Senti a energia celestial proveniente do meu poder tomar conta de mim. Dessa vez eu não deixaria aquele poder me dominar. Não completamente.

Tirei minha lâmina serafim do meu cinto para armas, gritando seu nome e fazendo-a explodir, sua luz brilhando com o triplo de poder.

Com o canto do olho, percebi Max e Simon dando um passo para trás. A princesa fada fez o mesmo, só que se afastando o máximo que pode do alcance do meu poder. Mal sabia ela que se eu quisesse, poderia matar todos naquela sala com sangue demoníaco, mas isso implicaria em matar os dois garotos de quem já gostara.

Tio Sebastian colocou um sorriso irônico nos lábios. Ele estava subestimando os meus poderes. Ou talvez já os conhecesse.

Ele foi tomado por uma chama negra que o abraçava como a luz celestial que me dava aqueles poderes. Droga! Por isso o riso irônico. Talvez fosse eu quem o estivesse subestimando.

Ainda assim arrisquei e deixei que todo o meu poder fosse em sua direção. Eu o vi ser encoberto pela luz celestial, mas depois de alguns segundos, percebi que nada acontecera.

Impossível! Nenhum poder demoníaco poderia ser mais forte que o meu.

— Surpresa, querida sobrinha? — indagou ele, ainda com seu sorriso no canto dos lábios.

Eu não consegui responder. Não descobri como fazer minha voz voltar ao normal. O que diabos havia acontecido a ele? Como ele voltara a vida e como poderia estar tão poderoso?

— Como...? — perguntei, a voz dez vezes mais baixa do que pretendia.

— Como eu posso estar vivo e tão poderoso? — completou ele por mim. — Como você vai morrer, não vejo porque esconder isso de você. Lilith falhou ao tentar me ressuscitar. Mas como eu possuía sangue demoníaco, havia outras formas de ser despertado.

“Enquanto vagueava entre a vida e morte, entre o inferno e a terra, Lúcifer veio até mim, oferecendo-me uma forma de ressurgir. Mais poderoso, e imortal.”

— Ele te transformou em um demônio — disse Simon, chegando à conclusão óbvia.

Esperei que meu tio terminasse seu relato, mas ele limitava-se a encarar meu rosto atônito.

— Algo assim não pode existir! — protestei, sabendo que aquilo era um equívoco.

Claro que as palavras do meu tio poderiam ser verossímeis, mas eu simplesmente não queria aceitar aquilo. Eu estava cercada de exceções como o meu tio. O fato de existir um vampiro que anda a luz do sol, um ShadowHunter com uma parcela de sangue demoníaco, e eu que possuo poderes nunca vistos antes.

Então, sim. A história dele poderia ser de fato verdade.

— Continuando — disse meu tio, tirando-me de meus devaneios. — Levei algum tempo para decidir o que fazer da minha imortalidade. Com tanto tempo livre e nada para fazer, resolvi trazer meu mentor de volta a vida.

“Ter o meu pai de volta ao meu lado, me instruindo era uma tarefa egoísta a qual decidi me dedicar. Eu planejei destruir todos que o destruíram e para isso eu os estive vigiando de perto.

“Tive tempo para me dedicar a estudar as tecnologias mundanas, e foi a partir delas que vigiei vocês. É incrível o que micro câmeras conectadas a uma rede podem fazer por você. Torna o trabalho bem mais fácil.

“Quando eu descobri aquele livro contendo um feitiço de ressureição, e que a sua mãe estava grávida, foi como visualizar a realização dos meus sonhos. Era perfeito. Era exatamente o que eu precisava.

“Não foi difícil tirar a sua mãe de casa. Bastou apenas uma ligação. Ela se preocupa mesmo com você, é uma excelente mãe, isso eu tenho que admitir. Quando eu disse que você estava em perigo, ela veio correndo até mim. Você precisava ver a expressão dela ao encontrar a sua pequena e frágil Celine presa.”

Eu levei um tempo para digerir tudo o que ele estava relatando. Mas havia um furo ali...

— Eu nunca estive em seu poder... — disse, sabendo que ele esperava que eu dissesse essa frase para continuar seu conto.

— Infelizmente quando induzi sua amiga a marcar uma festinha de garotas naquela noite, seu amiguinho ali — disse essa ultima frase apontando para Simon — interceptou meu sequestrador e o deixou incapacitado. Eu tive que arrumar uma solução para isso.

A fada olhou para meu tio com uma devoção obsessiva.

Aquilo me enojava completamente.

— Por sorte, eu tinha uma aliada de valor inestimável. Katrina rapidamente preparou uma poção que me permitiu transformá-la em uma cópia fiel sua. Havia apenas uma falha. A voz de vocês era completamente diferente. Então só tive que mantê-la desacordada.

“Sua mãe ficou desolada quando a viu desmaiada, presa em uma cela. Ela prontamente atendeu meu pedido de troca: Eu liberaria você, se ela concordasse ficar no meu lugar.

— Em uma coisa eu concordo com você — cuspi — é um ideal completamente egoísta e insano esse seu!

— Mas me deu algo com o que me ocupar — ele deu de ombros, caminhando em minha direção. Eu não recuei. Limitava-me a fita-lo com toda a raiva que eu conseguia reunir. — A imortalidade pode ser tão tediosa! Não sei como você consegue, Simon.

— Você vai pagar por tudo o que me fez! — digo, deixando o meu poder tomar conta de mim novamente. Controlando-me o máximo para não deixar meus poderes me dominarem.

Deixei que um feixe forte de luz escapasse em sua direção, mas novamente foi em vão. Ele estava calmo e controlado. Parecia conseguir dominar bem os seus poderes. Algo que eu não tinha era isso: Controle.

— Você não aprende não é mesmo? — reprovou-me Sebastian. — É imprudente e impulsiva, exatamente como a sua mãe. E é por isso que você jamais conseguirá me derrotar!

Senti alguma coisa envolver meu pescoço e erguer-me do chão. Eu estava sendo sufocada. Não conseguia respirar. Por mais que eu tentasse me desvencilhar das mãos invisíveis que envolviam a minha garganta, eu não conseguia.

Se eu não pensasse em algo rapidamente, eu estaria morta em poucos minutos.