente faz efeito.

– Fiquei preocupado, Katniss – Gale estava preocupado comigo, posso ouvir isso novamente? Acho que não escutei direito – Levar uma bolada daquelas provoca dor só de olhar. Já levei uma bolada dessas quando eu tinha onze anos, na aula de educação física, e não foi nada divertido. Fiquei mais de uma semana sentindo as dores. – Gale faz uma careta engraçada de dor.

– Ainda dói um pouco, mas já estou bem melhor, pelo menos não está doendo como ontem.

A porta da sala do orientador se abre e a garota, que estava sentada no outro canto do sofá, entra na sala. No entanto, apesar do espaço vazio, Gale não se move de sua posição.

– Katniss, precisamos conversar sobre sua indecisão – diz imitando o senhor Heavensbee, nosso orientador vocacional.

Não posso evitar não rir de sua imitação.

– Sim, acho que precisamos.

– Não seja como Gale, aquele garoto é um caso perdido – continua imitando ao senhor Heavensbee – Katniss, minha vida não é nada fácil. Tenho que preparar todos vocês para o futuro... – A imitação de Gale é muito perfeita, até o sotaque ele imita.

– Gale, sua imitação do senhor Heavensbee quase me fez acreditar que ele estava aqui – digo rindo.

– Não conte para ele sobre isso – diz com a voz baixa, quase sussurrando.

– Não dizer o que, a quem? – a voz de Peeta faz com que eu perceba sua presença. O que Peeta está fazendo aqui? – Não vai me contar, Gale? – diz sentando-se entre mim e Gale. E como sempre acabando com meu momento especial. Essa é tarefa de Peeta, me atormentar eternamente.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Gostaram, odiaram, críticas?... O que acharam do Cinna como professor de literatura? Só posso adiantar que ele terá um papel muito importante na vida de Katniss.