Epílogo: Doces Sonhos

Ele entrou pela janela aberta, acompanhado pelo brilho suave e pálido do luar. Sabia que tinha pouco tempo. Logo o Sol voltaria a nascer e a figura que dormia naquele quarto acordaria.

Andou até a cama da jovem. Sua camisola de seda negra se levantou até o princípio das coxas, quando seu corpo havia se movido durante o decorrer daquela noite. Estava descoberta e tremia quase que imperceptivelmente. Bem, ele notara. Suas mãos puxaram para cima o lençol, cobrindo a silhueta esguia de menina.

O garoto podia imaginar com o que sonhava e gostaria de poder arrancar aquelas imagens da mente dela. Gostaria de lhe projetar bons e doces sonhos para que ela, ao menos dormindo, pudesse ter a esperança de um dia voltar a ser feliz. Porém, só poderia observar e ficar próximo naqueles minutos que lhes restavam. Ele não sabia, mas ajudava-a.

Os dedos ansiosos por contato tocaram-lhe a base da garganta, fazendo um afago inofensivo, ao qual a garota reagiu apenas com um sorriso tímido que parou o tempo dentro do quarto. Uma bolha contra o mundo lá fora.

Infelizmente, também queria deitar-se ao lado dela e tomá-la em seus braços. E isso não lhe era permitido. Não hoje. Torceu a boca de decepção e se abaixou, beijando-a – apenas um único e casto beijo – em sua omoplata. Oh, sim... Sentiria falta dela, mas agora já retornava ao parapeito da janela e se esquivava pela árvore grande que fora sua escada de emergência.

Enquanto andava sob o crepúsculo – com os raios que lentamente despertavam em meio à escuridão da madrugada -, perguntava-se sobre quando a veria novamente, daquele jeito como a viu poucas semanas antes, como sua, e se isso aconteceria.

Algo dentro dele murmurava que sim.